Monthly Archives: February 2017

Nos momentos difíceis, afundamos…

A propósito da tragédia no desastre aéreo na Colômbia e que vitimou quase toda a equipa brasileira de futebol do Chapecoense, achei muito interessante a afirmação de Jorge Costa, antigo jogador do Porto, quando disse: “E reclamava eu por uma paragem um pouco mais demorada para reabastecimento do avião, num aeroporto da Namíbia”… É natural. Concentramos tanto a atenção em nós próprios, nos “grandes” problemas da nossa vida, que nem nos damos conta do que se passa à volta e, comparativamente, da pequenez do que nos afeta. Foi assim que também fui apanhado há alguns dias. Andava cá por casa, mal disposto e irritável como se carregasse um pesado incómodo, quando tocou o telemóvel. Era o Zé, meu amigo, companheiro de escola e de curso, atualmente a viver no sul do país. Com voz cansada, desanimada e triste, em poucas palavras deu a entender a gravidade do seu problema: “Já não há nada a fazer. É tarde demais”… Mal o ouvi, “rebobinei” o filme do último mês e compreendi tudo.

O seu filho, com pouco mais de quarenta anos, está a trabalhar em Angola e, há cerca de um mês, veio a Portugal com a família passar uns dias de férias, aproveitando para fazer alguns exames de rotina. Quando foi saber dos resultados, o médico disse-lhe sem rodeios: “Vá a Luanda buscar as suas coisas e esqueça Angola, definitivamente. Tem um problema na tiroide, já com vários gânglios no pescoço”. Quando o Zé soube, foi como se o mundo lhe desabasse em cima. Ele que sempre fora um homem forte, sem medo de enfrentar as dificuldades da vida, sentiu-se impotente ao ver-se à beira de perder o seu único herdeiro. Enquanto o filho foi a Luanda arrumar as coisas, o Zé passou quinze dias sem dormir uma única hora, esgotado e cansado física e psicologicamente. Quando um dia lhe telefonei e me falou disso, tive com ele uma longa conversa tentando chamá-lo à razão, pois não era o momento para desistir. Tinha de ser a força do filho e, para isso, deveria ser o primeiro a acreditar na cura porque as coisas que têm de dar mal, dão, mas muitas há que podemos reverter. É preciso tentar. E acreditar. Dois dias depois a mulher disse-me que valera a pena “ter-lhe dado na cabeça”. Quando o filho regressou, foi para Coimbra ao cuidado do hospital e de um especialista que o mandou efetuar novos exames, mais específicos. Os resultados seriam conhecidos dias depois. Logo que que tomou conhecimento desses resultados, o Zé telefonou-me, dizendo tudo naquelas poucas palavras: “Já não há nada a fazer. É tarde demais”… Percebi o drama mesmo antes de ouvir o resto: “Já está espalhado pelos ossos, pulmões e traqueia. Não dá para operar nem fazer quimioterapia”… “C’um caraças”, dou comigo a pensar. “Oh meu Deus, ajudai-me a ajudar. O que posso eu dizer-lhe num momento destes”? Fiquei calado sem saber que palavras usar para consolar e animar o meu amigo. Não sabia mesmo. Ele “estava na fossa”, revoltado com tudo e com todos, descrente da vida e de Deus. “Porquê o meu filho? Porquê isto com um homem honesto, trabalhador, bom pai? Porque não morrem os bandidos, os ladrões e os criminosos em vez de gente boa como ele”? A revolta era enorme e senti-o desorientado, desprotegido, como se o chão o estivesse prestes a engolir. Mais refeito, fui-lhe dizendo algumas palavras de esperança e ânimo, o que não foi fácil. Não podia desistir do filho. Ainda estava vivo e bem vivo e ninguém sabia quanto tempo ainda andaria por cá. Qualquer um de nós poderia partir primeiro. Por isso, tinha de agradecer todo esse tempo, usufruir cada minuto como se fosse o último, aproveitar para fazer com ele o que, provavelmente, nunca tinha feito. Será muito tempo? Pouco? Será o que Deus quiser… E tinha de continuar a ter esperança na medicina e na possibilidade de se curar. Porque muitos outros se têm curado…

