Para quem veio dum tempo em que a maioria das pessoas andava a pé, de burro ou em cima de um carro de bois; em que ter bicicleta já era um privilégio, ser dono duma motorizada “Pachancho” um luxo, poder passear-se numa moto uma extravagância e conseguir ser proprietário de um automóvel uma raridade; se caminhava de pés descalços, quando muito de tamancos; vestir calças de cotim remendadas e um velho casaco esburacado já era bom; lavrar a terra agarrado à rabiça do arado puxado por bois, sem qualquer tração mecânica, sem indústrias onde ir trabalhar, morando em casas que mais pareciam cortes de animais sem água canalizada, eletricidade, gás, telefone, internet, televisão, eletrodomésticos de qualquer espécie era comum; cozinhar a lenha apanhada no monte à socapa, sem assistência médica, direitos ou regalias sociais era o normal na região, pode-se dizer que O Futuro já começou há muitos anos. Porque nesse tempo, nem nos sonhos mais ousados imaginaria a maioria dos avanços tecnológicos, agrícolas, industriais, sociais, na educação, saúde, transportes, comunicação e tudo o mais. Seria preciso um livro enorme para descrever à exaustão todas as mudanças nas diversas áreas de atividade ao longo do tempo e até aos dias de hoje.
Assisti a mudanças absolutamente espantosas que deixariam boquiabertas as pessoas desse tempo: a velocidade com que se passou a ir dum ao outro lado do mundo, as facilidades de comunicação e os meios disponíveis com imagem e voz seja de onde for e para onde for, das máquinas mais sofisticadas de tamanhos gigantes às incrivelmente microscópicas, o ultrapassar constante dos limites da ciência ao desporto, da tecnologia à capacidade infinita da produção de bens em muitas situações à custa da natureza. Hoje, ao tomar conhecimento de mais uma descoberta ou invenção, de mais um avanço na ciência seja em que ramo for, não deixo de me interrogar: será que ainda se vai inventar algo mais sofisticado, mais pequeno, mais eficiente? O futuro vai trazer-nos mais e mais coisas novas? E, ao que se diz e anuncia, sim. Será um mundo melhor? Será pior? Certamente bem diferente, com grandes mudanças para as quais é preciso estar preparado. Com melhores e mais meios? Seguramente. Mais humanizado? Tenho sérias dúvidas, até porque nos afastamos demasiado da natureza à qual não será fácil regressar e com quem precisamos de viver em harmonia. Senão, ela castiga-nos, faz de nós “gato sapato” como se fossemos brinquedo nas mãos de uma criança e expulsa-nos com extrema facilidade. Basta olharmos para as mais recentes catástrofes naturais, em locais onde tudo parecia estar sobre controle. Dizia uma mulher que nem sabe como se conseguiu salvar na torrente de água e lama que assolou há dias a Alemanha: “Eu nunca imaginei que fosse possível isto acontecer aqui no nosso país, onde pensei sempre que tudo era seguro e estava sob controle”. Mas não estava nem nunca estará, porque o ser humano não se sobrepõe à natureza …
Em 1998 a Kodak tinha 180.000 funcionários, vendia papel fotográfico em todo o mundo. Em poucos anos o seu negócio desapareceu. Quem imaginaria isso? Com a invenção das máquinas digitais, depois integradas nos telemóveis, deram-lhe o golpe fatal. E o que aconteceu com a Kodak e a Polaroid, aconteceu com milhões de indústrias e serviços à medida que a sociedade se reinventa e vai continuar a acontecer em muitos setores nos próximos 10, 20 anos e, provavelmente, até a humanidade se autodestruir. A UBER não tem um único carro, mas é a maior empresa de táxis do mundo. Quem diria? Os taxistas não perceberam porquê? Nos Estados Unidos os jovens advogados não conseguem emprego por causa do Watson, da IBM, onde se pode obter aconselhamento jurídico em segundos, com 90% de precisão, enquanto os advogados só acertam em 70%. Como vai ser? Diz-se que só restarão os especialistas. O mesmo Watson faz o diagnóstico do cancro e é 4 vezes mais preciso do que os clínicos e o Facebook já tem um software que reconhece rostos melhor do que nós!!! Envia-se um foguetão à Lua com precisão milimétrica e, em caso de avaria, faz-se a reparação cá da Terra já que não está ninguém a bordo. Os primeiros carros autónomos já estão aí, sem condutor, há 3 anos e vão ser o futuro nos automóveis. Mas existem hoje inúmeras inovações que vão mudar a nossa vida e com que nem sonhamos. O amanhã já é hoje!!!
