Não queremos mesmo aprender…

Vivo numa indecisão, aquele estado emocional de aflição em que não consigo escolher uma das opções à minha escolha. E esta indecisão manifesta-se quando sabemos muito bem aquilo que queremos mas achamos que devemos querer outra coisa.

Nem sempre sabemos o caminho certo a escolher mas, estou consciente que, se ficarmos na indecisão, não chegaremos a lugar algum. Aliás, quem vive na indecisão acaba por ser atropelado. Ora, como não quero correr esse risco, vou ter mesmo de tomar uma decisão, ainda que errada, pois é preferível a não tomar nenhuma.

Mas, em que é que estou indeciso? Pois é, até já me esquecia de dizer qual é o meu problema. Não devia falar dele em voz alta mas, como não tenho ninguém por perto e não corro o risco de que me tenham colocado escutas, vamos a isto.

Tenho nos anexos de minha casa um armário velho cheio de massa, pois julgo ser o lugar mais seguro para a guardar. Que massa? Carcanhol, papel, aquilo a que os intelectuais chamam dinheiro. E são milhões e milhões ali amontoados, não importando como o ganhei (ou como foi parar ao armário). E nem me perguntem… Só que, como o armário está velho, desconchavado e não oferece nenhuma segurança (o mesmo que acontece com os bancos e o país), estou com o tal problema da indecisão sobre o que fazer com tanta nota.

Pensei usar o dinheiro para lançar uma OPA sobre a PT (antes eu só conhecia a opa que levava na “cruzada” quando ia aos funerais ou nas procissões mas, de uns anos a esta parte, passei a ouvir falar numas maiores, que dão para “cobrir” empresas). E nem sei bem como. Por causa dessa confusão, não vou por aí.

Pus a hipótese de comprar a TAP para viajar à borla, mas confesso que não gosto de ver o meu dinheiro a voar…

Considerei ainda que a aplicação de umas centenas de milhões de euros na Rio Forte do grupo BES me dava importância e aproximaria da família dita “dona disto tudo”, com a benesse de ter direito a uma estadia no Resort de luxo que ali foi projetado e que talvez seja concluído antes de eu “bater a bota”. Mas não encontrei por aí o tal Dr. Salgado para me convencer…

De fora ficou a ideia peregrina de comprar um visto dourado pois já vivo em Portugal, a não ser que isso me viesse dar imunidade perante a lei (como aos deputados), pois está fora de questão querer um visto desses para ir viver na… China.

Também pensei em mandar o meu motorista particular levar umas malas de dinheiro para Paris durante meses seguidos, podendo assim comprar um apartamento de luxo junto ao Rio Sena com vista para a Torre Eiffel (pela qual tenho uma paixão assolapada) e viver exilado comendo “a la carte”. Mas falo mal o francês e ia parecer mais um “pato bravo” do que um turista intelectual…

Houve outras hipóteses que analisei com muita profundidade, mas acabei por tomar a tal decisão, para tirar os milhões daquele velho armário: Aplicá-los numa empresa financeira que, ao que me dizem, tem atividade intensa no Vale do Sousa, especialmente nos concelhos de Paredes e Penafiel, e que paga juros de 300% ao ano. Pois é, 300% ao ano, ouviram bem??? Ao fim de doze meses triplico a massa, fora os prémios que me serão atribuídos por ser um investidor especial… E esta? Ah, e trata-se de uma empresa legal… Ainda quero ver a cara de inveja com que ficarão os meus “amigos”, sempre que for depositar a massa no banco ao fim do mês… Perdão, eu não quis dizer “depositar” mas sim “guardar” na caixa forte… E sabem porquê?

Bom, não tenho armário velho nenhum e muito menos os tais milhões e, se os tivesse, não cairia na patetice de os ir aplicar nessa tal empresa de que tanto se fala na região.

Ao que parece, as pessoas não aprendem nada ou não querem mesmo aprender com os erros, quando se trata de dinheiro, de ambição desmedida, de ganância. Ficam bloqueadas pela ideia do dinheiro fácil. Foi assim com o caso da D. Branca, talvez esquecido porque já ocorreu há muitos anos. Mas há casos recentes que deveriam deixar-nos avisados, como o que aconteceu na ilha da Madeira com a Telexfree que, de um momento para o outro, encerrou portas e deixou imensos madeirenses “a arder”. E foram muitos os milhões de euros que voaram…

E o que aconteceu aqui mesmo no Vale do Sousa recentemente, em que a intervenção da polícia judiciária acabou com um aparente esquema de pirâmide no qual “desapareceram” muitos outros milhões de euros, deixando sequelas graves em numerosas famílias, nalguns casos muito preocupantes? Também se distribuíam juros incríveis, que faziam empalidecer as instituições legais, bancárias e outras…

Mas nem assim, nem com estes (maus) exemplos tão recentes e atuais, se “arrepia caminho”.

Dizem-me que essa nova empresa já arrecadou na região uns largos milhões e que o “negócio” segue de “vento em popa”, com os promotores e angariadores a serem premiados por bom desempenho… É que o “negócio dá para tudo”.

Por isso mesmo, cá para mim o slogan “o que rende, é ir ao Continente” está ultrapassado. Afinal, o que rende é aplicar o dinheiro na tal empresa… Mas, não sei porquê, não consigo esquecer outra frase publicitária: “Eu é que não sou parvo”…

Como diz o meu amigo Flávio, “tudo o que é bom na vida ou é ilegal, ou é imoral, ou engorda, ou engravida”…

Neste caso, não engravida, mas que vai deixar muita gente a chorar no “funeral” dos seus milhões de euros, vai… É só uma questão de tempo… Esperemos para ver…

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