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Adão e Eva foram felizes. Sem sogra …

O camião seguia à minha frente e, quando me aproximei, li a frase escrita em letras garrafais na traseira do veículo: “Feliz foi Adão que não teve sogra nem camião”. Não sei se o motorista tinha sogra ou se aproveitou o tema para “aligeirar” a dimensão do obstáculo que é um camião à frente de um ligeiro. E lembrei-me deste hábito que quase todos os homens têm de fazer piadas sobre sogras, mesmo que as não tenham ou, no caso contrário, tenham de dar graças a Deus pela sorte que têm com a sua. Sabe-se que é muito mais raro existir problemas entre sogra e genro e mais comum a guerrilha entre sogra e nora. É que o homem acaba por ser “adotado” pela família da mulher, mas a mulher, em geral, é vista como intrusa e questionada na família dele. Diz a estatística que os conflitos são mais frequentes entre as noras e suas sogras e a ciência descobriu que essa rivalidade está associada à existência da menopausa. O que nós ficamos a saber atualmente!!! 

E a prova de que sogras difíceis não são o maior problema da vida de um homem é o caso de Giovani Vigliotti, o americano que casou 104 vezes entre 1940 e 1981, usando o seu nome e mais 50 pseudónimos. As suas 104 sogras foram um problema bem menor que os 34 anos de prisão que apanhou por ter cometido tantas ilegalidades para estabelecer tal performance…

Em geral, os homens não desgostam das sogras. Não são o problema que domina a vida deles. Como diz um provérbio polaco, “o caminho para o coração da sogra é através da filha”. Aquilo que a maior parte das mães das mulheres quer, mais que tudo, é ver as filhas felizes. E não precisam de chegar tão longe como o Luís Costa, agricultor que foi notícia no Brasil, não pelos produtos agrícolas que produzia, mas por ter tido 50 filhos de duas mulheres, de uma cunhada e, veja-se lá, da sogra. E ainda há homens a fazer humor com a sogra, quando até podiam fazer coisas mais interessantes com ela! Ou estarei errado?  “A mulher foi a melhor coisa que Deus fez no mundo”, afirmou ele para justificar os 4 relacionamentos que teve, inclusive com a sogra que passou para, além da condição de mãe da mulher, mãe de um dos seus filhos …

A maioria dos dramas da vida real são provocados pela mãe dele, a sogra da mulher. Estudos indicam que mais de metade das sogras delas causaram-lhes problemas. Não sendo geral a todas as noras, uma sogra que se mete na vida do casal e opina permanentemente, implica e chateia até mais não, pode ser fatal para o relacionamento. 

O sentimento de posse de algumas mães pode transformá-las em sogras difíceis. Muitas consideram-se donas dos filhos desde o seu nascimento. Assim, quando um homem que já tem “dona” resolve levar a namorada para casa, a reação da sogra é considerá-la como uma ameaça ao seu poder materno. E reage com críticas, implicações e chantagem emocional. Por detrás de tudo, esconde-se uma disputa pelo poder de dominar o mesmo homem. A maioria das sogras tem um medo de perder o seu filho para outra mulher. Desde logo há uma sensação de perda e ciúmes e a nora passa logo a ser a vítima da ira da mãe do rapaz. O problema começa quase sempre logo no primeiro encontro, até porque há um preconceito dos dois. Por um lado, sogra é uma palavra que intimida. Do outro lado, conhecer a mulher que a vai substituir, é desesperante. Dizia uma mulher nas redes sociais: “Minha sogra não entende que o filho dela casou … que tem filhos … que cresceu … e que já é pai de família” …

“Um homem conheceu uma mulher maravilhosa e ficou noivo. Nesse dia combinou um jantar com a mãe para lhe apresentar a noiva. Ora, quando chegou a casa dela levava 3 mulheres, uma loura, uma ruiva e uma morena. A mãe dele perguntou-lhe porque é que tinha levado 3 mulheres em vez de uma só e ele respondeu que era para ver se ela conseguia adivinhar qual era a sua futura nora. A mãe olhou as três mulheres minuciosamente e respondeu: “É a ruiva”. “Como acertaste logo à primeira”, perguntou-lhe o filho. E ela retorquiu: “Porque não posso com ela” …

Adão e Eva foram o casal com mais sorte no mundo, pois nenhum deles tinha sogra. E quando perguntaram a Lenine qual deveria ser o castigo máximo para a bigamia, respondeu: “Duas sogras”.                  

