Monthly Archives: February 2016

À distância de um abraço…

O melhor local para o reencontro de velhos amigos é sempre à volta da mesa, de uma “boa mesa”. Mesmo que seja uma mesa simples, tosca, de bancos corridos, como era o caso. Não fomos muitos nem poucos, fomos cinco ao encontro do João Maria que não via há muitos anos e “acampamos” na mesa de bancos corridos para “embrulhar” a feijoada e os rojões no enorme “rolo” de conversa que era preciso pôr em dia. E as quatro horas que dedicamos à “função”, entre garfadas de comida e uns goles de vinho da região, foram manifestamente insuficientes, até pelo “esforço” que é preciso para “desenterrar” recordações antigas de momentos vividos em comum, já cobertos com camadas e camadas de muitos outros. À mesa estávamos três dos quatro elementos daquela que, eventualmente, terá sido a primeira “banda” do Vale do Sousa – o quarto, o meu irmão António, esteve “presente” apesar de “ausente” do nosso convívio já lá vão algumas décadas. Para além dos “músicos”, estava o nosso “pseudo empresário” (a sua “função” era mais propriamente outra), o apresentador ocasional do espetáculo que demos na antiga sala dos Bombeiros de Lousada e um outro amigo de sempre.

Deitando um olhar à volta da mesa descobri que continuamos a ter muitas coisas em comum, embora já não sejam as mesmas de outrora. Agora, comuns são os cabelos brancos ou as carecas, as “dilatações abdominais” a que alguns preferem chamar “peitos descaídos”, as cangalhas penduradas no nariz para ver ao perto, as dores de costas, nas articulações e nos ossos em geral que nos conferem poderes especiais de “previsões meteorológicas”, os esquecimentos e a “dificuldade de chegar às recordações”, “o peso do tempo” (não sabia que o tempo pesava…). Mas estas “novas” coisas em comum foram encaradas com humor, oportunidade para nos rirmos de nós próprios.

Remexemos no passado e lembramos a estreia do “conjunto” em casa da D. Palmira Meireles, com as violas e o amplificador que o Nelo trouxera da Alemanha, acompanhados pelo Zé Melo na bateria do Quim Valinhas comprada em segunda mão (não esteve presente neste “muro de recordações” mas não escapa na próxima para nos contar a sua versão do dia em que também atuou cantando “o jangadeiro”, apresentado pelo João Maria como “o homem da voz caliente”). Demos uma passagem por algumas das atuações em salas de baile da região – ainda nem se sonhava com as discotecas e as meninas só podiam ir a bailes acompanhadas dos pais – com destaque para o conceituado Clube dos Fenianos, no Porto. Relembramos os espetáculos no salão dos Bombeiros de Lousada, os “artistas” locais improvisados que participaram entusiasticamente e os “acidentes” ocorridos antes e durante as atuações, motivo para nos deixar muito nervosos na altura, motivo para nos rirmos agora. E trouxemos à conversa a “sala de ensaio improvisada” na casa que fora do senhor Adriano Neto, à espera de ser demolida para construírem o futuro (hoje, atual) palácio da justiça de Lousada, que aproveitamos durante algum tempo não só para ensaiar mas também para fazer umas farras. E falou-se das atuações no Grande Hotel da Curia, das moças de então, dos namoricos, da dança e o “corpo a corpo” tantas vezes travado pelo braço delas contra o nosso peito, os olhares vigilantes e (quase) sempre reprovadores das mães, os bailes em casas privadas com “copo de água” (os “comes”, só por si, já eram um luxo), enfim, um mundo de recordações. Compartilhamos aspetos mais íntimos e importantes, na certeza de compreensão mútua porque, com um velho amigo só se tem de ser autêntico, podendo-se falar de tudo o que nos vem à cabeça pois essa amizade não se baseia na perfeição mas no respeito e compreensão. Rachamos lembranças e recordações, alegrias e tristezas, emprestamos tempo e palavras, demos calor. Partilhamos dores e silêncios, festas e sorrisos com os sucessos de uns e de outros.

Amizades antigas ajudam a espantar a solidão, as agruras da vida e, especialmente, a velhice, até porque a amizade é como o vinho: Quanto mais velho, melhor. Velhos amigos são parte da nossa história, uma mais valia feita de bons e maus momentos que nos fizeram crescer, com quem partilhamos lugares e tivemos experiências que não queríamos que acabassem. Viajamos juntos por mais ou menos tempo, saltamos obstáculos, vivemos dificuldades, subimos e descemos os “montes da vida”, juntos corremos ou abrandamos conforme a “estrada”, descobrimos o mundo e os prazeres da vida até que um dia, na bifurcação, cada um seguiu o seu caminho. O reencontro, mais do que a saudade de rever os amigos, é a necessidade de (re)viver tudo outra vez, uma forma de regressar ao nosso interior, à tranquilidade do porto de abrigo.

