Monthly Archives: January 2014

Os homens e as instituições

Diz-se que os “homens passam mas as instituições ficam”, mas também não deixa de ser verdade que, se os homens que as lideram forem grandes e agirem como tal, poderão engrandece-las mas se a sua grandeza se resumir ao tamanho do corpo, poderão enfraquece-las, quando não condená-las à extinção.

Não faltam líderes e muito mais candidatos a líderes de instituições associativas, sobretudo quando delas é possível retirar dividendos traduzidos em dinheiro, poder, prestígio ou rampa de trampolim para outros voos. A questão está no que é que esses líderes poderão dar à instituição e não o contrário. Se estão cientes – e são capazes – de que é preciso participar, oferecer a sua quota pessoal e temporal à instituição e estar na trincheira para a sua defesa. É que os homens devem viver as instituições e não o contrário, pois só assim elas serão o seu predicado.

Aqueles que assumem cargos de liderança nas instituições não podem ficar alheios às coisas e aos factos, como se o mundo se resumisse aos seus umbigos, e jamais podem esperar que as mudanças, o crescimento, a evolução e o aperfeiçoamento ocorram por milagre, para quem vive sem agir.

As associações locais, sejam desportivas, recreativas, culturais ou humanitárias, sofrem quase sempre de constrangimentos financeiros e económicos, que obrigam os dirigentes a um trabalho suplementar visando a sua sustentabilidade. Assim, se já é um feito louvável fazer com que esta seja assegurada pois, por regra, é necessário um esforço muito grande, maior o será quando se permitem, para além disso, crescer, realizar novos projetos, alargar a ação da instituição que dirigem, acrescido do facto de o fazerem de forma voluntária e gratuita ( até porque, quando se é remunerado, o mérito é substituído pela obrigação).

Vem isto a propósito da justíssima homenagem que a atual direção da Associação de Cultura Musical de Lousada (ACML) promoveu no Auditório Municipal a anteriores dirigentes que se retiraram recentemente, responsáveis pela recuperação e consequente crescimento da associação ao longo dos últimos catorze anos.

Em 1999 a ACML encontrava-se à beira do abismo, com um passivo tão elevado que já ninguém queria assumir a sua direção e com a sobrevivência presa por um fio. Foi a partir daí que sucessivas direções lideradas por Clemente Bessa não só retiraram a ACML do atoleiro económico e financeiro em que se afundara como a projetaram para o futuro, transformando as suas escolas no Conservatório de Música do Vale do Sousa, concretizando novos projetos e multiplicando o número de alunos muitas vezes.

Com mais de quarenta professores, o Conservatório é hoje um viveiro de músicos com duas orquestras de sopros e uma de cordas, cinco coros, uma big band, quarteto de saxofones e outros, a escola integrada no ensino oficial, uma história de sucesso com mais valia para a região onde está inserida e para a comunidade que serve, dela beneficiando centenas e centenas de jovens. E tudo isso se deve aos Homens (e Mulheres) que, com muita competência souberam acreditar e trabalhar para que fosse possível fazer do sonho uma realidade, pois não basta sonhar e esperar que as coisas aconteçam por si.

Ao longo do espetáculo de homenagem dado por professores e alunos, foi visível a emoção de Clemente Bessa, o homem forte que liderou todas as direções dos últimos catorze anos, especialmente durante a excelente atuação do Coro Feminino em cuja constituição pôs o seu empenho pessoal e ao qual deu todo o apoio.

Como mágoa destes dirigentes fica o facto de não terem conseguido suster a saída da maioria dos músicos da Bande da ACML depois de um longo período de negociações impossíveis, dada a sua exigência assentar numa questão ilegal com a qual a direção não podia nem devia compactuar – queriam receber dinheiro pelo seu trabalho sem passar recibo, fugindo aos impostos. Acabaram por deixar de servir a associação e constituir uma nova coletividade, onde estarão livres para tudo, levando consigo indevidamente e sem autorização, as viaturas, fardas e instrumentos que são pertença da ACML e que teimam em não devolver a esta, obrigando a direção a ter de recorrer à justiça para reaver o que lhe pertence, num processo longo, triste e pouco edificante.

