Um hino à juventude e à alegria …

No momento em que o avião da TAP “Gonçalo Velho Cabral” prepara a sua partida do aeroporto Figo Maduro para levar de volta a Roma o Papa Francisco, penso cá para mim que, se me fosse possível soltar o Génio da Lâmpada de Aladino e este me concedesse a realização dum desejo, escolhia voltar a ser jovem durante um ano, tempo suficiente para me permitir participar na Jornada Mundial da Juventude 2023 que acaba de terminar, integrando o grupo de mais de 25.000 jovens voluntários, nacionais e internacionais, que ajudaram a pôr de pé e organizar o maior evento algum dia realizado em Portugal. Estaria lá na condição de peregrino à procura de um novo alento para a minha espiritualidade, sob a égide do Papa Francisco, o primeiro jesuíta a ocupar o lugar supremo da Igreja Católica, um missionário militante que faz dos mais desfavorecidos a sua bandeira, numa Igreja onde ninguém é excluído, mas também como jovem nesse encontro único de jovens de todo o mundo.  

Hoje invejo os jovens de agora por esta enorme oportunidade que a minha geração nunca teve, nem de perto nem de longe, de encontrar outros seres de todos os cantos do mundo no mesmo local, unidos no mesmo espírito de confraternização, para celebrar e aprender sobre a fé católica, construir pontes de amizade e esperança entre culturas e povos de continentes diferentes, mas imbuídos de espírito comum na procura de um mundo melhor.

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) foi instituída pelo Papa João Paulo II em 1985, ele que dizia: “A esperança de um mundo melhor está numa juventude sadia, com valores, responsável e, sobre tudo, voltada para Deus e para o próximo”. A primeira Jornada aconteceu em Roma e a realizada em Manila, nas Filipinas, foi a que reuniu o maior número de peregrinos com cerca de 4 milhões. Foi no Panamá que o Papa Francisco anunciou Lisboa como a cidade escolhida para a realização da Jornada que acaba de findar. Nunca houve em Portugal nenhum acontecimento desta envergadura e é certo que não voltará a acontecer em terras lusas durante o resto da minha “estadia” cá por este mundo.

A JMJ de maior visibilidade foi feita nas grandes concentrações dos peregrinos, em Lisboa, com a presença do Papa Francisco, o grande líder e mobilizador desta enorme multidão de jovens vindos de mais de cento e cinquenta países, do Norte ao Sul, do Oriente ao Ocidente, para quem o primeiro objetivo era ver, e se possível tocar as vestes do Papa Francisco, até porque ele é hoje o único líder global com uma grande dimensão ética e moral. O seu pontificado é marcado pela luta por uma vida melhor para o outro, o próximo e o distante, a luta pelas pessoas e as suas vidas nas suas violências, injustiças, fragilidades e incapacidades de assumir o seu destino e os seus sonhos, na missão de dar mais esperança, justiça e mais vida a quem vive no desespero. Por isso ele fala dos migrantes que arriscam a vida no “mar da morte”, por uma vida. E fala de exploração que mata. E luta pela paz, indo a sítios como o Sudão do Sul onde chegou ao ponto de beijar os pés dos “fazedores da guerra”, em nome da paz. E fala da urgência de proteger o planeta, de combater as desigualdades, da diversidade sexual e das mulheres na Igreja. Como dizia Miguel Romão, “a grande virtude de Francisco não é ser Papa, é ser um homem, que adora futebol, se irrita, usa o humor sem medo e dispensa os véus de santidade. Mesmo quem não tenha fé, quem não goste da Igreja, sente-se tocado por este homem que vive forçosamente fora dos homens, mas que quer ser homem e não um semideus”. Mas esta Jornada também foi os muitos eventos realizados pelas dioceses, preparatórios desta semana com o Papa em Lisboa. E, mais ainda, o acolhimento de milhares e milhares de peregrinos vindos dos quatro cantos do mundo no seio de outros muitos milhares de famílias no país, de norte a sul, totalmente solidárias com esta iniciativa e numa manifestação extraordinária de hospitalidade e partilha tão única na nossa história, que constitui, só por si, um legado para o futuro dos que acolheram e de quem foi acolhido, para o enriquecimento de uns e outros, uma lição de vida, integração e solidariedade que ficará na memória de cada um dos milhares e milhares de intervenientes e na nossa história coletiva como algo irrepetível. Para além de registar a presença em alguns momentos de elementos do grupo numeroso de jovens peregrinos que foram acolhidos pelas famílias de Lousada antes do começo da JMJ, também tive a felicidade de poder assistir ao concerto na Capela do Senhor dos Aflitos de um coro integrante da comunidade italiana acolhida, como um agradecimento pela forma extraordinária como foram recebidos e tratados. Confesso que me emocionei várias vezes.                                                                                       As imagens da Jornada Mundial da Juventude que nos chegaram pela televisão são impressionantes, não só pelo número de peregrinos que se deslocaram a Lisboa, mas mais ainda pelo hino à alegria que sai de forma espontânea de todos eles, quase sempre integrados em grupos que fazem questão de identificar as suas origens pelas bandeiras que carregam orgulhosamente, em comunhão e convívios interculturais extraordinários. O entusiasmo contagiante de toda aquela juventude foi desafiado pelo Papa Francisco ao dizer-lhes “não tenham medo”. Esta Jornada foi, seguramente, um desafio à nossa capacidade para organizar um evento de tão grande dimensão, seguramente o maior de todos os tempos que já tivemos em Portugal. E o grande retorno que o país teve e terá em termos mediáticos, de projeção do país em todo o mundo e mesmo em termos económicos, não só no imediato, mas em especial no futuro, transformará os montantes gastos neste evento num excelente investimento para o país, talvez mais do que o foram a Expo 98 e o Euro 2004.                                                                                                            Das palavras-chave desta Jornada Mundial da Juventude, um hino à juventude e à alegria, sobram-me, sobre tudo, as palavras repetidas várias vezes pelo Papa Francisco aos jovens “não tenham medo” e a reafirmação de que “a Igreja é para TODOS”.

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