Ao reencontrar velhos amigos temos, mais do que nunca, a percepção de como o tempo passou depressa, como o “outro tempo” nos está tão distante, como as recordações se esbatem quais fotografias antigas apagadas pela ação do tempo. Velhos amigos são mensageiros da juventude para nos lembrarem o quanto já caminhamos e, ao reencontrá-los, sabemos que nada mudou entre nós, ficando com o sonho, quando não a ilusão, de fazer com que a vida não nos volte a afastar e nos mantenha por perto, como no passado, esse passado de que, felizmente, guardamos mais e melhor os bons momentos. Ou não fôssemos jovens sonhadores…

Não esqueçamos, somos todos “peões”…

O peão, aquele “animal” estúpido e zarolho que só atrapalha o trânsito, atravessa a rua sem avisar e está a mais nos meios urbanos (e fora deles) é, por isso mesmo, o alvo a abater pelos automobilistas quer nos lugares adequados de atravessamento de ruas quer perto ou longe deles. Embora as estatísticas digam que o número de peões abatidos nas passadeiras tem vindo a aumentar, precisamente nos locais onde, supostamente, não deviam ocorrer, ou seja, porque é quando o peão, supostamente, cumpre a lei, há quem considere os “abates” insuficientes para “descongestionar” o tráfego, culpando-se os automobilistas de “maus caçadores”, pouco expeditos a “despachar” essas “peças retiradas do tabuleiro de xadrez”. Aliás, até dizem que o sinal verde do semáforo é uma autorização de abate da “espécie”. Mas os peões não estão em vias de extinção, antes pelo contrário, e o aumento significativo dos impostos sobre os combustíveis não ajudou em tal tarefa. Por tudo isso, é pública e notória a luta entre peões e automobilistas que, nem uns nem outros conseguem ganhar, mais parecendo a guerra entre Israel e os árabes, também sem fim à vista. Os peões, em muito maior número que os seus adversários e, por isso, um “eleitorado” mais “interessante” a quem os políticos têm de dar “mais atenção”, foram marcando pontos ao conseguir que as autarquias colocassem passadeiras e semáforos com apito, construíssem passeios em tudo o quanto é sítio e pusessem grades de proteção nalguns locais, instalassem passagens aéreas para atravessar vias de grande movimento e até elevadores panorâmicos, uma espécie de “abrigos e castelos” de defesa contra o inimigo. Mas, tais conquistas não foram suficientes porque os seus adversários vão ocupando, sempre que podem, tais espaços, ao ponto de ser impossível caminhar nos passeios de algumas ruas com tanta “sucata” a impedir a passagem. Os peões são o “elo mais fraco” desta luta desigual, pois “combatem” desarmados e de mãos vazias contra condutores “entrincheirados” e comodamente instalados nos seus “carros de combate”, tantas vezes esquecidos dos direitos dos outros na sua “pressa” de chegar a lado nenhum.

Se já não é fácil ser peão nos dias solheiros, pior ainda nos dias de temporal com que este inverno nos tem brindado, assolados por chuva intensa e vento forte, mesmo para um peão exemplar daqueles que está bem informado do seu papel e tem preparação física e mental adequada para a luta do dia a dia contra os elementos. A preparação física para enfrentar um dia de chuva é imprescindível pois são duras as provas de “levantamento de pesos” para erguer, abrir e empunhar o guarda chuva, do “salto em comprimento” para transpor as poças e lençóis de água que surgem no caminho e de “esgrimir” o “chucho” aberto contra as rajadas de vento.

E dessa luta contra a chuva e o vento as provas de fracasso são mais que muitas, bem visíveis nos caixotes do lixo atolados de guarda chuvas partidos, virados ao contrário, despojos de uma guerra perdida, fazendo lembrar os milhares e milhares de coletes salva vidas amontoados em lixeiras improvisadas na ilha grega de Lesbos, também eles sinal de uma outra guerra em que todos estamos a perder. Mas tudo isso não basta, não é o suficiente porque, quando o peão pensa que conseguiu “defender-se” razoavelmente bem da chuva e do vento e, sem se cuidar, vira as costas ao maior inimigo, é atingido “à falsa fé”, de lado, por trás ou de frente, muitas vezes sem saber como nem por quem.

