Monthly Archives: December 2014

Não queremos mesmo aprender…

Vivo numa indecisão, aquele estado emocional de aflição em que não consigo escolher uma das opções à minha escolha. E esta indecisão manifesta-se quando sabemos muito bem aquilo que queremos mas achamos que devemos querer outra coisa.

Nem sempre sabemos o caminho certo a escolher mas, estou consciente que, se ficarmos na indecisão, não chegaremos a lugar algum. Aliás, quem vive na indecisão acaba por ser atropelado. Ora, como não quero correr esse risco, vou ter mesmo de tomar uma decisão, ainda que errada, pois é preferível a não tomar nenhuma.

Mas, em que é que estou indeciso? Pois é, até já me esquecia de dizer qual é o meu problema. Não devia falar dele em voz alta mas, como não tenho ninguém por perto e não corro o risco de que me tenham colocado escutas, vamos a isto.

Tenho nos anexos de minha casa um armário velho cheio de massa, pois julgo ser o lugar mais seguro para a guardar. Que massa? Carcanhol, papel, aquilo a que os intelectuais chamam dinheiro. E são milhões e milhões ali amontoados, não importando como o ganhei (ou como foi parar ao armário). E nem me perguntem… Só que, como o armário está velho, desconchavado e não oferece nenhuma segurança (o mesmo que acontece com os bancos e o país), estou com o tal problema da indecisão sobre o que fazer com tanta nota.

Pensei usar o dinheiro para lançar uma OPA sobre a PT (antes eu só conhecia a opa que levava na “cruzada” quando ia aos funerais ou nas procissões mas, de uns anos a esta parte, passei a ouvir falar numas maiores, que dão para “cobrir” empresas). E nem sei bem como. Por causa dessa confusão, não vou por aí.

Pus a hipótese de comprar a TAP para viajar à borla, mas confesso que não gosto de ver o meu dinheiro a voar…

Considerei ainda que a aplicação de umas centenas de milhões de euros na Rio Forte do grupo BES me dava importância e aproximaria da família dita “dona disto tudo”, com a benesse de ter direito a uma estadia no Resort de luxo que ali foi projetado e que talvez seja concluído antes de eu “bater a bota”. Mas não encontrei por aí o tal Dr. Salgado para me convencer…

De fora ficou a ideia peregrina de comprar um visto dourado pois já vivo em Portugal, a não ser que isso me viesse dar imunidade perante a lei (como aos deputados), pois está fora de questão querer um visto desses para ir viver na… China.

Também pensei em mandar o meu motorista particular levar umas malas de dinheiro para Paris durante meses seguidos, podendo assim comprar um apartamento de luxo junto ao Rio Sena com vista para a Torre Eiffel (pela qual tenho uma paixão assolapada) e viver exilado comendo “a la carte”. Mas falo mal o francês e ia parecer mais um “pato bravo” do que um turista intelectual…

Houve outras hipóteses que analisei com muita profundidade, mas acabei por tomar a tal decisão, para tirar os milhões daquele velho armário: Aplicá-los numa empresa financeira que, ao que me dizem, tem atividade intensa no Vale do Sousa, especialmente nos concelhos de Paredes e Penafiel, e que paga juros de 300% ao ano. Pois é, 300% ao ano, ouviram bem??? Ao fim de doze meses triplico a massa, fora os prémios que me serão atribuídos por ser um investidor especial… E esta? Ah, e trata-se de uma empresa legal… Ainda quero ver a cara de inveja com que ficarão os meus “amigos”, sempre que for depositar a massa no banco ao fim do mês… Perdão, eu não quis dizer “depositar” mas sim “guardar” na caixa forte… E sabem porquê?

Bom, não tenho armário velho nenhum e muito menos os tais milhões e, se os tivesse, não cairia na patetice de os ir aplicar nessa tal empresa de que tanto se fala na região.

Ao que parece, as pessoas não aprendem nada ou não querem mesmo aprender com os erros, quando se trata de dinheiro, de ambição desmedida, de ganância. Ficam bloqueadas pela ideia do dinheiro fácil. Foi assim com o caso da D. Branca, talvez esquecido porque já ocorreu há muitos anos. Mas há casos recentes que deveriam deixar-nos avisados, como o que aconteceu na ilha da Madeira com a Telexfree que, de um momento para o outro, encerrou portas e deixou imensos madeirenses “a arder”. E foram muitos os milhões de euros que voaram…

E o que aconteceu aqui mesmo no Vale do Sousa recentemente, em que a intervenção da polícia judiciária acabou com um aparente esquema de pirâmide no qual “desapareceram” muitos outros milhões de euros, deixando sequelas graves em numerosas famílias, nalguns casos muito preocupantes? Também se distribuíam juros incríveis, que faziam empalidecer as instituições legais, bancárias e outras…

Mas nem assim, nem com estes (maus) exemplos tão recentes e atuais, se “arrepia caminho”.

