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E se esquecer, atrapalhar o dia a dia?

A meio do jantar levantei-me, fui à cozinha, abri a porta do frigorífico e … fiquei ali parado, sem saber o que ia fazer. Deu-me uma “branca”, um apagão, tive um lapso de memória. “Mas o que é que eu queria?” pensava com os meus botões. Voltei à sala, sentei-me e só depois me lembrei do que ia buscar ao frigorífico. Será isto normal? Sou um caso único ou toca a todos? Diz quem sabe que é coisa que acontece a toda a gente, embora a uns mais do que a outros, havendo fatores que podem contribuir para que isso aconteça mais. E o principal, e mais comum, é a idade. Quantas vezes não vamos fazer uma pergunta a alguém e, só porque somos interrompidos no momento, esquecemos o que queríamos perguntar? Sob o stress de um exame, quantos alunos não bloquearam perante uma pergunta que sabiam e não são capazes de “dar mais uma para a caixa”?

Esquecimentos ocasionais fazem parte da vida, sendo certo que, com a idade, os “lapsos de memória” começam a ser mais frequentes. Não lembrar o nome de alguém, onde se deixaram as chaves do carro ou os óculos de sol, em regra mais não é do que o envelhecer normal do cérebro, até porque um cérebro de 80 anos não tem as capacidades de um de 20. Para me defender, tento usar o sistema da organização pessoal. Coloco as chaves do carro e da casa sempre no mesmo local, tal como os óculos, o telemóvel, o relógio e todos os outros objetos pessoais. E não são só os pequenos.

Algumas vezes no centro da vila dou comigo à procura do carro, pois não me lembro do local onde o estacionei. E ele nem é assim tão pequeno. Mas há sempre quem faça mais que a gente. Um conceituado advogado de Lousada um dia foi ao Porto e levou a esposa consigo. Depois de a deixar no centro a fazer compras, foi tratar do assunto profissional que o fizera ir à cidade. Ao fim da tarde regressou a Lousada e, quando chegou a casa, perguntou ao filho: “Onde está a tua mãe”? “A mãe não foi consigo ao Porto?”, contrapôs o rapaz. “Ei, que me esqueci dela” …

Com o passar dos anos, aumentam os esquecimentos, a demora em aprender coisas novas. Se tenho muitas recordações do passado, não posso deixar de reconhecer que muitas outras já se varreram para as profundezas do cérebro onde não sei como as “desenterrar”. E ainda bem que esqueci certas coisas … até deu jeito. Aliás, costuma-se dizer que ter péssima memória pode ser divertido, pois usufrui-se diversas vezes das mesmas coisas, como se fosse a primeira vez. E convém, se não se quer ser agradecido, quando se não pretende pagar dívidas e até para não sofrer de saudades. A questão passa a ser preocupante quando os esquecimentos começam por atrapalhar o dia a dia de cada um, quando não se consegue ir de casa ao supermercado ou ser capaz de regressar, de lembrar como se tira um café, se frita um ovo ou se corta a barba. Daí que se conte a história de três irmãs com 80, 83 e 85 anos de idade que viviam juntas e se ajudavam. Ora, uma delas foi tomar banho e, quando estava com um pé dentro e outro fora da banheira, gritou: “Meninas, alguma de vocês sabe-me dizer se eu estava a entrar ou a sair da banheira”? Outra das irmãs ouviu-a chamar, começou a subir a escadaria, parou de repente e perguntou: “Sabem-me dizer se eu ia a subir ou a descer as escadas”? A irmã mais velha estava sentada na sala. Ao ouvi-las, abanou com a cabeça e disse: “Cruzes, estão mesmo velhas e cada vez piores”. E, batendo três vezes na mesa, disse: “Ainda bem que não estou tão mal como vocês. Eu já vos ajudo, mas antes tenho de ir atender à porta que alguém está a bater” …

No final da minha adolescência tive um gravador de fita, onde gravei a música que estava “na berra”. Com o uso e o desgaste, foi perdendo capacidades, tanto de gravação como de reprodução. Julgo que com a memória é algo semelhante e há quem ache que não se está a fazer tudo o que se deve para investigar doenças que a afetam, ao contrário de outras áreas. Foi a pensar nisso que o médico brasileiro Drauzio Varella comprovou que o mundo investe cinco vezes mais dinheiro em estímulos para a sexualidade masculina e em silicone para a beleza feminina do que no estudo e descoberta da cura da doença de Alzheimer.