O drama com as sogras acontece em todo o mundo. Na Rússia, onde os jovens casais vivem com os pais por falta de casas, criou-se uma cultura forte de ódio à sogra. Na Espanha existe uma doença que se diz ser causada pelas sogras. Na capital da Índia existe uma ala das prisões especificamente para sogras por exigirem dotes excessivos às noras e romper casamentos. Na Espanha e Itália, uma sogra pode ser processada por prejuízos ou arruinar o casamento. Alguém descobriu uma excelente forma de resolver o problema da sogra e de mantê-la à distância. Tão simples quanto isto: “Basta conseguires convencer a tua sogra a andar quinze quilómetros por dia. Ao fim de uma semana apenas, ela estará a mais de cem quilómetros de distância”.

É verdade que ser sogra pode ser muito difícil, pois habitualmente as noras têm um vínculo forte com as mães. É com elas que discutem e trocam impressões com grande pormenor sobre as mais pequenas coisas e é normal que uma rapariga confie mais na própria mãe do que na sogra. Isto pode provocar ciúmes na mãe do parceiro e gerar que esta comece a especular: “Ela trata-o bem?”, “Ele está a comer aquilo de que gosta?” ou “A casa está limpa e arrumada como ele quer”? Ora, como os filhos raramente falam com as mães sobre isso, elas sentem-se excluídas e resistem, forçando a sua presença que vai acabar por não ser bem aceite pela nora. E “temos o caldo entornado” se ela persistir. 

Há alguns anos uma mulher disse-me uma frase que não conhecia: “A minha sogra e eu fomos felizes durante vinte e sete anos. Mas então, conhecemo-nos”. E nessas palavras transmitiu todo o mal-estar que existia entre ambas a partir do momento em que casou com o filho dela, tendo-lhe estabelecido limites para evitar chantagem emocional sobre o marido como “depois de tudo o que fiz por ti” ou “tu já não te ralas comigo” e outras.

Para nós homens as queixas das sogras são mais humorísticas do que relativas a um problema real. Daí histórias como esta: “A minha sogra apareceu-me hoje de manhã. Quando eu fui à porta, ela perguntou-me: – Posso ficar aqui uns dias? – Claro que pode”, repliquei e fechei-lhe a porta”. 

Para o bem e para o mal, a sogra é a mãe da ou do companheiro/a de vida, um membro de pleno direito da família, uma peça importante para a harmonia do casal. Se ela “desafinar” e não estiver em sintonia, pode estragar a “orquestra familiar” e acabar por fazer com que cada um “toque para o seu lado”. Ora, no tempo em que já não é nada fácil conseguir obter um “dueto” em sintonia harmoniosa, uma ajuda que só vem atrapalhar é perfeitamente dispensável. E então é caso para cantar: “Eu gosto muito da minha sogra, mas quero vê-la bem longe de mim” …