Dizem-me que essa nova empresa já arrecadou na região uns largos milhões e que o “negócio” segue de “vento em popa”, com os promotores e angariadores a serem premiados por bom desempenho… É que o “negócio dá para tudo”.

Por isso mesmo, cá para mim o slogan “o que rende, é ir ao Continente” está ultrapassado. Afinal, o que rende é aplicar o dinheiro na tal empresa… Mas, não sei porquê, não consigo esquecer outra frase publicitária: “Eu é que não sou parvo”…

Como diz o meu amigo Flávio, “tudo o que é bom na vida ou é ilegal, ou é imoral, ou engorda, ou engravida”…

Neste caso, não engravida, mas que vai deixar muita gente a chorar no “funeral” dos seus milhões de euros, vai… É só uma questão de tempo… Esperemos para ver…

O que somos aos olhos da sociedade…

Há dias tive de falar sobre Envelhecimento e achei que seria mais simples colocar-me na pele de “matéria prima” e falar como tal, isto é, como Velho.

Sim, eu disse Velho e não Idoso, apesar do estigma da palavra. Para os técnicos e para os que trabalham na ação social é que somos Idosos, Seniores e agora 60+, pois é politicamente correto. Mas, para a Sociedade, a sociedade deste país, nós somos Velhos, coisas inúteis.

Se aos cerca de dois milhões de portugueses que têm mais de 65 anos retirarmos os que têm mediatismo, poder ou posição social, todos os outros são Velhos, que passam despercebidos no dia a dia, que são mesmo invisíveis aos olhos de quem passa. Estamos por todo o lado mas, quando a Sociedade olha, não nos vê (nem nos quer ver). É uma questão cultural.

Na cultura oriental sim, há Idosos. São o símbolo da sabedoria pelas experiências vividas e por isso são os mais respeitados e com mais alto estatuto. É desde o berço que os japoneses ensinam às crianças o respeito pelos mais velhos, pelos avós, sendo essa cultura transversal a toda a sociedade. Ali há Idosos a quem é sempre dada a primazia, seja à mesa ou em qualquer ato ou lugar. São tidos como os guardiões da sabedoria e da experiência e a sociedade dá-lhes prioridade, respeita-os e concede-lhes privilégios. Até têm o Dia do Respeito ao Idoso e sempre que há uma decisão importante a ser tomada, seja na família, na comunidade ou no país, os Idosos são ouvidos sendo a sua opinião muito importante.

Por cá, não somos Idosos como no Japão. Somos somente Velhos, inúteis e, como tal, descartáveis, como qualquer bem de consumo. É a cultura ocidental no seu melhor… ou no seu pior… onde os Velhos são um “estorvo”.

Aliás, para a sociedade, só atrapalhamos.

Atrapalhamos a família, que não sabe o que fazer connosco e não tem tempo para nos aturar. Atrapalhamos o Estado, para quem somos um “buraco no orçamento”. E até atrapalhamos o… trânsito.

Em vez de respeitados, quantos não são ofendidos… Em vez do lugar principal à mesa, talvez, com sorte, um lugar no canto da cozinha…. Em vez de lembrados, tantas vezes esquecidos… Em vez de privilegiados, são tantos os humilhados… Em vez de ouvidos, regra geral ignorados… Em vez de protegidos, provavelmente roubados…

Não temos o direito a ter opinião porque “já não sabemos o que dizemos”, “estamos chéchés”. E, se a damos, “somos do tempo da outra senhora”.

Ah, somos gente importante, muito importante mesmo durante mais ou menos quinze dias por ano… Mas não é todos os anos… Claro, só mesmo em ano de eleições… Aí somos o “alvo” de todas as atenções mas, no sia seguinte, somos novamente votados ao esquecimento, ao sacrifício, até ao próximo período eleitoral… E a cena repete-se…

Enquanto na cultura oriental o lugar do Idoso é no seio da família, porque é uma alegria e um benção a sua presença, na cultura ocidental o lugar do Velho é em Lares, Residências ou Hotéis Seniores, para onde já vão por opção logo que se reformam como acontece nos países do centro da Europa.