Por essa razão, o médico profetizou: “Daqui a alguns anos, teremos velhas de seios grandes e firmes e velhos com “paus” duros, mas nenhum deles se lembrará para que servem”.

Tudo isto para dizer o quê? Que, graças aos avanços constantes da medicina e de um conjunto de outros fatores, passamos a viver mais tempo, a “durar mais”, embora nem sempre com a qualidade de vida mínima que seria desejável. É certo que, nesse aumento da esperança de vida, não se prolonga a juventude. Prolonga-se a velhice, muitas vezes num “arrastar” penoso, com doenças crónicas e debilitantes, entre as quais está a “doença de Alzheimer”. Já são muitos os idosos com incapacidade e demências, sendo esse acréscimo galopante bem evidente nas listas de espera dos lares institucionais que, em regra, foram construídos a pensar nos utentes autónomos. Já lhes basta os que ali acabam por ficar nessa situação.

Pessoas com dependências graves e demências são sempre um problema para as famílias, sendo evidente que muitas delas não têm quaisquer condições para os manterem em casa. Nem físicas, nem económicas, nem de vida. Temos de compreender que não é legítimo exigir-se que o façam, porque é obrigá-los a “carregar uma cruz” demasiado pesada. E será bom que tenhamos noção dessa realidade e não atiremos cuspe para o ar, porque nos pode cair em cima. Os alojamentos institucionais são muito poucos para tão grave problema e nada se tem feito de há muitos anos a esta parte. Sendo estes doentes uma responsabilidade do estado, cabe aos políticos com funções governativas dar respostas urgentes a problema tão grave, em vez de “assobiarem para o lado” ou esperar que o doente, no vai e vem das viagens de casa para o hospital e do hospital para casa, morra pelo caminho e passe a ser um problema a menos …

Encontro do presente com o passado

Hoje fui a Macieira, a minha aldeia natal, visitar alguns familiares e aproveitei para rever também condiscípulos, vizinhos, amigos e até outros conhecidos de outrora, do tempo em que aquela era a minha casa diária. Como não podia deixar de ser, comecei pela família, num reencontro sempre emotivo em que às vezes não consigo conter as lágrimas. “Estar com os meus” traz-me sempre muitas recordações, memórias, lembranças de vida comum, mas sobretudo o sentimento de pertença. E “falei-lhes” muito, apesar de permanecerem quietos, deitados e num “silêncio sepulcral”, pelos sete palmos de terra que nos separavam.

Os meus irmãos Álvaro e António, roubados desta vida de forma tão abrupta e instantânea como quem desliga a luz no interruptor, sem tempo para despedidas, para dizer um “adeus”, “até breve” ou sequer um aceno, permanecem jovens de vinte e três anos e quase trinta e dois, na memória, no coração e nas fotografias da pedra lapidar. Não vão envelhecer nunca, nem ganhar rugas, cabelos brancos. Não singrarão nas suas carreiras já iniciadas, em trilhos que pareciam seguros e firmes. Não chegarão a formar novas famílias, a ter filhos e netos. Só escaparam de aturar a mulher. Qualquer que fosse. “Falei-lhes” disso e, sobretudo, da grande falta que me fizeram ao longo destas mais de quatro décadas, talvez pelo meu egoísmo.

