O humor na promoção gastronómica

O bom humor, essa qualidade de fazer com que as pessoas se riam ou fiquem bem-dispostas, sempre foi utilizado como forma de atrair a atenção dos consumidores para determinado produto ou serviço. Com a evolução da propaganda, cada vez mais é usado como isco no mar da pescaria chamada publicidade, tornando-se um forte aliado dos publicitários e marketeiros, para atrair clientes ao contagiar com sensações e prazeres a quem presencia ou ouve algo engraçado. Na prática, é mais uma ferramenta que o marketing usa para conseguir os seus objetivos: vender. E eu sou francamente recetivo sempre que me deparo com algum tipo de publicidade bem-humorada. Lembrei-me desta questão do humor na promoção de restaurantes, bares e outros, porque me disseram que o Restaurante Aleixo, situado bem perto da Estação de Campanhã, no Porto, que eu frequentei durante muitos anos, encerrou recentemente. Na altura era uma casa simples, mas onde serviam uma excelente comida tradicional. O dono, e julgo que fundador, era o senhor Ramiro, um homem conversador e bem-humorado, que fazia questão de também dar alguma graça ao interior do restaurante, identificando as diversas secções com letreiros muito sugestivos. E assim, podia ler-se: 

Sobre o balcão da cozinha – LABORATÓRIO. A identificar a sala de jantar – SALA DE OPERAÇÕES. Já na porta da casa de banho estava a placa – DESTILARIA. E no pequeno espaço onde ele se encontrava quase sempre para receber o valor da refeição: CAIXA DE TORTURA. Ao que parece, os seus descendentes perderam por completo o seu sentido de humor …

Mas os restaurantes proporcionam mais encontros com cartazes que, no mínimo, nos fazem sorrir. Numa das paredes da sala de jantar de um outro restaurante podia ver-se afixada num painel, em destaque, a tabela de preços a cobrar por uma simples resposta ao telefone:

“SE ALGUMA NAMORADA OU ESPOSA TELEFONAR A PERGUNTAR POR SI, NOSSAS TARIFAS SÃO:

     – “Lamento, mas ele acabou de sair – 5 Euros

     – “Creio que está a caminho de casa – 7 Euros

     – “Não, ele não está aqui nem o vi hoje – 9 Euros

     – “Desculpe, mas não conhecemos tal pessoa – 15 Euros”

Devo dizer que, apesar de lá ter comido algumas vezes e nesse tempo não haver telemóveis, nunca tive de escolher uma das respostas para o caso de me telefonarem, muito menos de pagar qualquer tarifa em função das respostas pelas razões invocadas no cartaz …

Como sabemos, em todas as localidades existem locais onde algumas áreas de negócio não vingam, sejam ruas, travessas, praças e mesmo certas avenidas. Era o caso da localização de um certo bar, mas que o proprietário ultrapassou com humor inteligente:

““Bar de frente para o Futuro”. Era o nome desse estabelecimento de bebidas, o que fazia todo o sentido, pois ficava situado precisamente em frente de um … cemitério. O futuro de todos os clientes …

As promoções nos restaurantes também acontecem das formas mais diversas, para tentar captar clientela, normalmente pelo preço como era o caso desta casa simples à entrada de uma povoação onde, sobre a porta de uma casa rústica, podia ler-se: 

“Restaurante Família Barbosa”. E por baixo, faziam-se as respetivas promoções:

     – “Traga a namorada e ganha 5% de desconto.

     – Traga a esposa e ganha 10% de desconto.

     – Traga ambas e a refeição é grátis”.

Ao ler o cartaz, imaginei da (quase) impossibilidade desta promoção nessa altura, se bem que nos dias de hoje já não tenho tanta certeza.  

Quando se usa o humor na propaganda ele vende, porque serve de chave para captar o potencial cliente pois este acaba sorrindo e, com esse sorriso, é desarmado e fica disponível para comprar. O humor subtil é o mais usado e com melhor aceitação pelo público, pois pode resumir-se a provocar um simples sorriso, mas que geralmente é um sinal de simpatia e aceitação do consumidor.

Tenho visto muitas formas de promover a venda de uma ou outra bebida, mas considero muito original este letreiro na proximidade de um café/restaurante:

“Estás com problemas no amor, na faculdade, no trabalho ou com a sogra? Infelizmente não te podemos ajudar a resolver essas coisas, mas podemos ajudar-te a esquecer tudo isso enquanto bebes um litro de cerveja por 4 euros”.

No entanto e ali bem perto, numa luta contra o alcoolismo, uma frase impunha-se, com subtileza, num “aviso à navegação” para que se cuidassem do álcool: “Quando você bebe e conduz, acaba por chegar ao fim primeiro”.

O humor é uma válvula de escape para as angústias do dia a dia. Em tempos difíceis, torna-se quase um serviço de utilidade pública. Por isso, é um excelente instrumento da propaganda. Serve de estímulo para chegar ao consumidor e começar a conversa com ele.

À porta de um restaurante de comida tradicional estava um letreiro: “Na próxima quinta-feira, o principal prato do almoço é uma Feijoada à transmontana, que será servido na sala de jantar. Depois, segue-se o “concerto” …

Frequentemente, vê-se o bom humor de braço dado com gastronomia na promoção desta, fazendo apelo à nossa capacidade de sorrir e ser recetivo ao convite. Mas, na sua mensagem, também nos pode enviar uma lição para a vida em geral, como é o caso deste cartaz pregado sobra a entrada de um restaurante:

“Se a comida, a bebida e o serviço não estiverem ao nível dos teus padrões, por favor, … muda os teus padrões”. 

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