Monthly Archives: January 2015

Pela sua rica saúde… cuide-se

Começou com um pequeno pigarro na garganta, que me provocava “tossiqueira” irritante. No dia seguinte, o incómodo foi aumentando pouco a pouco, fazendo-me sentir que era mais um a caminho do “estaleiro”. E a “ferrugem” naquele que é considerado o principal “canal de entrada” do corpo humano (em oposição, também há o “canal de saída”…), fez-me pensar que me fazia jeito o escovilhão de limpeza que o senhor Alberto espingardeiro usava para polir o interior dos canos das espingardas, para tentar dar cabo do maldito pigarro. Mas, quando ao outro dia pus a língua de fora (sem ser para fazer caretas a quem quer que fosse) e o médico me informou que a “ferrugem” já estava entranhada, “percebi” que o tal escovilhão não era suficiente e já só ia com tratamento mais radical.

Dias depois apercebi-me que uma boa parte dos funcionários dos serviços do Hospital de Lousada sofria de males semelhantes, com o nariz vermelho e a pingar, olhos de “bebé chorão” e “tossiqueira” semelhante à que me tinha agarrado. Como a enfermeira estava perto, disse-lhe na brincadeira que não fazia sentido que o pessoal “apanhasse” doenças no hospital. E recebi logo o “troco”: “O hospital é o local mais apropriado e provável para se apanhar uma doença dessas”.

Pensando bem, estou a ver uma qualquer sala de espera hospitalar repleta de doentes nesta epidemia de gripe, a espirrar ou a tossir, provocando o cruzamento de vírus de tal maneira que estes até se devem atropelar uns aos outros, para ver quem é o primeiro a arranjar hospedeiro…

Os japoneses, bem como uma boa parte dos orientais, tem esse “péssimo” hábito de usarem aquelas máscaras de pano sempre que são portadores de uma qualquer doença infecto-contagiosa, mesmo que seja uma simples gripe ou constipação. Mas isso são os japoneses e outros que tais, que têm a mania de se “exibirem”, acabando por ficar com um ar de extraterrestres. Porque cá, como não tememos nada e gostamos de “andar de peito feito” (e os outros que se lixem), somos lá capazes dessas “mariquices”!!! Preferimos muito mais dar um bom par de espirros de vez em quando ou uns acessos de tosse, mesmo que seja do “tipo motor de arranque”, enxofrando o povo à volta.

Quando disse à enfermeira que este ano até tinha tomado a vacina da gripe conforme mandam as recomendações do Ministério da Saúde, riu-se e calou-me logo: “Não valeu de nada porque o vírus é diferente”. C’os diabos, eu sujeitei-me a apanhar uma picadela de que não gosto (detesto seringas), para não servir de nada!!! O vírus “virou a casaca” e a vacina já não o afeta. Vírus inteligente… Nós devíamos aprender com ele ou, se calhar, … ele é que aprendeu connosco. Já não sei.

Este ano, segundo dizem os entendidos nessas coisas, parece que há mais que uma “família” de vírus da gripe, o que complica a luta entre nós e eles, porque é como se tivéssemos de combater várias “famílias” de mafiosos ao mesmo tempo, daqueles mafiosos italianos que nós pensamos que só existem na América e que não existem por cá, como as bruxas (mas, que as há, há…). Daí que a vida ficou difícil, muito especialmente para nós, velhos, pois somos o que mais “abunda” por aí e os que ocupamos mais camas, macas, cadeiras e todos os espaços disponíveis nos hospitais. E somos ainda os que nesta altura do campeonato “marcham” mais…

Esta minha “experiência” na área da saúde deu-me “credenciais” suficientes para estar habilitado a recomendar aos que não lerem este artigo algumas medidas para situações de crise:

1 – Ao mínimo sintoma, tape o “focinho” (dos outros) para não ser contaminado.

2 – Se começar a tocar a música do “atchim, atchim” e a água correr da “penca” como na Fonte de Sto André, procure um médico. Mas, atenção, nunca dentro de um hospital. Espere-o à entrada, na rua e em local bem arejado, para a consulta ser “saudável”, rápida e, provavelmente, de borla.

