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Como encher a “pança”… no futuro

Mais coisa menos coisa, hoje existem cerca de seis biliões de seres humanos na terra e os entendidos estão a prever que sejam mais de nove em 2050. Demasiadas bocas para alimentar…

Os pessimistas dizem que não haverá “paparoca” para tanta gente e esse será o desafio, especialmente nos países mais pobres. Cá por mim, não me importava de experimentar algumas dificuldades alimentares… em 2050 mas, é certo que nessa altura já terei deixado de… comer. Claro, pelo mesmo motivo do burro da anedota…

Ao contrário dos ditos entendidos, penso que não haverá carência de alimentos. Poderão é ser diferentes dos de hoje, embora continuem a estar mal distribuídos… como agora. Há muito tempo que a entrada de novos alimentos na nossa dieta tem sido natural e pude assistir a isso ao longo da vida. Outros virão…

Se em criança só comia carne de porco ou galinha – quando havia carne – foi aumentando gradualmente a lista de alternativas como o pato, o peru, a avestruz, a codorniz e outras aves e, para além da vulgarização da carne de vaca (que os indianos teimam em venerar em vez de comer), acrescentamos à ementa cabrito, cordeiro, veado, javali e até cavalo. Já os africanos e, ainda mais, os orientais, fizeram crescer a lista de iguarias ao ponto de até comerem… cães, que nós só imaginamos como animais de estimação. Por este andar, os amigos que se cuidem pois podem entrar no “cardápio” (quando falei nisto um determinado “fulano”, comentou: “Ai, ai, se fosse uma amiga…”).

Noutros tempos, à minha terra só chegavam sardinhas ou carapaus trazidos pelo “sardinheiro” e vendidos ao “quarteirão”. Tirando estes, podíamos comer truta, barbo, escalo ou boga… se os apanhássemos no rio Sousa (no tempo em que tinha peixes…), às escondidas do senhor Abel Moreira, o guarda rios. Agora, estão sempre a vender-nos novas espécies com nomes e preços “estranhos”… Claro que a maior parte dos peixes que hoje temos nas bancas são criados em “gaiolas” no mar ou nos estuários, alimentados a ração tal e qual os milhões de “bicos” nos aviários, de porcos, etc., ração essa tantas vezes carregada de hormonas e antibióticos. É por isso que há cada vez mais homens a “falar fininho” (o que virou moda) e “mulheres barbudas” (antigamente faziam sucesso no circo e hoje têm êxito na Eurovisão). Legumes, eram meia dúzia e todos cultivados no quintal lá de casa, enquanto hoje são tantas as variedades, que já não chegam as palavras em português para “chamar por eles” e foi preciso “importar” o “chuchu”, a “courgette” e outros que tais. É que, comer “estrangeirismos” alimenta-nos bem melhor…

Mas, a grande aposta alimentar do nosso futuro, está nos… insetos. Os estudiosos acham que a maneira de acabar com a “larica” será “desatarmos” a comer gafanhotos, formigas, lagartas e até larvas de mosca. É só uma questão de… mentalização. Metem nojo? E o porco, não é porco? Se comemos ostras, mexilhões e até caracóis, porque é que não podemos comer… lesmas? São caracóis… sem a “casa às costas”… Os americanos já têm patentes de produção de farinhas alimentares a partir de… gafanhotos. Dizem que é melhor do que qualquer carne. Será? Já se comem mais de mil e quinhentas espécies de insetos por esse mundo fora, nós é que estamos “atrasados”… É só uma questão de tempo, quando não de… moda?

Eu já comecei, há muito. No último ano de Escola Agrícola, chefiava uma mesa no refeitório do internato e tinha comigo três caloiros moçambicanos. Num dia quente e com as janelas abertas durante o almoço, um grande gafanhoto “aterrou” na mesa. O Teodoro, um dos moçambicanos, lançou a provocação: “Dou vinte escudos a quem comer o gafanhoto”. Ora, vinte escudos naquele tempo era muito dinheiro, para mim (muito pouco para ele, filho de grande fazendeiro), pois dava para ir três ou quatro vezes comer um bife ao Texas e ver um filme no Avenida. Instintivamente, perguntei: “Mostra a massa”. O Teodoro não se fez rogado: Tirou uma nota de vinte escudos da carteira e pousou-a no centro da mesa. “Quem tem coragem?”. Sem hesitar, respondi: “Eu aceito”. Apertamos as mãos e… vamos a isto. Ao almoço eram batatas guisadas com carne e o meu prato ainda estava quase cheio. Apanhei o gafanhoto, cortei-o aos bocados e embrulhei-o na comida com muito molho, fazendo-o desaparecer no meio do guisado. Comi tudo sem me aperceber de “paladares” estranhos e “ganhei” um “subsídio” extra para o mês…