Na mesma “morada” está o meu pai que pouco lhes sobreviveu. Teve um fim penoso e com muito sofrimento. Os diabetes não o deixaram conhecer o Luís, o seu segundo neto. Ou terá sido o Luís que não chegou a tempo? Não chegou aos sessenta anos, muito menos à idade da reforma, agora mais distante. Ficou-se pelos cinquenta e seis anos, com boa apresentação, a imagem do meu Gregory Peck preferido. E assim permanecerá na minha recordação. “Falei-lhe” das viagens que fizemos em família, dos meus enjoos numa estrada cheia de curvas lá para os lados de S. Pedro do Sul que o obrigaram a parar algumas vezes, da companhia que me fez na primeira viagem a Nova Iorque. E a sua última, pois partiu já lá vão quarenta. Muito cedo para perder o seu conselho, o seu aviso, a sua orientação. Ficou ao lado dos pais: do meu avô António, de que pouco me lembro e da “mãezinha”, a mãe dele que nunca quis ser tratada por avó. Era uma comerciante nata e, tendo levado a vida a percorrer as feiras da região, não deixou de comprar e vender o que calhava pelos caminhos da aldeia quando a saúde e a idade já a tinham “aposentado” das outras andanças. Fui seu “motorista” durante as férias de estudante para as feiras de Fafe, Vizela, Amarante e Felgueiras, ao volante do enorme carro americano Dodge, carregado de mercadoria e ouvindo sempre as histórias do que acontecera na próxima curva, com o “ali despistou-se o Joaquim”, “acolá rebentou um pneu ao sr. João e esbarrou-se naquela árvore”, num alerta permanente à minha condução.

“Vi” o tio Peixoto, que chegou a ser agente da autoridade para depois se ocupar da “loja” ou “benda”, como chamavam então ao misto de mercearia e tasca. Pelos Santos Populares fazia sempre uma “cascata” junto da “loja” ao seu santo padroeiro e mobilizava a catraiada para pedir “um tostãozinho para o S. João” aos poucos que ali passavam. Tornou-se “santeiro”, escultor de santos em madeira com um simples canivete e ainda conservo como relíquia preciosa uma imagem de S. José que me ofereceu. Ali também está a tia Miquinhas, mãe sempre presente de uma mão cheia de filhos, muito tranquila e doce. Percorri todo o espaço e revi velhos amigos. O Zé, da Armindinha, conhecido como Zé Desportista por gostar da bola, meu condiscípulo e amigo. O Domingos Passeira, que regularmente ia a casa dos meus pais para nos cortar o cabelo. O senhor Cunha da Quinta de S. João Velho, de rosto magro e tostado pelo sol. Na memória, vejo-o a amarrar o porco à “cabeceira” do carro de bois e espetar-lhe um “facalhão”. Eu gostava de ajudar a chamuscar os pelos do porco com um molho de palha “centeia” a arder e esfregar depois a pele com pedra e água. Logo que podia, arranjava-nos uma febra que íamos a correr grelhar na chapa quente do fogão. Revi o senhor Marques e a Adelinha, o sr. Cunha e o Fernando da Rosinha, pedreiros de profissão, tendo este procurado uma vida melhor por terras de França com a família. E vi ainda lá os “representantes” de gerações recentes. Nunca chegarão a velhos … Enfim, a geração anterior já lá está quase toda e uma boa parte dos do meu tempo já “foram andando”. Por isso, devo dar graças a Deus.

