Não sei por onde começar, se pela cabeça ou se pelo rabo, pois proponho-me defender, aqui e agora, uma homenagem pública, com estátua e tudo, ao PORCO, esse herói nacional que nunca recebeu o reconhecimento devido.
É certo que já existe um monumento com aquilo a que chamam “a porca de Murça” mas, com franqueza, não há confirmação oficial por nenhum veterinário de que se trata realmente de uma porca. Não sei se foi por vergonha, dado tratar-se de homenagear a mãe de todos os “porcos” que andam por aí, ou por falta de jeito do escultor. Por isso, esse de Murça não conta e “está na hora da matança”, que é como quem diz, de matar essa falha.
Para além do mais, está na moda fazer estátuas a porcos, como é o caso de uma recentemente inaugurada em Cincinnati, nos Estados Unidos, em homenagem a… Lady Gaga, que já se tornou local de romagem obrigatória. Ora, os americanos não são mais do que nós e por isso temos o mesmo direito a um monumento ao bicho.
Também, desde que George Clooney adoptou o porco Max como animal de estimação, várias mulheres do mundo artístico como Paris Hilton e Reese Witherspoon fizeram o mesmo. Imagine-se uma dessas atrizes que tanto admiramos pelos seus “atributos”, agarrada a um “porco”… E parece que o bicho, na sua qualidade de mascote, tem direito a dar-lhe umas “focinhadas”… Será por isso que não falta para aí gente que veste a pele de “porco”?
Mas, vamos aos argumentos credíveis que me levam a fazer esta proposta de homenagem, para angariar (financiamento? Não…) partidários e encontrar apoios a tão grande empreendimento.
O porco é a máquina de reciclagem perfeita, melhor que as centrais de tratamento de lixo e as incineradoras. Sendo o antepassado dos caixotes do lixo, com vantagens, fez com que eu me decidisse a comprar um para substituir o balde do lixo. Até já sei qual o tamanho do leitão que me cabe no armário debaixo da banca. Para assegurar que não haja maus cheiros na cozinha, vou fazer uma ligação direta das traseiras do bicho ao esgoto. Além de digerir todo o lixo orgânico, permite ainda que me dê ao luxo de fazer um “figurão” quando tiver convidados a jantar cá em casa. Perto do final, berro: “Oh Maria, traga o leitão”. E quando os convidados “afiam” o dente, a empregada entra na sala com o leitão preso a uma coleira para… apanhar as migalhas debaixo da mesa.
O porco tem contribuído fortemente para a redução do número de acidentes na A1. Como? Obrigando os automobilistas a fazerem uma paragem na Mealhada para “descansar” e “encher a mula” com “leitão à Bairrada” (o que também dá felicidade gastronómica a milhares e milhares de portugueses). E está provado que, enquanto ali estão parados, não se “estampam”, a não ser que a melhor amiga da mulher os veja ali com outra. Assim, claro, é “acidente” com toda a certeza…
O porco foi durante muito tempo a principal fonte de proteína do povo da região, pois em todas as casas, da mais rica à mais humilde, criava-se o “porquito” para matar e comer durante o ano. Mas, apesar desse contributo generoso, acabou denegrido e rejeitado por médicos e nutricionistas, excluído das dietas alimentares, como se fosse o culpado do excesso de colesterol e das nossas “banhas”, ele porco que tanto fez por nós. E agora? Deixamos de deliciar-nos com os rojões, o lombo assado, a orelheira, o presunto e os salpicões? Ou passamos a comê-lo às escondidas para não aturar tais conselheiros? É que me interrogo porque será que noutros tempos os porcos muito gordos não nos faziam mal e, agora, até os magros são carne que tais técnicos não recomendam? Está na hora de o reabilitarmos.
E quantos milhares de políticos os porcos não ajudaram a eleger, ao servirem de “isca” para atraírem e conquistarem os votantes através da “pança cheia” de porco no espeto? Não tem essa legião de gente uma dívida de gratidão para com o porco? Não têm a obrigação de lhe darem um lugar (atenção que não estou a pedir para lhe arranjarem emprego no governo ou numa autarquia qualquer…) de relevo no meio duma dessas muitas rotundas de que se encheu o país? Não seria mais original lá colocar a estátua de “um porco a coçar a barriga” do que pôr uma fonte, coisa banalizada que na maioria já nem “esguicha”? E que tal uma fêmea pois, além de homenagear o porco, simbolizava o poder como Bordalo Pinheiro o viu: Uma porca com muitas tetas onde todos querem mamar (mas que não chega para todos…!!!)
Mais, o porco serviu de “modelo” para muitos seres humanos que nós batizamos de “porcos”. Sem ele, como chamaríamos a esse tipo de gente? Elefante? Boi? E os nomes de componentes do porco que o povo usa na rotina do dia a dia como “ela manda cá um pernil…” , “que grande rabo…” e outros um pouco mais ousados?
O porco é ainda o melhor símbolo da sociedade multirracial que somos, havendo-os brancos e pretos, tendo-se mesmo criado os mestiços tal como nós o fizemos em África. No entanto, enquanto o “porco preto” vive em grandes herdades e em pocilgas de luxo rodeado de mordomias, tal é o seu valor comercial, o “branco” atravessa uma grave crise de mercado, vendido ao desbarato nos supermercados e com cotação tão baixa que, que qualquer dia, já não tem bolota para comer nem “pocilga” para se abrigar…
E poderia argumentar mais na defesa do monumento ao animal que tem feito muito por nós, mas não vou “gastar mais latim”.
Só mais uma coisa: Vamos lá pôr o porco em cima do pedestal porque, sendo porco, faz menos m… que muitos que lá estão e que se dizem não o ser…