A defesa do meio ambiente começa em cada um de nós …

A pomba-migratória, no seu auge, foi possivelmente a ave mais abundante do planeta. Os seus bandos escureciam os céus durante as migrações. Há relatos de um bando tão grande, que demorou três dias a passar sobre Louisville (Estados Unidos), voando a cerca de 60 quilómetros por hora. Outro bando avistado sobre Ontário (Canadá), tinha uma extensão de cerca de 500 quilómetros. Apesar de tudo isso, a pomba-migratória foi extinta pela caça descontrolada e pela perda e degradação do seu habitat. O último bando, com cerca de 250 mil aves, foi exterminado num único dia de caçada em 1896, tendo o último exemplar morrido num zoológico em 1914. Todos julgavam impossível o desaparecimento desta enorme população existente até então, tendo-se tornado num exemplo muito negativo da influência destrutiva do homem sobre o meio ambiente. Para recordação, existe uma pomba-migratória no Museu Real de Ontário …, empalhada!

Este caso, só por si terrivelmente dramático, é uma gota no oceano de tudo o que o ser humano tem feito de mau à “casa onde habita”, isto é, ao planeta Terra. À nossa casa. 

Estamos (quase) todos de acordo em como o homem (e mulher) tem o dever solene de proteger o meio ambiente para as futuras gerações e a responsabilidade de salvaguardar a herança da vida selvagem através de políticas públicas adequadas. Os recursos naturais são um património coletivo e aqueles que não são renováveis, devem ser tratados por forma a preservá-los para as gerações vindouras. Mas não estão a ser.

Além dos desafios ambientais bem conhecidos como a poluição, o uso intensivo de produtos tóxicos na agricultura, a destruição das florestas, a caça e pescas excessivas e o comércio ilegal de espécies selvagens, as preocupações centram-se ainda na urbanização sem controle, a manipulação genética, falta de água potável, aquecimento global, o impacto das guerras e de muitos outros. Os estragos feitos no último século são imensos, muitos deles tidos por irreversíveis, apesar dos avisos constantes de cientistas e organizações diversas. Estamos num momento crítico na história da Terra e a humanidade tem de escolher o seu futuro, em conjunto, porque é comum a todos. Os políticos prometem salvar o meio ambiente, mas a economia faz com que depressa se esqueçam das promessas e “quem vier a seguir que feche a porta”. E lá vai o meio ambiente “pró galheiro”. Porque há coisas que em política não dão votos. As organizações ambientalistas fazem o que podem com os recursos limitados que têm, pois lutam contra grandes poluidores, quase sempre indivíduos com interesses empresariais e políticos e com grande poder económico, que usam para impedir a implementação das mudanças socioambientais  defendidas pelos ambientalistas tais como os direitos dos animais, preservação dos recursos naturais, consumo consciente, luta contra as mudanças climáticas, fim dos combustíveis fósseis, poluição da água e do solo. Sobra a luta entusiástica dos jovens, quase sempre estudantes, quase sempre inconsequente, até porque a maioria apregoa o que não pratica e faz da velha máxima a sua luta: “Olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço” como: “Abaixo a exploração do lítio”, mas usam o smartphone com bateria de lítio cuja origem já não os preocupa; “luta pela defesa dos recursos hídricos de água potável”, mas praticam o desperdício de água no dia a dia como se não houvesse amanhã, seja a lavar as mãos, tomar banho ou dar banho ao carro; “luta pela defesa dos recursos naturais”, mas são os primeiros a comprar, comprar e a tornarem-se consumistas desses mesmos recursos; “fim dos combustíveis fosseis”, mas consomem-nos sem conta, peso nem medida; “poupança de energia”, mas são quase sempre os maiores consumidores lá de casa. 

Pessoalmente, não acredito que a defesa do meio ambiente seja bem-sucedida, porque (quase) todos nós somos egoístas ao pensar que quem se deve privar de consumir, gastar, desmatar, poluir, caçar e tudo mais, são os outros. Porque o nosso contributo não é importante e por isso não conta. Nós podemos fazer tudo e mais alguma coisa, só os outros, a começar pelos que “estão lá em cima”, é que têm de fazer tudo o que for preciso para travar a destruição do planeta. E com esta mentalidade, não vamos lá, a não ser à força de chicote. 

Seremos capazes de produzir só os bens, tecnologias e serviços que sejam realmente necessários e sem que o lucro seja o objetivo e com o uso mínimo de recursos naturais? De fazer a reciclagem, se já nem aproveitamos a sério, roupas, calçado e outros artigos usados? A causa ambiental tem que ser uma luta de todos e não resulta delegar nos governos e instituições a mudança geral de hábitos e valores de toda a sociedade.

Não espero voltar a ver novamente todo o tipo de aves com quem vivi na minha infância, das quais uma boa parte já desapareceram desta região há muito. Não espero voltar a poder beber água diretamente do rio Sousa sem receio de poder ser intoxicado. Não espero voltar a ver aproveitado até à última migalha qualquer pedaço de pão, em vez de descartado impunemente. Tal como não espero voltar a colher uma maçã da árvore e comê-la com casca e tudo, sem receio de ter resíduos do que quer que seja.

É no meio ambiente que estão os recursos naturais necessários à vida, tanto dos seres humanos como de outros animais. Sem eles, como o sol, a água e os alimentos, não sobreviveríamos e não há tecnologia ou inovação que os substitua. Se não tivermos consciência de que os nossos atos se refletem direta e significativamente no ambiente em que vivemos, em breve não teremos mais um planeta para chamar de Lar, um legado que temos a obrigação de deixar aos nossos descendentes. Tenho sérias dúvidas de que sejamos capazes de deixar de ser egoístas, de pensar só no hoje, só em nós. Os que aí vêm, não nos irão perdoar …