O cemitério é um lugar especial sobre o qual se criaram mitos, medos e fantasmas, mas onde deveríamos ir com regularidade, no encontro do presente com o passado, para tomarmos consciência de qual será o nosso futuro. Como a morte é um nivelador implacável, ali todos chegam iguais e ninguém é mais do que ninguém. Nenhum é mais importante do que o outro, mais poderoso, arrogante, bonito ou feio, rico ou pobre. Todos lá chegam despidos de “teres e haveres”. Só existe o “Ser”, porque deixaram de ter o que quer que fosse. Fora do portal, ficou o poder, a vaidade, a arrogância, a ganância, a avidez, além dos bens materiais, resultado de uma vida cheia de trabalhos, habilidades, canseiras, ganhos lícitos ou mera exploração de outros. Não passa um cêntimo sequer para pagar a “portagem” de uma vida para a outra. Por isso, o cemitério deveria ser um simples parque relvado onde todos seriam colocados em igualdade de “instalações”, com uma simples cruz para “ostentar” (para aqueles que creem Nele) e uma pequena lápide, sem distinções, sem exibições ou competições. Mas não. Visitar o cemitério é verificar que muitos recusam aceitar o “nivelamento”. E tudo se faz ao contrário, numa estúpida competição pelo mausoléu mais imponente na “guerra” com o vizinho, o familiar.

Nalgumas vezes para “aliviar a consciência” da forma como se tratou o morto em vida ou para se querer mostrar “a dor que se não sente”. E os granitos polidos do Brasil ou Angola e os mármores de Estremoz ou Itália servem na perfeição para “atulhar” o cemitério, colocando homenagens sentidas ao lado de mentiras, sentimentos de dor a par de atos de hipocrisia, sinais de humildade de frente com uma feira de vaidades feita pedras luzidias que se atropelam umas às outras na ânsia de sobressaírem onde tudo deveria ser igual. Sem mentiras, sem vaidades, porque os mortos são todos iguais e já não mentem mais. As mulheres, em regra, são as mais dedicadas aos seus, as mais persistentes em não deixar esquecer. Limpam, lavam, enfeitam, iluminam e embelezam com flores e lamparinas o exterior da campa. E sentem a falta. Mais do que nós.

Pensando bem, talvez faça como os outros e arranje um monumento. Vou mandar construir uma “torre” no meu “talhão”, bem alta, a tocar o céu, dotada de elevador ultrassónico e com um motor de foguetão. Assim, quando “for desta para melhor”, enfiam-me nela e só tenho de entrar no ascensor, carregar no único botão que diz “Céu” e seguir direto ao Reino Celeste sem passar pelo Purgatório nem queimar os pelos do rabo no Inferno, “apeadeiros” que são um “atraso de vida”.

Sei que é difícil largarmos o “Ter”. Só alguns poucos o conseguem em vida. Mas a morte liberta-nos desse “peso” e impede-nos de continuar a ele agarrados. Por isso, sejamos capazes de compreender e aceitar esse desprendimento de bens, títulos, exibicionismos e vaidades para sermos verdadeiramente“livres” e iguais por natureza …

Será que gostaria de ser grande?

Há momentos em que gostava de ser um homem grande. Não grande em importância ou fama, boa ou má, mas grande no tamanho, na altura, mesmo que não fosse “grande coisa”. Mas essa crise ataca-me a “mona” só nos momentos em que precisava de mais um palmo para ter visibilidade sobre a multidão, nada mais. Fico frustrado quando há um evento ou algo ocorre e quero ver o que se passa mais à frente, mas meia dúzia de “cabeçorras” colocadas à minha altura, tapam-me a visibilidade, como que propositadamente. Parecem maiores do que na realidade são. Não queria ser grande para ter pés grandes, pernas grandes e tudo o mais grande (e imagino que um homem assim deve ter mesmo tudo grande). Ser grande tem vantagens e inconvenientes. E se estou interessado nalgumas vantagens que isso me proporciona, já não digo o mesmo dos inconvenientes. Não são interessantes nem simpáticos e não são assim tão poucos: num espetáculo, homem alto é odiado por todos os que lhe estão atrás; quando é preciso retirar algo sem escadote do armário mais alto, ele é a “muleta” mais à mão; tanto no vestir como no calçar, fica muito mais caro, pois gasta mais pano, mais cabedal, porque nunca veste menos que XXL ou até XXXL; não encontra roupa nem calçado que lhe sirva com facilidade e tem de ir a casas especiais, que também devem ser especiais no preço; para ele, a cama tem de ser feita por medida senão, tem de dormir com os pés de fora; e, nas muitas situações em que as cadeiras são para gente normal, quando sentado, fica com as pernas encolhidas, em posição incómoda e ridícula. Imagino como será viajar de avião em classe económica, com pernas dobradas e os joelhos a empurrar o queixo para cima. Só pode usar um furgão como meio de transporte, para não ter de baixar a cabeça ou andar às turras ao tejadilho. Está fora de questão o uso de automóveis desportivos, a não ser que sejam descapotáveis ou com teto de abrir para viajar com a cabeça de fora. Caso contrário, resta-lhe como solução tirar o banco do condutor e sentar-se no chão do automóvel. E em dias de vento forte, tem muito mais dificuldade em segurar-se de pé, apesar dos sapatos parecerem duas raquetes de ténis. Tive dois colegas com mais de dois metros de altura, medindo um deles quase dois e dez. Causava-me impressão estar perto dele. Olhava e via um homem sem cabeça. Só quando levantava a minha inclinando o corpo para trás, é que me dava conta de estar completo. “Afinal, também tem cabeça”, pensava para mim.

