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Mazagão: Teremos orgulho e respeito?

Nos últimos 50 anos da nossa história, a maioria dos governantes e de muitos outros políticos, tudo tem feito para renegarmos o passado e, especialmente, os grandes feitos alcançados pelos portugueses nos descobrimentos e sua aventura por um mundo até então desconhecido. Chegam a manifestar a vontade de que nos devemos até envergonhar e penitenciar por esse período, que dizem negro, da nossa história, numa inversão completa do orgulho que, como portugueses e descendentes desses antepassados, deveríamos ter. E a verdade é que não estamos a ser dignos dos seus feitos, de atos heroicos que praticaram pelo mundo fora e que hoje querem apagar e subverter, de construções excecionais que deixaram espalhadas pelo mundo e deveriam ser testemunho mais que suficiente da dimensão do que fizeram, sem terem ao seu dispor os meios de transporte, tecnologia, financeiros e científicos de hoje, pelo que se tornam ainda mais extraordinários. Por tudo isso e muito mais, 

deveríamos ser nós a glorificar os seus feitos, mas, estranhamente, a exaltação de heroicidade em acontecimentos da nossa história, de vez em quando chega-nos através de vídeos, filmes ou escritos da autoria de não portugueses, a trazer ao conhecimento público factos heroicos que nos querem fazer esquecer.  É o caso do chamado Grande Cerco de Mazagão, ocorrido em Marrocos no ano de 1562, em que pouco mais de 3.000 portugueses derrotaram acima de 120.000 marroquinos, resistindo ao cerco e tentativas de assalto à cidadela ao longo de quase 3 meses. 

Os portugueses construíram uma cidadela no porto de Mazagão no verão de 1514, que o rei D. João III mandou expandir em 1541 para a maior fortaleza murada que vemos hoje, com 69 canhoneiras e um amplo fosso provido de eclusas que o mantinham cheio de água do mar durante a maré baixa, concentrando aí a presença portuguesa naquela região. Poucos anos depois, Marrocos foi unificado por Maomé Xeque e o seu sucessor cedo começou a planear a conquista dessa cidadela bem fortificada preparando a ofensiva ao longo de dois anos. O governador da fortaleza Álvaro de Carvalho encontrava-se em Lisboa e o seu lugar-

tenente Rui de Sousa de Carvalho através de um espião, confirmou os

rumores sobre os preparativos do sultão. Assim, enviou um navio com um pedido de socorro para Portugal, então governado pela regente D. Catarina perante o cerco iminente, já que a guarnição da cidade e os residentes não seriam capazes de resistir sem ajuda. A 18 de fevereiro de 1562 chegou o primeiro contingente de marroquinos, assentando arraiais ali perto e o filho do sultão, Mulei Moâmede, não concebendo que tão pequeno número de homens pudesse fazer frente ao seu poderoso exército, antes de iniciar o ataque enviou um ultimato ao governador, que dizia: “Tenho tolerado essa fortaleza até à data, mas agora exijo a sua evacuação. Dou o tempo preciso para levarem tudo menos a artilharia e as armas. Se não quiserem aproveitar a minha generosidade tomarei pela força o que me pertence. Não obedecendo, passarei tudo a fio de espada e isso é fácil quanto é certo que Portugal é governado por uma mulher e o rei é ainda uma criança”. A resposta não demorou: “Nenhum português é homem que receie o poder e as ameaças dos moiros; todos saberão resistir e defender a fortaleza do rei-criança, seu soberano, porque todos os que se encontram na praça são portugueses que juraram morrer ou vencer e eles só́ morrem na luta quando deitam por terra os seus inimigos”.

Em Portugal, a rainha regente Dona Catarina ponderava abandonar Mazagão, Mas a notícia do cerco da cidadela provocou uma onda de sentimento patriótico em Portugal e antes que ela tomasse qualquer decisão, fidalgos, plebeus, clérigos, pescadores e outros voluntários, armaram-se e zarparam voluntariamente em auxílio da cidade sitiada. 