Já depois de ter desligado o telefone, fiquei a pensar na fragilidade da vida e na fraqueza da nossa força. Quando a adversidade nos atinge, afundamos. E se esse alguém é um filho, e ainda por cima filho único como no caso do Zé, vamos ao fundo por completo. Os fortes dão parte de fracos, os arrogantes viram humildes, os entendidos logo passam a ignorantes e os ateus apelam ao Deus em que não acreditam. De uma forma ou de outra, praticantes ou não, nesses momentos “ajoelhamos e rezamos”. Todos. Porque nos momentos difíceis da vida, precisamos de “Alguém” a quem recorrer.

Voltamos a falar depois do plano de combate à doença estar definido. A médica responsável preconizara um tratamento novo de uma injeção mensal. Renascia a esperança. Mas era o filho que o animava e lhe transmitia serenidade e confiança, de tal forma que persistia na ideia de continuar a trabalhar em Angola e vir a Portugal todos os meses para o tratamento. Manifestei ao Zé a minha opinião de que seria um erro enorme andar nesse vaivém, nada favorável à cura e acabei mesmo por falar com o filho, apoiando-o na decisão de dar prioridade à saúde e secundarizar o trabalho. Agora, é esperar. Mas, a semente da esperança está lá e desejo muito que germine e se transforme em realidade. Pelo meu amigo Zé e pelo seu filho. Único. E pela esperança, que deve ser sempre a última coisa a morrer. Tanto neles como em cada um de nós…

Uma luta que cabe a todos nós…

Ando com uma dúvida: Não sei se estou em luta contra o desperdício ou se me tornei num forreta. Depende do ponto de vista. O último acontecimento que me tem deixado a pensar nisso e a ficar “como o tolo no meio da ponte”, tem a ver com a pasta de dentes. Isso mesmo, o meu tubo da pasta de dentes. Já há mais de quinze dias que está praticamente no fim e todas as noites, antes de me deitar, espremo daqui e dali e empurro com os dedos até conseguir tirar mais um bocadinho de pasta, a necessária e suficiente para lavar o “corta palha”. Nem mais, nem menos. E ainda deve dar para hoje… Sempre achei um desperdício cobrir todos os pelos da escova com um “cordão” de pasta. Mal se mete na boca, logo na primeira escovadela mais de metade cai no lavatório. Não há volta a dar. Para quê pôr um “tutano” tão comprido se a maior parte vai pelo esgoto abaixo? Ou teremos também de lavar o esgoto sempre que lavamos os dentes? Claro, é isso que os fabricantes querem…

Tendo sido integrado numa nova empresa resultante da fusão de várias, pelas minhas novas funções tive de participar numa formação em marketing. Entre outros, um dos exemplos que lá foi referido para definir que o marketing é qualquer procedimento que contribui para a subida das vendas de uma empresa, dizia precisamente respeito a uma grande marca de pasta dentífrica. A empresa organizou um concurso de ideias entre os empregados, com o objetivo de aumentar a faturação e, das muitas propostas apresentadas, a escolhida sugeria simplesmente isto: “Aumente-se o diâmetro da boca da bisnaga”. Como toda a gente põe sempre o mesmo comprimento de fio de pasta na escova, ao ser aumentado o diâmetro desse “tutano” em dois ou três milímetros, algo de que ninguém se apercebe, os cento e vinte e cinco gramas de pasta da bisnaga “vão-se à vida enquanto o diabo esfrega um olho”, indo uma boa parte pelo esgoto abaixo. Verdade? Ou alguém pesa a quantidade de pasta que põe na escova?

Se pensarmos bem, isso também acontece com o gel usado nos lavatórios. Damos duas ou três “bombadas” com uma das mãos enquanto aparamos com a outra e, ao começarmos a ensaboar, metade do gel… vai para o esgoto. A quem aproveita? A quem produz e a quem vende. Só… Ora, luto contra isso. Cá por mim, ponho o suficiente para ensaboar, nada mais.