Mas o que mais me impressiona num homem grande é que, por regra, tem de namorar com mulher pequena. Ou, pensando melhor, mulher pequena faz questão de namorar com homem grande. Talvez para compensar a “falta” com as “sobras”. Ou deve ser a física a funcionar: os polos opostos atraem-se. Um casal destes faz lembrar a história do gigante e do anão ou, traduzido na gíria popular, “a sorte grande e a terminação”.Dizem para aí que, num relacionamento como este, há “excedentes” que seriam desnecessários, pela mesma razão que, um bom carpinteiro, não usa “pregos galiota” para “pregar” madeira de forro…

Quando era miúdo dizia-se que um “homem grande” não precisa de escada para vindimar ou apanhar fruta. No entanto precisa de ter dois olhos no alto da cabeça, pois está muito mais sujeito a bater com a testa nas padieiras das portas do que alguém como eu. Apesar de ter passadas maiores e mais largas, não é sinónimo de correr mais do que um homem normal. E, se tem a cabeça num lugar mais alto que qualquer outro, não sendo sinónimo de “maior estatura moral” nem de inteligência maior, significa que, quando cai, o tombo é maior …

Dos meus colegas “grandalhões”, o tamanho foi decisivo para que um deles fosse atraído para o basquetebol. Dizia ele que tinha como vantagem o facto de “morar” mais perto do cesto. E morava. “Só por isso” é que, na disputa com ele, eu não apanhava uma.

É sabido que, de há um século até aos nossos dias, há um acréscimo na altura média dos adolescentes, de geração para geração. De tal forma que, num estudo efetuado entre os alistados no serviço militar no Brasil, verificou-se um aumento de oito centímetros na média no espaço de … dez anos.

A razão para se ser mais alto do que o normal é (quase) toda genética, embora as questões ambientais contam um pouco. Por isso, os pais baixotes não podem esperar que o filho “saia” uma “estaca”. Pode até acontecer, mas não é comum … e nem estou a desconfiar. A Holanda é tida como o país onde mais se tem crescido. De tal forma que a altura média dos holandeses é de 1,84m, enquanto entre as mulheres se situa em 1,71m, ultrapassando os americanos. Claro que, além da genética, importa uma boa nutrição, o controle das doenças comuns da infância, melhor qualidade de vida e exercícios físicos e desporto.  

Confesso que também não gostava de ser “baixinho”, chamado “roda vinte e três”, apesar deles dizerem que “têm uma visão privilegiada das mulheres com saia curta”, “de quando abraçam a namorada ficam com a cara enfiada entre o melhor de dois mundos”, “que numa briga de homens têm mais facilidades de golpear o opositor no saco dos berlindes” e que “como são leves, quando morrerem qualquer um lhes pega no caixão”.