3 – Nunca entre nas farmácias, pois estão tão infetadas como as salas de espera dos hospitais. Para evitar contágios, receba a medicação por telefone ou email. E pode ser que se esqueçam da conta ou você se esqueça dela…

4 – Como os medicamentos são caros, não desperdice e tome-os até ao fim. Mas, cuidado, as embalagens não são para engolir. Essas, deite-as no ecoponto.

5 – Mas, tome bem atenção, pois esta medida (a quinta) é a mais importante. Se realmente se quer curar, tome o remédio caseiro que a avó ou a mãe lhe aconselhou (tal como o fez a minha): Chá de casca de limão com mel, bem quente, ao deitar, e gargarejos de aguardente com açúcar (não abuse da aguardente senão “morre da cura”. E falo por experiência própria…). Ah, siga à risca o ditado popular: “Abifa-te, avinha-te e abafa-te”. Ou, melhor ainda e mais gostoso, trate-se com “um suadoiro de quatro joelhos”. É cura certa.

ATCHIM, ATCHIM. Estou infetado outra vez. Já agora…

Era uma vez uma sala de espetáculos…

Estava parado em frente do parque de viaturas dos Bombeiros de Lousada e dei comigo a recordar a sala de espetáculos que ali existiu até à construção do novo quartel, de que tenho gratas recordações, muitas delas já na penumbra da memória mas gravadas no coração.

Vi a primeira “fita” do “Charlot” encavalitado no banco de uma sala de cinema improvisada num barracão, em Macieira, mas foi naquela sala dos Bombeiros que pude assistir a muitos outros filmes, quase sempre no “galinheiro”, porque usufruía das vantagens de ser mais barato, ver o ecrã mais longe e poder comprar alguma coisa no bar da associação através de um postigo na porta que lhe dava acesso.

Ainda aluno do Colégio Eça de Queirós assisti ali ao espetáculo que a D. Palmira Meireles ensaiou e realizou com os meus colegas mais velhos, um prazer experimentado pela primeira vez.

Naquela sala também senti o medo, o medo da violência inútil, o medo dos cassetetes e das coronhas das espingardas batendo a torto e a direito no final de um comício da campanha do general Humberto Delgado, repleta de gente e com todas as saídas controladas por grande número de elementos da GNR vindos dos quartéis vizinhos. À meia noite o comandante das “tropas” deu ordem para terminarem o comício, hora limite da autorização concedida. Mas os oradores continuaram desobedecendo à ordem, talvez mesmo com algum intuito provocatório, Palavra para lá, palavra para cá e a GNR aproveitou a desobediência como motivo e começou a pancadaria. Quando me dispunha a descer do “galinheiro” para enfrentar a vertigem tresloucada dos “caceteiros”, alguém agarrou-me o braço e fez-me sair pela tal porta, na molhada dos muitos que ali estavam, passando pelo bar e sala de convívio a caminho da rua principal por escadas totalmente livres.

Outras recordações me ficaram da sala que as necessidades de crescimento da corporação fizeram desaparecer mas, a mais intensa, é a de um espetáculo de variedades em cuja organização estive envolvido. E já lá vão quase cinco décadas…

Fazia parte do conjunto “Os Moscas”, aquilo a que hoje se chamaria uma banda. Não sei mesmo se foi a primeira banda local… Habitualmente atuávamos em salas de baile da região mas decidimos levar a efeito esse espetáculo com a intenção de mobilizar “artistas” locais e fazermos algum dinheiro extra que nos ajudasse a pagar a viola Fender adquirida recentemente.

No palco, o cenário era o de um café, onde se encontravam sentados os “clientes”, isto é, os artistas, saídos das gentes de Lousada. O espetáculo começou com o empregado de mesa (o Eurico Melo) a abrir o café e a limpar as mesas, tendo sido combinado que eu entraria a seguir. Com a viola debaixo do braço entrei palco dentro e, para meu espanto, ele expulsou-me. “Rua, que isto ainda não está aberto”, ordenou. E eu saí, com cara de parvo…

Logo na primeira música cantada pelo baterista, o Zé Melo, apercebemo-nos que o som estava horrível. Como era possível se no último ensaio saiu perfeito? Só mais tarde nos apercebemos da razão: Durante o dia a eletricidade era estável mas, à noite, com o aumento do consumo, havia uma grande quebra de intensidade fazendo com que a aparelhagem de som não respondesse conveniente e não contamos com isso. No momento, sem saber da razão, mal desceu o pano de palco, o Zé Melo envolveu-se em forte discussão com o Nelo, seu primo e músico, enquanto na boca de cena o Eurico e o Alfredo Valinhas diziam umas piadas improvisadas nos bastidores. Mas, mal subia o pano, Zé e Nelo calaram-se, para recomeçar a discussão no intervalo seguinte. E foi assim até ao final do espetáculo…