A previsão de alguém que, não sendo bruxo sabe o que aí vem, é que as crianças de hoje nunca terão carta de condução nem automóvel. Porquê? Porque no seu tempo lhes bastará ligar pelo telemóvel e um carro sem condutor aparecerá para os levar ao seu destino, sem ter de se preocupar com estacionamento, condução, trânsito e ainda com a vantagem de poder trabalhar enquanto viajam, pagando somente o tempo da viagem e nada mais, sem a dependência do carro. Com isto, as cidades terão muitíssimo menos carros, menos acidentes e com poluição zero. Não serão necessários tantos parques de estacionamento, cujo espaço pode ser destinado a zonas verdes, importantes pulmões das cidades. Já se prevê que em 2030 os computadores se tornem mais inteligentes do que os seres humanos. A criação ultrapassa o criador. Os carros elétricos são o futuro: a Volvo já anunciou que a partir de 2030 só produz este tipo de carros, juntando-se à Tesla, Google e Apple para quem os automóveis não passam de “computadores sobre rodas”. A produção de energia solar crescerá imenso, tornando-se muito barata e limpa (sendo uma “vaca” onde os nossos governantes vão “mamar” muitos impostos, duvido que em Portugal chegue algum dia a ser barata).
Já existem vários aplicativos para telemóvel dedicados à saúde, mas algumas empresas estão a construir um dispositivo médico que funciona com o telefone e que pode vir a identificar quase todas as doenças através da análise de elevado número de biomarcadores, varredura da retina, análise de sangue e respiração. Já se questiona da necessidade de tantos médicos no futuro. Será que vai mesmo acontecer?
Da forma como as investigações, descobertas e experiências têm acontecido nos últimos anos na área da saúde, parece-me que quase tudo será possível no futuro que está mais perto do que julgamos. Penso mesmo que o que se vê no filme de ficção RoboCope, em que um bom polícia sofre ferimentos graves e vários dos seus órgãos são substituídos por órgãos artificiais, concedendo-lhe poderes e capacidades que não tinha, poderá vir a ser uma realidade. Usando a linguagem dos computadores, não me admiraria que um dia destes parte das “peças” que compõem o ser humano possam ser substituídas por “placas mãe”, “módulos de memória”, “processadores”, “discos rígidos”, “drives”, “memória RAM”, “placas de vídeo” e tantas outras à semelhança de um computador normal, mas com todas as ligações e adaptações à nossa “máquina”, permitindo uma renovação eficiente e fácil numa qualquer “loja” de “peças humanas” que se encaixam como as peças dum Lego. Aliás, já existe há muitos anos aquilo que se designa por “engenharia de tecidos”, que é a arte de, a partir do cultivo de células, construir ou restaurar tecidos e órgãos de seres humanos ou animais. E já deixou de ser ficção para se tornar uma realidade.
A capacidade inventiva, do estudo à descoberta do ser humano parece nunca mais ter fim, num processo contínuo e competição por boas razões, mas também por algumas que a humanidade dispensava de boa vontade. E a guerra não deixa de estar presente nos objetivos de muitas delas.
Vêm aí, mas já não devo ter tempo para ver tudo isso: os drones a fazer entregas, poder viajar no comboio supersónico de Elen Musk, todo o tipo de avanços na inteligência artificial a produzir máquinas com consciência própria, roupas com poderes de super-homem, naves espaciais a Marte, realidade virtual a substituir os livros, casas inteligentes que nos preparam e fazem tudo, construídas com em impressoras 3D, além de servidas por robôs. Chega mesmo a ser difícil adivinhar o que as pessoas estão a imaginar …
À semelhança do que acontece com as sementes, para o futuro prevê-se também que existirão bebés geneticamente modificados com qualidades selecionadas, resistentes a todo o tipo de vírus e muitas outras doenças. Não me admiraria que um dia destes qualquer casal possa escolher o sexo da criança, cor dos olhos e do cabelo, altura e muitas outras particularidades, como se fosse desenhado à mão por encomenda. Viajar no espaço será comum e aprofundar os conhecimentos de astronomia, descobrir algo que nos torne invisíveis e a cura para a maioria das doenças. Todos esses avanços que aí vêm podem tornar a Terra um lugar melhor, mas também nos pode levar ao caos. Será que enquanto seres humanos faremos deste planeta um lugar melhor, mais solidário, igualitário e humano? Ou virá ao de cima e dominará tudo o que de mau existe na natureza humana?