Até para limpar e secar as mãos aprendi um truque para reduzir gastos. Depois de lavar as mãos, sacudo-as várias vezes sobre o lavatório e com isso retiro a maior parte da água. Molho muito menos a toalha ou gasto um terço dos toalhetes. Será forretice ou combate ao desperdício? A dúvida persiste.

A água potável é um bem essencial à vida, que não valorizamos. Nada. Todos temos acesso fácil à água, se calhar fácil demais. Está somente à distância do abrir de uma torneira. Muito fácil mesmo. Quando garoto, o acesso à água era mais complicado. As mulheres tinham de ir buscar água à fonte num cântaro de barro, transportado à cabeça até casa… quando não partia. E algumas fontes estavam distantes. Mais tarde passaram a tirar a água do poço, com o sarilho e um balde. Hoje, ter água é um dado adquirido e pode-se esbanjar à vontade que não há problema. Porque, sempre que se abre a torneira, a água corre. E se não correr? Reclama-se com a Câmara Municipal, com o governo ou com a mulher que, em último caso, é a culpada. Ao outro dia a torneira volta a jorrar água como se nunca tivesse faltado. E quando chegarmos ao outro dia e continuar a não haver água? E quando for racionada ou tivermos de lutar por ela? Depois se verá, não é verdade? Enquanto não chegar esse dia, vamo-nos dando ao luxo de desperdiçar, porque, desperdiçar é um luxo que gostamos de nos permitir. Se pouparmos, não vamos salvar o mundo? Claro que não, mas contribuímos. É um desperdício abrir a torneira com o jato na pressão máxima, salpicando tudo à volta. Para quê? Permitimo-nos desperdiçar água estupidamente, como se não tivesse valor. Mas tem e só daremos conta disso quando não houver. Como acontece a milhões e milhões de pessoas por esse mundo fora… Eu lavo as mãos com pouca água, a suficiente para ensaboar e enxaguar. No total, gasto menos de um copo… Só tenho dificuldade com as torneiras de mono comando, são difíceis de regular. Ou deitam jato forte ou fecham, o meio termo não é fácil. Por isso, abaixo as torneiras de mono comando… No banho também se estraga muita água. Em média, gasta-se cinquenta a oitenta litros por banho. Há quem cante, ensaboe, enxagúe, volte a ensaboar, enxagúe, aplique champô, enxagúe, use amaciador, continue a cantar, enxagúe, sempre com a água a correr. Às vezes até se faz a barba pelo meio, espremem borbulhas ou cortam-se as unhas… com a água a correr. Será isto desperdício ou eu é que sou forreta por fechar a torneira quando me ensaboo e por gastar menos de dez litros por banho?

Mas se o esgoto é o ponto por onde se desperdiça água em barda, o caixote do lixo é outra porta para o desperdício de algo que também nos é indispensável: Bens alimentares. Todos os dias vão parar ao lixo toneladas e toneladas de alimentos, de forma irresponsável, quando não intencional e criminosa. Porque são bens que fazem falta a muitos outros seres humanos. No nosso egoísmo, na estupidez das nossas vaidades, na arrogância dos exibicionismos, estragamos, destruímos, deitamos fora e desperdiçamos toneladas e toneladas de alimentos, que alterariam a vida de tantas pessoas ao passarem do “não ter nada para comer” para “ter alguma coisa para comer”. Uma diferença que faz toda a diferença. Ou será que a nossa indiferença não nos permite lutar por essa diferença?

Por tudo isto e muito mais, estou numa atitude de combate ao desperdício, uma incumbência que deveria ser de todos. Ou estarei enganado e não passo de um forreta disfarçado?????????

