A cama, aquele móvel onde nos deitamos, descansamos, dormimos e fazemos outras “habilidades” bem mais interessantes, merece ser o objeto que mais devemos reverenciar, cuidar, dar atenção e até atribuir-lhe um “estatuto” especial, tendo em conta que é, provavelmente, o mais emblemático da nossa vida. Não digo que deveríamos andar com uma às costas mas, se pensarmos bem, os momentos mais marcantes da nossa existência, estão associados a ela. Ela é parte integrante do nosso quotidiano. E, “para começar do princípio”, a grande maioria de nós, foi “produzido” sobre uma cama, nalguns casos fruto de um “projeto” estudado e planeado e noutros, resultado de um mero acidente, de um imprevisto, do azar ou por algo que correu mal. O que acontece a muito boa gente… Com isso, há situações em que se arranja “um problema do arco da velha”… Bom, mas se grande parte dos humanos foi “concebido” entre ou por cima dos lençóis da cama, seja ela de madeira ou de outro material, também não é menos verdade que quase todos nós saímos da “chocadeira” onde andamos nove meses comodamente instalados até vermos “a luz do dia”, mais uma vez… na cama. Ou seja: Tanto a “entrada na linha de produção” como a “saída da fábrica”, tiveram (quase) sempre como palco, a cama. Só por isso, já seria motivo para ser um local de eleição (sem precisar de votos), de romagem e de referência na história de qualquer ser humano. Mas há mais, muito mais razões a ter em conta.
Onde é que nos enfiamos durante uma boa parte do dia? Na cama, claro. Só pelo tempo que ali passamos, é razão suficiente para ser tida como indispensável para nós, humanos. Será sempre o sítio onde estamos e estaremos mais tempo. Em nenhum outro permanecemos tantas horas por dia, tantos dias do ano, tantos anos da nossa vida. É mesmo caso único, um ritual que não dispensamos, até porque o nosso corpo o exige. E foi por isso que o ser humano a inventou e a fez evoluir ao longo dos séculos, desde as primitivas às versões mais modernas e sofisticadas, com um objetivo principal: Para nos estendermos ao comprido (e às vezes estendemo-nos mesmo…). Daí que, também associamos cama a descanso, a dormir, a retemperar forças, se bem que muitas vezes ao levantar estamos mais cansados do que quando nos deitamos (e não estou a pensar em qualquer tipo de “atividade extra”, para além de “passar pelas brasas”).
Se apanhamos uma gripe, onde é que os médicos nos mandam ficar? Na cama. E para curar uma constipação? Na cama. E na maioria das doenças? Na cama. Basta ir a um hospital para vermos que os doentes estão enfiados… na cama. A cama é meia cura. Há quem recomende até, para curar certas doenças, “a cama e um suadouro de quatro joelhos”… Por aqui se vê também a sua importância para a saúde física e mental do povo (diz-se que “dormir é meia mantença”).
E, para as “festas e diversões” íntimas de um casal, que melhor local se pode pedir além de uma cama? Nenhum. Por mais que a gente goste do chão (embora “cama de chão, é cama de cão”), sofá, bancada, mesa, banheira, carro ou barraca de campismo, uma boa cama continua a ser fundamental para esses “eventos”, especialmente quando o vizinho de baixo reclama ao mínimo ruído, ao mais pequeno “nheco, nheco” ou chiadeira… Através dos tempos as camas sempre foram o local preferido para a “luta corpo a corpo” entre homem e mulher. Sejam de madeira, de ferro ou outro material, com colchão de palha, folhelho, molas, espuma, água ou penas, silenciosas ou rangendo por forma a acordar toda a vizinhança, em tamanho de solteiro, de casal ou “king size” para que a “arena de combate” seja suficientemente espaçosa, é nelas que se fazem todo o tipo de jogos amorosos e joguinhos de estratégia, se usam as dores de cabeça ou de costas como desculpa, se chora e se ri, se geme e se grita, se é franco, se mente ou se finge. E funciona como um laboratório de novas “experiências”, das posições mais estranhas na “batalha corpo a corpo” a que o casal se propõe.
A cama foi e continua a ser um excelente local de negócios, melhor do que qualquer clube de empresários, mas onde o homem, por norma, sai a perder. É que, se há um “pato a depenar”, é ele. E está provado que, se a mulher souber do seu ofício, deixa-o mais “limpo” que um frango de aviário na vitrine do supermercado… Diria mesmo que, alguns, saem “com uma mão à frente e outra atrás” e felizes da vida por terem sido depenados. Como o mundo é estranho…
Desde que se vulgarizaram as máquinas de filmar e os telemóveis que gravam cenas em vídeo, as camas também viraram cenários para “filmes de animação”. Já não são só os realizadores profissionais de “filmes de ação” a utilizarem as camas para cenas bem escaldantes pois, agora, não faltam casais a agirem como realizadores e atores, protagonistas dos seus próprios filmes, fazendo da cama o seu palco, recinto de luta onde “vale tudo”. Na minha santa inocência, creio que o objetivo destes “artistas” é altruísta e puramente “didático”. A confirmar a minha dedução, está o facto dos vídeos se encontrarem disponíveis na internet gratuitamente, sem qualquer contrapartida financeira. E o “didático” (e já sou eu a especular), é pelo intuito de ensinar aos adolescentes de hoje matéria do foro anatómico do ser humano, quiçá de entretenimento que, com toda a certeza, os jovens de agora “desconhecem por completo”…
Mas, como vimos, se a sua presença é indispensável nos momentos cruciais da nossa vida, tanto na “produção” como na “chegada a este mundo cão”, no contributo para curar a doença e como local de descanso e lazer diário, de “entretenimento e prazer”, também é quase sempre nela que fechamos o ciclo da vida, onde “apanhamos a guia de marcha e partimos desta para melhor” (será mesmo para melhor?). Em suma, uma companheira de “viagem”, fiel e presente nos bons e maus momentos, do princípio ao fim do nosso tempo por cá (porque, por lá, não sei se há camas nem diversões…).