Esta “debandada” dos músicos é muito menos um problema e muito mais uma oportunidade para a ACML proceder à reorganização e ao rejuvenescimento da sua Banda de Música, noutros moldes, com novo paradigma e de forma sustentável, para não voltar a pôr em causa o futuro da própria instituição.

Voltando ao início, “os homens passam mas as instituições ficam”. No entanto, as instituições são o reflexo da grandeza dos seus líderes. E, se a Associação de Cultura Musical de Lousada “ainda ficou”, cresceu e passou a dar frutos, foi graças à grandeza e ao trabalho excepcional desse grupo de Homens (e Mulheres) com quem, nós comunidade, passamos a ter uma dívida de gratidão. OBRIGADO.

Ganhamos bens, mas perdemos…

Estava no supermercado e, à minha frente, um miúdo fazia birra com a mãe porque queria que lhe comprasse um determinado brinquedo. Quando ela, com voz insegura, lhe disse que não, recebeu em cheio a resposta, como uma bofetada: “És uma filha da p…”. A mãe sorriu fingindo que não percebera e, para calar o tirano… deu-lhe o brinquedo. Eu não queria acreditar, mas foi com este “mimo” à mãe que o conseguiu…

Quando eu era criança, seria impensável que esta cena acontecesse porque, para nós crianças, pai, mãe, avós, professores, autoridades e todos os adultos, eram pessoas por quem tínhamos respeito e consideração, não havendo lugar a respostas mal educadas muito menos a insultos grosseiros como neste caso. Fui criado com princípios morais comuns e por isso, ao rever este momento e pensar no como chegamos aqui, parece-me inconcebível o muito que perdemos, a sociedade que criamos, que eu não gostaria de deixar aos meus descendentes. Ganhamos bens materiais, tantas vezes em demasia, mas vendemos “a alma ao diabo” cedendo em troca, se é que foi exigida moeda de troca, os princípios morais que nos norteavam. Afinal, ganhamos ou perdemos?

Conquistamos a liberdade, mas fechamos as portas das nossas casas, pusemos grades nas janelas e construímos muros à volta, cada dia mais altos, cada dia com meios de vigilâncias mais sofisticados. Somos livres… mas encarcerados..

Adquirimos equipamentos de comunicação cada vez mais modernos, mas não falamos com os familiares e amigos, deixamos de conviver com a vizinhança e, quase sempre, nem conhecemos sequer o vizinho que vive há vários anos na porta ao lado.

Fizemos entrar pela porta uma grande televisão para a sala, mas deitamos pela janela fora esse momento especial das refeições para as conversas entre pais e filhos, ficando o resmungar por querer ver outro canal ou porque não nos deixam ouvir.

Oferecemos telemóveis, Ipads e computadores aos filhos para eles nos enviarem mensagens e recados, porque não temos tempo ou já não conseguimos… falar uns com os outros.

Queremos segurança nas nossas vidas mas retiramos autoridade aos agentes que a deviam ter, processando-os e prendendo-os por exercerem as suas funções, enquanto se mandam ladrões em liberdade por… “exercerem as suas funções”…

Preocupamo-nos em criar e defender leis para que os criminosos tenham direitos, enquanto as vítimas… não têm direitos nenhuns.

Criamos as crianças como pequenos ditadores que podem fazer e exigir tudo o que querem, sem nos preocuparmos que essa (falta de) educação se virará contra elas, e deixamos de lhes ensinar o respeito pelos mais velhos, a começar pelos pais.

Damos tudo o que os filhos pedem, alimentando vaidades que não são educativas nem formativas e esquecemos a simplicidade e a humildade.

Formalizamos acordos em contratos de muitas cláusulas, redigidas por reputados juristas, para não serem cumpridos, e desvalorizamos o aperto de mão como selo inviolável de um compromisso que a honra não permitia quebrar.

Geramos uma sociedade de caloteiros sem vergonha e quem passou a ter vergonha de pedir o que é seu são… os credores, porque pagar dívidas é para… burros.

“O tempo dá-o Deus de graça”. Nós é que só o queremos vender… ao esquecer o espírito comunitário da entreajuda, a solidariedade.

Exigimos a prisão dos pequenos ladrões, os “pilha-galinhas”, mas àqueles que roubam fortunas dizemos que “fizeram um desvio” e ainda os consideramos… “espertos”.

Passou a valer mais parecer do que… Ser.