E por cá?, Não somos “carne nem peixe”, estamos em transição… Os mais velhos ainda têm em si uma cultura do tipo oriental, sentindo e desejando ficar no seio da família, no seu canto. Basta perguntar àqueles que estão nos Lares para sabermos que a grande maioria vai para lá contrariada, carregando a tristeza de sentir que foram rejeitados pela família. Já para os mais novos, aqueles que deveriam tomar conta deles, são o tal “estorvo” que só atrapalha… Estamos assim num processo de “ocidentalização”… que é como quem diz, de degradação social…

É “natural”, pois nós, Velhos, não somos fáceis, até porque se nos vão queimando “fusíveis”. Já o sinto. Vejo-o todos os dias noutros como eu ou mais velhos. Daí que, quem lida com Velhos tem uma Missão, não um Trabalho, tem que ter Vocação e não um Curso.

Por isso merecem-me o maior respeito e consideração os que têm a Missão de trabalhar connosco nas instituições e não só, pois têm de ser dotados e ter “paciência… de Jó, sensibilidade… e bom senso, resistência… de ferro coração…. de leão e amor… infinito”. Mais ainda, uma capacidade de sofrimento pela perda e separação dos muitos que lhes “ficam” nos braços e para quem são o último amparo, a última companhia… Só assim conseguem desempenhar a sua Missão porque nós, não somos fáceis, não somos mesmo nada fáceis e vão ter de nos deixar e ver “partir”.

E muito menos fáceis são, tantas vezes, os membros da família que, não tendo tempo para nos aturar, delegam nas instituições essa responsabilidade, descartando-se do Velho como quem se liberta dum empecilho, de um farrapo (Há dias uma “senhora” mal acabara de deixar o pai, dizia ao telemóvel: “Já o DESCARREGUEI”. Mas, depois, exigem em triplicado aquilo que não lhes conseguiram dar em dose simples. Talvez seja a forma de se libertarem dum eventual “complexo de culpa”, de se redimirem, “acusando para não serem acusados”… Quem sabe, para poderem dizer que estão a fazer “TUDO” pelo seu Velho!!!…

Homenagear, com imagem radical…

Estava instalado no sofá quando vi na televisão uma reportagem sobre o Tattoo & Rock Festival, onde ia estar “pessoal da pesada” vindo de todo o mundo. Deu-me cá um “clique” e pensei: “Está na hora de mudar o visual. Tenho de ir já ao Meo Arena fazer umas tatuagens “à maneira”. E lá fui eu…

Num festival de tatuagens, piercings, rock, skate, indumentária alternativa e de todo um estilo de vida associado aos que escapam ao convencional, tinha que optar sobre as partes do corpo a tatuar e o quê. Decisão difícil, depois de ver catálogos, fotos e todo o tipo de imagens. Nenhuma me convenceu pelo que tive de criar os meus originais, tendo em conta que a intenção era homenagear gente que “marcou” o país de forma inequívoca.

Comecei pela cabeça. Concebi para ela uma imagem de uma sanita a ocupar todo o pescoço, tendo a base assente nos ombros e o tampo a ficar justo ao queixo e à nuca. Da “sanita” emerge a cabeça onde, na parte superior, depois de rapados os poucos pelos que me restam, mandei tatuar uma cabeleira bem penteada do tipo “Executivo”, que me fez desaparecer a careca… Para o rosto decidi que me pintassem uns grandes óculos escuros que me engolissem a cara. Claro que pedi óculos graduados para arrumar as “cangalhas” que trago no bolso… Com esta tatuagem pretendo homenagear os empresários e gestores de “sucesso” como os do grupo BES, do BPM, do BPP, da PT, do Banco de Portugal e outros que tais, que fizeram muita m… “massa”, dando um forte contributo para porem o país no estado em que está. A sanita é o local adequado para os enfiar de cabeça para baixo, dela emergindo a cabeça de um para tomar ar, de óculos escuros para não ser reconhecido. Bem hajam…

Para o peito não resisti à tentação de mandar tatuar os peitorais de um concorrente da Casa dos Segredos ou do Big Brother, daqueles que provocam inveja. Como parte dos músculos do peito me descaíram para a barriga formando o “pneu”, fizeram um bom trabalho ao tatuarem-me um avental inspirado nos concorrentes da Chefs Academy (continuo sem perceber porque é que não se chama Academia de Chefes. Ou em português é para parolos como eu?), dando a entender que a saliência que tenho ao nível da cintura é uma regueifa de pão de ló que trago no bolso. Rapazes inteligentes…