Ao longo dos anos já experimentei porco espinho, pernas de rã, sopa de cobra e outras “iguarias” pouco usuais entre nós. Durante um ano dormi no meio de milhões de baratas e ratos, mas não os cheguei a provar porque… não calhou. E comeria? Porque não? Se estivesse na situação em que se encontram milhões de pessoas por esse mundo fora, de que a imprensa só nos mostra algumas imagens, “punha o dente” em tudo o que mexe porque, só nos damos ao “luxo” de “não gostar” disto ou daquilo quando… temos muito por onde escolher. E ainda temos…

Mesmo em “crise”, sofremos muito mais por comermos demais do que por comer de menos. E se o não quisermos ver, só temos de perguntar a médicos, nutricionistas, treinadores dos ginásios… e às balanças.

A corrida para escolher o… pasteleiro

É caso para dizer “estes ingleses são doidos”, mas foi verdade. Um grupo de súbditos de sua majestade realizou uma corrida de cães tendo como único objetivo encontrar o nome e sexo do futuro príncipe de Inglaterra muito antes de nascer. É caso para perguntar como é que uma corrida de cães podia “adivinhar” tais coisas relativas ao filho do príncipe William e de Kate Middeleton? A corrida foi organizada por uma conceituada casa de apostas e pôs a competir dez cães de uma simpática raça local, cinco machos e cinco fêmeas, tenda cada um no dorsal um nome.

O sexo do animal vencedor determinaria o do futuro príncipe e o nome deste seria o constante no dorsal. Só na última curva e já próximo da meta é que a cadela que carregava às costas o nome Alexandra deu um vigoroso sprint e atravessou a linha final antes dos outros. Para os “crédulos” na veracidade destas coisas, o próximo habitante da casa real inglesa seria uma princesa, de seu nome Alexandra.

Claro que, no fundo, no fundo, o verdadeiro interesse desta corrida era financeiro sendo a casa de apostas a parte mais interessada, pois arrecadou uma boa percentagem do rendimento da competição. Não sei se alguém chegou a ficar convencido com o resultado mas, como costuma existir gente que acredita em tudo…

Ora, hoje mesmo soube que Kate Middeleton deu à luz uma princesa e que se vai chamar Carlota Diana, meses depois da tal corrida se ter realizado, “cumprindo-se” em cinquenta por cento o resultado da competição. Só falhou o nome, coisa tão pouca…

Sendo que a corrida de cães “acertou” no sexo da recém nascida, pus-me a pensar: Será que este tipo de corridas não poderá vir a ser usado para fazer certas escolhas? Aliás, até podiam ser introduzidos alguns “melhoramentos” com vantagens, como substituir os cães por outros animais. Se fossem morcegos, é provável que acertassem em cheio, pelo “radar”. No caso de serem vacas, as hipóteses também seriam boas se contarmos que têm cá uma dose de “leiteira”… Ah, até podiam ser perus porque, depois de bêbedos, vão sempre parar… à mesa de Natal.

Lembrei-me da corrida de cães (e dos seus resultados) a propósito de outra corrida que ainda não começou (e está longe de começar) mas que já começou sem começar. Vamos lá ver se me entendo a mim mesmo e se me faço entender: Dizem para aí que lá para o final do próximo ano vai-se realizar uma corrida aos “pastéis… de Belém”. Mas, a verdade é que ainda não há “pastéis”, ainda não há farinha nem açúcar nem nada dos outros ingredientes para obter a “massa” necessária, ainda não há “tacho” disponível nem “cozinha” livre, não há “gás” para alimentar a “chama” nem chama para aquecer as “partes baixas do tacho” mas já temos “corredores” na “pista”. É que isto de correr atrás dos “pastéis de Belém” ainda é mais estranho do que as corridas de cães para descobrir o “sexo dos anjos”, digo, dos príncipes… É que nunca se sabe bem qual o objetivo real do “corredor”…

Dizem que a corrida é livre (e livre-nos Deus, Nosso Senhor…) e nela pode entrar qualquer tipo de “animal”, gordo ou magro, alto ou baixo, feio ou bonito, “burro” ou “esperto” (os “espertos” já nos custaram um “dinheirão”), cabeludo ou careca. Certo é que a maioria são “pernetas”, isto é, reformados (ou reformulados) como eu. Rezam as crónicas que é indiferente quem ganha pois o vencedor será uma espécie de rei sem reino, um arranjo floral sobre uma mesa de comida – decorativo mas… sem utilidade. No entanto, apesar do salário ser “miserável” e só dar para viver ligeiramente acima do limiar de pobreza (nas palavras do atual “sacrificado”), torna-se um lugar muito cobiçado pelos amantes de viajar “à borla” porque, como prémio, dá direito a um enorme livro de cupões de viagens com destinos à escolha. De tal maneira grande que se diz “Deus está em toda a parte mas M… (um dos que já ocupou a “pastelaria” de Belém) já lá esteve”.

Como dizia, já há corredores na “pista” a tentarem ganhar “posição” para quando soar o tiro de partida – daqui por um ano e tal… Se são novos, quando chegar o dia da partida já terão cabelos brancos… Alguns são uma espécie de “verbos de encher” (mais ou menos como as “lebres” nos encontros internacionais de atletismo, que só servem para “puxar” pelos outros), mas aproveitam bem o “tempo de antena” que as televisões lhes dão, para vender “banha da cobra” e comprar “imagem” gratuita, sempre interessante para futuros negócios. Outros, estão à espera de “um bom partido”, sempre importante para dar o “empurrão” ou levá-los “ao colo” mas, os partidos estão todos partidos porque não têm um “ás de trunfo”. Será que temos “pachorra” suficiente para ouvir falar desta “corrida aos pastéis… de Belém” durante tanto tempo?

Cá por mim, deveríamos prescindir dos votos para escolher o “pasteleiro”. Seria mais económico e conseguia-se obter o mesmo resultado através de uma corrida… de burros. As vantagens eram mais que muitas: Era mais rápida, a poluição sonora resumia-se a uns quantos “zurros” durante a corrida (ao contrários dos muitos que são dados nas campanhas eleitorais…), os “burros” não apareciam pendurados em cartazes pelo país fora com os “dentes à mostra”, poupava-se papel, tinta, tempo de antena, “conversa fiada” e “massa”, muita “massa”. E de uma coisa podíamos ter a certeza: O vencedor daria sempre o coice para o lado contrário de onde recebesse apoio. Se as “palmas” viessem da direita, daria o coice para a esquerda mas, se os apoiantes estivessem do lado esquerdo, está bom de ver para onde ia a patada… Afinal, nada a que a gente já não esteja habituada…

Educados(?)… por uma Estranha

O meu amigo Flávio vive em Cabo Verde de onde é natural e enviou-me um daqueles textos que nos faz refletir. Por isso, depois de alguns “retoques”, achei que o devia partilhar nestas crónicas para que cada um se reveja no que lhe diz respeito. Aí vai.

“Alguns anos depois de ter nascido, meu pai conheceu uma Estranha, recém chegada à nossa pequena cidade. Desde logo ficou fascinado por esta encantadora personagem e, pouco depois, até a convidou a viver em nossa casa, com a família.

A Estranha aceitou e, desde então tem permanecido lá em casa. Enquanto fui crescendo nunca me interroguei sobre qual o lugar que ela ocupava na nossa família mas, na minha mente jovem, já tinha um lugar muito especial.

Meus pais eram os educadores… complementares, tendo a mãe me ensinado a diferença entre o que era bom e o que era mau, enquanto o pai me ensinou a obedecer. Mas, a Estranha era a nossa narradora, a contadora de histórias. Mantinha-nos enfeitiçados horas a fio com aventuras, mistérios e comédias. Tinha sempre resposta pronta para qualquer coisa que quiséssemos saber, fosse de política, história, ciência ou qualquer outro tema. Conhecia tudo do passado, do presente e até conseguia predizer o futuro!!! Foi ela que levou a nossa família pela primeira vez a um jogo de futebol e sabia fazer-nos rir ou chorar.

A Estranha nunca parava de falar e o meu pai não se importava. Mas a minha mãe levantava-se muito antes de nós, calada e metia-se na cozinha à procura de paz e tranquilidade (agora interrogo-me se ela terá rezado algum dia para que a Estranha se fosse embora), enquanto o resto de nós ficava a ouvir o que ela tinha para dizer.