Ando com uma dúvida: Não sei se estou em luta contra o desperdício ou se me tornei num forreta. Depende do ponto de vista. O último acontecimento que me tem deixado a pensar nisso e a ficar “como o tolo no meio da ponte”, tem a ver com a pasta de dentes. Isso mesmo, o meu tubo da pasta de dentes. Já há mais de quinze dias que está praticamente no fim e todas as noites, antes de me deitar, espremo daqui e dali e empurro com os dedos até conseguir tirar mais um bocadinho de pasta, a necessária e suficiente para lavar o “corta palha”. Nem mais, nem menos. E ainda deve dar para hoje… Sempre achei um desperdício cobrir todos os pelos da escova com um “cordão” de pasta. Mal se mete na boca, logo na primeira escovadela mais de metade cai no lavatório. Não há volta a dar. Para quê pôr um “tutano” tão comprido se a maior parte vai pelo esgoto abaixo? Ou teremos também de lavar o esgoto sempre que lavamos os dentes? Claro, é isso que os fabricantes querem…

Tendo sido integrado numa nova empresa resultante da fusão de várias, pelas minhas novas funções tive de participar numa formação em marketing. Entre outros, um dos exemplos que lá foi referido para definir que o marketing é qualquer procedimento que contribui para a subida das vendas de uma empresa, dizia precisamente respeito a uma grande marca de pasta dentífrica. A empresa organizou um concurso de ideias entre os empregados, com o objetivo de aumentar a faturação e, das muitas propostas apresentadas, a escolhida sugeria simplesmente isto: “Aumente-se o diâmetro da boca da bisnaga”. Como toda a gente põe sempre o mesmo comprimento de fio de pasta na escova, ao ser aumentado o diâmetro desse “tutano” em dois ou três milímetros, algo de que ninguém se apercebe, os cento e vinte e cinco gramas de pasta da bisnaga “vão-se à vida enquanto o diabo esfrega um olho”, indo uma boa parte pelo esgoto abaixo. Verdade? Ou alguém pesa a quantidade de pasta que põe na escova?

Se pensarmos bem, isso também acontece com o gel usado nos lavatórios. Damos duas ou três “bombadas” com uma das mãos enquanto aparamos com a outra e, ao começarmos a ensaboar, metade do gel… vai para o esgoto. A quem aproveita? A quem produz e a quem vende. Só… Ora, luto contra isso. Cá por mim, ponho o suficiente para ensaboar, nada mais.

Até para limpar e secar as mãos aprendi um truque para reduzir gastos. Depois de lavar as mãos, sacudo-as várias vezes sobre o lavatório e com isso retiro a maior parte da água. Molho muito menos a toalha ou gasto um terço dos toalhetes. Será forretice ou combate ao desperdício? A dúvida persiste.

A água potável é um bem essencial à vida, que não valorizamos. Nada. Todos temos acesso fácil à água, se calhar fácil demais. Está somente à distância do abrir de uma torneira. Muito fácil mesmo. Quando garoto, o acesso à água era mais complicado. As mulheres tinham de ir buscar água à fonte num cântaro de barro, transportado à cabeça até casa… quando não partia. E algumas fontes estavam distantes. Mais tarde passaram a tirar a água do poço, com o sarilho e um balde. Hoje, ter água é um dado adquirido e pode-se esbanjar à vontade que não há problema. Porque, sempre que se abre a torneira, a água corre. E se não correr? Reclama-se com a Câmara Municipal, com o governo ou com a mulher que, em último caso, é a culpada. Ao outro dia a torneira volta a jorrar água como se nunca tivesse faltado. E quando chegarmos ao outro dia e continuar a não haver água? E quando for racionada ou tivermos de lutar por ela? Depois se verá, não é verdade? Enquanto não chegar esse dia, vamo-nos dando ao luxo de desperdiçar, porque, desperdiçar é um luxo que gostamos de nos permitir. Se pouparmos, não vamos salvar o mundo? Claro que não, mas contribuímos. É um desperdício abrir a torneira com o jato na pressão máxima, salpicando tudo à volta. Para quê? Permitimo-nos desperdiçar água estupidamente, como se não tivesse valor. Mas tem e só daremos conta disso quando não houver. Como acontece a milhões e milhões de pessoas por esse mundo fora… Eu lavo as mãos com pouca água, a suficiente para ensaboar e enxaguar. No total, gasto menos de um copo… Só tenho dificuldade com as torneiras de mono comando, são difíceis de regular. Ou deitam jato forte ou fecham, o meio termo não é fácil. Por isso, abaixo as torneiras de mono comando… No banho também se estraga muita água. Em média, gasta-se cinquenta a oitenta litros por banho. Há quem cante, ensaboe, enxagúe, volte a ensaboar, enxagúe, aplique champô, enxagúe, use amaciador, continue a cantar, enxagúe, sempre com a água a correr. Às vezes até se faz a barba pelo meio, espremem borbulhas ou cortam-se as unhas… com a água a correr. Será isto desperdício ou eu é que sou forreta por fechar a torneira quando me ensaboo e por gastar menos de dez litros por banho?