O inimigo atacava violentamente com cem mil infantes, trinta mil cavaleiros e treze mil auxiliares para escavar e remover terras, com o apoio de vinte e quatro canhões, mas dois meses de combate provaram uma vez mais aos muçulmanos que os Portugueses sabiam ligar as ações às palavras.
Com efeito, a luta começou trágica, terrível e mortífera. O ataque da artilharia inimiga era incessante, a defesa, heroica e infatigável. No dia 30 de Abril, no momento da preia-mar, os Mouros fizeram um ataque violento e conseguiram abrir brecha nas muralhas com a artilharia. Debaixo de um fogo terrível, onde morreram muitos combatentes de um e de outro lado, os valentes defensores de Mazagão escreveram a mais linda página da sua história. Uma explosão de vinte barris de pólvora, provocada pelos nossos, produziu no meio dos sitiantes verdadeira hecatombe. Entretanto, chegavam mais tropas de Lisboa, e o inimigo, cansado da luta, desbaratado e desanimado pela coragem indómita dos sitiados, abandonou o cerco, no dia 17 de Maio, retirando para Azamor. O esforço hercúleo dos defensores de Mazagão manteve ainda por dois séculos a soberania de Portugal na veneranda fortaleza.
Mazagão mantém ainda hoje o seu traçado urbano original e muitas das ruas conservam nomes portugueses como a Rua da Carreira, a Rua Direita, a Rua da Nazaré, a Rua do Arco, a Rua do Governador, a Rua da Mina ou a Rua do Celeiro. O pioneirismo da fortaleza inovadora de Mazagão, peça-chave da evolução das fortificações modernas, abriu a porta à transição para o uso da artilharia, materializa em Marrocos pela primeira vez as novas teorias da fortificação abaluartada, que daqui seriam transpostas para a colonização da América, África e Ásia.

A sua eficácia enquanto estrutura defensiva ficou patente na sua inviolabilidade durante os cerca de 260 anos que serviu a coroa portuguesa. Mas a excecionalidade de Mazagão ultrapassa o simples conceito de fortificação, revelando-se também como um modelo de planeamento e construção da cidade, de transposição para o território de funções urbanas, instaladas segundo determinada escala, de acordo com princípios de racionalidade e sustentabilidade. Serão também estes conceitos da cidade que contribuirão decisivamente para o desenvolvimento do planeamento urbano moderno. 

Como diz Oliveira Martins, «o domínio português do Litoral de África é apenas um episódio da grande história das descobertas e conquistas ultramarinas e o seu merecimento serviu de escola para os guerreiros da Índia». A nossa História, aqui e ali, está cheia de atos heroicos, sempre em desproporção numérica, mas com um sentido do que é ser português, irrepreensível. Os portugueses que resistiram e venceram no cerco de Mazagão, não renegaram um passado cheio de ensinamentos e honra. As ordens eram, como sempre foram, para lutar pela honra e pela Pátria! E eles cumpriram! Saibamos nós cumprir, no orgulho e respeito por eles e por todos os outros que lutaram e se sacrificaram para levar Portugal e a civilização aos quatro cantos do mundo … 

O mundo está louco! E a dormir …

Sentado no sofá, ligo a TV e fico a ver as notícias do mundo. Às tantas, passam as imagens da destruição e devastação que o furacão Milton causou na Florida e são impressionantes. Logo a seguir, recuperam outras dos recentes incêndios de Albergaria, não menos chocantes. Mas, como não é nada comigo e até já tinha visto tudo isto, mudo de canal para ver um filme cómico, pois sempre é mais agradável. Que tenho eu a ver com os furacões do outro lado do mundo ou até com os incêndios no centro do país? Nada! Mas será bem assim? Dou comigo a pensar que, afinal, “temos (quase) todos a ver” com os furacões e os incêndios, as inundações e os nevões anormais, as secas e as ondas de calor, os tornados e os ciclones tropicais, pois contribuímos para eles todos os dias. Como? No que consumimos, queimamos, desperdiçamos, poluímos, estragamos, desmatamos, mineramos, cultivamos, enfim, no nosso estilo de vida. Uns mais que outros, contribuímos para o Aquecimento Global, a causa mais que provada das alterações climáticas e dos fenómenos extremos a que temos assistido, cada vez com mais frequência.