O pai dirigia o nosso lar segundo certas convicções morais mas a Estranha nunca se sentia obrigada a cumpri-las. As blasfémias e os palavrões, por exemplo, não eram permitidos lá em casa… nem por nós, nem pelos amigos, nem por qualquer um que nos visitasse. Mas, a nossa visitante de longo prazo usava linguagem imprópria sem qualquer condicionamento, que às vezes até me queimava os ouvidos, fazia o meu pai retorcer-se na cadeira e a mãe corar de vergonha.

O pai nunca nos deu autorização para tomar álcool mas a Estranha animou-nos a experimentar e a beber com regularidade. Mais ainda, até fez com que o cigarro parecesse giro e inofensivo, e que os charutos e cachimbos fossem um símbolo de distinção. Falava livremente (talvez demasiado) sobre sexo e com comentários umas vezes evidentes, outras sugestivos e, geralmente, vergonhosos.

Agora sei que os meus conceitos sobre relações foram influenciados fortemente durante a minha adolescência, pela Estranha. Repetidas vezes a criticaram mas nunca fez caso dos valores de meus pais tendo, mesmo assim, permanecido no nosso lar.

Passaram mais de cinquenta anos desde que a Estranha veio para junto de nós, tendo mudado muito pois já não é tão fascinante como era no princípio. Não obstante, se hoje entrasse na casa de meus pais, ainda a encontrava sentada em seu canto esperando que alguém queira escutar suas conversas ou dedicar seu tempo livre a fazer-lhe companhia…

Seu nome? Ah, seu nome…

Chamamos-lhe TELEVISÃO!!!

É isso mesmo, a Estranha chama-se TELEVISÃO!!!

Atualmente tem marido, a que vulgarmente chamam… COMPUTADOR. Também já lhes nasceu um filho a que deram o nome de… TELEMÓVEL e até se tornaram avós de uma criança batizada de… TABLET.

Agora, a Estranha tem uma família sua…

E a nossa, será que ainda existe?”

Cá por mim, dou a mão à palmatória porque já me apercebi há alguns anos dos erros que cometi ao aceitar essa Estranha em minha casa… sem regras. E, não só o fiz, como cheguei a convidar mais algumas irmãs suas… Mas ela só “fala, fala”, se não formos capazes de lhe “cortar a palavra”, sempre que necessário… O problema existe pela grande dificuldade que temos, não de lhe impor regras a ela mas de as impormos a nós próprios e aos nossos. E essas regras só têm possibilidades de vingar se começarem a ser cumpridas… por nós. Porque, sem o exemplo, como poderemos fazer para os nossos filhos as cumprirem?

Diz-se que o amor, mais do que o sangue, é o “cimento” que une os membros da família, sem o qual esta se desfaz. O diálogo e o fazer coisas juntos são componentes importantes desse “cimento”, pelo que devem ser usados com regularidade e sempre que necessário, para manter a capacidade de “colagem” e eliminar as “impurezas” que nele se intrometem. Num tempo em que a família tem tão pouco tempo para si, esses momentos, como as refeições e outros, têm de ser seus, sem que seja permitido a intromissão da Estranha, devendo ser “calada” e ceder o lugar e a primazia.

Seremos capazes de gerir o comando e manter o controle total sobre a Estranha para podermos ser donos das nossas vidas… e de termos verdadeiramente uma família?

Como não fazer… figura de parvo

“O reconhecimento da própria ignorância é a primeira prova de inteligência” dizia Santo Agostinho e o exercício dessa ignorância é a melhor manifestação de receptividade para assimilar toda a nova informação que chega ao nosso conhecimento.

A aprendizagem é constante e permanente, mesmo que não frequentemos a escola, porque a vida ensina-nos todos os dias, só temos de estar de mente aberta para aprender. E não temos que ter vergonha ou timidez de perguntar quando não sabemos, de questionar quando temos dúvidas.

