Os dois lados de um incível invento

Em pouco mais de 40 anos, esse pequeno aparelho que começou por ser maior que um tijolo e hoje tem milhares de modelos ultrafinos e de tamanho reduzido, tornou-se indispensável na vida de biliões de pessoas em todo o mundo: O telemóvel. Se antes servia para fazer ligações quando fora da residência, hoje tem um mundo de funções que parece não ter fim, passando a ser o companheiro inseparável que pode pôr-nos em contacto com alguém do outro lado do globo com um só clique, estabelecendo uma ponte capaz de ligar pessoas de todas as raças, línguas e religiões, o que é fantástico. Pelas estatísticas já há mais telemóveis que pessoas e os smartphones, com o Iphone à cabeça, são a coqueluche pelas incríveis capacidades de que dispõem. Hoje, onde quer que nos encontremos, é impossível não cruzarmos com alguém de olhos postos num aparelho. É uma necessidade quase doentia, muitas vezes uma dependência, de estar em contacto com alguém, dando ou recebendo informação, que no passado servia para unir as pessoas para um contacto pessoal e hoje serve para manter os jovens mais sozinhos que nunca. Basta observar os casais num jantar romântico, cada um embebecido de olhos postos no smartphone …

Como tudo na vida, o smartphone tem o seu lado bom e o lado ruim. Do lado ruim fala o Padre Sérgio numa das suas homilias, quando pergunta: “Qual a arma mais poderosa inventada pelo ser humano?” E ele continua: “Não é a bomba atómica. A arma mais poderosa que o ser humano inventou chama-se smartphone. Porquê? Porque ele matou o telefone fixo, matou a televisão, matou o computador, matou o relógio, matou a máquina fotográfica, matou o rádio, matou a agenda, matou o jornal, matou as revistas, matou os livros em papel, matou os vídeos jogos, matou a lanterna, matou a carteira, matou o calendário de mesa e o calendário de bolso, matou o cartão de multibanco e, pior que tudo, matou muitos casamentos e muitas famílias. E, aos poucos, está a matar os nossos olhos, a nossa postura, a nossa saúde mental, a nossa coluna vertebral e promete acabar com a próxima geração. Senão, vejamos: Vai acabar com a nossa alma tirando-nos o direito de vida eterna, tirando-nos o direito de glória nos Céus. Ele ocupa o lugar do terreno e do tesouro mais caro, tomou o lugar da pérola mais valiosa. Ele está a tomar o lugar dos nossos pais, dos nossos filhos, do resto da nossa família. Ficamos mais tempo com ele do que com todos os membros da nossa casa. Ele está a tomar o lugar de Deus. Quantas horas por dia tu passas em oração? E quantas horas por dia tu passas com ele na mão, olhando e mexendo? É fácil saber pois ele mesmo te conta” … 

Para milhões de pessoas, definitivamente, não dá para ficar sem o seu smartphone, não só pela facilidade com que as orienta, como pelo número de reuniões e compromissos que podem ser realizados sem qualquer atraso. E é possível colocar tudo lá dentro, desde o seu banco, a TV, a rádio, a agenda, o despertador diário e tanta coisa mais para a vida pessoal, profissional e lazer. E esta ligação entre o homem e o seu smartphone ainda está no começo e irá evoluir tanto que já se prevê que, no futuro, ninguém andará mais com chaves de casa ou do carro, dinheiro ou documentos, pois tudo estará lá dentro. 

Mas o seu lado ruim também está lá e por isso já há pais que recusam dar smartphones aos filhos por acreditar que podem ser prejudiciais para as crianças. Circula nas redes sociais um texto de autor anónimo que não sei se é uma história real ou inventada, mas tem certa lógica:

Diz ele que, enquanto uma professora verificava os trabalhos de casa feitos pelos seus alunos, o marido jogava no smartphone o seu jogo favorito. A certa altura, ao ler as últimas palavras do trabalho de um aluno, a professora começou a chorar. O marido, saindo do seu transe apercebeu-se e perguntou: “O que se passa?” Ela respondeu: “Ontem, para trabalhos de casa, pedi aos meus alunos que escrevessem algo sobre o tema “O meu Desejo”. E o marido insistiu: “Mas então, porque estás a chorar”? E ela retorquiu: “Foram as palavras de um trabalho que me fizeram chorar”! O marido ficou curioso e continuou: “Afinal, que palavras te fizeram chorar”? “Bom, foram estas. “O meu Desejo é tornar-me um smartphone. Meus pais gostam muito dos seus smartphones. Preocupam-se tanto com eles que, às vezes, esquecem-se de se importar comigo. Quando o meu pai vem do escritório cansado, tem tempo para o smartphone, mas não tem tempo para mim. Quando estão a fazer um trabalho importante e o smartphone toca, eles atendem logo, mas não a mim mesmo que eu esteja a chorar. Eles jogam jogos nos smartphones, mas não comigo. Quando estão a falar com alguém no smartphone, nunca me ouvem, mesmo que eu diga coisas importantes. Então, meu desejo é tornar-me um smartphone!” Depois de ouvir as palavras do trabalho de casa, o marido ficou emocionado e perguntou à mulher quem escrevera aquilo. E ele ouviu-a dizer: “O NOSSO FILHO”! 

Não há dúvida de que o smartphone é uma ferramenta incrível, com capacidades inimagináveis, que é benéfico, mas para nos facilitar a vida, não para nos tornar dependentes e condicionar no uso racional do nosso tempo. É importante fazer bom uso dessas potencialidades, mas de forma controlada, pois temos a obrigação de deixá-lo de lado sempre que temos de dar atenção às pessoas, especialmente àquelas que amamos. E, sobretudo, sermos capazes de impor algumas regras, a começar por nós mesmos, para não nos tornarmos escravos de algo que deve existir para nos facilitar a vida, libertar e não condicionar.   E paremos de vez com essa tentação de calar os filhos de tenra idade pondo-lhes um smartphone na mão com qualquer vídeo brasileiro, para que eles não aprendam as primeiras palavras em “brasileiro” e sejam “colonizados” no seu próprio país e pela mão dos pais …