Já há 1.500 anos Platão falava sobre degradações ambientais que resultavam de atividades como agricultura, habitação e mineração. 

Depois, a industrialização provocou a maior revolução global e fez as pessoas acreditarem que têm o direito de dominar a natureza a seu belo prazer e transformar tudo em bens de consumo, mesmo que para tal seja necessário, e aceitável, destruir o meio ambiente na busca por mais produção econômica, para satisfazer as suas necessidades. E, para dar resposta à permanente insatisfação do ser humano ao entender que deve ter tudo, mesmo para além do necessário, nos países mais desenvolvidos entrou-se numa espiral de consumo de mais e mais, sem respeito pelos outros seres vivos e muito menos, pela “casa” comum onde habitamos. Foi assim que, manipulados pelo marketing, publicidade e pelo crédito fácil, nos tornamos “consumistas” em vez de consumidores, diria mesmo, “os grandes contribuintes para a desgraça” do nosso planeta. 

Os maiores culpados são os governos de todo o mundo porque é a eles que compete dar os passos fundamentais para as mudanças. Mas vivem a prometer aumentos na produção para se criar mais riqueza, ganhar mais, consumir mais, poluir mais e dar cabo disto tudo. Cabe-lhes tomar decisões e a implementação de regras que de fato tenham impacto na cadeia produtiva e protejam o meio ambiente. E, para além dos governantes, somos (quase) todos nós, cidadãos do mundo, que com mais ou com menos (in)consciência, consumimos sem conta, peso, nem medida, com consequências gravíssimas para o meio ambiente pelo excesso de produção de lixo, de que as montanhas de roupa usada e produtos eletrónicos descartados são mau exemplo, além da grande poluição gerada pelas indústrias produtoras de bens. Com a mania das grandezas, aumentamos significativamente a poluição ao construir mais casas e maiores que implica mais cimento, ferro e aço e consequente consumo de mais petróleo, carvão e gás para os produzir. Somos nós que fazemos desaparecer florestas e com elas a capacidade de armazenarem carbono, libertar o oxigénio, reter água das chuvas e trazer muitos outros benefícios para nós e para o meio ambiente. E somos nós que desperdiçamos água no banho, nas lavagens, rega e outras situações, um bem fundamental que vai a caminho da escassez. E desperdiçamos alimentos quando faltam a outros, que desperdiçamos eletricidade e outros bens com o nosso estilo de vida, o que tem um profundo impacto no planeta, cabendo aos mais ricos, pelos maiores excessos nos consumos, a maior cota de responsabilidade.

Todo o mundo defende um desenvolvimento sustentável e quem não o defende é louco. Houve cimeiras do clima e milhentos fóruns sobre como travar o pior, no entanto a maioria fica à espera de que sejam os outros a resolver o problema. Mas, com uma sociedade tão desigual, tão diversa e de antagonismos gritantes, como vai ser possível construir um consenso para travar os desmatamentos e a poluição e tudo o que está a descontrolar o clima?

Acreditar que os políticos façam alguma coisa de verdade é crer no impossível, pois eles são incapazes de tomar medidas impopulares para não perder eleições. E “vão empurrar com a barriga para a frente”, à espera de que o problema se resolva sozinho, fazendo com que “a culpa morra solteira”. Mas, também acreditar que cada um de nós vai fazer a sua parte, que vai poupar água, eletricidade, combustíveis, alimentos, reduzir a compra de roupas, calçado, plásticos, eletrodomésticos e aparelhos tecnológicos ao essencial, é acreditar no “pai natal”, pois é certo e sabido que, tirando uns maduros de quem nós diremos que “têm a mania que vão salvar o mundo”, mais ninguém fica a pensar no assunto e “assobia para o lado” porque “o outro é que têm a obrigação de fazer essas coisas”, “porque já estou velho para isso” ou “não estou para aí virado”.