No seu desempenho como empregado de mesa o Eurico chamou a atenção à pequena Teresinha, instalada numa das mesas. De pronto, ela respondeu-lhe: “Olha, o empregado parece que está chateado…”

Havia um fotógrafo em permanente atividade na boca de cena, o senhor Miguel, que nós conhecíamos pelo “Optentíssimo”. Numa das suas deambulações pelo palco na procura do melhor ângulo para a fotografia, foi recuando, recuando, recuando, sem se aperceber que ia atirar uma das colunas de som abaixo do palco. O Quim Bessa, viola baixo, prevendo o acidente, correu para a segurar e evitar a queda. Só não evitou que o cabo da viola rebentasse, obrigando-o a fingir que tocava até chegar o intervalo. É que nesse tempo não existiam cabos suplentes…

A sala foi o espaço ideal e aquele o dia para o Gilberto, o Biecas, a Teresinha, a Lúcia, o Eurico, o Alfredo, a Conceição, a Ana Maria e muitos outros brilharem, num tempo em que não existiam oportunidades para mostrar quaisquer dotes artísticos. Aquele espetáculo foi um caso raro, apesar da escassez de equipamentos, de meios, do amadorismo e do improviso em que assentou toda a sua realização. Mas ficou o prazer de ver a alegria e entusiasmo dos pequenos e grandes cantores por uma noite.

A sala de espetáculos desapareceu, sacrificada em nome do progresso e, tal como ela, também algumas das “vedetas” dessa noite, para quem se apagaram as luzes da ribalta e… da vida. Ficam as recordações desse espaço de cultura e reunião, ficam-me as memórias desses improvisados “artistas” de outrora…

Olhamos, e o que vemos nós e elas?

Têm sido muito simpáticos e generosos os leitores do TVS, com diversos tipos de manifestações de apreço por estes modestos artigos, expressas de diversas formas, o que me faz “inchar” o “Ego”, de tal maneira que já tive de comprar roupa dois tamanhos acima… Bom, o que nunca me tinha acontecido foi, para além dos elogios, receber dois conselhos “orientadores”. É verdade.

O primeiro, veio de alguém que me sugeriu que “não falasse de política”, o que eu entendo ser um condicionamento dos meus direitos e deveres de cidadania. E, confesso, sou como os burros pois, quando sinto que estou a ser empurrado, “enfinco as patas” e não ando mesmo. Bom seria que nessa área não tivesse matéria prima para escrever mas, “para mal dos nossos pecados”, os políticos dão-nos todos os dias razões para pôr a nu os seus desmandos. E as pontas do “icebergue” que têm vindo à superfície nos últimos tempos são razões de sobra para estarmos preocupados…

O segundo, veio de pessoa amiga após a saída do último número do jornal, sendo o conselho no sentido de que escrevesse menos artigos “pesados” e que me inspirasse mais noutro material, talvez mesmo no que vinha na primeira página do TVS, que era bem mais agradável. Como ainda não tinha lido o jornal, a minha preocupação foi aceder a um exemplar para me concentrar nessa coisa “tão agradável” de que ele me falara… Quando o desdobrei, fixei a minha atenção na fotografia do novo presidente da Adega Cooperativa de Lousada (e o senhor Francisco Meireles que me perdoe). Seria isso? Mas, ao desviar o olhar para a esquerda, dei conta do meu lapso e percebi que a tal coisa “agradável” que o meu amigo referira, era a imagem da Miss Fashion Beauty Universal, que até tem raízes em Lousada. E é bem digna do título que conquistou…

Ao olhar para a sua belíssima figura fiz a mim mesmo uma pergunta que já tenho feito noutros momentos, como quando está a atuar um cantor com as suas “assistentes” num desses programas de televisão nas tardes de fim de semana ou até mesmo no programa diário do Preço Certo e em muitos outros, televisivos ou ao vivo: Onde é que os espectadores, homens e mulheres, concentram o seu olhar e a sua atenção? Na música? No cantor? Na notícia do jornal? Nos adereços?