Naquele dia eu estava sentado no carro parado na berma, o meu “abrigo” contra a ventania e as bátegas de água que mais pareciam despejadas a balde. Caminhando pelo passeio em sentido contrário e do outro lado da estrada, uma mulher “embrulhada” no anoraque segurava com grande dificuldade um pequeno guarda chuva apontado contra o vento, num equilíbrio precário, manifestamente insuficiente para evitar ser molhada da cintura para baixo pela chuva “em diagonal”. Enquanto observava esta luta inglória, vi surgir um carro no mesmo sentido em que ela caminhava (e pelas suas costas) com velocidade excessiva e, ao aproximar-se, “encostou-se mais à berma” “varrendo” o rego cheio junto do passeio e lançando uma “chapada” de água lamacenta sobre a mulher. Apanhada pelas costas desprevenida, perdeu o equilíbrio e com ele a posição do guarda chuva, fazendo com que o vento o virasse ao contrário e partisse as varetas, deixando-a exposta e desprotegida à chuva que não parava de cair. Enquanto o automobilista prosseguiu o seu caminho estrada fora, indiferente ao que fez e instalado comodamente no seu “posto de ataque”, a mulher, com um ar de desalento, olhou para si, enlameada e molhada de alto a baixo e a sua reação a esta “agressão”, a única de que dispunha no momento, foi um grito de raiva bem lá do fundo: “FILHO DA P…”

Esquecemos demasiadas vezes que todos somos peões muito antes de, também, sermos automobilistas e, até por isso, nos devíamos consciencializar que poderíamos ter sido nós a estar no lugar daquela mulher. Num país civilizado, um automobilista é “um peão com um volante na mão”, isto é, que respeita os outros peões como se fosse ele mesmo. É uma questão de respeito… e a crise não é desculpa.

 

 

Quem quer enganar quem?

Francamente, estou desiludido com os médicos porque, para tratarem dos meus problemas de saúde, nomeadamente dores nas costas e nas pernas, mandaram-me fazer radiografia, TAC, análises e até uma ressonância magnética, para tentarem chegar ao diagnóstico. Depois, “encharcaram-me” de medicamentos, ocuparam-me as tardes com tratamentos de fisioterapia e mandaram-me fazer um daqueles exames em que fui “violado” com uma vara munida de câmara de filmar quando me “apanharam de costas” e a dormir, invadindo a minha privacidade para colher imagens pessoais, que espero não ver expostas no facebook. Mesmo com tudo isso, o “síndrome das pernas irrequietas” continua a provocar-me dores “aborrecidas” e a hérnia discal não me dá sossego. E, afinal, a solução “chega-me” a casa todos os dias e sem pedir: A televisão, que “só diz verdades”, repete sem parar que, se eu tomar “calcitrin” ou “cálcio mais”, tenho os meus problemas resolvidos. Afinal, o que andam os médicos a fazer? Não me tiram as dores e nem sequer conseguem “aprender” ao ver estes produtos “fantásticos” na televisão e prescrevê-los, para bem da minha rica saúde? E já nem falo no “activa T”, algo verdadeiramente “extraordinário”, diria mesmo, “milagroso”. Trata-se de uma joelheira desportiva que se amarra à perna, às costas (não sabia que se usavam ali joelheiras) ou onde houver dor e, através de umas “ondas” que não sei se são “cerebrais”, se são “do mar”, se são “do cabelo” ou se são “de rádio”, eliminam totalmente as dores, sejam elas nas costas, nos glúteos ou nas pernas, sem necessidade de medicamentos, de agulhas, de tratamentos de fisioterapia nem de osteopatia. Dizem eles, e asseguram com toda a convicção televisiva (será que os médicos não veem televisão?) que o sistema acaba com a dor ciática, a fibromialgia, as dores no lumbago, o formigueiro nas pernas e as dores crónicas nas costas, o que nos diz que este produto ainda é melhor do que a famosa “banha da cobra”… Aconselham mesmo a deitar fora os medicamentos. Como eu andava enganado… Vou mandar os médicos “dar uma volta ao bilhar grande” e comprar já aquela joelheira milagrosa com o “botãozinho” a emitir ondas. E tudo isto “tem de ser verdade” porque só os farmacêuticos vieram reclamar do calcitrin (não sei se por considerarem que andam a “vender gato por lebre” ou porque o produto lhes prejudica o negócio). Quem tinha a obrigação de nos esclarecer, “fechou-se em copas e a gente que se amanhe”. Afinal, não passamos de “cobaias” miseráveis (in)voluntárias, não remuneradas e, ainda por cima, que têm de pagar o produto do ensaio…

Todos nós sabemos que não podemos confiar em quem nos vende seja o que for. Nos produtos bancários, tem sido o que se viu… e vai continuar a ver. Seria mais recomendável e mais simpático que, ao atenderem-nos ao balcão, nos dissessem logo: “Isto é um assalto. Quer depositar”? Na EDP compramos energia e pagamos não sei quantas coisas… Até a maior marca automóvel alemã e mundial nos andou a vender a “eficiência germânica” na aldrabice!!! E os supermercados, onde vamos regularmente? Usam todos os “truques baixos” para nos “levar ao engano”. Conseguiram “acabar” com o quilo como medida de referência e tentam (e conseguem) ludibriar-nos com preços bombásticos, até descobrirmos que a embalagem é de oitocentas, seiscentas, quinhentas ou trezentas gramas, descendo às cem ou oitenta gramas e menos. Oitenta gramas de presunto, de fatias ultrafinas mas muito bem “arrumadas”, dão a ideia de um “grande pacote” e isso visa esclarecer-nos ou “enganar o Zé Pagode”? Muitas vezes temos de andar à procura com uma lupa para saber o peso…

As artimanhas comerciais a que, pomposamente, chamam marketing, são imensas e visam enganar o consumidor em vez de o esclarecer. Mas estas práticas estendem-se a muitos outros. Tenho um amigo com um negócio de batatas e desde sempre só as vendia em sacos de vinte quilos, por ser o saco tipo. Era para este saco que estabelecia o preço, mais alto ou mais baixo conforme a época e os fornecedores. Em dada altura foi confrontado por clientes habituais que um outro vendedor havia passado por ali e vendido o saco de batatas mais barato que ele, sendo as diferenças significativas. Ele estranhou e, na semana seguinte, voltou a confrontar-se com a mesma situação, tendo perdido a maioria da clientela. Vendo que o negócio estava a “ir pelo cano abaixo”, desconfiou e pediu a um cliente que lhe mostrasse o saco que comprara à concorrência, vindo a descobrir que pesava só quinze quilos. Mas “era um saco de batatas”!!!… Os clientes, pouco atentos, só viram o preço mais baixo…

Nas vésperas do Natal tive de comprar bacalhau para a noite de consoada. Por isso, quando vi anunciada uma promoção num supermercado local com 50% de desconto, fui atrás da “pechincha”… Realmente descontavam metade do valor do bacalhau mas, o preço base, tinha sido aumentado 50% em relação ao que vigorava uns dias atrás. Além disso, estava muito húmido. Imaginei que o tivessem “posto de molho” para nos retirarem o trabalho de o demolhar e, “sem sombra de dúvidas”, fizeram-no com “a melhor das intenções”… No entanto, na hora de pesarem o bacalhau, esqueceram-se de abater o peso da água e, assim, pagávamos água ao preço do bacalhau… Mas, sorte a nossa: Depois de pagarmos, desejaram-nos Boas Festas…

Instalado o “califado” em Portugal!!!…

Recostado no sofá, bem entrado na noite e com o olhar mais para dentro que para fora, a notícia entrou-me no cérebro como uma bala: “Os jihadistas tomaram o poder em Portugal, alargando o califado”… “Estamos feitos”!!! Como foi possível? O “ataque”, dizem, teve origens diferentes: Uma vaga de invasores veio dos subúrbios de Paris onde estavam “adormecidos” e, com outros que chegaram disfarçados de refugiados, apanharam o TGV e num ápice desembarcaram em Lisboa. Outra “leva” chegou pela calada da noite à costa algarvia a partir de África, a nado e com “as barbas de molho”, disfarçados de muçulmanos (o que nem foi difícil, ao misturarem-se com os ingleses bêbados que saiam das discotecas já de madrugada). Apanharam boleia na autoestrada do sul e chegaram à capital a tempo da revolução. Alguns mais preguiçosos vieram em botes de borracha que furaram perto da costa para que a guarda costeira os recolhesse e, depois de um bom banho, vestisse. alimentasse e enfiasse em autocarros da Barraqueiro com destino a Lisboa. Mas, a remessa mais numerosa veio em aviões da Emirates Airlines e em voos “low cost” fretados para o efeito, aterrando no aeroporto da Portela já que o “novo” ainda não está construído, porque o “empreiteiro” esteve “a banhos” em Évora. À sua espera tinham um comité de recepção do BE para o SEF dispensar as burocracias e instalá-los nos melhores hotéis da cidade. A esta “tropa”, juntaram-se os “barbudos” das FP-25 de Abril, incluindo os que me fizeram uma “barragem” na ponte da Arrábida à época. Para parecerem muitos, apanharam no caminho alguns vadios do Casal Ventoso e da Curraleira. Já bem instalados e a comer “à la carte”, tomaram os pontos chave da cidade depois de terem “tomado” o pequeno almoço na Baixa Pombalina e feito a oração do alvorecer no Chiado, com grande facilidade pois, enquanto o governo estava “encostado à parede” pelas exigências de bloquistas e comunistas, reunidos num restaurante de Alfama, a oposição andava ocupada a recolher pareceres de consultores jurídicos (dos que demonstram a veracidade de uma tese e o seu contrário) que atestassem a ilegitimidade política do atual governo. As tropas, com efetivos muito reduzidos e sem dinheiro para “petróleo”, “não viram um boi” e os sindicatos, reunidos para discutirem as reivindicações já negociadas, não assistiram à revolução em direto nas televisões, até estas serem ocupadas pelos jihadistas. Mas, ninguém ficou preocupado com os novos “donos disto tudo” e, eu próprio, acabei por não me ralar. Bem vistas as coisas, nada mudava. Os novos “senhores” ocuparam todos os lugares do governo, ministérios, autarquias, empresas públicas e bancos, roubando descaradamente mas, como não faziam nada que os anteriores não tivessem feito, ninguém estranhou, até porque já havia tão pouco para “gamar”… Ocupadas as televisões, deixaram de emitir programas de “poucas vergonhas” que só visavam “provocar e excitar” os homens. Por isso, as telenovelas, o “Big Brother”, a “Casa dos Segredos”, o Portugal em Festa e outros que tais, foram proscritos – e, em abono da verdade, não se perdeu nada… A televisão só transmitia entre as três e cinco da madrugada, coincidindo (por mero acaso…) com o período em que não havia eletricidade. As mulheres foram obrigadas a cobrir o corpo todo – isso, sim, uma grande perda mas, percebe-se porquê, se pensarmos que o primeiro ministro italiano mandou tapar as estátuas dos nus femininos só por causa da visita de um – e, tanto as mais novas como as que “ainda dessem para romper meias solas”, eram violentadas e violadas, não muito diferente dos casos de “violência doméstica” que se deram por cá nos últimos anos.

Criaram duas polícias de costumes: Uma dos homens, para impedir que cortassem os “pelos” da cara e as unhas dos pés ou que se “metessem nos copos” pois fora decretada a “lei seca”, a mesma “lei” que proibia até aí os jovens de comprarem álcool – eu disse “proibia”, não disse “impedia”… A outra, para verificar se as mulheres “tinham” as “partes” bem tapadas (até então, a moda impunha – e bem – que as tivessem bem à mostra, uma “pequena/grande diferença de gosto”), avaliar o seu “potencial” e vigiar se davam “facadas no matrimónio” (as que fossem apanhadas, eram largadas na serra da Malcata para serem comidas pelo lince ibérico. Mas, como este não gosta de carne humana, eram aproveitadas pelos locais e “comidas” às escondidas). Para estes serviços foram recuperados os “pides”, os homens das secretas, os “bufos” e alguns inspetores da ASAE (habituados a trabalhar com “mercadoria de contrafação”). O povo só estava chateado por terem acabado com o “leitão da Bairrada”, o “porco no espeto”, os “presuntos de Chaves” e os enchidos de Barrancos, tal como as boîtes da avenida da Liberdade e as meninas da serra de Lustosa. “E agora? Que febras vamos comer?”, diziam por aí!!!

A malta nova andava desanimada. Fora proibida a música “pop” e os seus ídolos, fechados bares e discotecas, enfim, o fim dos “shots”. Só podiam ouvir música islâmica que não dava para “abanar o capacete” e tinham de “dobrar a espinha” ao fazer aquilo a que não foram habituados: Rezar. E todos, para não serem rotulados de “infiéis” e mortos, ajoelhavam e rezavam (ou fingiam) cinco vezes ao dia. Vendo bem, nada de diferente do que se ia passando antes pois, para se não ser “ostracizado”, “estar debaixo de olho” ou ver os seus projetos e candidaturas rejeitados ou sem resposta pelos “donos do poder”, tinha de se “pertencer ao partido” e ir ao “beija mão”.

Estando eu em cuecas, a beber umas “cervejolas” e escrever estas “blasfémias”, vi-me rodeado pela polícia de costumes e por um grupo de barbudos, porcos e mal encarados, armados de chicote e metralhadoras “kalashnikov” AK-47. “E agora? Como me vou safar desta”? Acordei e vi que já eram mais que horas de ir para a cama… UFA, do que eu me livrei!!!