O clima entrou em terreno desconhecido e os vídeos que vemos da devastação dos furacões não deviam deixar ninguém indiferente. Mas deixam. E a grande maioria faz o que eu fiz: pega no comando da televisão e muda de canal para ver algo agradável. O menu dos eventos climáticos extremos que ocorreram na Terra este ano tem de tudo e de que forma: nevões, secas, ondas de calor, incêndios florestais, ondas de frio, inundações, tornados e ciclones tropicais. Apesar dos avisos dados pelos cientistas, que estamos demasiado perto do ponto crítico a partir do qual as crises climáticas podem multiplicar-se, sobrepor e descontrolar, sem que a Humanidade tenha capacidade de prever e se adaptar, assobia-se para o lado. O fim do mundo que preencheu o imaginário de tantos e deu nome a livros e a filmes, poderá já não ser uma ficção científica. 

Temos um problema climático grave e há as diversas guerras que assolam o mundo, em atos de loucura que só é possível entre seres (des)humanos. E nem a literacia, o acesso à informação e todas as formas de conhecimento e saber conseguem meter juízo no grande número de governantes que não se importam de brincar com o fogo e a vida de milhões de pessoas. Como é possível continuar de braços cruzados enquanto os combustíveis fósseis e o consumismo desenfreado destroem o planeta? Como é possível permitir que os recursos naturais se esgotem a um ritmo nunca visto? Como é possível ainda comer, rir e ir para a cama descansado enquanto a humanidade caminha para o abismo? Estamos numa contagem decrescente para o apocalipse climático e a sociedade precisa de despertar do seu torpor. Foi o sistema que nos trouxe até aqui, mas é com ele ou sem ele que temos de sair desta crise. E se o sistema que nos trouxe aqui, com governantes e connosco, não encontrar uma solução, o clima encarrega-se de a encontrar para acabar com ele…

É caso para dizer, “cruzes, canhoto”!

Ao longo dos séculos, todo aquele que era considerado “diferente” da maioria era cruelmente perseguido e condenado pelos demais. E os canhotos, as pessoas que utilizam preferencialmente a mão e o pé esquerdo, encontram-se nesse grupo de “párias”. Assim, ser canhoto, nem sempre foi visto com bons olhos. Durante boa parte da história da humanidade quem escrevia com a mão esquerda sofria de certeza, preconceito cultural, social e religioso. E houve casos até de pessoas queimadas vivas por “tamanho sacrilégio”. O que já foi considerado bruxaria, maldição ou superstição é, tão somente, uma questão de genética.

Foi assim que, na Idade Média, os canhotos, especialmente mulheres sofreram perseguição implacável. No caso delas, todas as acusações de bruxaria baseavam-se na relação estabelecida nos textos antigos entre o lado esquerdo e o pecado e a tentação. Em tempos recentes e durante muito tempo, os pais, professores e as instituições de ensino pressionavam as crianças para usarem a mão direita ao invés da mão esquerda. Assisti a esse “filme” e vi um colega de escola a ser avisado, admoestado e contrariado para não usar a mão esquerda …

Desde sempre a mão direita tem sido associada a todas as coisas boas e puras, enquanto a mão esquerda é sinal de tudo que é profano, mau e inferior. Este simbolismo está presente em quase todas as culturas. Por isso, o lado esquerdo é evitado quase universalmente. Os antigos gregos e romanos consideravam o lado esquerdo inferior e profano, e nos tempos medievais, o uso da mão esquerda era ligado à feitiçaria. Na Nova Zelândia, o lado esquerdo é dedicado a demônios e ao diabo. Os muçulmanos acreditam que Alá fala às pessoas na orelha direita e o diabo na esquerda. Na era medieval, o diabo era representado com a mão esquerda estendida. Entre os índios americanos, a mão direita representa coragem e virilidade e a mão esquerda, morte. Na África, o direito é bom, esquerdo é mau. Em alguns países, uma esposa nunca deve tocar seu marido no rosto com a mão esquerda. Na América do Sul, a direita é boa, é vida, divino e a esquerda é feminina, ruim, má e mórbida. E onde começou tudo isso? Na … costela esquerda de Adão. No passado, como a mão direita sempre foi a dominante, a esquerda era usada para a higiene depois da defecação. Por isso, ninguém levava comida à boca com a mão esquerda, e algumas culturas ainda hoje consideram ofensivo cumprimentar alguém com a esquerda. Até mesmo nos gaúchos, passar a cuia de chimarrão com a mão esquerda é ofensa. E entre os árabes, qualquer texto santo só pode ser tocado com a mão direita. 