Nas costas, em manifestação de solidariedade com a grande maioria dos políticos portugueses dos últimos quarenta anos, que correm sérios riscos de morrer de cansaço de tanto nos prometerem, uma grande cara. Na parte superior, os olhos esbugalhados e os cabelos desgrenhados tatuado pelos meus ombros fora. Para baixo, o tatuador aproveitou bem aquelas duas partes arredondadas que tenho ao fundo das costas para desenhar duas grandes bochechas (que não devem ser confundidas com nenhum político em especial), com a boca muito aberta, próprio de quem está a “falar” entusiasmado ao povo, tão aberta que parece “ao alto”. É por ali que sai tudo o que cheira mal… Eles merecem tudo…

Nas pernas pedi para copiarem as da Rosa Mota, numa manifestação de respeito pelos grandes maratonistas portugueses e solidário com todos aqueles que têm de “correr”… para fora do país.

Bom, na frente, naquele lugar que outrora foi pudico mas que há muito perdeu tal classificação, deixo que cada um imagine um desenho enquanto conto a história de uma tatuagem. Vamos a ela.

Durante a guerra um ferido entrou no hospital inconsciente, tendo sido assistido por duas enfermeiras. Depois de o tratarem, ficaram à conversa. “Viste como é que um homem tão forte tem uma “coisa” tão pequenina?” dizia uma a rir. “Claro que sim”, respondeu a outra “e até reparei que tem uma tatuagem na “coisita” a dizer “ÓNIO”, acrescentou em tom galhofeiro.

Dias depois separaram-se e só se voltaram a encontrar vinte anos mais tarde. Conversaram e recordaram momentos vividos em comum até que uma perguntou: “Tens filhos?” “Oito”, respondeu-lhe de imediato. “Oito???!!! Como é possível? Quem é o herói com quem casaste?” volveu ela. “Lembras-te daquele soldado ferido sobre o qual nos fartamos de brincar por ter uma coisa escrita naquela parte do corpo? Foi com esse” respondeu-lhe ela.

“Não acredito, pois ele tinha uma “coisa” tão pequenina”… “Pois foi com esse. É que nós só vimos o fim porque a tatuagem completa diz: “NASCIDO EM 20-10-1921 EM VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO”.

Cheguei à adolescência numa sociedade sem tatuagens e foi no interior de África que vi em povos primitivos pinturas e vários tipos de objetos enfiados no corpo. Pensei que, nós, civilização ocidental, já tínhamos passado esse estado de primitivismo de que tais “decorações” eram um sinal.

Cinco décadas depois vejo que estava enganado. Pouco a pouco, as tatuagens, piercings e outros “violações” do corpo foram surgindo, multiplicando-se, sendo já vulgares nos nossos conhecidos, amigos e até família. Não o faria mas respeito inteiramente quem o faça. É uma opção.

Mas, pensando que as “pinturas” e todo o tipo de “piercings” eram um sinal do primitivismo de uma civilização, fossem eles ossos, paus, caricas ou outros materiais enfiados no nariz, no lábio, na orelha ou em qualquer parte do corpo, às vezes dou comigo a pensar que devemos estar a chegar ao fim de uma civilização, a convencional, que vai desaparecendo, e já nos encontramos em transição para outra, talvez radical, que ainda se encontra no seu estado “primitivo” se considerarmos o mesmo tipo de sinais.

Se for assim, só há uma “pequena” diferença entre uns e outros. É que, os de hoje, nascem num estado mais avançado, mais sofisticado. Talvez por terem herdado “excesso de tinta”…

O Homem para quem “o sonho comandava a vida”

Nenhuma sociedade merece o futuro se não for digna do seu passado e, muito especialmente, se não souber honrá-lo. E a forma de honrar o passado é preservar a memória daqueles que já partiram desta vida mas que, nesta vida, se deram livre e gratuitamente a essa mesma sociedade somente pelo dever de cidadania, pelo prazer de servir, pelo amor à sua terra.

O esquecimento é sempre muito maior que a morte, porque termina aquilo que a morte começou, e por isso deve ser rejeitado e combatido quando diz respeito àqueles que merecem da sociedade respeito, reconhecimento, agradecimento e memória.