A arte de dar puns, traques ou peidos

Volto a debruçar-me sobre um tema que, quando aqui o abordei, fez com que um amigo me aconselhasse a não escrever mais sobre este e outros assuntos “malcheirosos”, pois não “ficava bem” para a minha condição social. Ora, pelo contrário, acho que os muitos milhares de anos da suposta evolução humana não evitaram que o ser humano continue a ter uma relação de grande pudor  com a sua “flatulência” natural, conhecida como “pum” ou “traque” e vulgarmente por peido, fazendo com que o ato de peidar pareça estar condenado a ser para sempre algo secreto, feito às escondidas, vergonhoso e chocante. É curioso que quando uma criança dá um “pum”, toda a família se ri e acha divertido. Daí que ela se exibe perante os pais, tias e visitas, por ter recebido estímulos positivos aos seus “disparos” naturais. Só não sabe o rebento que, à medida que crescer, o que antes era divertido torna-se escabroso, de mau gosto e condenado socialmente. Vejam lá que, só pelo facto de eu falar neste assunto e de usar a palavra peido, vou ferir a sensibilidade de algumas pessoas como aconteceu com o meu amigo. Mas percebo o pudor, fruto do condicionamento social!                A flatulência tem gerado piadas, folclore, etiqueta e até tem mesmo sido proibida por lei, mas poucos estudos têm sido feitos sobre ela. Hipócrates considerou que ter muitos gases é mau e recomendava que devem ser libertados e a medicina moderna concorda notando que a retenção é um dos principais fatores da doença diverticular, o que só dá razão de ser ao “alívio” que cada pessoa sente nas cerca de catorze vezes por dia em que os liberta. Entre os que se dedicaram a escrever com humor sobre o caso, temos Geoffrey Chaucer, Benjamin Franklin e Mark Twain. E até Aristófanes. Os romanos tinham uma lei que proibia soltar gases em locais públicos, lei que foi suspensa no reinado de Claudius, o mais flatulento dos imperadores. Em Chagga, na Tanzânia, a punição para soltar gases é menos severa, mas vai dar pano para mangas às feministas: Se um marido se peidar, sua esposa tem de fingir que foi ela e de se submeter à censura. Se não cumprir a sua obrigação de esposa, tem de pagar três barris de cerveja. Coitada da Luísa se esta lei vigorasse em Portugal …                                                 No livro a “Arte de dar peidos”, Pierre T. N. Hurtaut para quem peidar era uma arte e o peido bem solto uma arma social, leva o assunto às últimas consequências pois bem lá no fundo quer recordar-nos que, por baixo das rendas e perfumes, nós também temos vísceras como qualquer outro animal e não devemos envergonhar-nos daquilo que somos, mas, pelo contrário, encarar isso com bom humor, até porque, afirma ele, “o peido é uma necessidade da natureza, uma condição de boa saúde que pode e deve ser assumida como uma fonte de prazer, alívio e até de arte, pois dar peidos não custa, custa é saber dá-los”. Hurtaut cita muitos autores clássicos como Aristófanes, Horácio e Cícero entre muitos outros, mas também pensadores atuais para nos lembrar que “um bom peido ou uma sucessão deles, pode ser uma fonte de brincadeira e de prazer, mas também uma arma de guerra ou uma declaração de independência. Além de que “peido dado na altura certo, poderá virar a situação a nosso favor”.                                                                                                                    A “Arte de dar peidos” é uma ocasião rara para aprofundar o assunto sobre o qual muito pouca gente se tem debruçado, ao contrário de Hurtaut que a esgota em todos os aspetos. E se é verdade que o livro foi escrito contra os sisudos, os preconceituosos e os hipócritas, já para não falar nos que têm prisão de ventre ou diarreia mental, a sua utilidade é inquestionável. Diz que, “o que cheira verdadeiramente mal é o preconceito e a incapacidade de rirmos de nós próprios, das nossas debilidades”. Ou seja, “o que o peido tem de dramático é vir lembrar-nos que somos imperfeitos e mortais. Que algo cheira mal, mas muito mal dentro de nós mesmo ainda antes de morrermos e contra isso só há um remédio: rir, mas rir com arte”.                            Afinal, vejam só, parte dos gases é formada pelo ar que engolimos. Ou seja, se falas como um locutor de futebol em rádio FM, comes como o lobo preso ou vives com o nariz entupido, tens chances de peidares mais, além das reações químicas que existem dentro de nós e ajudam essa coisa sem forma que, se entrou, tem de sair. Percebo que a culpa pelo peido ser mal visto é das castrações por vivermos em sociedade. Assim, peidar torna-se condenável, como assassinar. Mal se peide e seja ouvido, verá milhares de olhos acusadores. Por isso, não é para admirar que se finja tanto em sociedade.                                                       O que determina o som do peido é a velocidade e o maior ou menor aperto do canal de saída. Daí o som poder dizer sobre os hábitos de cada um. E nada de fazer muita força, porque uma coisa pode seguir-se à outra. E quanto tempo se tem para fugir dum peido antes que ele chegue ao nariz? Depende! Claro que há pessoas que dizem nunca se peidar. Ora, se está vivo, peida-se, seja homem ou mulher. Nalguns casos, mesmo depois de morto. E não existe hora certa para o escape funcionar, mas é mais provável de manhã, na que é conhecida por “trovoada matinal”, ouvida em toda a casa. E, já de fato e gravata na empresa, segura-se para não os soltar, com medo que feda, que vá ser o tema das piadas ou até de perder o emprego. Mas se pensa que um peido retido é um peido perdido, engana-se, pois ele volta a reentrar, dissolve-se e solta-se quando sentir a passagem livre. Você nunca o perde, só o adia. Mas não se preocupe porque ainda não há peidos às cores que denunciem o autor, embora alguns participem no estranho “ritual incendiário” masculino de peidar e acender o fósforo para ver se pega fogo, mas um intestino cheio de metano pode ser fatal.                                               Já agora, mas não menos importante, o arroto não é um peido que subiu de elevador. São coisas bem diferentes.                                                        O francês J. Pujol ficou famoso pela sua arte e proezas peidescas, pois tinha a capacidade de sugar o ar para depois o libertar e apagar uma vela a 30 cms. Imitava peidos diversos, de uma sogra, de noiva antes e depois da noite de núpcias, roupa a ser rasgada, disparo do canhão e uma trovoada. Com o reto conseguia fumar um cigarro, tocar flauta, imitar galos, cachorros, corujas, patos, porcos, violinos, trombones e rãs.  A performance mais aplaudida era tocar “A Marselhesa”. Penso que, se existissem mais “músicos” como ele, poderiam ter feito uma orquestra sinfónica sem instrumentos, mas capazes de tudo, embora tivessem de ficar de “rabo para o ar”, talvez de “cu ao léu” para que o som saísse nítido e cristalino. Esta habilidade levou um cientista a sonhar se não seria possível também usar o reto como instrumento de fala – afinal só faltava o aparelho fonador pois o resto já lá estava: O fole para o ar e as pregas para criar a vibração. Mas é melhor não!                                           Não sendo “assassino” para estrangular os peidos nem altruísta para reivindicar os dos outros; não sendo covarde que, mal os solta, foge do mau cheiro nem fiscal que cheira o cu de toda a gente e nem infeliz por pensar que vão sair gases e sai “coisa sólida”, sinto o preconceito da sociedade sobre uma exigência do nosso organismo e da nossa condição animal. Daí ela aceitar mais as pessoas desastradas do que quem solta gases. Mas é caso para se perguntar: Quem nunca soltou um peido em público, que levante a mão? Como dizia o cartaz: “Não reprima seus sentimentos. Peide feliz”. E “não segure um peido, pois faz mal à saúde”. A verdade é que toda a humanidade está ligada pelo peido, sem olhar a gênero, etnia ou estrato social. É a manifestação humana mais universal, a prova que desmascara as peneiras e desfaz a cagança. E só o riso é a arma perfeita contra o preconceito, faça-se ele acompanhar ou não da música do traseiro.                                                                    Hurtaut, o poeta dos gases e sábio da flatulência disse: “É vergonhoso que depois de tantos anos a dar peidos ainda não saibas como o fazes e como fazer, pois, há quem peide com classe e há quem se atrapalhe todo. É que dar peidos é uma arte”. Aliás, um dos vários capítulos da mais difícil e exigente das artes: A Arte de Viver.