A curiosidade fez com que colhesse dados e ouvisse gente, tendo começado pelos homens. E só confirmei o que os meus olhos me diziam: Nós ficamos com os olhos nas “partes” expostas das bailarinas, assistentes e companhia, quando não da cantora, (e que são exibidas com essa finalidade), sendo que na maioria dos casos não chegamos a saber se a música é boa ou não, até porque o termo “boa” já está ocupado… E quase nem ouvimos se o cantor diz “e nós, pimba, e nós, pimba” ou “ai eu levo no pacote” ou “quero cheirar teu bacalhau”. Mesmo no Preço Certo, sempre que são mostrados os produtos pelas assistentes, os olhos estão quase só nos “seus produtos” e não propriamente nos produtos que mostram…

Mas, curiosamente, as mulheres têm tendência em focar a sua atenção… também nas mulheres. É verdade!!! De certo modo, para “avaliarem a concorrência” e poderem dizer a si próprias que elas “têm gordura a mais”, “cintura larga”, “medidas desproporcionadas”, “pernas mal feitas”, em suma, pormenores que as desvalorizem… E só olham para os homens se forem esculturais e, mesmo assim, de relance. É que, as “outras” é que são a preocupação, o inimigo…

Aliás, esta manifestação feminina é sintomática do seu comportamento quando vão a um casamento. O “seu momento” não é propriamente o casamento em si mas o tempo que o antecede até à chegada ao local. O seu maior prazer é a preparação, a novidade do vestido exclusivo, acessórios e maquilhagem até à “entrada em cena”… para arrasar. E o prazer é tanto maior quanto mais inveja conseguem suscitar nas outras, na “concorrência”…

Isto fez-me recordar algo do tempo em que eu, como técnico agrícola, fazia demonstrações práticas junto dos agricultores para aumentarem as produções por hectare, só com a alteração de algumas técnicas de cultivo, nomeadamente na produção de batata, milho e outros cereais. Ao fim de alguns anos nesse trabalho, com provas de que tal era rentável e facilmente alcançável, cheguei a uma conclusão prática: A maioria dos agricultores de então não estava interessado em que o seu milho fosse bom ou muito bom. O que eles estavam interessados é que o milho do vizinho fosse pior do que o seu… O que não sei se é bem o caso das mulheres…

As manifestações de sensualidade feminina, umas vezes muito exibidas e outras mais insinuadas, usadas frequentemente para venderem todo o tipo de produtos e bens de consumo sejam eles música, concursos, artigos de beleza, iogurtes, águas minerais, flocos de cereais e tantas outras coisas, são motivo para porem a “moral” dos homens em alta (há quem lhe chame outra coisa) e o “radar” das mulheres em alerta máximo (sem precisarem de aprender nada com os morcegos). Certo é que, os homens, ficam em plano secundário,

longe dos holofotes e da atenção, sendo elas quem mais imagem vende.

Cá para nós que ninguém nos ouve, eu prefiro que seja assim, porque é sempre um prazer (e um ato de cavalheirismo) dar prioridade às mulheres nas manifestações de sensualidade. E como eu gosto muito de ver…

A irreverência e a sabedoria

Já fui jovem e em determinada altura pensava que sabia tudo, muito mais que aqueles “velhos professores” que “pararam no tempo”. Mas, felizmente, essa “febre” passou-me depressa.

Quando fui estudar para Coimbra cedo me convenci que, ou “fazia pela vida” ou “o caldo estava entornado” e eu não me podia dar ao luxo de ir para lá fingir que estudava. Daí que me agarrei ao “verbo” logo no primeiro ano, o que me veio garantir uma bolsa de estudo para o resto do curso, contributo importante para alcançar o meu objetivo. Felizmente.

Entre nós, jovens provenientes de todo o país, havia de tudo, desde os mais ingénuos aos muito vividos, dos pacatos aos traquinas, dos estudiosos aos grandes “calaceiros”. E, como em todas as escolas, também existiam os “profissionais” das cábulas e dos copianços.

