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D. Branca, esqueceram-na? Já voltou…

Quem não sabe o que é o “conto do vigário”? Pouca gente, presumo, pois é cada vez mais difícil encontrar alguém que não tenha caído nesse logro.

O “conto do vigário é um golpe usado para enganar pessoas, umas vezes ingénuas (normalmente idosas) outras vezes gananciosas, e conseguir o seu dinheiro oferecendo-lhe falsas vantagens em negócios duvidosos ou encerrando uma situação complexa que leva a pessoa a entregar o dinheiro sem desconfiar do engodo. É um embuste preparado com má-fé, para aproveitar-se de alguém menos prevenido.

Quanto à origem do nome “conto do vigário”, os brasileiros atribuem-no a uma disputa entre dois vigários (padres), em que um levou a melhor sobre o outro através de um estratagema.

Já Fernando Pessoa tem a sua versão do conto, no qual Manuel Vigário, pequeno lavrador ribatejano, ludibria dois negociantes de gado fazendo um pagamento com notas falsas, só possível porque os negociantes se focaram em enganar o Manuel e acabaram … “vigarizados”.

Nos anos setenta/oitenta existia no Porto uma mulher que “livrava” da tropa qualquer mancebo. Ficava-lhes com os papéis da chamada, metia-os numa gaveta e dava-os logo como livres do serviço militar. Eles ó se aperceberam que eram refratários anos mais tarde, quando precisaram de algum documento militar. A polícia viria a identificar mais de três mil jovens dados por essa senhora como “livres”… de sessenta contos cada um… Há muita variedade de golpes nos “contos do vigário”, desde o bilhete premiado que se deixa ao incauto a troco de algumas notas para fazer qualquer coisa, o volume de notas embrulhado em papel de jornal que entregam como salvaguarda por algum dinheiro adiantado, uma herança desconhecida de alguém que faleceu e que é necessário massa para desbloqueá-la, etc., etc..

Na maioria dos golpes a ganância é o denominador comum nas vítimas, pois a pessoa enganada procura tirar vantagem sobre o outro. E essa ilusão da vantagem fácil numa transação cega pela ambição, impede o incauto de enxergar que algo está errado. Há por isso até quem defenda que sempre que isso acontece, não deva ser considerado crime porque fica a dúvida sobre quem é o desonesto.

Existem as chamadas “burlas institucionais”, feitas por ou ao abrigo de instituições da maior “respeitabilidade”, de que são exemplo dois bancos portugueses, o BPP e o BPN, sendo no primeiro burlados os clientes enquanto no segundo, por decisão do governo de então, os burlados passaram a ser todos os portugueses (mesmo os que nunca tiveram nada a ver com o banco), em substituição dos clientes.

Na história das maiores burlas em Portugal está a Dona Branca, que viria a ficar conhecida pela “Banqueira do Povo”. Começou a sua atividade no final dos anos 50, recebendo depósitos de clientes a quem pagava juros de 10% ao mês. Era o chamado “esquema da pirâmide” (conhecido nos Estados Unidos por Esquema Ponzi, um italiano que ali deu esse golpe), em que o dinheiro dos novos depositantes é usado para pagar os juros aos mais antigos. Acabou por ser presa, julgada e condenada por burla agravada, depois de lesar muitos incautos em vários milhões de contos.

Como foi possível uma mulher tão simples burlar tanta e tão variada gente? Como foi possível atuar ao longo de tantos anos, sem que a justiça agisse? Porque havia gente responsável que lá meteu o seu dinheiro à espera do milagre da multiplicação? A resposta está na ganância dos investidores que não se questionaram se havia algum negócio que pudesse gerar tantos lucros para pagar juros tão obscenos.

Só para conforto da consciência, alguns acreditavam que eram minas de ouro e negócios de armas… A verdade é que não se aprende nada com a história pois nisto, tal como na moda, “só é novo o que está esquecido”. E é por a D. Branca estar esquecida que poderemos estar perante um novo caso na região, com outra roupagem mas com o mesmo esquema, aliciando investidores com a promessa (também) de juros de 10% ao mês, repito, DEZ POR CENTO AO MÊS. E, ao que se sabe, não faltam clientes!!!

