Será que a sorte existe realmente?

O que mais pode explicar o sucesso dos nossos concorrentes ou adversários senão a sorte? O sucesso deles é a prova provada de que a sorte existe! Não estarão os sportinguistas a pensar neste momento que o sucesso do Porto ao ganhar a taça de Portugal em futebol não foi mais do que um golpe de sorte? Já os adeptos do Porto não acham que foi a sorte a decidir o jogo, mas o talento e o jogo jogado. 

É vulgar ouvirmos dizer: “Não tenho sorte nenhuma”, “a sorte não quis nada comigo” ou “não sou pessoa com sorte”. A verdade é que, como diz o provérbio, “a sorte é como um raio: nunca se sabe onde vai cair”. Mas, mais que isso, é um tema que “tem dado muito pano para mangas” pois presta-se a reflexões e conversas inflamadas às quais não faltam superstições e sabedorias sentadas à mesma mesa do café. Até nas coisas mais simples a sorte vem à baila, como é o caso clássico de, quando deixamos cair a fatia de pão, ela cai (quase) sempre com o lado da manteiga para baixo. Falta de sorte? Diria que é motivo para invocar a Lei de Murphy: “Tudo o que puder correr mal, correrá”. Porque, algumas coisas, acontecem simplesmente. Se, encontrares uma moeda na rua não depende de ti, perdê-la também não. Podes até ter um plano perfeito para a tua vida, mas isso não significa que vai dar tudo certo no final. 

É caso para perguntar se a sorte realmente existe ou se é o resultado do nosso esforço? Acreditas na sorte? Racionalmente, é uma questão difícil. No caso em que alguém acerta na lotaria, é sorte, destino ou lei das probabilidades? Claro que para se acertar implica primeiro tomar a iniciativa pessoal de jogar, o que não tem nada a ver com sorte e só depois é que se pode ter sorte ou não. Pois, quem não joga não ganha. Não adianta nada planear o que se fará com o dinheiro do prémio se nem sequer se comprar o bilhete. A sorte será consequência de jogar.

Acredito que existe a sorte tal como a conhecemos, algo totalmente inesperado que pode acontecer nas nossas vidas e em qualquer momento. No entanto, estou de acordo com o princípio estabelecido de que “a sorte acontece quando se junta a oportunidade com a preparação”. É que a oportunidade, nós não controlamos, mas somos responsáveis por estar preparados ou não para a aproveitar. Por isso, a forma mais eficaz e inteligente de poder construir a própria sorte é concentrarmo-nos naquilo que controlamos: a preparação. Porque, por mais que gostemos de pensar que podemos controlar totalmente a sorte, não podemos. E até podemos criar condições para persuadir e a potenciar, mas o seu conceito enquadra-se nos poderes a que se refere o poeta Wynten Hugen ao dizer: “Somos vividos por poderes que fingimos entender”.

Muita gente tem boa sorte na vida, mas também há quem só agarre a má sorte apesar de não a querer. Há a “sorte de principiante” para os que começam a fazer alguma coisa, mas outros têm “sorte macaca”. Também se diz que “a desgraça de uns é a sorte de outros” e que “nunca conseguirás convencer um rato de que um gato traz boa sorte”. Já eu sigo o conselho de que “nunca devemos reclamar do barulho quando a sorte nos bater á porta”.

Há quem acredite que “ter sorte” depende só de nós. É verdade que podemos fazer muito para que “a sorte nos sorria”, mas há partes do processo que não estão ao nosso alcance. Alguém fez esta analogia: “A vida é como uma horta. Tu preparas a terra, semeias com todos os cuidados, arrancas as ervas daninhas, adubas, regas e esperas a ver o que acontece. Se chover demais, não há colheita. Se faltar a chuva, ou compensas com rega ou também não há. O sol ajuda, mas também pode atrapalhar. Fizeste uma parte do trabalho duro, mas o resto não depende de ti”.

Se pensas que por cruzar os dedos, bater na madeira e acender velas coloridas atrai a sorte, esquece. Não funciona e o mesmo acontece com os amuletos, trevos de 4 folhas, pedras de energia, pulseiras e outras práticas mais. E se julgas que passar debaixo de uma escada, o número 13, ver um gato preto e tantas outras superstições são sinal de azar, estás muito enganado. Segundo alguns estudiosos, parece que a sorte existe realmente. E se quiseres ter mais sorte, a ciência descobriu como o conseguir. Na sua pesquisa, Wiseman chegou à conclusão de que, “boa parte da sorte ou da sua ausência tem a ver com a atitude de cada um. Mas a maioria das pessoas (sem sorte) não está aberta àquilo que está à sua volta”, indo de encontro ao que diz Jacinto Benavente: 

“Todos acham que ter talento é uma questão de sorte. Ninguém pensa que a sorte possa ser uma questão de talento”.

E até coloca uma questão: “O que é que estás disposto a fazer hoje para que a sorte te sorria”? 

Nós tendemos a explicar os factos da nossa vida fazendo atribuições às suas causas, muitas das vezes de forma enviesada. E, por isso, ou nos dizemos culpados pelos nossos insucessos, genes, maus hábitos e o que quer que seja ou pomos a culpa toda nos outros, nos nossos pais, professores, mulheres e homens, judeus ou muçulmanos, na sociedade ou em qualquer coisa como a sorte. Ou então, culpamos e atribuímos algo ao destino e à sorte.

Ao chegar aqui, sinto que tive muita sorte na vida, se bem que tenha de usar as palavras de um amigo meu quando alguém o felicitou por atingir o pico da carreira e lhe disse que ele tivera muita sorte. Ora, sabendo ele o quanto trabalhara e se sacrificara para alcançar o sucesso, respondeu-lhe: “Se você soubesse o quanto custa ter sorte” …

Mas lembre-se sempre que “com sorte, você atravessa o mundo e, sem sorte, você não atravessa sequer a rua” …