Símbolos do invento ou criminosos?

Uma senhora amiga abordou-me muito preocupada com a notícia que a imprensa portuguesa divulgou sobre um documento publicado pela PAN Europa – uma rede de organizações que procura minimizar efeitos negativos dos pesticidas perigosos e, além disso, substituí-los por alternativas ecologicamente corretas. Segundo esse documento, as maçãs e peras portuguesas estão no segundo lugar do “ranking” da maior proporção de frutas contaminadas em 2019, sendo que em 85% das peras portuguesas testadas e 58% de todas as maçãs foram encontrados resíduos de pesticidas perigosos. Percebi a preocupação da senhora pois a fruta é um alimento que faz parte da nossa dieta alimentar de todos os dias e saber que as peras que compramos no supermercado ou na frutaria estão contaminadas, é preocupante. Apesar do aspeto lindo, calibrado e perfeito da fruta que atualmente aparece no mercado e cujo sabor não corresponde à apresentação, vivemos alheados de uma realidade: Grande parte dessa fruta contem resíduos de pesticidas e não há volta a dar. Se não tivermos isso em conta e não cuidarmos de ter algumas precauções, sofreremos as consequências. Usam-se demasiadas vezes os pesticidas de forma incorreta, sem respeito por nós, consumidores. Neste mundo real, o “manuseamento adequado” de pesticidas é simplesmente inviável. Ou quase. Nem com as formações obrigatórias …                                  Voltando à fruta: felizes daqueles que conseguem ter fruta em casa, biológica, sem a utilização de fertilizantes nem pesticidas. Esses, sim, podem dizer que têm fruta caseira… embora haja por aí muito boa gente que a diz ter, mas trata as fruteiras com todo o tipo de produtos químicos. Está bom de ver que fruta comem! É como com os frangos caseiros alimentados a ração industrial…                                                      É verdade que a necessidade de obter produções altas para conseguir rentabilizar a atividade exige o controle das pragas e doenças e para isso é preciso recorrer aos pesticidas – incluindo os perigosos – caso contrário o preço da fruta ao consumidor dispara. 