Tamanho não é argumento. O importante é o uso que se faz dele. E, pensando bem, não sendo grande, também não sou pequeno. Não sendo alto, também não sou “baixinho”. Não calçando o quarenta e oito, também não calço o trinta e seis. Sinto-me bem como sou, chego onde quero e vejo até onde preciso ver. E, mais importante, tenho “a medida certa” para não ter dado grandes “tombos”, a suficiente para me ter levantado “sempre que caí”, o que é bem mais importante do que pensar que se vai estar sempre “lá em cima” ou “em baixo”. Aliás, o ditado popular até diz que “no meio é que está a virtude”. Embora eu não seja propriamente um homem virtuoso …

Importantes, mas invisíveis. Ou não…

Umas cuecas, que se dizem ter ficado esquecidas num hotel de luxo por Adolf Hitler, foram a leilão, tendo sido arrematadas por alguns milhares de euros. Só não sei se tinham bordado o monograma do ditador e, eventualmente, algum do seu odor corporal. A esse preço eu vendia todo o meu stock pessoal e ainda fazia um desconto de cinquenta por cento, promoção que já nem os supermercados são capazes de fazer. Mas não sou o símbolo do nazismo, nem de outro culto. E, confesso, comprar umas cuecas antigas, ao preço do ouro e fora de moda, eventualmente rotas e sujas, não é nada que esteja nos meus sonhos. Nem de perto, nem de longe… Nem para usar, nem para cheirar, nem para admirar a “coisa” como objeto de arte…

As cuecas, são a peça de roupa interior que protege as partes mais resguardadas de homens e mulheres. São a primeira barreira contra “despejos imprevistos” e a última defesa se “o castelo é assaltado”. Embora de eficácia muito duvidosa, tanto numa como noutra função…

Em miúdo, usava cuecas compridas e largas que me chegavam até ao joelho, feitas pela mão da senhora Emilinha, do Ferreiro, a costureira da minha mãe. Abertas à frente, fechavam com dois botões, se é que “fechavam” alguma coisa …

À medida que os anos e as modas passaram, o tamanho das cuecas foi sendo reduzido, tanto no comprimento como na largura, chegaram novos modelos havendo hoje uma multiplicidade tal que, como diz a publicidade da RTP, “o difícil é escolher”. Tudo depende do gosto, da ousadia e do exotismo. Pode-se optar entre o “slip” e o “fio dental”, os “boxers” e o “sungão”, entre o “fundoshi” e o “jockstrap”, para além do “samba-canção” e muitos outros. Também há variedade de cores, muito importantes quando as cuecas andam parcialmente à mostra…

Ao descobrir várias embalagens de cuecas no banco de passageiros do carro oficial da Prefeitura de Ribeirão Bonito, a Procuradoria do Brasil questionou o chefe do executivo, Chiquinho Campaner, para saber se o carro não estaria a ser usado para fins irregulares que não os autorizados da viatura oficial, face às peças de roupa interior ali encontradas. O Perfeito argumentou que as embalagens de cuecas andavam no carro por uma questão de segurança, para o caso de ter um desarranjo intestinal … Pelo que se sabe no município, nunca o tal Perfeito teve manifestações de “caganeira” pública …

Cá entre nós, não é do conhecimento público (pelo menos do meu) onde param as cuecas dos nossos políticos. Nem sequer interessa. Só se sabe que alguns têm feito muita m. . E tem sido tanta, que já nem estranhamos quando se descobre as “borradas” de mais algum. Podemos dizer que é natural, “tão natural como a nossa sede”, algo que já faz parte do nosso quotidiano … Noutros tempos, as cuecas eram uma espécie de “bastião”, a “torre de menagem” de proteção e último reduto onde se protegia o “poder” dos olhos inimigos sempre que a primeira defesa, as calças ou saias, caíam por acidente ou “ataque” intencional … Nesse objetivo, eram grandes, opacas e fortes, tal como a “torre” do castelo. Mas com o tempo e as modas, a “fortaleza” passou a mera decoração e enfeite, feito fio dental ou tira transparente que nada protege, nada tapa, mais feito “mel para atrair moscas” ou “enfeite para conquistar o inimigo” …

