O meu Ego quer ter um “exclusivo” …

Como vivemos num mundo onde vinga a mania de possuir exclusivos, sejam eles modelos de roupas, joias, motas, automóveis, telemóveis, relógios, casas ou o que quer que se destaque pelo simples facto de ser único, raro ou caro, mania essa associada às estrelas e aos novos-ricos, o meu Ego está a querer exigir de mim que arranje uma coisa que ninguém ou pouca gente tem, para provocar a inveja do costume. Depois de matutar no assunto e para não ter de aturar a minha mente e a minha vaidade, vou adotar um animal que não seja habitual, para poder chamar a atenção e pôr os outros a roerem-se da tal inveja. 

Está fora de questão adotar um gato, pois tanto é capaz de ronronar à minha volta como de usar as suas unhas aguçadas para me marcar a parte do corpo que lhe estiver mais “à pata”, além de não se tratar de algo “exclusivo”. Até agora tenho entregado a confiança totalmente aos cães que, diga-se desde já e em bom abono da verdade, nunca me traíram. Mas também não têm nada de “exclusivo”. Pensei na girafa, mas como dorme menos de duas horas por dia pode-me tirar o sono à noite, além de me ser muito difícil olhá-la “olhos nos olhos”, porque o meu pescoço, bem mais pequeno que o dela, já não me deixa olhar para cima. Também estudei a possibilidade de ter um papa-formigas, mas, ao que parece, adora dormir dentro da máquina de lavar e tem um cheiro “intenso”, podendo sobrar para mim cá em casa: “Andas a cheirar a chulé”! O tigre também está fora de questão pois nunca vou competir com os monges que o põem a comer à mesa e até metem a cabeça na boca dele. Cheguei a pensar numa víbora, mas os amigos aconselharam-me a esquecê-la. Tinham sido mordidos por “víboras” de duas pernas e foi mau. Ora, como é preciso ser diferente e desafiar a tradição, vou abraçar, não um elefante pois nunca tive braços que cheguem, mas o desafio de adotar um, pois são muitas as vantagens:

Não ladra, não morde e nem mia. Não arranha nem sequer anda pelos telhados quando chega o mês de Janeiro, a acordar o bairro todo …

Muitas vezes perde-se um cão ou um gato, mas um elefante não se perde, nem é coisa que se roube. Claro que não canta tão bem como um canário ou um grilo, mas tem a sua beleza natural e os seus sons harmoniosos, sem ter de andar enfeitado com penas ou vestir fatos italianos. E compreende-se. O meu elefante, a que eu chamarei Fifi, não se mete em política, seja ela de esquerda ou de direita. Nem é extremista. Evita sempre os jantares de homenagem, as cunhas, a acumulação de lugares. Nunca aquece nenhum. E não é corrupto, até porque não precisa de “luvas”. Fifi nunca vai engraxar, trair ou virar a casaca. E sei que seria mais fácil deixar-se cavalgar por um operário da construção civil do que por um artista da bola ou da canção, por não gostar de aparecer nas revistas de fofocas.

Ao contrário das moscas que achamos nojentas, o elefante nunca nos vai cair na sopa nem conspurcar o pastel de nata. Também não entra a voar pela janela do quarto em noites de verão a zumbir e picar qual mosquito, como não tem nada a ver com as pulgas pois não provoca comichão nas costas ou em qualquer outra região mais íntima do corpo. Não corremos o risco de lhe pisar a pata sem querer, muito menos de tropeçar nele e deitá-lo ao chão. Dizem-me os amigos que é uma estupidez e é caro ter um elefante, porque bebe 100 lts de água e come 200 kgs de alimento por dia. Ora, a água do meu poço é à borla e o alimento também é à borla quando o soltar nas muitas matas que precisam de ser limpas para evitar os incêndios. Se bem programado, o “bichinho” ainda me vai ser uma rica fonte de rendimento. Aliás, quando o fogo chega perto das casas, há alguma máquina que o consiga bater a arrancar árvores para preparar uma “barreira de proteção”?

Já sei à partida que os elefantes andam sempre de trombas, mas com essa posso eu bem. É por isso que os elefantes não gostam de praticar boxe, pois têm medo … que lhes vão à tromba. Mas, pelo contrário, há muitas pessoas que mesmo sem ter, andam com ela frequentemente e esses, “incomodam”! Já a tromba do bichinho não é sinal de falta de empatia, pois usa-a para nos acarinhar, ajudar a subir para o seu dorso ou para nos pregar uma partida embora o elefante nunca ria às gargalhadas. Ele disfarça e ri silenciosamente, com a subtileza de um cavalheiro, aguentando todas as graças frívolas sem mexer um único músculo. Passa sempre indiferente perante os que o tentam insultar com piropos ordinários e provocantes como estes: “Vê lá onde pões essas patorras” ou “Mandas cá uma tromba!”. 

Não ergue a pata junto de qualquer árvore, candeeiro ou pneu de viatura para fazer o chichi do costume e não precisa de coleira, açaime ou trela. Além disso, é o único animal que toma banho de “chuveiro” sem a nossa ajuda ou nos pode dar uma “chuveirada”. E se ele um dia cair no Mar Vermelho, já sei como o vou tirar: “Molhado”! O principal defeito que encontro no elefante é de não ser portátil …

Com um elefante não há meios termos, meias doses, meias medidas. Tem “memória de elefante”, tal como as mulheres, pois são os únicos seres vivos que não esquecem uma ofensa. 

Sobre os elefantes há um mistério que parece ter sido desvendado por dois homens sentados à sombra de uma azinheira quando passa um elefante a voar. Os dois homens olham com cara de espanto pelo sucedido, mas não dizem nada. Passado algum tempo passou outro a voar e continuaram a passar até ao final da tarde. Então, disse um ao outro: “Ó compadre, só há uma explicação para isto” … E pergunta o segundo com alguma curiosidade: “Diga lá então, qual é”? Responde de pronto o primeiro compadre: “O ninho deve ser aqui perto”!!! 

Talvez tenha um problema quando sair à rua com o Fifi e andar pelo centro da vila. A sua fama vai persegui-lo e será assediado pelos fãs a pedir-lhe um autógrafo. Mas a forma de passar despercebido sem ser reconhecido aqui no centro de Lousada é … de óculos escuros e andar descontraído. E resulta? Para provar esta teoria pergunto: Já alguém viu um elefante a passear no centro de Lousada? Não? Então, é sinal de que funciona … 

Aviso: Desde já, aceitam-se inscrições para limpeza de matas, banhos de chuveiro animal, sessões de autógrafos e selfies. Aconselho a não tentarem “ir-lhe à tromba” e a quem “andar de trombas” não bater de frente com ele porque será uma “trombada” que pode correr mal. E, para quem sofre da coluna com hérnia discal ou “bicos de papagaio”, é melhor não tentar levantá-lo …

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