“A vida é hoje. Não deixes para depois”

Sem sequer o imaginar, a jornalista da RTP Sandra Felgueiras já me tramou com uma parte do seu trabalho no último programa “Sexta às 9”. E porquê? Porque andei eu a escrever uma crónica durante esta semana a propósito do uso ou não de máscaras de proteção por toda a gente quando sai à rua a exemplo do que fazem os orientais e ela, ao tratar do mesmo assunto, com outros dados que não aqueles a que eu tenho acesso, retirou-me o “protagonismo que tanta falta me faz para a minha vaidade pessoal e o meu Ego”. Paciência, tenho de arranjar outra conversa para esta crónica semanal, senão a direção do TVS corre comigo sem “direito a indemnização. