Monthly Archives: November 2015

Será tudo culpa do “tempo”?

Hoje está bom tempo, um lindo dia de sol mas, nem sempre o tempo nos dá motivos para nos alegrarmos se bem que, para ficarmos ainda mais felizes com o tempo, o tempo teria de nos dar “sol na eira e chuva no nabal”. Vivemos ao ritmo do tempo, havendo um tempo para tudo: Tempo de nascer, tempo de colo, tempo de brincar, tempo de namorar, tempo de casar, tempo de fazer filhos, tempo de reforma e tempo de morrer. Pelo meio, muito tempo para trabalhar. É que, tudo tem o seu tempo, como a fruta. Há o tempo das uvas, o tempo das nozes, o tempo dos figos, o tempo das cerejas (se bem que, com a globalização, temos tudo todo o ano). Tudo precisa de tempo, daí não se poder produzir uma criança num mês só porque se engravidou nove mulheres…

O tempo não se fabrica, não se compra, não se vende (nem na farmácia), não encolhe, não estica. Mas usamos muito o tempo, se bem que não o consigamos desgastar. Quando não sabemos de que falar, falamos do tempo, “conversa de chacha” só para não estarmos calados. “Hoje está bom tempo”, “hoje está mau tempo” ou “está um tempo de m…”. Condicionamos a nossa vida e a qualidade do nosso viver à mera circunstância de estar sol ou chuva, como se uns fossem dias bons e outros dias maus. Devíamos tê-los todos por bons qualquer que seja o tempo, seco ou molhado, e celebrá-los como dias espetaculares para… estar vivo.

O tempo é desculpa para justificar os nossos incumprimentos. “Não tive tempo”, “o tempo não chegou” ou ainda “o tempo não deixou”, como se o tempo nos “agarrasse” e impedisse de fazer o que quer que seja. Não existe falta de tempo, existem prioridades (erradas?), quando não, falta de vontade… Até para o próprio como, por exemplo, “quem não tem tempo de cuidar da saúde, vai ter que arranjar tempo para cuidar da doença”. Neste caso, não se acaba por arranjar tempo?

Fazemos do tempo o “bode expiatório” dos nossos males: Se nos doem as costas ou as articulações, “é do tempo”, se temos calor ou frio, “é do tempo”, se apanhamos uma constipação, “é do tempo”, se temos gripe, “é do tempo”, se a madeira incha, “é do tempo”. Claro, tudo é culpa do tempo. “Raios partam o tempo…”

Até se diz “eu já não fui a tempo” ou “corri contra o tempo” como se o tempo fosse o inimigo contra quem tivéssemos de lutar, de combater. Claro que todos querem “ganhar tempo” como se o tempo se comprasse ou se merecesse, mais ou menos. Não, para “se ganhar tempo” é preciso “saber usar o tempo” pois ele não se perde nem se ganha, aproveita-se. Por isso, as pessoas comuns “passam o tempo” enquanto as outras “usam o tempo”. É que, aproveitar o tempo é difícil, tal como guardar um segredo ou perdoar uma ofensa. Daí não se compreender que alguém “mate o tempo”. O que, não sendo assassínio, é um “desperdício de tempo”.

Apesar do tempo ter um “andamento” constante, mensurável pelo relógio e pelo cronómetro, “pode ter” várias “velocidades”: É lento para quem espera, é rápido para quem tem medo, é longo para quem sofre, é curto para quem celebra, não anda para alguns e corre para outros. Mas será que as coisas mudam depressa porque o tempo corre ou as coisas mudam somente porque mudam? De uma coisa não há dúvida: O tempo não tem travões, por muito que se fale em “parar o tempo”… Daí o tempo estar em conflito com a calma, com a paciência e com o fazer bem. Todos temos o tempo à mesma velocidade e cada um faz dele bom ou mau uso. O problema, está em decidir o que fazer com o tempo que nos é dado. E a verdade é que, a nossa vontade, a nossa paixão e o nosso entusiasmo, não atrasam nem adiantam o tempo, apesar de dizermos que “o tempo passa”, “o tempo voa”, “o tempo não para”, “o tempo está a favor”, “o tempo está contra”, “o tempo falta”. Só que, não há “tempo extra”…

Umas vezes o tempo é nosso dono – “o tempo não me deixa trabalhar” – e outras somos nós donos do tempo – “hoje dou-te algum tempo de atenção”.

“O tempo dá-o Deus de graça, nós é que queremos vendê-lo”. Como conciliar interesses tão distintos? Tal como ”todos querem viver muito tempo… mas ninguém quer envelhecer”? Ou “o tempo é o melhor remédio” só que, se demorar muito tempo, pode ser tarde…

Hoje falei do tempo porque, por muito tempo que tenhamos, “não temos tempo para conversar” com filhos, familiares e amigos. Vivemos perto uns dos outros, às vezes “do outro lado da rua”, mas “estamos longe” e, durante meses, senão anos, “não temos tempo” para lhes falar, dizer sequer um “olá”. Até parece que vivemos “em tempos diferentes”…

Frequentemente passava diante da casa de um amigo de longa data e ia mentindo a mim mesmo: “Hoje não tenho tempo, paro na próxima”. E, nesta insanidade, adiei a visita uma semana, um mês, um ano, vários anos, sem que chegasse “o tempo certo” para visitar o velho amigo. Há dias, ao passar por lá pensei para comigo: “Hoje tenho de ter tempo…” E parei… Mas, devo confessar que fiquei arrependido… Sim, muito arrependido do “tempo perdido”, por não ter “tido tempo” de parar noutras ocasiões porque, a nossa amizade, merecia-o. Felizmente, esse sentimento está intacto e o prazer do reencontro foi grande e recíproco. Mas tenho de rever as minhas prioridades, de “como dar uso ao tempo”. Como tanta gente!!!…

Ah, e se “teve tempo” para ler esta conversa sobre “o tempo” e me disser o número de vezes que aqui “usei” o “tempo” – e só esse – pode contar com algum tempo do meu tempo se tiver tempo (e paciência) para me aturar… Mas, “dê tempo ao tempo” apesar de que, “o tempo não para”…

A lição de humildade de um campeão…

A humildade é um valor que tende a “passar de moda” neste nosso mundo agitado do “consome e deita fora”, esquecida como trapo velho desajustado no tempo. E se já é coisa rara entre o cidadão comum, o que se poderá dizer naqueles que atingem o sucesso económico e financeiro, o “estrelato” ou o mediatismo, que quase sempre são acompanhados de arrogância e exigências de “intocabilidade”, como se usufruíssem de algo parecido com a “imunidade parlamentar” dos deputados? Muitos têm-se perdido pelo fulgor dos seus talentos, pelo estrondo dos seus sucessos, pelo êxtase dos seus triunfos, ofuscados pelos aplausos, pelas benesses, pelas reverências de que são alvo. Certo é que nenhum se perdeu ainda por sentimentos de verdadeira humildade…

Fui diretor de prova de múltiplos eventos automobilísticos que o Clube Automóvel de Lousada realizou ao longo de mais de duas décadas, tanto nacionais como internacionais, em diferentes disciplinas. Um diretor de prova é o responsável de toda a organização desportiva, da gestão da equipa de colaboradores e por controlar tudo o que se passa no decurso das corridas. Uma das suas principais intervenções tem a ver com o comportamento dos pilotos em pista, agindo quando estes atuam à margem dos regulamentos, o que exige a aplicação de sanções mais ou menos pesadas como advertências, exclusões ou desclassificações, nada agradável para ninguém. Sempre que um piloto utilizava o recurso ao “toque” ou “empurrão” para ultrapassar quem lhe ia à frente, atirando a outra viatura para fora da pista ou provocando o “capotanso” do adversário para se aproveitar e fazer a ultrapassagem, mandava exibir a bandeira preta, sinal de que o prevaricador devia parar e sair da corrida, penalidade que apliquei sempre que as circunstâncias o exigiram, sem receio nem olhar a quem. Em quase todas as provas houve necessidade de exibir essa bandeira, para travar o ímpeto antidesportivo de alguns pilotos, muitas vezes fruto de “picardias” pessoais, pelo que tive de falar com muitos deles e, regra geral, as suas reações eram negativas, recusando responsabilidades no incidente de que saíram beneficiados como se nada tivessem a ver com o “atirar o adversário borda fora” para o passarem. Houve até quem manifestasse alguma agressividade com insinuações veladas, apesar de poderem recorrer para o “colégio de comissários desportivos”, uma espécie de “árbitros” que vigiam a prova.

Como a regra era a reação negativa e a não aceitação da justiça da penalidade, nunca esquecerei o ocorrido numa prova do Campeonato da Europa de Ralicross, realizada no Eurocircuito de Lousada. Sendo um evento de alto nível, estavam em jogo grandes interesses, não só de marcas de automóveis como de patrocínios a pilotos, cujos montantes dependiam dos resultados obtidos. Daí que, uma exclusão ou desclassificação, nunca era bem vista pelo atingido, especialmente pelos pilotos mais conceituados pois eram os que mais tinham a perder. Ora, numa das mangas de qualificação dessa prova estava em pista o campeão europeu em título Kenneth Hansen, piloto sueco apoiado pela Citroen várias vezes campeão europeu, em disputa com outro dos candidatos à vitória na prova. No arranque, Kenneth Hansen foi surpreendido pelo adversário que assumiu a liderança e não mais a largou, apesar da intensidade da perseguição e das muitas tentativas de ultrapassagem que lhe foi fazendo. Até que, em nova tentativa numa das curvas na parte alta do circuito, travou um pouco mais tarde do que devia, fazendo com que a sua viatura deslizasse um pouco e empurrasse o adversário para o exterior da curva, com ou sem intenção, mas aproveitando para o ultrapassar. Mas eu vi o “toque” e o “tirar partido” do incidente. Na passagem pela meta já o aguardava a bandeira preta por indicação minha, o que fez com que saísse de imediato da pista. Quando a corrida terminou e desci do posto de controle onde me encontrava, ele estava à minha espera. Dirigiu-se-me com um sorriso tímido nos lábios e começou por pedir desculpa por ter criado aquela situação, assumindo a responsabilidade da ocorrência e dando-me os parabéns pela pronta aplicação da penalidade. E foi-se embora renovando o pedido de desculpas… Incrível. Foi caso único nas minhas mais de duas décadas de direção de prova. Um gesto de humildade do Homem que não se escondeu atrás da arrogância típica dos vencedores, de alguém com um palmarés desportivo invejável, só suplantado pela grandeza do seu estatuto moral.

Kenneth Hansen, apesar da sua condição de piloto de exceção, de figura grande do desporto automóvel, admitiu o seu erro e aceitou as consequências como um ato de justiça, sem o querer passar, erradamente, para terceiros, fazendo jus à afirmação de que “o homem de sucesso demonstra a sua grandeza, não pela forma de comemorar os êxitos mas pela maneira como reconhece os seus erros ”…

Os bois de trabalho… e os “outros”

O boi de trabalho, praticamente extinto na região, é um animal que deveria ser credor da nossa homenagem coletiva. Durante séculos, foi a “força bruta” ao nosso serviço, especialmente na agricultura, e só viria a ser substituído quando apareceu o trator. A minha infância foi passada à volta da aldeia e da atividade agrícola, em que todos os lavradores tinham uma junta de bois, no mínimo, a sua “força motriz” para mover a nora, amanhar a terra para as sementeiras, quer fosse a lavrar ou a gradar, e puxar o carro de bois que era o principal transporte de cargas dessa época, tanto para os produtos agrícolas como para a lenha, o mato, as pipas de vinho, as madeiras e os materiais de construção, nomeadamente a carrear pedras da pedreira para as obras, algumas de proporções avantajadas.

Não era fácil ser boi nesses tempos, pelo enorme esforço que lhes era exigido, carreando cargas impensáveis. Por isso, os lavradores faziam questão de os cuidar bem, de os alimentarem convenientemente e de se orgulharem das suas juntas de bois.

O boi de trabalho foi desaparecendo progressivamente do litoral para o interior e, como dizia o meu amigo Bernardo, era ele que marcava o passo e o ritmo da vida nas zonas rurais, em contraponto com o ritmo imposto pelo automóvel nas cidades. E, dizia o meu amigo, qualidade de vida era a marcada pelo ritmo do boi… O resto, era agitação e stress.

Mas a nossa sociedade não lhe fez justiça, não reconheceu os seus méritos, tendo-o votado para o rol do esquecimento e, abusivamente e em tom depreciativo, “apaga-lhe” o nome mal é abatido. Porque será que só há “carne de vaca” esquecendo-se completamente o boi, ainda que tenha sido ele o sacrificado? Será que foram os homens, nos seus devaneios machistas e para um qualquer contento psicológico, a chamarem de “vaca” a toda a carne de bovino? Ou porque alguns (e ao que dizem as últimas estatísticas não são tão poucos quanto isso, antes pelo contrário…) têm o complexo de “boi” e dos seus “enfeites”? Talvez por isso mesmo se diga que “a arma do boi é a pior vergonha do homem”… e que “a infidelidade e a devolução de um cheque surgem pela mesma razão: Falta de cobertura”…

É natural que o boi, se pudesse falar, manifestava a sua tristeza por ver que as vacas lhe são subtraídas no período do cio, para serem entregues a um touro reprodutor, normalmente um macho adulto encorpado cujo único “trabalho” é “cobrir” e fecundá-las, atividade que suscita inveja em qualquer um. Até nos humanos… Conta-se que um jovem casal assistia à “cobrição” de uma vaca por um desses touros, quando a mulher que presenciava a “ação” do animal, com o intuito de “enviar” um recado ao marido, perguntou ao tratador: “Quantas cobrições faz o touro por dia”? O tratador respondeu que era variável mas, normalmente, “entre três a cinco”. Ao ouvir a resposta, deu uma cotovelada no companheiro e disse-lhe em surdina: “Estás a ver”? Mas, o marido não perdeu tempo e devolveu-lhe o “recado” com outra pergunta: “E é sempre com a mesma vaca”?

Mas, voltando ao nosso homenageado de hoje, dizem os brasileiros que “em briga de gaúcho, quem morre no fim é o boi…” E até se adapta à nossa realidade no caso do boi de trabalho, que foi “morrendo” sem que nos tenhamos apercebido disso. Não que seja caso para dizer que “o carro foi colocado à frente dos bois”, pois não é o caso. Aliás, sabe-se e é do senso comum que “o único sítio onde os carros andam à frente dos bois é… no supermercado.

Segundo as estatísticas, o Brasil tem mais bois (e vacas) que gente mas, estão com um problema grave. Dizem os estudiosos do meio ambiente que tão numerosos animais são uma importante fonte de emissão de gases, nomeadamente metano, que destroem a camada de ozono e aquecem o planeta. Tal verifica-se através dos “arrotos” frequentes dos bois, sem distinção dos que saem pelo “tubo de escape” na retaguarda do “chassi” ou pela abertura lá na frente, entre as mandíbulas… Já os nossos ambientalistas minimizam a influência dos bois nacionais na dita camada de ozono, não só pelo baixo número de efetivos como pelo tipo de alimentação, menos propícia à produção de gases tão letais. Não se sabe se nestas estatísticas estão incluídos todos os tipos de “animais com chifres”, até porque, muitos, como não o merecem, nem sequer sonham que os têm (dizem para aí que o “dito cujo é o último a saber” e que o difícil não é carregar o peso dos “chifres”… mas de sustentar a “vaca”). É que, segundo dados fornecidos por sites de relacionamentos extraconjugais implantados em Portugal como o “Secondlove” e Ashley Madison (que fizeram da infidelidade um grande negócio), os aderentes são da ordem das centenas de milhar, isto é, de gente que “enfeitou” ou vai “enfeitar” a cabeça de alguém… E elas até dizem que o fazem porque os maridos só pensam neles… Sacanas egoístas… Com ou sem culpas, vão ficar mais “engalanados” do que um carvalho centenário… Que se cuidem, pois já há muito se diz, “ guarda-te do boi pela frente, do burro por detrás e da mulher por todos os lados”… Mas também podem encarar as coisas com naturalidade e estupidez natural, não fazendo disso um problema, considerando até “não ter enfeites mas, apenas e só… sócios”.

E este assunto veio “à baila” porque me disseram que, em Lousada, já existe um clube de “SWING”!!! É, esses clubes começaram por surgir no anonimato da grande cidade (é sempre lá que nascem estas “modernices”), foram-se disseminando e agora estão a chegar à província. Para os que não sabem do que se trata, recomendo que se informem bem antes de irem lá com a mulher, pensando que é um simples clube de dança pois, seguramente, ali a “dança” é outra… E não é para o “gosto” de qualquer “dançarino”…

Rituais de acasalamento…

Há dias fiquei parado diante da televisão a ver um programa sobre a natureza e o mundo animal, que passava imagens de aves no período de acasalamento e me deixaram impressionado pela beleza, excentricidade e colorido mas, sobretudo, por a maioria das exibicionistas serem… machos.

Os rituais de acasalamento de muitas aves são impressionantes, a começar pelas “aves do paraíso”, com os machos numa autêntica explosão de plumas douradas, danças estilizadas e leques em cores reluzentes de rara beleza, tendo esse comportamento como único objetivo atrair a atenção da fêmea. Até o “tangará”, pequena ave conhecida como “o dançador”, é visto todo o ano a saltar e a dançar com o intuito de atrair a fêmea ao seu “redil” para acasalar. Depois da consumação do ato, vê-a partir e volta à sua condição de “solteiro”, retomando as danças para conquistar outras fêmeas.

A escolha de parceiros entre as aves implica rituais que não são mais do que estratégias de sedução de um sexo para atrair o sexo oposto. Nessa escolha, procuram-se sinais evidentes de “bons genes” para transmitir aos filhotes daí que, machos e fêmeas, fazem “autopromoção” das suas qualidades, “vendendo imagem”. Nesses rituais, o macho é o mais exibicionista, no brilho, na multiplicidade de cores, na exibição de danças e cantos elaborados para além dos combates físicos pela “sua dama”, como “propaganda genética” indicadora das qualidades do potencial parceiro. As cores, a sumptuosidade das caudas e das penas são, aos olhos das fêmeas, uma “vantagem reprodutiva”, tal como acontece com o pavão em que o preferido é sempre o que tem penas maiores, mais coloridas e mais bonitas. É por isso que ele se “arma”…

Mas, se nas aves são importantes as características referidas para a “conquista”, já nos insetos é o vibrar das asas, nas rãs o coaxar e nos mamíferos dominantes, como o leão, o macho é escolhido pela força, pela capacidade de proteção que pode dar à prole. Muito curioso, é o facto de algumas aves oferecerem presentes à “fêmea amada” para aumentarem as suas chances de acasalar, nomeadamente alimentos e objetos coloridos, para além de outras manifestações “amorosas” que vão desde as exibição de habilidades, paradas de beleza, todo o tipo de vocalizações, exibições de asas e voos.

Ao ver o programa sobre estes comportamentos, pensei que estava a assistir aos “espetáculos” que nós, seres humanos, fazemos, noutras formas, noutras cores, noutros exibicionismos, mas com o mesmo objetivo: Acasalar.

Desde jovem, o homem cuida da sua aparência, toma banho, perfuma-se e veste-se bem, por forma a ficar mais ”atrativo” e chamar a si a atenção das jovens “fêmeas”, em “luta” com outros “machos”, num dos múltiplos rituais de acasalamento que praticamos, a maioria dos quais nem nos apercebemos que o são, sempre com o objetivo de acasalar. Na adolescência, algumas exibições de “macho” são positivas como, ser giro, alto, forte, atlético, exuberante, alegre, educado, galante e respeitoso mas, também se podem revelar pela negativa, com manifestações de rebeldia, violência ou grosseria. Muito do querer ser o melhor jogador, o modelo brilhante ou o artista do momento, para além dos objetivos financeiros, são rituais com o objetivo de fazer com que elas, os “alvos”, caiam nos braços do herói, que é como quem diz, na sua cama. Por alguma razão, à volta dos grandes artistas, das grandes vedetas, dos grandes atletas, “voam” numerosas “fêmeas histéricas”, com as “fortificações” totalmente rendidas e à disposição total do “conquistador”, a quem se entregam sem condições.

Enquanto o pavão exibe a beleza e o comprimento das suas penas para conquistar a fêmea, o homem “macho” exibe a roupa de marca, o relógio de ouro ou o último modelo de carro desportivo, quando não a casa mais espetacular… Enquanto o tangará se destaca por ser um grande “dançador”, o homem “macho” exibe os seus “atributos” no “pop” ou no “rock” (quando não na bebedeira ou pior…), fazendo o roteiro das “discotecas na berra” para mostrar que é o “rei da noite”. Se o leão usa a força para se impor aos outros machos, submetendo as fêmeas com a segurança que lhes dá, o homem ”macho” revela a sua “importância” pelo lugar que desempenha na empresa, pelo poder que tem na política ou numa organização qualquer, oferecendo “segurança” à(s) fêmea(s) ao exibir condição económica para lhes “botar casa” e garantir uma vida de “bem bom”. Enquanto algumas aves e outros animais presenteiam as fêmeas com alimentos ou objetos coloridos para que lhes “abram a porta” do acasalamento”, o homem “macho” oferece flores, anéis e joias diversas, perfumes e todo o tipo de prendas, para ser mais persuasivo e chegar ao mesmo objetivo.

E elas? Têm também os seus rituais de sedução (e não são poucos) pela via da beleza, das toiletes, dos penteados, da maquilhagem, dos gestos estudados, dos “pedaços de mau caminho” mais ou menos mostrados ou insinuados, das danças sensuais, dos olhares, dos “risinhos”, do roçar do corpo no corpo, das palavras sussurradas, do bambolear das ancas, do cruzar das pernas, enfim, uma infinidade de meios para que o “macho” escolhido lhe caia na “rede”, às vezes sem saber como nem porquê.

Em suma, por mais inteligentes ou superiores que nos consideremos em relação aos outros animais, temos também os nossos próprios rituais de acasalamento, com uma “pequena” diferença: Se nalguns desses rituais conseguimos “fazer gala” daquilo que nos distingue deles, noutros, revelamos o pior que há em nós e que nos torna no animal mais ordinário, remetendo-nos, como diz o povo, para o lugar “abaixo de cão”, sem querer ofender amigo tão fiel…