Mas, por quanto tempo? Será que estes incautos, alimentados pela ganância de ganharem uma pipa de massa, não veem que lhes vai acontecer o mesmo que aconteceu aos depositantes da Dona Branca? Enquanto entrarem novos investidores e as autoridades não agirem, o esquema funciona, e depois? Vão ser depenados como patos, pois alguém vai ficar com o seu rico dinheirinho… Um dos clientes dizia a um vizinho que até tem medo de tanto dinheiro que tem ganho… Quem é que está a querer enganar quem? A ambição cega e não permite que se raciocine para perceber que NÃO É POSSÍVEL, que não há petróleo, nem ouro, nem tráfico de armas que rendam tanto, e que a história vai ter um final triste… para uns quantos. É só uma questão de tempo e não gostava de estar aqui um dia destes a dizer: Eu bem dizia… Há uma expressão popular que exprime bem o que lhes vai acontecer: “Vão buscar lã, mas vão sair tosqueados”…

A (in)gratidão: A herança rejeitada

A gratidão é o ato de reconhecimento a alguém de quem se recebeu um favor, uma ajuda, um benefício. É o não esquecer uma dívida para com outro e a forma de o demonstrar. Sendo fácil de compreender este sentimento tão nobre, torna-se raro executá-lo e retribui-lo pela vida fora.

Diz-se que a gratidão tem memória curta, que envelhece rapidamente e morre. Daí o ditado “O dia do benefício é a véspera da ingratidão”, completado com “Faz o bem e não olhes a quem”, filosofia acertada mas difícil de praticar pela fraqueza humana que olha mais para os interesses imediatos, o materialismo.

É verdade que a gratidão de alguns não passa de uma forma de continuar a receber favores, situando-se a meio caminho entre um favor recebido e um favor esperado. Pitigrilli dizia que “agradecidos são aqueles que ainda têm algo a pedir”. Já tive experiências do género e chegam a ser convincentes.

Quando pretendemos um favor parece-nos que não o esquecemos mais mas, quando o alcançamos, desaparece da nossa mente. É que a vaidade tem horror a tudo o que desperta lembrança da nossa indigência, pois aborrecemo-nos de quem nos faz bem porque ficou a saber das nossas necessidades. São poucos os que reconhecem que só se paga um benefício com outro ainda maior e que, quando não se pode pagar, ficaremos sempre a dever.

Quem faz um favor não pode ficar à espera de que lhe sejam gratos senão, “bem pode esperar sentado”. É que, se recolheres um cachorro faminto e lhe deres comida, água fresca e carinho, ele não te morderá, mas se o fizeres com os homens, não podes ter essa certeza. Nunca se agradece com tanto fervor como quando se espera um novo favor, pelo que os homens estimam-se não pelos favores que tenham prestado, mas pelos que possam vir a prestar. Daí o esquecimento, a desconsideração e a ingratidão por tantos que tanto deram, como é o caso dos aposentados, dos idosos e outros que já não podem ser úteis nem fazer mais jeitos.

Dizia Tácito que “os homens apressam-se mais a retribuir um dano que um benefício, porque a gratidão é um peso e a vingança um prazer”. Se é certo que quem recebe um favor não o deve esquecer, também quem o faz nunca o deve lembrar. O gesto de agradecimento está muito mais nos pobres e nos humildes enquanto a ingratidão é dos soberbos e ambiciosos.

Ser-se grato é uma virtude das almas boas, é uma medida do caráter de alguém com quem se pode contar e confiar, é um pouco de humildade que nos faz reconhecer o outro como parte da nossa alegria, sem bajulação, servilismo ou lisonjas.

O simples ato de dizer “Obrigado” a alguém pode ser importante, não só para essa pessoa como para quem o diz. E tão poucas vezes se diz essa palavra com o coração… Costumo dizer que tenho de dar graças a Deus pelo que tenho em vez de me lamentar pelo que não tenho. Apesar disso, não manifesto esse agradecimento vezes suficientes pelos bens que Ele me concede, mas recorro vezes demais à Sua bondade nos males que me afetam. Penso até que devemos estar-Lhe gratos por não nos dar tudo o que lhe pedimos.

A gratidão é prática que se recomenda até porque, não sendo natural no ser humano, precisa de ser cultivada, sobretudo entre os mais novos, na sua formação. A sua prática não tem contra indicações, dado que ser-se grato não é uma manifestação de submissão nem de inferioridade, pelo contrário, tem um toque de nobreza e de grandeza da alma. E ao longo da nossa viagem há tanta gente que nos deu a mão, matou a sede, nos levantou quando caímos, atos e gestos que tantas vezes olvidamos com sinais de ingratidão. De entre todos, os nossos pais são aqueles a quem mais devemos estar agradecidos em regra geral, pelos sacrifícios por que passaram para nos criar, educar e ajudar, abdicando de si mesmos para nos colocar sempre em primeiro lugar.

Por isso, de nós filhos exige-se respeito, carinho, reconhecimento e gratidão para com eles, muito especialmente na sua velhice, para compensar a debilidade física e mental. E que vemos nós? Pais espoliados pelos próprios filhos dos bens de uma vida e rejeitados ou abandonados à caridade; idosos recolhidos em instituições sociais mas esquecidos pelos seus, onde a verdadeira família passa a ser o pessoal do lar; falta de tempo para os velhos (se nem tempo têm para os filhos…); maus tratos físicos e psíquicos (mas não se esquecem de lhes ficar com o dinheiro da reforma…); vergonha da sua condição de humildes (mas a quem devem o ser “grandes”…); etc., etc..

Um dia disseram-me que “os filhos esperam receber sempre alguma coisa dos pais mas estes não podem esperar nada dos filhos”. Talvez por isso, a gratidão seja uma dívida que os filhos nem sempre aceitam no inventário (é a parte da herança que rejeitam). E se esquecem os pais em vida, com certeza não os esquecem na morte, aparecendo como necrófagos, sem vergonha nem remorsos, litigando pelos restos. E diz-se que a gratidão é a virtude das almas nobres e a memória do coração!!!… Quando o coração quer ter memória…

‘Tou? ‘Tou xim… É p´ra mim!!!…

A cena passa-se junto de uma loja de telemóveis num centro comercial no Porto: À entrada, um adolescente está encostado à porta com cara de “poucos amigos”. Lá de dentro sai a mãe para tentar que o seu filho aceite o telemóvel que o pai lhe quer comprar, mas ele rejeita, responde torto e diz que “então não quero nenhum”.

Pelos sinais que me chegam percebo que o rapaz quer um “Iphone não sei quantos” mas os pais pretendem dar-lhe um telemóvel normal. A cara de zangado fica, a mãe continua a tentar apaziguar e eu sigo o meu caminho sem chegar a saber se ele consegue o seu objetivo, usando a chantagem emocional sobre a frágil senhora. Mas acredito que sim, é o habitual…

O primeiro telemóvel lançado pela Motorola em 1973 era grande, pesado e com poucas funções, mas rapidamente diminui de peso e tamanho, crescendo em capacidades. Se nos primeiros tempos era um elemento de afirmação social, com o passar dos anos e da proliferação de marcas e modelos, banalizou-se a sua utilização e tornou-se um produto de consumo corrente.

À volta deste pequeno aparelho que invadiu a nossa privacidade, se tornou ferramenta de negócios, trabalho, estudo e tanto mais, gira um mundo de tecnologia cada vez mais sofisticada, com capacidades muito para além do imaginável. E cada um de nós, em maior ou menor escala, acabou por aderir a este instrumento, que se tornou uma extensão do braço milhões de utilizadores.

Compreendo a sua importância na vida pessoal dos seres humanos, no mundo dos negócios e na nova dinâmica que criou ao eliminar vazios no serviço, na reorganização do tempo e espaço, em especial com a integração da computação, colocando-nos sempre disponíveis, reaproveitando e ressuscitando os tempos mortos das filas de espera aos transportes. Mas, ao observar o exagero do uso do telemóvel, pergunto-me como é que a humanidade conseguiu viver e sobreviver sem ele durante tantos anos e, ao que parece, mais feliz?

Para a geração que já cresceu com ele, dispensá-lo é impensável, pois tornou-se parte integrante da pessoa e da vida e a sua perda é comparável à perda de um membro, porque seria ficar desligado dos amigos, da informação e do conhecimento. São os jovens os maiores consumidores deste produto, especialmente nas tecnologias que lhe estão associadas, e os pais dão-lhe os meios para tal, cada vez mais cedo, de tal forma que, a continuar assim, qualquer dia ao “encomendar-se” um filho é melhor pedi-lo com telemóvel “incorporado”, como acontece com os automóveis…

Começam cedo a consumir minutos, a usarem o telemóvel como consola para jogos, a comprar aplicações e novos modelos de aparelhos, dominando as funções com um à vontade impressionante e adquirindo uma prática tal no envio de mensagens que nem sequer precisam de olhar para as escrever. São consumidores natos que o marketing das empresas explora bem e que os paizinhos financiam para além do aceitável.

O telemóvel teve um impacto profundo na forma como vivemos e interagimos, tornando-se um meio de comunicação interpessoal e de massas, também olhado como uma tecnologia de afetos, uma forma de comunicar sentimentos e emoções. Mas não deixa de ser menos verdade que perdemos a privacidade, nos deixamos interromper pelo seu chamamento, nos tornamos dependentes do seu uso com os custos inerentes.

Eu aderi contrariado, tendo começado por um simples só para fazer ou receber chamadas mas, a sua utilidade profissional fez com que, pouco a pouco, se tornasse parte integrante do meu vestuário. Recentemente evoluí para um modelo mais avançado que me permite falar à borla com o meu filho que vive no estrangeiro, embora aproveite muito pouco das suas outras capacidades, mas por incapacidade minha.

Acompanha-me desde que acordo até que me deito e, ao deixá-lo ligado no modo “silêncio” à noite, tenho uma porta aberta ao mundo a pensar nos que me são afetos e estão mais ou menos distantes. Não seria mais racional desligar o “animal” às refeições, aos fins de semana, durante a noite, etc., e enfiá-lo numa gaveta para nem sequer cedermos à tentação? Mas pensamos que pode haver uma notícia urgente, se calhar triste. E se for? Não pode esperar como sempre esperaram? E se for triste, não será melhor recebê-la mais tarde?

Confesso um pecado: Como estou sempre contactável, só raramente o coloco no modo silêncio. Isso leva a que muitas vezes toque durante uma reunião, seja interrompido e, instintivamente, atenda. Até parece que o que se passa lá fora é mais importante do que o que se passa dentro da sala, um sinal de mau gosto, de falta de educação e consideração pelos presentes. E sinto-o quando me vejo do outro lado… Mas dizem que é a chamada “atenção de baixo para cima” que nos provoca uma reação instintiva quando toca, fazendo-nos agarrar no sacana do aparelho e dizer automaticamente: ‘TOU? TOU XIM… É P´RA MIM!!!…”

A praga de usurários! Quem nos acode?

A ambição é o desejo de se ter dinheiro, poder, honrarias e tantas outras coisas. Se contida e controlada, pode ser saudável, digna, uma ferramenta para atingir um ideal que se anseia. Mas por mais digno que seja esse ideal, se quem o persegue usar meios miseráveis para o atingir, será sempre um miserável.

Pode dizer-se que toda a ambição é legítima, um direito de qualquer ser humano, excepto as que são construídas sobre as necessidades e as misérias da humanidade. E essa barreira é ultrapassada tantas vezes, demasiadas vezes, por gente sem escrúpulos que só vê o fim em si sem se preocupar nem com os meios nem com a sua legalidade, pois o objetivo desculpa a ilegitimidade dos meios para o atingir.

Nesses desejos incontidos, o desejo de possuir dinheiro, muito dinheiro, é o mais comum, e o aumento de dinheiro é quase sempre proporcional à vontade de possui-lo. Sendo o dinheiro um dos meios para se ser feliz, há quem o tenha transformado no único meio, quando não no fim em si mesmo, Para esses, quando sem dinheiro, até a honra é considerada uma doença.