Há muitos anos, depois de acabar o curso fui estagiar em Angola, tendo ficado alojado durante os três primeiros meses numa pensão, quase em frente do mercado de S. Paulo em Luanda. Apesar de estar hospedado com “pensão completa” e até ter um bom serviço de restaurante (se não considerar os enxames de moscas que o acompanhava), ao outro dia da chegada a minha curiosidade levou-me ao mercado e comprei todo o tipo de fruta tropical como a anona, o abacate, a fruta pinha, o caju, a manga e outras, para ficar a conhecer tudo de uma assentada. De saco cheio, fui para o quarto e provei-as uma a uma, gostando mais de umas que de outras. Quando cheguei ao abacate, tirei-lhe a “casca” e meti na boca uma colherada da polpa esverdeada mas, como não me soube bem, pensei para comigo que não deveria ser aquela parte que se comia. Com a faca retirei toda essa polpa e ficou uma bola castanha e dura, quase do tamanho de uma bola de ténis. “Deve ser isto que se come” pensei eu e, zás, dei-lhe uma dentada. Os maxilares até abanaram e os dentes iam ficando agarrados ao caroço… Seguramente, não era essa a parte comestível. Deitei tudo no lixo e só alguns dias depois, quando à sobremesa serviram a polpa esmagada com açúcar e sumo de limão, é que fiquei a saber qual a parte comestível do abacate e como prepará-la… Mas podia ter perguntado a quem sabia e não o fiz por… timidez.

Aliás, o mesmo me aconteceu na primeira viagem que fiz a Nova Iorque com o meu pai, nos anos setenta. Ficamos hospedados no centro da cidade junto à célebre Times Square e, pela manhã, fomos tomar o pequeno almoço ali perto. Um dos símbolos americanos que os filmes me tinham “vendido” e que queria experimentar, eram as panquecas, até então desconhecidas entre nós. Ora, ao estar ali, tinha de prova-las, de saber se eram assim tão boas como pareciam, pois eram um mito que me fascinava. Por isso, coloquei logo três no prato. Que desilusão, não sabiam a nada, eram quase insípidas… Só vi no dia seguinte os clientes a cobrirem as panquecas com uma das muitas variedades de molho ou cobertura… Porque não perguntei como era? Por… timidez e vergonha. É curioso que hoje, quarenta anos depois, o meu filho sempre que vai a algum lado e quer experimentar qualquer coisa que não conhece, apresenta-se como um “iniciado” e pede ajuda e conselho, rigorosamente o oposto do que eu fiz. Quem está certo? É bom de ver…

Também há quem, para esconder a sua ignorância, mantenha essa atitude de não perguntar, de não questionar. É que, enquanto mantivermos a boca fechada, damos um ar de entendidos. O problema é quando a abrimos… Já os jovens, mal aprendem algumas coisas julgam logo que sabem tudo. E os velhos? Estão ultrapassados, só fazem figuras tristes…

O pai da doutora Isabel (já falei dele a propósito de uma laranja que não foi descascada por falta de… unhas do empregado) era um industrial de Lordelo que se “fez a si próprio” e que, apesar de ter a quarta classe e falar só português, correu o mundo e fez negócios em muitos países, sabendo sempre desenrascar-se sozinho.

Um dos prazeres que gostava de usufruir quando ia à Alemanha, mais concretamente a Frankfurt, era comer perna de porco num determinado restaurante da cidade, cozinhada daquela maneira que só os alemães sabem. Depois do filho se formar, acompanhou-o numa dessas viagens à feira de Frankfurt e foram ambos almoçar ao tal restaurante. Quando se preparava para pedir a perna de porco – e costumava fazê-lo apontando somente ao empregado uma das mesas vizinhas onde estivessem a servir esse prato – o filho disse-lhe que não o fizesse pois “parecia mal” e, como ele estava ali e falava alemão, faria a encomenda. Ora, quando o empregado lhe entregou a ementa em alemão, deu-lhe voltas e mais voltas mas não conseguiu perceber nada, nem sequer identificar o prato que iam comer. Fez sinal ao empregado e falou em alemão (ou naquilo que ele julgava ser alemão) mas, nada, ele não percebeu. Tentou em inglês mas continuaram sem se entenderem pois ele só falava alemão. Ao ver que assim não iam a lado nenhum, o pai disse-lhe: “Deixa estar que eu já desenrasco isto”. Fez sinal ao empregado para se aproximar e olhou as mesas em volta como era costume mas, a maior parte dos clientes ou já tinha ido embora ou estava na sobremesa, pelo que não podia usar o método habitual. Então, chamando a atenção do empregado, deu duas palmadas na perna e disse “Grr, Grr. Grr”, imitando o grunhido de um porco. Certo, certo, é que não tiveram de esperar muito para lhes ser servida a tradicional perna de porco…