Todo aquele que utiliza mais os seus membros esquerdos do que os direitos para os seus afazeres, é vulgarmente conhecido por canhoto, podendo também ser chamado esquerdino, esquerdo e sinistrômano. Mas, afinal, se a maioria das pessoas faz tudo com a mão direita, por que algumas delas nascem com a esquerda predominante? O certo é que continuamos sem saber muito bem por que algumas pessoas são canhotas e outras são destras. 

Estudos revelam que os canhotos representam cerca de 10% da população, pelo que, como a grande maioria é destra, quase todos os aparelhos são projetados para ser usados ​​por estes, dificultando o seu uso e a vida dos canhotos. Como consequência disso, os canhotos acabam por ganhar salários menores darem menor rendimento pelo facto das maquinarias lhes serem adversas. Além disso, também correm maiores riscos de sofrer acidentes, precisamente porque os equipamentos são feitos para ser usados com a mão direita e não com a esquerda. Nascer canhoto num mundo feito para destros não é fácil. Segurar uma caneca ou usar uma tesoura, por exemplo, podem ser tarefas surpreendentemente difíceis para essas pessoas, tal como teclados, facas, abridores de latas, saca-rolhas, serras, tornos e outros objetos produzidos e pensados para usuários destros. Mesmo que alguns objetos sejam inofensivos, como os teclados, serras, tornos, facas e abridores de latas, estes podem causar acidentes graves a pessoas canhotas. Apesar de tudo isso, os canhotos passaram de uma situação em que eram vistos como deficientes (o sinistrum do latim tinha até uma conotação moral), para uma situação oposta em que se começaram a encontrar-lhes muitas, e boas, virtudes. É caso para dizer, “cruzes, canhoto”!

E que é ser canhoto?
Ser canhoto é ser um jogador genial como Diego Maradona ou Messi. Ser canhoto é ser guerreiro como Alexandre, o Grande ou estratega como Napoleão Bonaparte; ser canhoto é ser génio da Matemática e da Física como Newton, da música como Beethoven e até da Física moderna como Einstein; ser canhoto é ser o maior génio da história como Leonardo da Vinci pela multiplicidade de artes e ciências em que se destacou; ser canhoto é ser o melhor piloto da história da F1 como Senna e o melhor guitarrista da história do rock como Hendrix; ser canhoto é ser um génio da pintura como Michelangelo, Rafael ou Picasso; ser canhoto é ser excecional atriz ou ator de cinema como Marilyn Monroe, Julia Roberts, Bruce Willis ou Tom Cruise; canhoto é ser um músico e compositor genial como Paul McCartney, Paul Simon ou Bob Dilan; ser canhoto é ser um pacifista como Gandhi; o canhoto é ser um presidente dos USA como Reagan, Bush, Clinton e Obama; ser canhoto é ser um escritor como Mark Twain. Ser canhoto é ser um tenista como Rafael Nadal. 

Ser canhoto é, enfim, ser o que quiser ser, podendo mesmo vir a ser o melhor, como estes e tantos outros que deixaram o seu nome gravado para a posteridade a letras de ouro, provando que, ser canhoto, só por si, não condicionou ninguém a ser o que sempre desejou. Mas, a perseguição de que foram alvos, deixará uma pergunta no ar que nunca terá resposta: Com a fobia e perseguição aos canhotos, quantos talentos não terão sido sufocados ao longo da história e que a história irá ignorar para sempre? 

Nada substitui o tempo que se lhes dá! (2)

O tempo é um recurso finito: usou, acabou. Se não o gerirmos bem, algo ficará por fazer. Horas diárias nas redes sociais deixam alguém de fora. Não queira fazer isso com os filhos, cônjugue, família, amigos e consigo, para estar satisfeito com a vida. E se não for capaz de se organizar para poder dar-lhes tempo na infância e adolescência, pelo menos, se calhar é melhor pensar no assunto antes de os ter. Se já os tem, pense nisso e não arranje desculpas porque assumiu muitíssimas responsabilidades quando decidiu ser pai ou mãe. Ou acha que não?