E a fruta biológica? É uma boa solução se for mesmo biológica, só que o preço não agrada a quem paga. Por isso, a questão que hoje se coloca ao sabermos que a maior parte da fruta que compramos tem resíduos de pesticidas, é se devemos deixar de a comer ou não. E não comer uma maçã é uma má decisão, mas comer uma maçã sem a lavar ou descascar, é uma decisão pior, até porque comporta riscos. Mais difíceis são as cerejas, morangos, framboesas, mirtilos e outros frutos que não se podem descascar. Nesses, a lavagem é a única forma de evitar ou atenuar o problema porque, sabe-se que há quem trate a fruta poucos dias antes da colheita com “os tais venenos”, para chegar “bonitinha” ao mercado, sem dar o tempo obrigatório para o pesticida se decompor. Mas fala-se da fruta e não se pergunta se os legumes têm resíduos de pesticidas ou não? Claro que dificilmente conseguimos vingar a alface e o tomate, como muitos outros, sem os tratar. E, como se descasca a alface?                                                                                                                      Os produtos químicos são hoje uma constante na nossa vida. Usamo-los todos os dias em milhentas circunstâncias e na maior parte das vezes nem temos consciência de que o fazemos nem dos riscos que corremos. O que são os detergentes senão produtos químicos e qual a carga perigosa que podem transportar? Quantos desses químicos não são despejados todos os dias na banca da cozinha ou no esgoto das máquinas de lavar? E não ficamos de consciência tranquila só porque os mandamos para o esgoto, sem nos preocuparmos para onde vão e em racionalizar o seu uso?                                                                                                             Sem explorar o uso e abuso que fazemos dos medicamentos, será que temos noção da carga de produtos químicos prejudiciais à saúde que ingerimos todos os dias quando comemos carne, seja de porco, vaca, peru, frango ou avestruz? E o mesmo se passa com o peixe criado em aquacultura, alimentado com rações e protegido com antibióticos em doses maciças! Por acaso demo-nos ao cuidado de ver o que contêm os alimentos processados? E nos sumos e refrigerantes temos noção dos conservantes e outros que asseguram a sua conservação? Claro que a maioria de nós nem sequer lê o que está escrito nos rótulos e nem está preocupada com isso. Mas, se tivéssemos de identificar os produtos químicos com que nos deveríamos preocupar, a exemplo dos pesticidas perigosos, era necessário aumentar muito as páginas deste jornal.                                                                                                       Para percebermos até onde os produtos químicos podem interferir na nossa vida e de que forma, até os mais improváveis, vale a pena recuperar a história de um daqueles que foi considerado como um símbolo da invenção americana: o Teflon. Foi usado para fabricar milhentos produtos, desde tintas, impermeáveis, botas, tecidos e muitos outros entre os quais o revestimento para um utensílio que todos nós levamos para nossas casas: frigideiras. O slogan era este: “com antiaderente Teflon, frigideira feliz”. Fabricado pela Dupont, uma das maiores multinacionais da indústria química, depressa se aperceberam que algo estava mal. Fabricaram cigarros com Teflon e os empregados que serviram de cobaias viriam a ser hospitalizados. Mulheres grávidas que lidavam com o produto deram à luz crianças com malformações, mas nem assim as mulheres foram retiradas da produção. A Dupont sabia que o C-8, composto usado para fabricar o Teflon, libertado no ar ou enterrado, causava cancro. Os mil milhões de dólares de lucro anual eram bastante mais importantes que essas ninharias dos funcionários, clientes e consumidores expostos a algo tão perigoso, pois o C-8 não é decomposto e fica dentro de nós para sempre. O Teflon foi inventado para ser usado em frigoríficos e veio a acabar no revestimento de panelas e frigideiras e no sangue de 98% dos seres humanos, pois desde 1950 foram produzidos biliões e mais biliões de utensílios de cozinha revestidos com Teflon. Vale a pena ver o filme “Dark Waters – Verdade Envenenada” para se perceber os dramas por detrás deste “milagre industrial” e a luta dum fazendeiro americano ao ver morrer as suas vacas com feridas no corpo, cancro nos órgãos internos e comportamento agressivo só porque bebiam água de um riacho junto ao aterro onde a empresa enterrara alguns resíduos industriais do produto e as dificuldades do seu advogado para lutar contra uma empresa gigante, numa guerra tão desigual e impossível, qual David contra Golias, mas que fez história.                                        Tudo isto para dizer que os resíduos de pesticidas perigosos na fruta que comemos existem e são a fatura do desenvolvimento a qualquer preço e o resultado do seu mau uso, especialmente no desrespeito pelo tempo que tem de ser dado para que o pesticida se decomponha antes de a comermos. Mas temos de ter consciência que são só uma parte do problema do uso de químicos na nossa vida. Nós não somos senão marionetes nas mãos dos senhores do poder mundial, seja ele político, económico, industrial ou outro qualquer, que não olham a meios para alcançar os resultados que se propõem, ainda que para tal tenham de deixar um rasto de vidas humanas sem que isso lhes tire o sono ou pese na consciência, em nome do lucro e poder. A História da Humanidade está cheia de gente dessa e hoje estamos todos a sofrer as consequências de mais um desses loucos …  