Mas se o esgoto é o ponto por onde se desperdiça água em barda, o caixote do lixo é outra porta para o desperdício de algo que também nos é indispensável: Bens alimentares. Todos os dias vão parar ao lixo toneladas e toneladas de alimentos, de forma irresponsável, quando não intencional e criminosa. Porque são bens que fazem falta a muitos outros seres humanos. No nosso egoísmo, na estupidez das nossas vaidades, na arrogância dos exibicionismos, estragamos, destruímos, deitamos fora e desperdiçamos toneladas e toneladas de alimentos, que alterariam a vida de tantas pessoas ao passarem do “não ter nada para comer” para “ter alguma coisa para comer”. Uma diferença que faz toda a diferença. Ou será que a nossa indiferença não nos permite lutar por essa diferença?

Por tudo isto e muito mais, estou numa atitude de combate ao desperdício, uma incumbência que deveria ser de todos. Ou estarei enganado e não passo de um forreta disfarçado?????????

Para burro velho, erva tenra…

O homem chegou num “bruto” Mercedes descapotável (poderia dizer que era um “descapotável” dentro de outro) e saiu do carro agarrado à bengala para amparar os mais de oitenta anos de vida, entregando as chaves do carro a um dos porteiros. Pela outra porta da “bomba” saiu outra “bomba”, uma jovem com pouco mais de vinte anos, um regalo para a vista dos homens que ali estavam (e eu era um deles) e a inveja das outras mulheres, ficando sem saber qual o grau de parentesco entre os dois. Depois, de braço dado, entraram portas adentro como se fossem os donos do casino. Mais tarde, ao longo da noite, viria a perceber bem qual o tipo de “parentesco” que os unia… Pode-se dizer que os casinos são o local certo para se encontrar com alguma frequência estes casais… Ali é vulgar observarem-se, em jantares mais ou menos românticos, avô e… “neta”. Não vou dizer que fazem uma parceria contra natura, porque o não são. Homem e mulher adultos fazem um par natural e longe de mim pensar o contrário, mesmo se a diferença de idades for maior que a “Guerra dos cem anos”. Até acho que são uma ousadia, talvez mesmo a expressão do desejo que muito homem idoso tem recalcado, porque o seu sonho é fazer o mesmo, dando crédito total ao adágio popular: “Para burro velho, erva tenra”. E se a “erva” puder ter vinte a trinta centímetros de altura, que é como quem diz, vinte a trinta anos de idade, será a altura (idade) ideal para a “colher”. Porquê? Porque é a altura (idade) de ter tudo no sítio, pele macia e brilhante plena de jovialidade e inocência (falsa ou não, mas sem que isso incomode o interessado). É verdade, o homem é como é e muitas vezes procura eternizar a sua juventude e o seu vigor de macho. Recusa o desgaste da idade e nega as evidências, escamoteando a realidade até aos amigos. Masculinidade é eterna, até à cova!!!… Ora, para provar aos outros (e enganar-se a si próprio), nada melhor que uma mulher nova, boa (boa presença, claro), que provoque inveja e o ajude a levantar o ânimo (e, se possível, outra coisa…). Para tal, compra carro descapotável, bebe whisky velho, leva a menina a restaurantes caros, a boutiques de marca com prendas de luxo e mostra-lhe a moradia na praia… Às vezes, até lhe “bota” casa… Investe em garotas mais novas para estimular a sua sexualidade, embora alguns argumentem que procuram mulheres novas pelo romance, por pensarem que elas ainda acreditam no amor, no conto de fadas, no sonho do amor para sempre. Porém, os mais diretos, dizem que só há uma razão: Sexo. (Costumava brincar com um velho amigo sobre isso, duvidando do seu desempenho, mas ele respondia-me: “Sabes, já não toureio, mas ainda sou aficionado…). E elas? Dizem que sonham ser adoradas, tratadas como senhoras da alta sociedade. A ideia de encontrar o príncipe encantado capaz de lhes satisfazer todos os caprichos e dar segurança, faz parte do imaginário feminino. Ora, um homem velho e com “pasta” personifica esse ideal de segurança, estabilidade e conforto. E, claro, dinheiro conta… É uma atração forte para quem nunca o teve… Dizem até que, em regra, o interesse não está no namorar. Importam muito mais outros interesses como prestígio social, influência política, poder e… dinheiro, pudera. Há jovens que veem nos velhos uma porta para esse mundo fechado do dinheiro. Daí que, muitos deles acabam por ser presas fáceis, vítimas da sua “energia viagreira”, numa inocência quase infantil. Por isso, são muitas as mulheres livres tentando “dar o golpe do baú”, caçando velhos carentes com conta bancária valente.

