“Portugal está na moda”, dizem os políticos, os agentes turísticos, os comerciantes, os carteiristas, os arrumadores. E os turistas vêm aos magotes, inundando as cidades e cansando os residentes. A pergunta impõe-se: afinal, qual a razão porque vem tanta gente visitar-nos? Os governantes dizem que o mérito é todo deles e só deles; os autarcas, afirmam que o país está mais bonito pelo seu trabalho; os hoteleiros realçam o facto de terem uma excelente oferta; os donos das casas de “comes e bebes”, acham que os atraem com os sabores; outros há que referem a segurança, que a vida é barata (para eles), o sol brilhante, os pasteis de nata doces e outras banalidades. Mas, cá para mim, a principal razão somos nós, gente deste país à beira mar plantado, herdeiros de Egas Moniz. Não o Egas Moniz médico, premiado com um prémio Nobel por ter “cortado a consciência” a doentes mentais. Mas o outro Egas Moniz mais velho, o aio que, segundo reza a lenda, foi descalço e de “baraço” ao pescoço até Toledo, com a mulher e os filhos e colocou-se ao dispor do imperador da Hispânia, já que D. Afonso Henriques não cumprira o acordado por ele. Hoje somos como esse Egas Moniz: andamos de “baraço ao pescoço”. E, por andar de “baraço o pescoço”, somos ainda mais uns “gajos porreiros” com os estrangeiros (de fora). Temos até tradição na arte de bem receber. Veja-se o caso do Zezé Camarinha, que levantou bem alto o orgulho algarvio. Para quem esteve atento, somos tão simpáticos a receber que, como bons anfitriões, deixamos que os concorrentes do Festival da Eurovisão “passassem” todos à nossa frente. Todos, sem exceção. Foi só por isso que ficamos no fim da lista. Porque, a canção, era “um jardim” … Que país conseguiu atirar-se do primeiro lugar do ano anterior para o último? Nenhum. “Somos o primeiro” …
Mas sempre fomos assim, pondo os outros em primeiro lugar, mesmo que nos tenham feito as maiores patifarias. Veja-.se o Isaltino Morais que “foi dentro” por “meter a mão no prato”. Que melhor exemplo de tolerância e condescendência? Que maior gesto de “inclusão social” se pode dar ao eleger um homem com o seu “currículo”, como quem confia na raposa para tomar conta do galinheiro??? Mas, como este, temos muitos outros exemplos de gente que “fez tudo pela vida” nos cargos públicos que ocupou e, apesar de enriquecer de forma rápida e estranha, “afundando” ministérios, empresas, bancos, instituições e outras “minas” que lhes foram confiadas, acabaram sempre por ser “castigados” com a atribuição de um outro “poleiro” ainda mais rentável ou de voltarem a ser eleitos. Quantos Valentin Loureiros, Sócrates, Pinhos, Armando Varas, Dias Loureiros, Duarte Limas e outros que tais não estaremos dispostos a “carregar às costas” até ao palanque do poder, apesar do que se sabe e do resto que se imagina? Todos eles, sem exceção. Estejam eles dispostos a voltar ao palco. Nós damos-lhe a mão, sem reservas, como nossos líderes queridos. Somos assim. Temos os braços abertos e mãos largas para os nossos maiores inimigos. Damos a face direita a quem nos der um murro na esquerda e confiamos o cartão de crédito a quem nos meter a mão no bolso para sacar a carteira. Porque não? Se já estão habituados a “gamar” e são “bons profissionais”, porque arriscar num “principiante”? Seria um desastre total, não tinha “jeito para a coisa” …
O Brasil leva-nos vantagem: há “homens do gamanço” que assumem sê-lo e o povo aceita. Mal por mal, sempre têm de escolher um!!! “Eu roubo, mas faço”, foi o slogan de Adhemar de Barros, ex-governador de S. Paulo. Não me lembro de ouvir um só político português a fazer tal confissão, ainda que se prove que rouba. São sempre inocentes, tal como são mentirosos. Mas nós, como permissivos que somos, os tais “gajos porreiros”, sempre que um “pilhador de dinheiro público” aparece no boletim de voto, acabamos por lhe pôr a cruz. Porquê? É mais forte do que se pensa. Só o consciente acha “indigesto” engolir o corrupto. O comum dos eleitores pensa nos benefícios conquistados e esquece tudo o resto. “Que se lixe. Ele é que é um gajo esperto“ …
Como “submissos” que somos, somos “fortes com os fracos e fracos com os fortes”. Por isso, “baixamos as calças” se for preciso, até nos verem o tal buraco ao fundo das costas, quando um “homem grande” nos bate o pé. Ou não foi isso que aconteceu com o caso conhecido por “Manuel Vicente”? Como este “senhor” não é um “pilha galinhas” nem um gajo a quem se possa dar um pontapé no traseiro por “dá cá aquela palha”, quando quisemos empertigarmo-nos, deixando de ser uns “porreiros” para querer que a justiça funcionasse sem olhar a quem, quem levou um enorme pontapé no fundo das costas fomos nós. Que raio de estupidez querer julgar aqui em Portugal um tipo que cometeu (supostamente) um crime em Portugal! Isso não é de “gente fixe”. Fomos uns imbecis ao insistir nessa tecla durante tanto tempo e logo contra “uns gajos fortes” que nos têm na mão. Andamos a fazer birras, recusando enviar o processo do “Manuel” para Angola e o que ganhamos? Uns puxões de orelhas, de castigo contra a parede e ficamos a falar sozinhos até aprendermos. E “aprendemos mesmo”, ao ponto de mandar o tal processo judicial para Angola. Ora, eles até tinham razão: o homem é de lá, já o conhecem de ginjeira (e ele sabe e conhece os que o vão julgar …), falam a mesma língua (que não é bem a nossa), o homem não tem de ir ao estrangeiro para ser julgado e, seja qual for o resultado final do processo, que já não é importante, fica tudo em família e nós somos novamente uns “gajos porreiros”. Não é isso que interessa? Claro. Assim, até já fomos recebidos pelo “rei” que andava a dizer não nos conhecer de “urinol” nenhum. Agora, bué de fixe. “Está tudo no seu lugar, graças a Deus” e até já voltamos à condição de “país irmão” … Somos ou não somos um país tolerante, condescendente, permissivo, liberal e … fraco? Quando digo “fraco” quero dizer que, apesar da “diarreia verbal” dos governantes em que parecemos (e só parecemos) fortes, tivemos falta de força na “coluna vertebral” e não conseguimos manter a “espinha” direita. E acabamos com “o rabinho entre as pernas”, feitos “cavaleiros de triste figura” …