Acidentes normais ou negligência?

Num domingo de manhã eu e o Jaime Moura saímos de Lousada em direção ao Autódromo de Braga para darmos a nossa colaboração nas corridas do fim de semana enquanto credenciados como comissários desportivos pela FPAK. Quando entrei no Lancia com ele ao volante, a chuva caía torrencialmente e fomos diretamente para Paredes onde entramos na autoestrada rumo à A3. A chuva continuava e, a meio da primeira subida, vimo-nos de repente no meio de um mar de água que ia da berma ao centro da autoestrada, que fez com que o carro entrasse em “aquaplaning”, fizesse 3 ou 4 peões e fosse bater no rail central. Mal saímos do carro, surgiu a correr um homem vindo da casa que estava perto da via e, depois de ver que estávamos bem, disse: “Neste sítio, hoje já é o terceiro acidente e quando chove muito aqui há sempre despistes, porque a valeta não é limpa e nem tem capacidade para evitar que a água nestas ocasiões atravesse a estrada como estamos a ver”. E efetivamente, como aquela subida tem cerca de 200 a 300 metros, a água da chuva a descer era muita e a valeta não só não tinha capacidade, como estava coberta de terra e não havia saídas visíveis para fora da autoestrada. O lençol de água que atravessava a via era muito grande, podendo ser fatal para qualquer automóvel, mas mais ainda para o Lancia do Jaime porque estava “calçado com sapatos” muito largos. Pelo que nos disse o vizinho do local fatídico, isso já acontecia há anos, sem que alguém resolvesse o problema. Ora, imprevistos destes podem acontecer sempre, mas o que é condenável é que o problema se tenha arrastado demasiado tempo, no dizer do popular, quando se podiam ter evitado acidentes e os custos inerentes, em que o pior nem sempre é o dinheiro.

Mais tarde o Jaime viria a acionar um processo para ser ressarcido dos prejuízos e, enquanto este decorria, os serviços de manutenção da autoestrada efetuaram vários cortes no pavimento, em diagonal, por forma a drenar a água das chuvas. Seria caso para se perguntar: porque não o fizeram logo após ter ocorrido o primeiro acidente?

Sabe-se que pelo país fora, aqui e ali são detetados pontos críticos onde acontecem sistematicamente acidentes, em alguns casos com sinistralidade grave, sendo conhecidos pela população local, além da imprensa, mas ignorados por quem tem a obrigação legal de corrigir o defeito seja ele qual for, estando sujeitos a ter de indemnizar os lesados sempre que estes reclamem ou recorram para a justiça. E são conhecidas muitas sentenças nesse sentido, pois quase todas as entidades responsáveis tentam “fugir com o rabo à seringa” pelo que os processos acabam na justiça, numa forma de “adiar o pagamento” e “ir empurrando com a barriga para a frente”.