Toda a gente tem sonhos, divagações, espera ganhar a lotaria, o euro milhões, encontrar ouro e dinheiro fácil, ser rico de um momento para o outro. Por isso são cada vez mais os apostadores nos jogos (ditos) sociais, algo que normalmente também está associado aos tempos de crise, sonhando, esperando que chegue o seu dia da sorte na roda dos números. Mas há os que não querem sonhar, que querem chegar lá e depressa sem olharem a meios, contornando as leis, atropelando, explorando e depenando todos os que se lhe atravessam no caminho.

Vem isto a propósito dos tempos difíceis que vivemos, em que tanta gente passa por momentos de aflição, fruto da cabeça que não soube gerir a vida, dos azares do negócio ou jogo, vítima dos profissionais das falências fraudulentas, atingido pelo desemprego e apanhado com o empréstimo da casa, do carro ou de milhentas coisas dignas e sonhadas mas que as circunstâncias do momento puseram em causa.

Confrontados com a necessidade, tentam recorrer ao banco que já não empresta a (quase) ninguém e, fechados estes, restam as empresas e consultores de crédito, espalhadas por aí ou apregoadas nos jornais em anúncios de “empréstimo fácil”, “dinheiro para fazer o que quiser”, “empréstimos urgentes e sem burocracia” e outros mais. A verdade é que, com tanta publicidade e facilidades para conseguir empréstimos, esquecemo-nos do ditado de que “quando a esmola é grande o pobre desconfia” e até nos convencemos que é verdade. E quem está endividado e precisa, não percebe que vai contrair mais uma dívida, quebrando uma regra de ouro: “Não pedir créditos para pagar créditos”. Só que é uma solução cara, regra geral demasiado cara, que as pessoas aceitam silenciosamente, às escondidas, envergonhados para o dizerem sequer ao melhor amigo, ficando totalmente indefesos nas mãos de agiotas, de especuladores sem escrúpulos, com os olhos e as garras cravadas na frágil vítima.

O João (nome fictício) foi parar a uma dessas empresas, pedindo dez mil euros. Tudo foi fácil mas deixou logo dois mil e quinhentos para as despesas da empresa (33% de juros à cabeça) pelo que só trouxe sete mil e quinhentos, e passou cheques da dívida e dos juros (dez mil e quatro mil e quinhentos euros) para os financiadores, gente que está por detrás da empresa e nada tem a ver com ela, homens “Bons” da sociedade local, pagando assim no total mais de 60% ao ano.

Como é possível? Como podem estes especuladores agirem por aí impunemente? Uns (os consultores) e outros (os investidores), duas espécies de agiotas que a justiça não controla? Quem nos acode e protege estas vítimas indefesas, quais carneiros a caminho do matadouro? Mas ainda há pior, muito pior, pois pastam por aí particulares a cobrarem 10% e até 12% ao mês, o que ultrapassa os 300% ao ano. Inacreditável, inconcebível… A lei prevê os empréstimos particulares, limitando os juros ao máximo de 7% ou 9% ao ano. Acima disto é crime de usura, mas a verdade é que a lei é burlada ao máximo, contornada impunemente.

Pagam-se juros abusivos e extorsivos de forma ilícita, criminosa, praticada por gente que leva a ambição e a ganância ao extremo, aproveitando-se da necessidade e miséria de outros homens. E ao que se sabe, à nossa volta e com muita frequência, que a necessidade é muita.

Ouço as retóricas de revolta contra os credores do país por cobrarem juros de mercado e ao fim de 38 anos dizerem “BASTA”, sem críticas a quem criminosamente (e impunemente) criou o monstro da dívida, de um lado ao outro do arco do poder, mas não ouço vozes contra a especulação à nossa porta, essa sim a juros de bradar ao céu, que a vergonha da necessidade não dá a conhecer, mas que tem de ser denunciada e deve ser condenada (se bem que já não sei onde nem por quem…).

Alguém disse que há homens que são como porcos insaciáveis que se alimentam de dinheiro, mas muitos transformam-se em abutres para comerem até as carcaças dos “mortos-vivos”, os desgraçados, as vítimas frágeis e indefesas da sociedade de hoje. E por todos essas vítimas dos agiotas, temos o dever de alertar e ainda mais, de os denunciar. Em nome da dignidade humana.