É que, os primeiros responsáveis pelo desenvolvimento das relações sociais duma criança são os pais: pai e mãe. O cérebro do bebé é como uma esponja que absorve tudo o que vem do que o cerca e, é natural, a criança tem desejo de explorar e aprender sobre tudo isso. Daí inundar a todos com uma enxurrada de perguntas, que devem ter respostas de qualidade e exemplos. Embora se possa justificar a falta de tempo, bom será reforçar a importância de ser modelo para os filhos e de poder dedicar-lhes tempo em qualidade e quantidade, porque esse tempo em quantidade e qualidade deixa marcas profundas, dá autonomia, inspira confiança, molda padrões, estabelece regras, forma amigos. Por isso, seja justo consigo e com seu filho, deixe que assimile da sua conduta e não deixe esse privilégio para outros. “Ensine bondade demonstrando bondade, as boas maneiras, praticando-as, a meiguice, sendo meigo, a honestidade e a veracidade, exemplificando-as”.

E para se inspirar, que tal aprender com exemplos como o de Vera. Quando lhe nasceu o primeiro filho foi-lhe diagnosticado autismo e apesar de ser a responsável de metade das lojas de uma multinacional no nosso país, uma situação invejável, abandonou a empresa para se devotar unicamente a ele. Foram anos de dedicação sem limites, lendo, informando-se, acompanhando-o a todos os lados. Dez anos depois ela e o marido decidiram ter outro filho. E veio então novo rapaz … autista. Passaram a ter dois filhos com autismos distintos e personalidades às avessas, a ser seguidos por terapeutas com tratamentos diferenciados. Mas, como a magia ou os milagres às vezes acontecem, conseguiram agilizar o relacionamento entre os dois. E Vera continua dedicada de corpo e alma aos seus amores que, apesar das dificuldades, a fazem sentir muito feliz. 

Por cá existem mais casais com dois filhos autistas e são-lhes de uma dedicação extrema! E não posso deixar de lembrar a Daniela que optou após a nascença por dar o seu tempo por completo ao filho, também ele autista, numa dedicação que deveria fazer corar de vergonha os pais comuns de crianças comuns, que praticam o extremo oposto …    

Já Marisa, recém-casada e a viver no rés do chão da casa dos sogros, ao saber que ia ter 3 filhos de uma “assentada”, chorou, mas mais chorou ao saber que um deles tinha paralisia cerebral e poderia não chegar a andar, falar, respirar, enfim, a viver. Deixou o emprego que tinha e assumiu o de Mãe a tempo inteiro e o compromisso de que a filha um dia iria andar. E a sua vida tornou-se numa roda-viva entre consultas médicas e tratamentos diversos. Contrariando a previsão de alguns clínicos, Susi foi equilibrando o corpo, começou a gatinhar, apresentou melhoras significativas. Com a posição dos pés em pontas a impedir de andar, foi sugerida uma cirurgia no México aos três anos de idade e lá foi, com a total solidariedade económica e emocional da família. E Susi já passou a dar alguns passos sem apoio e foi melhorando, até que um cirurgião russo lhe recomendou nova cirurgia em Madrid, aos seis anos, renovando a esperança. Criou uma rifa para fazer dinheiro e uma amiga desencadeou uma angariação de fundos, que lhe permitiu levar a filha a ser operada em Madrid com sucesso e entrar num processo de recuperação com tratamentos, terapias e duas novas cirurgias, que lhe permitiram tornar-se autónoma e estar quase a concluir o secundário.

E cresceu como pessoa e mulher, tomando consciência do que é verdadeiramente importante nesta vida, do que tem significado. 

Queixa-se da vida? Não, nem pensar. Pensa até que toda a gente devia passar por uma provação como a sua, para poder crescer e encontrar um objetivo digno para viver.      

