Há gente que, perante o vislumbre de uma oportunidade ainda que se possa dizer absurda, a agarra com as duas mãos. Aliás, é costume dizer-se que “o difícil faz-se e o impossível, embora com um pouco mais de dificuldade, também se faz”. E a prová-lo está esta história mirabolante que mais parece uma invenção fantástica do que uma história passada na Inglaterra, um país tido por bem organizado. Oh se é: “No exterior do England’s Bristol Zoo, dos Jardins Zoológicos mais velhos do mundo, existe um parque de estacionamento próximo com capacidade para 150 automóveis e 8 autocarros. Ora, durante 25 anos a cobrança dos estacionamentos foi efetuada por um cobrador só, mas muito simpático. As taxas, pagas em libras, correspondiam a 1,40 euros para os automóveis e a 7,00 euros para os autocarros.
Um dia, após 25 anos consecutivos e regulares sem nenhuma falta ao trabalho, o cobrador simplesmente não apareceu. Perante a ausência, a administração daquele Jardim Zoológico telefonou para a Câmara Municipal e solicitou que enviassem outro cobrador. Aí, a Câmara fez uma pequena pesquisa e respondeu que o estacionamento do Zoo era da responsabilidade do próprio Zoo, não dela. Então, a administração do Zoo reafirmou dizendo que aquele cobrador era um empregado da Câmara. E em resposta a Câmara escreveu-lhes que o cobrador desse estacionamento jamais fizera parte dos seus quadros e que nunca lhe tinham pagado qualquer ordenado …
Enquanto decorria esta troca de comunicações entre a Câmara e os responsáveis do Zoológico, descansando na sua bonita residência num lugar qualquer da costa do sul de Espanha, existia um homem que, ao que tudo indica, instalou no parque de estacionamento do Zoo uma máquina de cobrança por sua conta e então, com toda a naturalidade, começou a aparecer todos os dias, fazendo a cobrança e guardando as taxas de estacionamento, estimadas em 560 euros por dia … durante 25 anos!!! Considerando que ele fazia a cobrança todos os dias da semana, deve ter arrecadado algo como um pouco mais de 5 milhões de euros, isentos de impostos ou taxas. E o interessante de toda a história é que ninguém sabe o seu nome, nem quem é e nem sequer onde vive” …!!!
Se a história se tivesse passado num país africano, provavelmente os leitores teriam um pensamento comum: “Só em África”. Mas, não, isto passou-se no nosso Ocidente civilizado. Eu diria: “Chico-esperto” …
Da mesma forma, perante uma situação inesperada, há quem tenha boa capacidade de “desenrascanço” sem avaliar as consequências do meio usado para a resolver. E lembrei-me da história que aconteceu com um médico amigo aqui mesmo na nossa região e no improviso impensável para resolver uma “situação de urgência”: No tempo em que a saúde pública fazia muita medicina ao domicílio, um médico local, na altura ainda jovem, antes de sair do Centro de Saúde onde trabalhava para fazer a sua ronda de consultas, mandou carimbar as receitas que entendeu necessárias para que os doentes, depois de consultados, não tivessem de lá ir fazê-lo e assim poderem aviá-las diretamente na farmácia. Nesse dia, como tinha um amigo mais velho já reformado sem nada para se ocupar e sabendo que ele gostava de dar uma volta, convidou-o para o acompanhar e também conversarem, o que fez com prazer. Numa das primeiras paragens, enquanto o médico entrou em casa do doente para fazer a consulta, o amigo ficou no carro à espera. Depois de acabada a visita, o médico regressou ao carro e encontrou o seu amigo meio constrangido e com uma novidade para lhe contar: “Doutor, o senhor desculpe, mas já não tem nenhuma receita carimbada”. “Mas o que é que aconteceu já que eu ainda só gastei 2 receitas”, perguntou o médico admirado. “Ó doutor, enquanto foi ver o seu doente o meu intestino deu-me sinal e eu não tive outro remédio senão ir ali atrás daquela árvore fazer o “serviço”. Como o único papel que havia aqui eram precisamente as suas receitas, tive de as gastar todas para conseguir limpar o rabo”. Incrédulo com a forma como as receitas tinham sido “aviadas”, ao médico (e amigo do aflito), não restou outro remédio senão voltar ao Centro de Saúde carimbar mais algumas porque as outras “já haviam sido duplamente carimbadas” e tinham perdido a “validade” para ser aviadas na farmácia” … Ainda hoje vejo o brilho nos olhos do médico sempre que falamos neste episódio caricato e absurdo com o amigo que, em “situação” apertada, soube desenrascar-se e que ele recorda como um acontecimento hilariante. Se há pessoas que numa situação anormal bloqueiam e ficam sem capacidade de reação, há outras que veem logo uma oportunidade ou encontram de imediato uma saída ainda que não seja muito ortodoxa e são capazes de improvisar com um sentido de responsabilidade que deixa muito a desejar, embora consigam resolver os imbróglios que criaram com alguma despreocupação. É o caso do protagonista desta história incrível, ocorrida em terras africanas:
No Zimbabué, o motorista de um autocarro que transportava vinte doentes mentais parou no caminho para tomar uma bebida num bar ilegal. Ao regressar ao autocarro, descobriu que os doentes que era suposto levar de Harare para Beltway, tinham fugido. Não querendo admitir a sua negligência, o condutor foi até à paragem de autocarro mais próxima e ofereceu a todos aqueles que lá se encontravam uma viagem grátis. Assim, com o autocarro cheio, levou-os diretamente ao hospital psiquiátrico para onde devia ter transportado os 20 doentes com problemas mentais, agora fugitivos, informando os médicos logo à chegada que os doentes eram muito instáveis, com tendências para fantasias bizarras.
Esta “cortina de fumo” lançada para encobrir a realidade, levaria a que a verdade só viesse a ser descoberta três dias depois” …