Quando acontece, a coscuvilhice da vizinhança e dos conhecidos fala à boca cheia: “Vejam o disparate da relação”, “o estúpido do velho não vê que ela só quer apanhar-lhe a massa?”, “ela está com ele pelo dinheiro”. Para os familiares, “o velho está a pôr em causa os bens da família”, “meteu-se com aquela sirigaita acabada de desmamar”, “é preciso declará-lo incapaz”, “uma golpista interesseira que o vai deixar na miséria”.

Já os amigos, permanecem divididos entre aceitar a sua relação ou serem francos e abertos com ele. Conheci um caso em que, na despedida de solteiro em vésperas do casamento, lhe foram dizendo: “Meu amigo, a idade não perdoa e já estás no ponto em que, a única coisa que cresce, são… os pelos e as peles…”,“não te metas naquilo de que não podes dar conta”, “tu tens cabedal para aguentar as necessidades dela”? “E se um garanhão novo te assalta a casa e a mulher”? E um outro, menos subtil, disse-lhe de caras: “Achas que não vais ser corno”? Para surpresa de todos e com o maior descaramento, o “jovem noivo” (de setenta e nove anos), respondeu: “Pelo sim pelo não, é melhor comer “bife de primeira” embora tenha de o dividir com “sócio”, do que comer só “sopa de cebola”, ainda que a “tigela” seja toda para mim”… Com tal argumentação, a malta calou-se, informada daquilo com que ele estava a contar…

“Faz algum sentido um homem velho escolher mulher velha? De jeito nenhum”, dizem os defensores do “remoçar”. Só se for para grandes discussões intelectuais, encontros de antigos colegas de curso, bailes de saudade, viagens em pacotes para seniores e outras coisas que tais. Velho com velha dá velhos ao quadrado. Falam alto em diálogo de surdos, esquecidos dos óculos, do telemóvel, do que fizeram ontem, do que almoçaram hoje, do que são e até de quem são. Por isso, porreiro, porreiro, é arranjar uma “gaja nova” que “dê vida a um morto” ainda que, para ter “capacidade de resposta” seja preciso “enfardar” carradas daqueles pequenos comprimidos azuis e esperar o “milagre da ressurreição”… A ilusão de prolongar a força da juventude… E se, a meio do “esforço”, a máquina não aguenta a “pressão” e estoira? É o risco que corre uma velha locomotiva a vapor, de tubos gastos pelo uso e pela idade, tentando subir a encosta com a pressão no máximo. Quando menos se espera… PUM!!! Vai-se abaixo das canetas…

Como diz a Bíblia, “não se põe vinho novo em odres velhos; de outro modo, arrebentam os odres, derrama-se o vinho e estragam-se os odres”…