Um exemplo incompreensível, e diria até criminoso, já identificado desde que se fez a A4, é a saída em Penafiel para a estrada nacional que vai para Lousada e Guimarães. Quantas dezenas ou até centenas de acidentes aconteceram nessa saída, com consequências trágicas, graves ou mais ligeiras tanto em vítimas como prejuízos materiais? Quantos deles perderam ali a sua vida e com ela morreram ilusões e sonhos, destruíram-se famílias ao tombar o chefe, caíram crianças e jovens na flor da idade? E toda a gente sabe disso, pois tanto se tem falado ao longo destes anos, com vigílias que de nada valeram, com o absurdo do próprio presidente da câmara local afirmar ter efetuado diligências junto do organismo responsável pela estrada nacional para ali se fazer uma rotunda que resolveria de uma vez por todas o problema, sem ser ouvido pois estão surdos e cegos ao ignorarem as tragédias que têm sido recorrentes naquele local. É incompreensível que não exista neste país ninguém com o poder de obrigar essa gente a salvar vidas que podem ser as nossas e patrimónios que custaram muito. Se calhar estão à espera de quem os obrigue a dar atenção ao problema e faça “olhar e ver” embora isso só vá acontecer quando ali tombar o filho de um “figurão” da nossa praça e o “coro mediático” os atingir em cheio …

Já agora, aqui a cem metros de minha casa há uma situação que se vem arrastando há muito tempo, sem se compreender o porquê de não ser resolvida. Acho mesmo que é um bom local para se montar uma oficina de reparações tal é a quantidade de viaturas que ali são maltratadas e ficam a precisar de uma boa intervenção mecânica. O ponto crítico situa-se na vila de Lousada, mais concretamente no entroncamento da Av. Sá e Melo com a Av. Nª. Sra. Do Loreto. Para organizar o trânsito naquele local existe uma mini rotunda à volta de um poste, que seria mais que suficiente. Mas, além desta, foi colocado ali um pequeno passeio em triângulo para “encarreirar” quem vai na Sá e Melo e quer virar à direita rumo ao Loreto. Ora, ao entardecer de um dia de sol, quando este se inclina para a poente fica perfeitamente alinhado com a Av. Sá e Melo e qualquer condutor que siga nessa via a partir do centro, apanha com o sol em cheio nos olhos deixando de ver por completo o triângulo miniatura. Assim encandeado, quando mal se acorda está com a viatura “a cavalo” no “obstáculo”, o que não teria consequências de monta se não fosse um pequeno ou grande senão: presumo que, para dar visibilidade ao triângulo, montaram um sinal luminoso em cima do bico do triângulo, mas deve ter ficado inteiro durante pouco tempo, pois alguém o cavalgou destruindo a parte aérea. No entanto, cravada no triângulo permanece a base em ferro fundido com seis “dentes” fortíssimos ao alto, espetados acima do passeio, que funcionam como uma garra metálica a rasgar a parte de baixo toda das viaturas que têm o azar de lhe passar por cima. E é assim que a blindagem, cárter, motor e outros órgãos dessas viaturas “vão de vela”, deixando os condutores de cabeça perdida. Por mero acaso, há dias vi ali uma mulher com as mãos na cabeça como se não acreditasse no que lhe aconteceu e, noutro momento, um condutor jovem muito preocupado, sei lá se a querer saber o que dizer ao pai. Alguém que trabalha bem perto diz que já perdeu a conta de quantos acidentes houve e continua a haver nesse local, mas que nada se tem feito para os evitar. E a solução é bem simples: basta eliminar por completo o malfadado triângulo com a perigosa garra de 6 dentes (já são só 5, pois um foi arrancado numa batida mais forte e está caído no seu interior). Mas, com esta ou outra solução, parece ser tempo de se pôr fim à lista de acidentes que têm marcado o local e aos estragos e prejuízos inerentes. 

Ou então, ficamos à espera que o familiar de uma figura mediática ou de um político da nossa praça fique encavalitado nesse triângulo maldito, com o motor do carro a verter óleo e o sinistrado a verter lágrimas, para que o problema seja resolvido de pronto …