É costume dizer-se que “o tempo dá-o Deus de graça, mas nós é que o queremos vender sempre”. Sou do tempo em que as pessoas tinham tempo para dar umas às outras, sem pressas, sem cobrar à hora, sem desculpas de falta de tempo, sem subterfúgios, evasivas ou mentiras, sem telemóvel a debitar toques atrás de toques chamando à razão para o cumprimento dos horários duma “agenda” sobrecarregada, tudo ao minuto fazendo do relógio um ditador e de cada um escravo. As pessoas “davam tempo”, partilhavam-no, faziam-se comunidade em ações coletivas como vindimas, desfolhadas, sachas e em outros trabalhos agrícolas ou nas individuais, de vizinho para vizinho em interajuda que se não esquece, numa disponibilidade feliz.
Todos somos solicitados diariamente enquanto pais, filhos, vizinhos, familiares, amigos, ricos, necessitados, chefes, subordinados, patrões, empregados, a satisfazer um pedido simples ou complexo, pessoal ou institucional e são tantas as vezes que manifestamos logo a falta de disponibilidade ou má vontade em corresponder ao que nos pedem, pela forma como reagimos, incomodados e até agressivos, do alto de um pedestal de barro, sem respeito, atenção, simpatia ou compaixão por quem precisa, quando poderíamos fazer isso … e muito mais.
A história que se segue, tida como verídica, foi publicada na revista “Bombeiros em Emergência”, publicada em S. Paulo, Brasil, com a intenção de ser divulgada e a fazer circular para que a sua filosofia e princípios fossem internacionalizados.
“A mãe sentou-se ao lado da cama do seu filho de 6 anos, doente com leucemia terminal. Embora o seu coração estivesse cheio de angústia e tristeza, era muito determinada. E, como qualquer mãe, ela gostaria que ele crescesse e realizasse os seus sonhos. Porém, não seria mais possível por causa dessa leucemia terminal. Disfarçando a angústia, debruçou-se sobre ele, pegou-lhe na mão e perguntou: – Filho, alguma vez pensaste no que gostarias de ser quando cresceres? – Mãe, eu sempre quis ser bombeiro! A mãe sorriu e disse: – Vamos ver o que se pode fazer. Naquele mesmo dia ela foi à Corporação de Bombeiros local, contou ao chefe a situação do seu filho e perguntou-lhe se eles poderiam levar o garoto a dar uma volta do quarteirão no carro dos bombeiros. Então o chefe disse: – Nós podemos fazer mais que isso. Se você estiver com seu filho pronto às 7 horas da manhã daqui a uma semana, nós o faremos um bombeiro honorário por todo o dia. Ele poderá vir para o quartel, comer connosco e sair para atender as chamadas de emergência. Se nos der as medidas dele, conseguiremos um uniforme completo: chapéu com emblema do nosso batalhão, um casaco amarelo igual ao que vestimos e botas.
Uma semana depois o bombeiro-chefe pegou no garoto, vestiu-o com o uniforme de bombeiro e escoltou-o da cama do hospital ao camião dos bombeiros. O menino ficou sentado na parte de trás do camião e foi até ao quartel. Parecia que estava no céu. Ocorreram 3 chamadas naquele dia na cidade e o garoto acompanhou as três, cada uma delas num tipo de veículo diferente: num autotanque, na ambulância dos paramédicos e até no carro especial do chefe do corpo de bombeiros. Todo o amor e atenção que foram dispensados ao menino acabaram por comovê-lo tão profundamente, que ele viveu mais três meses que o previsto pelos médicos.
Uma noite, todas as suas funções vitais caíram dramaticamente e a mãe chamou ao hospital a família. Então, ela lembrou-se da emoção que o seu filho tinha passado naquele dia de bombeiro honorário e pediu à enfermeira que ligasse ao chefe da corporação e perguntasse se seria possível enviar um bombeiro ao hospital naquele momento trágico de partida para ficar ao lado do menino. O bombeiro-chefe respondeu: – Nós podemos fazer mais do que isso. Nós estaremos aí em alguns minutos. Mas faça-me um favor: Quando ouvir as sirenes tocar e vir as luzes dos carros, avise no sistema de som que não se trata de nenhum incêndio, mas apenas o corpo dos bombeiros vindo visitar mais uma vez um dos seus mais distintos integrantes. E pode abrir a janela do quarto dele. E agradeceu.
Poucos minutos depois as viaturas chegaram ao hospital. Estenderam a escada “magirus” até ao andar onde o garoto estava e 16 bombeiros subiram. Com autorização da mãe, eles abraçaram-no, seguraram-no e disseram que o amavam. E com a voz fraquinha, o menino olhou para o chefe e perguntou: – Chefe, eu sou mesmo um bombeiro? E o chefe respondeu: – Sim, você é bombeiro e um dos melhores! Com estas palavras o menino sorriu e fechou os olhos para sempre”.
Qualquer que seja a nossa área de atividade e capacidade, devemos ter presente o facto e importância de que podemos fazer sempre algo mais do que nos pedem. Infelizmente, demasiadas vezes atendemos o pedido contrariados ou em “piloto automático”, se não recusarmos com maus modos, como se “O Outro” nos esteja a chatear. Será que a nossa atenção e disponibilidade só aparece quando nos convém, dá jeito ou nos deixamos comprar?
Diante dum pedido dos teus pais, irmãos, filhos, parentes, amigos, necessitados, clientes ou tão somente cidadãos, tens respondido: “Eu posso fazer mais do que isso”? A divulgação desta história que aqui trago tem como objetivo convidar-te a refletir se a tua vida tem sido de serviço ao próximo, de fazeres pelo “Outro” aquilo que gostarias que te fizessem a ti e levar-te a tomares uma decisão hoje mesmo.
É que, “pior do que querer fazer e não poder, é poder fazer e não se querer” …