Para esses, não há tempo nem hora para se ter memória, porque deve ser permanente. Mas se houvesse um só tempo, seria agora, quando passamos o dia da memória pelos que já partiram e que se celebrou há dias.

De entre aqueles que a nossa sociedade não pode e não deve esquecer, levanta-se o de JAIME MOURA, um cidadão de Lousada que a ela se entregou e que muito fez para que fosse colocada no mapa das terras reconhecidas em qualquer ponto do país e, mesmo, do estrangeiro.

Existem homens que prometem fazer, outros que dizem que fazem e alguns (poucos) que, pura e simplesmente, FAZEM. Jaime Moura era um desses raros homens.

A sua capacidade de execução aliada à organização e gestão de meios humanos e materiais e à determinação que impunha na ação, fazia com que atingisse um determinado objetivo enquanto outros realizavam estudos ou promoviam reuniões para discutir se deveriam ou não fazer.

Foi um homem de paixões e de ação, para quem não havia meio termo, tanto numas como noutra. E das suas paixões, duas se destacavam muito acima de todas as outras: A FAMO, a empresa da família à qual entregou toda a dedicação profissional e a mente, e o CAL – Clube Automóvel de Lousada, de que foi um dos fundadores e o timoneiro para o guindar à realização de grandes eventos do desporto automóvel em Portugal, e no qual deixou o coração.

Era um homem de ação com uma capacidade de trabalho invulgar mas era também um visionário sempre à frente do seu tempo, para quem não havia nada como o sonho para criar o futuro, para comandar a vida. E era no ser um inconformado com as coisas uma das principais razões do seu sucesso.

Organizado, meticuloso, rigoroso, atento aos pormenores, foi homem de grandes sonhos, deixando alguns por concretizar porque o tempo lhe foi roubado. Liderou a organização de espetáculos desportivos únicos que maravilharam centenas de milhares de aficionados vindos dos quatro cantos do país e não só, e que a televisão levou ao mundo, divulgando bem longe o nome da terra que não quis e não soube aproveitar todo o seu imenso potencial.

Foi um lutador incansável, perseverante, que nunca deixou cair os braços, até na luta contra a doença, que sempre acreditou vencer.

Não recebeu em vida as honrarias que merecia mas, é melhor merecer honrarias e não recebê-las, do que recebê-las sem as merecer.

Tive o privilégio de ser seu amigo, de estar com ele em muitos projetos, especialmente no Clube Automóvel de Lousada que criamos, fizemos crescer e transformamos num clube de referência e num teatro de sonhos, ao ponto de “colocar Lousada no mapa”. Ali realizamos eventos desportivos que superaram tudo aquilo que nós próprios imaginamos quando neles nos envolvemos e que marcaram uma época no desporto automóvel em Portugal.

Percorremos juntos milhares e milhares de quilómetros por essa Europa fora, não com o sentido de sermos mais dois espectadores de provas automobilísticas mas com o objetivo de as “ver”, de olhar a sua organização para retirar delas tudo o que nos poderia interessar para a construção dos nossos projetos. E vimos muito, aprendemos muito e até chegamos à conclusão de que também tínhamos muito para ensinar aos outros. Foi com todo esse trabalho de observação que nos foi possível ir mais além, até porque “não vale a pena inventar o que já está inventado”.

A nossa amizade permitiu-me ser o moderador dos seus ímpetos mais ousados, fossem eles reações a artigos de jornais ou a projetos de risco mais elevado. E ouvia-me, apesar de gostar de ouvir os outros desde que… concordassem com ele. E, entre os projetos não concretizados, estiveram a Corrida dos Campeões e o Troféu Andreos, estudados ao pormenor e que chegaram a ser negociados com os organizadores, mas que o bom senso e o risco económico e financeiro travaram. Fiquei a dever-lhe essas duas provas com que tanto sonhou.

Embora o tempo dure o bastante para aqueles que sabem aproveitá-lo, e ele soube, partiu antes do tempo, quando ainda tinha sonhos para os quais precisava de tempo que o tempo não lhe deu. E para quem tinha ainda tantos sonhos, fica-nos a esperança de que, na sua partida, o seu anjo da guarda o tenha aliviado do pesado fardo das preocupações sobre o que deixou por fazer, e lhe tenha colocado no saco de viagem a leveza dos muitos motivos que teve para estar orgulhoso da sua passagem veloz por este circuito terreno e três palavras de todos os que tiveram o privilégio de usufruir do seu esforço e da sua amizade: OBRIGADO, JAIME MOURA.