Gesto obsceno ou… pura necessidade?

Julgo que já passou de moda fazer chafarizes em que a fonte é um menino nu a fazer “chichi”, mas fez o seu caminho e teve o seu tempo. O monte do Senhor dos Aflitos tem um, mas já lhe falta “algo” e nem “esguicha” para o pequeno lago. Será por falta de água ou… cansaço? O mais interessante é que este tipo de “arte” aquática atingiu o auge quando na nossa cultura havia… pudor. Curiosamente, quando este deixou de ser preocupação, tais “obras de arte” perderam o interesse, o que até parece um contra senso. Mas, no dia a dia, a prática do “esguicho” público mantem-se, fora dos chafarizes…

O meu filho acabara de estacionar no parque do Palácio da Justiça em Lousada. Quando ia a sair do carro com as senhoras que o acompanhavam, olhou em frente e ficou “atrapalhado”: Diante deles e em pleno parque, um respeitado (?) cidadão, em pé, mãos atrás das costas e “instrumento” fora das braguilha, fazia as suas necessidades básicas imitando o “menino do chafariz”, enquanto olhava de frente os transeuntes no passeio, a poucos metros de distância. Nem queriam acreditar no que viam… Sem se dar por achado, manteve-se direito e descontraído até completar o chichi. Indiferente à chegada de estranhos, sacudiu a “ferramenta” e guardou-a “na caixa” com o ar mais tranquilo, dando o “trabalho” por terminado. Imagino eu – e agora é só imaginação minha pois nem sei quem é o “homem chafariz”, que ele devia estar a sonhar com o tempo em que o “esguicho” tinha “jato forte” e passava por cima do muro, atingindo o passeio, quem sabe, a própria testa… Mas eram só sonhos porque, se pudesse olhar para os pés, veria os sapatos molhados e as pernas das calças salpicadas…

Na verdade devemos até “elogiar” este homem porque não optou pela solução tradicional, isto é, encostar-se à parede do tribunal ou ao vão de uma porta e “regá-lo” como manda a tradição É o que acontece normalmente quando há muita gente, como no caso das Festas Grandes do Concelho, especialmente em locais “estratégicos”, que ficam “perfumados” por longos meses, tal é a dose… (para os brasileiros, fazer chichi na via pública é considerado um ato obsceno e, por isso, têm os “mijódromos” para usarem nos grandes ajuntamentos). Também se compreendia a sua postura se fosse em Inglaterra, pois presumia-se que era “só para inglês ver” (se fosse algo que valesse a pena…), enquanto em Bruxelas, poderia querer copiar a estátua de bronze de Manneken Pis, um rapazinho nu a fazer chichi, pela qual os belgas têm uma espécie de orgulho nacional e os turistas fazem questão de visitar. Dias antes foi visto um outro “cavalheiro” em pleno dia, na esquina do banco junta à câmara municipal de Lousada, o ponto mais central da vila, a “regar as flores”… Pelos vistos, continuam muitos “a mijar fora do penico”, podendo estar aí a razão pela qual tanta gente está “com as calças na mão”…

Os homens ainda têm o hábito de “molhar” as árvores (sem levantar a perna, como os cães…), especialmente nos meios rurais. Outrora faziam-no em qualquer esquina mais ou menos escondida mas, à medida que as regras de convivência social e a educação se foram democratizando e massificando, os comportamentos nesta matéria passaram a ser mais discretos, regra geral impondo a utilização das casas de banho públicas ou não, especialmente quando em zonas urbanas onde há sempre alguém por perto (agora com fortes probabilidades de serem filmados e até “expostos” nas redes sociais). Já as mulheres, há muito deixaram de fazer tal “serviço” de pé, na forma tradicional, isto é, simplesmente abrindo as pernas, protegidas dos olhares indiscretos por saias compridas. Mas hoje as saias já “nada” tapam, deixaram de existir as “estrumeiras” à porta da cozinha como local de “alívio” e as regras sociais e a educação já não o aconselham.

O curioso é que nós, homens e mulheres, estamos a caminho de trocar de “posição” na forma como fazemos chichi. Senão, vejamos…

Na Alemanha foram colocados letreiros do tipo “sinais de trânsito” nas casas de banho públicas, a proibir os homens de fazerem o tal serviço “em pé”. Com o peso que têm na União Europeia, será que os alemães nos vão impor tal medida, como “uma regra comunitária”? Será que vou ter de “arriar” as calças e “alapar” o rabo sempre que precisar de fazer uma simples “mijinha”? Julgo que esta proibição tem a ver com os “salpicos” habituais nos tampos de sanita… Será? A culpa é das sanitas, pois deveriam ser mais altas e com um buraco bem maior para “acertarmos” pela certa. Mais curioso isto se torna quando se sabe que os alemães têm uma palavra depreciativa própria para os homens que urinam sentados, considerando tal posição muito pouco masculina… Bom, para já podem respirar fundo (e nós também…), mas foi necessário que um juiz contrariasse tal imposição e decidisse a favor dos homens, mantendo-lhes esse direito (ou não fosse um homem a decidir…). Em contrapartida, para evitar que as mulheres tenham a necessidade de se sentarem em sanitas imundas, conspurcadas e fiquem sujeitas a todo o tipo de contágios (nem tenham de se equilibrar em posição de “agachamento” tipo “Indiana Jones”, com a carteira numa mão e a outra a tentar evitar que a dobra das calças limpe a sanita), uma empresa criou o “womanfree”, um produto descartável, pequeno, higiénico, discreto e fácil de usar, que “permite às mulheres fazerem chichi de pé, em qualquer lugar”. E se a moda pega? Os urinóis passam a ser delas, para o que se recomenda que venham com um “alvo” desenhado no interior e com as palavras “aponta ao centro”. E pode ser que não apareçam salpicos…

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