Conhecemos e estamos muito bem informados sobre a vida de uma qualquer figura mediática, sofrendo e chorando com as suas (muito badaladas) desventuras… mas ignoramos quem nos está próximo.

Como este mundo está em constante mutação, vou sonhando que um dia se possa voltar a ver gente com “vergonha na cara”, “a palavra a valer mais que uma escritura”, as crianças a correrem em liberdade e em segurança, o sorriso no rosto de quem trabalha, a partilha com o vizinho do pouco que se tenha, a saudação e o sorriso entre pessoas que se cruzam, as portas de casa abertas com a tranquilidade de uma segurança real.

E a alegria natural que existia nas pessoas simples da aldeia, quando iam lavar a roupa, nas desfolhadas, em grandes “ranchos” para sachar o milho, nas vindimas ou a segar a erva, apesar de não terem o mínimo de bens materiais para viver com dignidade, sobrevivendo. E, na sua humildade, cantavam sempre, como se essa alegria lhes enchesse o estômago e aquecesse a alma.

E hoje, de “barriga cheia”, onde ficou a alegria? Na barriga não, porque já não cabe lá. Talvez esquecida entre o muito “lixo” da sociedade de consumo em que nos atolamos, para pensar que somos felizes…

Dão dinheiro ou… estamos a jogar?

O tempo de crise que vivemos tem sido propício ao incremento do número de pessoas que jogam a dinheiro, do casino à lotaria, do euro milhões ao bingo, numa tentativa de fazerem fortuna que, na maior parte das vezes, nunca acontece. Mas será que esses jogadores sabem naquilo em que se metem? Saberão o que é a “vantagem da casa”? Ou a “percentagem média que é devolvida ao jogador”? Ou até quais são as “possibilidades reais de ganhar”?

Nos jogos a dinheiro há os de fortuna ou azar e os de perícia. Os  primeiros, são um total desafio à sorte porque dependem somente dela, sem que o jogador possa influenciar o resultado pois, ganhar ou perder, não depende de si. E todos podem ganhar. É o caso da lotaria, máquinas de jogo, roleta, etc.. Nos jogos de perícia, como o poker, a habilidade do jogador pode influenciar o resultado.

Em Portugal, é o Estado que detém o monopólio do jogo, concedendo a sua exploração aos casinos ou cedendo-a como o fez com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa a quem atribuiu a “missão” de explorar os chamados “jogos sociais”.

Sobre estes, começo por não entender (ou não quero) o porquê de se chamarem “jogos sociais” pois, cá para mim, jogos sociais são aqueles onde se “sociabiliza” como a sueca, a bisca lambida e o dominó, numa forma de convívio salutar.

Já nos “jogos sociais” da Santa Casa, o que se procura não é “sociabilizar” mas “sacar-nos” a massa para fins sociais (alegadamente), pois a maior parte do bolo vai para os cofres do Estado, embora uma boa fatia fique na Misericórdia de Lisboa.

E, é bom relembrar que esta é uma espécie de instituto do Estado, um “asilo dourado” para políticos com o emblema do partido que está no poder, e que nada tem a ver com as centenas de Misericórdias espalhadas pelo país, que não recebem um cêntimo desse dinheiro.

Nos últimos tempos surgiu uma novidade, vendida com roupagem diferente. Os três principais canais de televisão nacionais, entre os quais a RTP1,  passaram a massacrar-nos  com “donativos” generosos a troco de uma simples chamada de sessenta cêntimos mais IVA. Como é que de repente as televisões nos dão dinheiro a troco de nada, mesmo a pública que está meia falida e com débitos de muitos milhões? Terão sido atacados por algum vírus que provoca a generosidade? Não me parece e “quando a esmola é grande o pobre desconfia”…

A verdade é que é deprimente assistir aos programas das tardes de fim de semana pois os apresentadores têm de se sujeitar ao papel mesquinho e ridículo de “venda” de um jogo, tal como a lotaria ou a raspadinha, encapotado de “dádiva”, feitos vendedores da “banha da cobra” em feira de ano.