Daquilo que para a maioria das pessoas seria uma cruz, e para ela tem sido bem pesada, ela fez dela a sua redenção, a sua bênção, o significado para a sua presença aqui. E diz, com um sorriso nos lábios: “Se Deus me deu de uma vez três filhos para tomar conta, tendo um deles problemas de saúde tão graves, por alguma razão foi. Porque ELE sabe o que faz.”  

Há dias assisti à celebração de uma missa e, no banco à minha frente, estava uma mãe relativamente jovem acompanhada por uma menina de 8 a 10 anos, com sinais duma doença cromossômica. Do início ao fim aquela mãe deu uma lição de amor e dedicação à sua filha como nunca vi. Sempre de sorriso no rosto, irradiava um brilho nos olhos de alegria e felicidade pela preciosidade que tinha a seu lado, fazendo-a seguir as diversas fases da celebração. Em momento algum deixou de dar atenção à sua filha “especial” e sorrir, cobrindo-a de carinho numa lição de entrega e amor, sem olhar à doença e suas limitações. 

Como a “cereja em cima do bolo”, o padre celebrante na homilia, referindo-se à leitura do evangelho, disse que “Jesus deseja que cada um aceite e carregue a sua cruz, pesada ou leve, boa ou má, com alegrias e tristezas, sem revolta ou mágoa. E ao ver aquela mãe abraçada à filha “especial”, numa imagem de felicidade, não pude deixar de pensar que Jesus a terá enviado como o exemplo acabado e perfeito de “como todos nós deveríamos carregar a cruz que nos tocar”, com razões dobradas para quem tem filhos sem doenças ou outras limitações em que a “cruz será bem mais leve e mais fácil de carregar” … 

Para estas mulheres e mães, a Teresa enviou-me a sua definição de “Mãe”: “Termo usado para designar um coração capaz de amar infinitamente. É sentir por dois, sorrir por dois, sofrer por dois, é dar o melhor de si duas vezes. É aquela que cura com um abraço e que sara a ferida com um beijo. É aquela que dá à luz AMOR.”

Nada substitui o tempo que se lhes dá! – 1

Diz-se que a maioria dos portugueses não tem dinheiro para ter uma vida digna, nem tempo para viver. Ora, se não tem tempo para viver, como tem tempo para ter filhos? Não, não falo no “tempo para fazer filhos”, isso é fácil e até é gostoso. Quem não gosta? Falo no tempo que é necessário para se lhes dar e dedicar. Quase sempre, tem-se filhos para outros criar, pois ainda pequeninos são entregues aos cuidados de familiares, quando há essa sorte, ou de desconhecidos se não se tem outra opção, numa ginástica operacional e orçamental nada fácil. Mas é triste saber que não seremos nós a ouvir a primeira palavra do nosso filho, nem a vê-lo dar os primeiros passos e a estar lá para o confortar na primeira queda. E ao conciliar a vida familiar com a profissional, alguém fica a perder e o elo mais fraco é sempre a criança. Tentamos encontrar justificações por não sermos nós a tomar conta deles, mas são razões económicas, em regra, pois necessitamos de dinheiro para comprar o que precisamos … e até do que não precisamos! E como não temos tempo porque, alegadamente, trabalhamos tempo demais, então que disponibilidade teremos para dar tempo aos filhos? 

A verdade é que (quase) toda a gente diz não ter tempo para eles porque tem (quase) sempre outras prioridades, que muitas vezes não passam de meras desculpas. Ora, se não se lhes dá tempo, não é de espantar que se recorra a todas as estratégias e mais uma para distrair e entreter as crianças, “comprando-se-lhes” o tempo ao dar-se tudo o que pedem sem questionar, com consequências trágicas na educação e na formação desses futuros adultos. E o smartphone é o substituto perfeito para fazer o papel de pai e mãe – o pai vê o futebol na televisão quando o filho lhe diz: “Pai, vamos brincar”? E o pai estende o braço para lhe entregar o smartphone enquanto diz: “Agora não, joga ou vê um vídeo”! É assim que a maioria dos filhos hoje tem tudo, só não tem aquilo que mais deseja: o tempo e a atenção dos pais! Mas podem dormir descansados pois a fatura de não se ter tempo chegará anos mais tarde, quando forem eles a não ter tempo para conceder aos pais, devolvendo-lhe em dobro aquilo que deles receberam …