Para os supersticiosos, existem “cuecas da sorte” que fazem questão de usar em “momentos” de que se espera ser “bafejado” por ela. Não quero arriscar em dar grandes palpites de quais os “momentos” em que eles e elas consideram ser importante usar as “cuecas da sorte”, que mais não são do que as peças usadas à meia noite da Passagem de Ano. Será que a mudança do Ano Velho para o Ano Novo atribui poderes especiais às cuecas que trazemos coladas ao corpo por uma qualquer razão que a ciência não consegue explicar? E, afinal, qual a “sorte” que se pretende atrair? Arranjar alguém que ajude a comprar um saco delas? A lavá-las à mão? Ou a despi-las?

Sabe-se que a cor do artigo tem significado e que as cuecas vermelhas são sinal de paixão e amor. Se são cor de rosa, será pureza e beleza e as azuis, segurança e tranquilidade. Se as laranjas falam de conquistas, muito importante são as amarelas, a cor do dinheiro, da riqueza e da sabedoria. A ser verdade, meio mundo andava de amarelo canário e o outro meio … de amarelo torrado.

A variedade nas cuecas de mulher é tanta que, dizem os entendidos, existe um tipo para cada mulher. Das conservadoras às ousadas, das clássicas ás exóticas, das “fechadas a sete cadeados” às “abertas como um ouriço maduro”, das que “assustam” às que convidam, enfim, um mundo infinito de variedade. Se bem que, a “perspetiva” que muitos homens têm, pode ser um tanto “estranha”. Numa roda de amigos um deles contava que vira uma mulher esbelta, que todos conheciam, em cuecas. “E que tal”, perguntou a malta? “Como era ela”? Atrapalhado e como que apanhado em flagrante delito, conseguiu dizer: “De íntimo, não vi nada. Estava tudo tapado com as cuecas … “fio dental. Só vi o fio …”

As cuecas têm servido para alguns usos que nada têm a ver com o fim para que foram feitas. E não se sabe porquê (ou, se calhar, sabe-se), em muitas circunstâncias são o “bolso” onde alguns políticos do Brasil têm passado dinheiro sujo e em que as (e os) “strippers” aceitam que os (e as) entusiastas “enfiem” dinheiro em notas de certo valor. Por falar em sujidade, o entendimento desta é variável de povo para povo. As estatísticas dizem que na Irlanda do Norte, parte dos homens lava as cuecas uma vez por mês. Já dez por cento dos ingleses só lava depois de usadas sete vezes e duram entre quatro a dez anos. Por essa razão, o “fedor” é motivo para acabar com uns quantos relacionamentos. Dos portugueses não tenho estatísticas. Não sei se as usam uma ou dez vezes antes de as lavar. Uma coisa sei: se as cuecas tivessem “nariz”, ou morriam intoxicadas pelos gases que saem do “tubo de escape” que tapam ou habituavam-se ao cheiro e até podiam ficar “viciadas” e “dependentes” dessa “ganza”.

Num navio de cruzeiro uma senhora de 83 anos estava de pé junto da amurada. Com o tempo muito ventoso, segurava o chapéu para não lhe fugir da cabeça. Um cavalheiro inglês aproximou-se e disse-lhe: “Perdoe, madame, mas o seu vestido está a voar com o vento forte”. “Sim, eu sei”, disse ela, “mas preciso de ambas as mãos para segurar este chapéu”. O cavalheiro corou e exclamou: “Mas, madame, apesar das cuecas, a sua intimidade está exposta”. A mulher olhou para baixo e depois para o homem. Então sorriu e respondeu: “Senhor, qualquer coisa que vê, já tem 83 anos, ao contrário do chapéu, que o comprei ainda ontem”. Uma questão de prioridades …