E passam minutos seguidos no “telefone que temos quarenta mil euros para lhe dar”, “ligue e tem cinquenta mil euros garantidos”, “ligue e tenha um Natal feliz com o que lhe vamos dar”, dizendo as barbaridades mais incríveis para aliciar novos e velhos que estão tranquilamente em suas casas e que acabam por cair na ratoeira. São só sessenta cêntimos mais IVA? “Uma ova”. São sessenta cêntimos mais IVA vezes duas, três, quatro ou cinco chamadas, vezes meio milhão, um milhão ou mais de clientes… Pois é, diz-se que esta “oferta” já é uma das principais receitas das televisões… e não é um jogo. Olha se fosse… Mais, o prémio até é líquido, não paga imposto ao Estado como os prémios dos “jogos sociais”. É por ser dos senhores da televisão? Ou por ser um “jogo” ou “rifa”, mas que afinal não é uma coisa nem outra?

Claro que se trata de um jogo de fortuna ou azar, como a raspadinha ou o totoloto, onde quem joga (telefona) depende “exclusivamente” da sorte – na raspadinha até sai mais vezes. Porque não param de fingir? Aliás, esses programas de fim de semana são um fingimento quase total, Os artistas “fingem” que cantam e até os instrumentos são para “fingirem” que tocam, Por isso não admira que os apresentadores “finjam” que o jogo seja um passatempo, talvez para apanharem mais incautos. E alguns prémios, disseram-me, não são em dinheiro vivo mas sim em crédito para fazer compras. Isso lembrou-me um episódio da minha vida.

Pouco depois de entrar numa empresa de construção um dos meus sócios vendeu um apartamento a pronto pagamento. Excelente. Mas, para o vender “a pronto” fez um desconto especial e aceitou o pagamento em… materiais de construção, pois o comprador era dono de uma empresa do ramo na região. Ficamos assim com um crédito. Em função disso, encomendamos materiais de construção que correspondiam ao valor do apartamento mas, quando chegou a fatura, estranhei os preços. Quando os comparei com os de uma pequena loja perto do escritório verifiquei que os da fatura eram 50% mais caros.

Para não lhe chamar ladrão de caras, perguntei ao “comprador” se não se enganara, até porque os preços deveriam ser ainda mais baixos do que a loja vizinha. “Sabe, como não tenho dinheiro para pagar os materiais vou ter de assinar letras e depois vou ter de as reformar algumas vezes, pelo que subi os preços para compensar os encargos…” respondeu ele. “ O meu sócio vendeu-lhe um apartamento com grande desconto por ser a pronto pagamento e agora está a debitar-nos os encargos que são seus? Leve a fatura, vá para casa e decida se quer praticar os preços de mercado ou se vai manter esses, o que seria um roubo, porque é disso que se trata”, respondi-lhe. Claro que o dito “empresariozinho” manteve os valores de fatura… e o roubo. Foi assim que chegou a rico?

Não digo que as televisões estejam a fazer o mesmo mas, que estão a ganhar dinheiro à nossa conta… estão, o que quer dizer que não nos dão nada. Por isso, prefiro a raspadinha… porque é um jogo, e não “finge” que o não é…  

O meu Natal… na mensagem do Nuno

No baú das recordações tenho um cantinho especial dedicado ao Natal. Lá longe, tão longe que às vezes já nem sei se foi sonho ou realidade, vejo-me em casa da minha avó materna, sentado no preguiceiro com os pés em cima do lar onde a acendera uma grande fogueira. Enquanto eu, os meus irmãos e os meus primos jogávamos ao “rapa” a pinhões (tal como os apanhávamos de um enorme pinheiro manso que havia na mata dos Morgadinhos), ela ia fazendo a aletria, os formigos e as rabanadas – não as fritas de hoje mas as de mel, feitas com pão de cacete, demolhadas em água com açúcar e canela a ferver, colocadas numa travessa e regadas com esse precioso alimento. Para tudo isso, usava uma grande panela de três pés e dois tachos que tinha em cima duma “trempe”. Era naquela fogueira que depois cozia as batatas com bacalhau para a Ceia, onde juntava todos, filhos e netos.

Depois da Ceia, ficávamos por ali a jogar ao rapa enquanto os mais velhos jogavam às cartas até perto da meia noite, hora de ir para a Missa do Galo.

O Menino Jesus é que “trazia” as prendas, quase sempre umas luvas ou uma camisola tricotadas à mão pela minha mãe, com lã comprada em meadas na Casa Valinhas e que eu ajudava a “dobar”, e um guarda chuva de chocolate, e nunca ouvi falar em árvore nem em pai natal. Era um Natal vivido em pleno no seio da família, à volta da mesa, da lareira e do quintal.