Havia um professor que, depois de distribuir os testes pelas carteiras, sentava-se na secretária a ler o jornal e dali só saía quando soava o toque da campainha. Visto de frente, mais parecia que só lá estava a secretária e um jornal aberto porque, dele, nem sinal. Que “bestial” para a malta do copianço puxar dos “auxiliares de memória”… Só que, de vez em quando, ouvia-se a voz do mestre por detrás do jornal: “João, arruma as coisas e põe-te na rua”. E continuava a ler, sem se dignar mostrar a cabeça sequer…

A malta que usava as cábulas “arrepiava caminho” mas, como ele continuava sem dar sinal de vida, voltavam a puxar por elas. E pouco depois ouvia-se mais uma vez algo como “Daniel, arruma as coisas e põe-te na rua”.

De teste para teste o filme repetia-se até ao dia em que alguém descobriu o porquê dessa “capacidade excepcional” do professor: Ele fazia recortes nas páginas do jornal ajustados à dimensão das letras maiores ou às imagens para não serem detetados, por onde espiava toda a sala. E apanhava os “espertos”…

Tive muitos professores e cada um com a sua maneira de ser e de ensinar. Curiosamente, aquele que mais me marcou tanto em termos escolares como para a vida foi o Dr. Abílio, no Colégio Eça de Queirós. Meu professor de matemática e físico-química, incutiu-me o gosto por tais disciplinas, muito especialmente pela matemática, educando-me a exercitar a mente. De espírito vivo, inteligência rara e excelente cultura geral, tinha grande rapidez de raciocínio e resposta rápida. De tal forma que, um dia, ao entrar no posto dos correios de Lousada a senhora do balcão, com alguma confiança pessoal, cumprimentou-o assim: “Como está o Doutor da Mula Ruça”. E a resposta foi instantânea: “Não precisavas de dizer que és minha doente…”

Nisto de reações rápidas, decorria na Escola de Coimbra uma aula com toda a normalidade quando um dos alunos sentado nas carteiras da frente “largou” um estrondoso e sonoro “traque”, deixando a malta a rir. Lá no fundo, o Paulo que era irreverente e reativo, levantou-se, saltou para cima da carteira e com um gesto dramático, anunciou: “E soa a trombeta castelhana…”

O professor, homem magro e de estatura baixa, como que disparado por uma mola e em jeito de copianço do Paulo, pôs-se em pé em cima da cadeira, estendeu o braço e, com voz imperial, retorquiu: “Então ponha-se imediatamente lá fora para ver se os espanhóis estão a chegar…”

Sempre se confrontaram as partes, estando de um lado a jovialidade, a irrequietude e a irreverência dos alunos e, do outro, a sabedoria, a experiência e a tranquilidade dos professores, nesse processo complexo e muito importante que é a educação. Noutros tempos existia muito mais respeito de alunos para com professores do que agora, incomparavelmente, mas não quer dizer que não tentassem fazer-lhes alguma malandrice. E essa vontade de o pôr em causa mantem-se através dos tempos.

Numa universidade brasileira os alunos de uma turma resolveram divertir-se à custa de um professor. Arranjaram um burro, fecharam-no na sala onde seria dada a aula e esconderam-se perto da porta de entrada para gozarem com a previsível reação do mestre. Este chegou de pasta na mão, abriu a porta, entrou e fechou-a atrás de si. E os alunos ficaram na espectativa.

O tempo foi passando sem que o professor desse acordo de si, até que o sinal sonoro assinalou a hora de saída. Então viram a porta abrir-se e ele a sair descontraidamente de pasta na mão, como se nada de anormal se tivesse passado. A frustração foi geral, porque não deu oportunidade à esperada gozação.

O professor deu a aula seguinte com toda a naturalidade, sem fazer qualquer alusão ao ocorrido, como se não tivesse apercebido de nada mas, um pouco antes de acabar e quando já todos arrumavam as coisas para saírem, pediu aos alunos um momento de atenção e disse-lhes: “Amanhã haverá teste. A matéria é a que foi dada na última aula. Se tiverem dúvidas, perguntem ao vosso único colega que esteve cá”.

Ao outro dia houve teste e, claro, tiveram todos zero…

O povo, na sua sabedoria, resume tudo isto numa simples frase: “Ir buscar lã e sair tosqueado”.

Já Bernard Baruch diz que, “em cada profissão é preciso uma dose de sabedoria para se perceber, a cada mudança, a extensão da própria ignorância”.