Robert Keeshan, alertou para as consequências dessa falta de tempo, contando: “Uma menina, de dedo na boca e boneca nas mãos, aguarda impaciente a chegada dos pais. Quer contar uma coisa que aconteceu. Na hora, o pai chega. Mas ele, arrasado pelo stress do trabalho, muitas vezes diz à menina: “Agora não, estou ocupado”, “estou cansado” e “vai ver televisão”. Mas, se não é agora, é quando? “Mais tarde”. “Amanhã”. Mas esse “mais tarde” e esse “amanhã”, raramente chegam …

Passam-se anos, a menina cresce. Dão-lhe brinquedos, um telemóvel, roupas de marca, mas não lhe dão o que ela mais quer: algum do seu tempo. Agora tem catorze anos seus olhos estão vidrados e sentem que está envolvida nalguma coisa. “Querida, o que se passa? Fala comigo”! É tarde demais. O amor já passou por ali e foi-se … A criança que não encontra amor nem apoio quando mais precisa, tende a ir procurá-lo na adolescência em outros jovens, para substituir essa carência. E pode ser desastroso. Nessa altura, palavras, conselhos ou explicações, nada mais significam e falar de amor soa a falso, porque já não existe mais cumplicidade nem confiança na relação. Robert conclui: “Quando nós dizemos a um filho: “Agora não”, “mais tarde”, “vai ver TV” ou “não faça tantas perguntas”; quando deixamos de lhe dar aquilo que ele quer de nós, nosso tempo; quando não lhe damos atenção; não é que não nos importemos, mas só estamos demasiado ocupados para o atender com algo que dizemos ser importante e é só uma questão de prioridades”. Porque os pais são os grandes responsáveis para ensinar os filhos a reconhecer, controlar, ter empatia e lidar com os sentimentos que os acompanharão por toda a vida, ainda que algumas aptidões sejam aperfeiçoadas com os amigos ao longo da infância. E a falta de tempo não traz consequências só para a criança/adolescente, mas também para os pais que não desfrutam da companhia deles ao longo do seu crescimento. 

Felizmente, tem vindo a aumentar o número de pais que colocam os filhos como primeira prioridade, sobretudo na infância e adolescência, a altura mais crítica na sua formação, arranjando tempo para com eles estudar, explorar, brincar, descobrir, inventar e fazer todo o tipo de atividades, estabelecendo-lhes regras e criando uma cumplicidade que irá certamente durar para sempre e ficarão como boas recordações na sua memória. E, é verdade, são muito mais do que imaginamos. Ainda hoje encontrei e falei com dois Pedros, dois pais de crianças pequenas, perfeitamente sensibilizados para isto. Um demitiu-se do emprego que tinha no Porto, muito bem remunerado, a partir do momento em que foi pai, tendo vindo trabalhar para perto de casa apesar do salário ser inferior. Recuperou as cerca de três horas diárias de viagem que lhe são úteis para se dedicar ao filho o que “tem sido excecional”. O outro, com dois rapazes, reduziu o horário de trabalho para estar com eles na fase crucial, “dando-lhes tanto tempo a eles como o meu pai me deu a mim e pela importância que isso teve para ser a pessoa que hoje sou”. É curioso que esta decisão tenha sido muito criticada pelos colegas de trabalho, ao ponto de comentarem que “ele está a perder tempo a mais com os filhos”. 

As crianças precisam de se sentir amadas e queridas e de ver as suas necessidades atendidas. Precisam de tempo com os pais para os ver e observar enquanto exemplos e modelos. Precisam de tempo dos pais para poderem aprender, exercitar a dúvida, debate, a troca de ideias e de sentimentos e a argumentação. Mas, mais do que quantidade, é bem preciso “tempo de qualidade”. Pais eficientes são os que chegam a casa, depois dum dia de ausência, com saudades, e largam tudo para abraçar os filhos, brincar com eles e fazê-los sentir que são amados, antes de ver os e-mails, arrumar as compras ou ver televisão. Aí, sim, os filhos estão em primeiro lugar …