Ano após ano essa noite foi-se repetindo e renovando com a mesma tradição, com o mesmo espírito de celebração do nascimento do Deus Menino, com o sentimento particular da sua importância.

De mais ou menos longe, regressava sempre a casa, para o “colo” dos meus nesse dia tão especial, a que só faltei quando estive no serviço militar em África. Mas, à medida que a economia crescia e com ela a sociedade de consumo, o Natal foi pouco a pouco sendo visto como uma oportunidade de incremento da atividade comercial pelo que, a indústria, a publicidade e o marketing venderam-nos a árvore de natal, iluminações variadas, as prendas, o pai natal e as renas e até o papel de embrulho, sempre com o objetivo de… consumirmos.

A industrialização provocou divisões nas famílias ao fazer deslocar alguns dos seus membros para mais longe, longe esse muitas vezes para lá das fronteiras, tornando mais difícil essa reunião natalícia. Mas, com todas as vicissitudes, as dificuldades e os aproveitamentos, o Natal manteve-se como um momento único, celebrado por crentes e não crentes, novos e velhos, nos quatro cantos do mundo.

Nessas transformações, vieram as dificuldades de muitos católicos em lidar com a quebra de tradições a troco de símbolos do consumismo, da sua comercialização, do esquecimento do essencial do Natal e da sua mensagem, apesar de continuar a ser motivo para interromper guerras, suspender ódios, gerar ondas de solidariedade, lembrar os indigentes. Nem sempre foi fácil aceitar ou explicar tais mudanças. Dizia-me à pouco uma mãe colombiana que estava com um problema para explicar à filha quem lhe “trazia” as prendas de Natal. Na tradição colombiana, ainda continua a ser ao Menino Jesus que as crianças dirigem os seus pedidos mas, a penetração publicitária do pai natal, começa a fazer sentir-se. Perante as perguntas da filha, adoptou uma atitude mista, religiosa e profana, dizendo-lhe que é e sempre foi o Menino Jesus. E quando ela lhe perguntou “E o pai natal?” respondeu-lhe que ele é um empregado do Menino Jesus, cabendo-lhe fazer as entregas…

As alterações às tradições natalícias também trouxeram os cartões de boas festas, os telefonemas e, agora, as mensagens, institucionais ou pessoais, mais ou menos elaboradas, de que recebi umas quantas de gente que me é querida. De todas elas, há uma que me foi enviada pelo meu primo Nuno e que não posso deixar de partilhar quase na totalidade, pela forma e pelo conteúdo (ele que me perdoe por fazê-lo sem a sua autorização).

Diz o seguinte:

“Sabem, é Natal em 2013…

Mais um para alguns,…

Menos um para outros, esses outros a quem a sorte é madrasta: os sem abrigo, os indigentes, e todos aqueles a quem a roda da fortuna não sorriu.

É a vida que temos, na sua crueza, feita de opostos e contradições.

Mas sabem, nunca como hoje e por mais anos que se escoem na minha vida, a memória do meu Natal é tão presente. Aquela do presépio humilde (sem árvore nem pai natal, esses símbolos do consumismo hodierno…) presentes simples, alegria do encontro da família, a partilha, a celebração do Menino Deus logo na Missa do Galo… Sim, porque esse era O aniversariante.

Sem nos darmos conta fomos deslocando o Natal para o que menos interessa: o nosso conforto, o nosso interesse, o nosso egoísmo. Passamos a ser nós os aniversariantes e esquecemo-nos uns dos outros…

Ora, não há Natal sem o outro, sem a partilha, sem a solidariedade, sem a entrega e com condição. Quando o fazemos, egoisticamente, esquecemos o Menino Deus, abandonámo-lo e fingimos.

Nasceu pobre entre os mais pobres, em família modesta, numa manjedoira (esqueçamos o burro ou a vaca que tanta tinta motivou…), Ele que é filho de Deus, feito homem. Trouxe-nos esperança. O Natal é Dele. E sendo Dele, será sempre o meu Natal, como já era dos meus pais, dos meus avós, etc..”

Obrigado Nuno, por me recordares o “Meu Natal”…