A vida passa tão depressa que, se demorarmos um pouco mais a pensar no dia de hoje, quando mal nos acordarmos já estamos a recordar o dia de ontem sem que tenha sobrado grande tempo para pensar no amanhã. Uma vida representa um momento muito breve, mas mesmo assim podemos fazer a diferença na vida de outros que vivem connosco neste mundo e que tantas vezes precisam de nós.
Por vezes, uma só palavra faz toda a diferença. E é aqui que entra a palavra “solidariedade”, com um enorme significado, embora cada um de nós o faça à sua maneira. Uma palavra tantas vezes esquecida num mundo impessoal, de egoísmo, ganância e individualismo, mas que faz tanta mais falta quanto mais é ignorada. Constata-se que os seres humanos são muito solidários e altruístas nas desgraças. No entanto, em estados de graça são sempre egoístas e exclusivistas. Em suma, até parece que precisamos de tragédias para nos dispormos a ser solidários. Felizmente, ainda há muita gente que a tem guardada no coração e vive para ela.
Como explicar o que é a solidariedade? Há muitas formas de o fazer, mas solidariedade significa identificar-se com o sofrimento do outro e, principalmente, dispor-se a ajudar a solucionar ou amenizar o seu problema. É ter interesse pelo próximo, é ajudá-lo a não se perder, a não ser enganado, a não ter a saúde e vida em risco. É oferecer ajuda a alguém que conhecemos ou não e que passa fome, sofre violência, discriminação, preconceito e qualquer outro tipo de diferença social.
A solidariedade é uma qualidade imprescindível para vivermos em sociedade e para tornar o mundo melhor. Quantas vezes pessoas que conhecemos passam por necessidades? Ajudá-las, é ser solidário. Mas se essas pessoas nos são desconhecidas, ajudá-las será um ato ainda maior.
Ser solidário não é só dar bens materiais. Há muitas formas de o fazer. Umas vezes, por palavras, outras na presença silenciosa, pois há ocasiões em que a maior necessidade é de “colo”, para ser ouvido e desabafar.
O sentido mais básico da solidariedade pressupõe que seja exercida sem discriminação de sexo, raça, religião ou outra e deverá ser feita no anonimato, sem alardear aos ventos o que se fez, sem que uma mão saiba o que a outra deu. Mas o termo tem sido desprestigiado pelo abuso do discurso político e do “marketing” solidário. É que a verdadeira solidariedade é “dar sem receber nada em troca e sem que se saiba”. É ser desinteressado, fazendo-o por convicção, justiça e igualdade. É indispensável a reanimação da solidariedade social como virtude e denunciar o seu uso como instrumento político, usado e abusado à exaustão para colher dividendos pessoais e partidários. E há que desconfiar do entendimento da “solidariedade social” como coação sobre o dinheiro alheio, num saque brutal aos contribuintes porque, “é fácil ser solidário … se os outros estão sendo forçados a pagar os custos”.
A solidariedade é a forma de tornar a vida das pessoas um pouco melhor e mais digna, daí que a solidariedade humana assenta no respeito pela dignidade individual. Pensamos sempre “quem somos nós para mudar o mundo”? A verdade é que o mundo só pode ser mudado por nós, por cada um de nós, em conjunto, pois podemos formar uma força capaz de provocar a mudança.
A solidariedade é mais que um conceito a merecer atenção de todos. É algo a pôr em prática no dia a dia e que deve fazer parte do nosso crescimento pessoal, ao apoiar a construção de uma sociedade mais inclusiva, a auxiliar pessoas vulneráveis e a dar resposta a desafios sociais. Não se pede para salvar o mundo, mas todos temos um papel importante na comunidade e adotar hábitos e comportamentos mais solidários é uma boa forma de contribuir para um futuro melhor.
Apoie uma instituição de solidariedade social, procure um projeto social com que se identifique e dê um contributo. Doe sangue, faça voluntariado numa instituição, dê uma volta às suas tralhas e doe roupas, brinquedos e outros objetos que já não usa.
Comece a fazer solidariedade à sua volta, pela família, vizinhos e amigos em situação de necessidade. Preste atenção às dificuldades, descubra como ajudar e disponibilize o seu tempo para confortar, apoiar e escutar com atenção. Tente colocar-se no lugar do outro, compreenda qual a sua realidade e perceba de que forma poderá ser útil. Como dizia Rozilda E. Costa, “abrace como quem quer acolher, acolha como quem deseja ser solidário, ajude como quem se coloca no lugar do outro”.
Um conceito interessante de solidariedade está nestas palavras de um autor desconhecido, cujo título é: “Se fizerem o que peço, viverei para sempre”. E reza assim: “Em certo momento um médico vai dizer que o meu cérebro parou totalmente de funcionar e, para todos os efeitos, a minha vida acabou aí. Quando isso acontecer, não tentem inserir vida artificial no meu corpo através das máquinas. Mas não chamem isso de meu leito de morte. Chamem-lhe de Leito de Vida. E deixem o meu corpo ser retirado do invólucro para outros terem uma vida mais rica. Deem a minha vista a um homem que nunca viu o sol nascer, o sorriso de um bebé ou o amor nos olhos de uma mulher. Deem o meu coração a uma pessoa cujo coração nada provocou, além de dias de dor. Deem o meu sangue ao jovem retirado da amálgama de chapas do seu carro acidentado e que ele possa viver para ver os seus netos a brincar no parque.
Deem os meus rins a quem depende de uma máquina três vezes por semana para continuar a existir. Deem os meus ossos, cada músculo e cada nervo do meu corpo e descubram uma maneira de fazer andar uma criança aleijada. Examinem todos os cantos do meu cérebro. Peguem nas minhas células, se necessário for, e deixem-nas crescer para que, algum dia, um menino mudo possa gritar “GOLO” e uma menina surda possa ouvir o barulho da chuva na vidraça. Queimem o que restar de mim e espalhem as cinzas ao vento, para ajudar as flores a brotar. Se for preciso enterrar alguma coisa, que sejam as minhas faltas, as minhas fraquezas e todo o preconceito.
Deem os meus pecados ao diabo e deem a minha alma a Deus. Se por acaso quiserem lembrar-se de mim, que seja com uma boa ação ou uma palavra gentil a alguém que precise”.Num tempo de promoção do individualismo, do aumento do número de pessoas em risco de pobreza, do número crescente de idosos em situação de abandono, de inflação descontrolada e salários baixos, o que seria da comunidade sem a solidariedade?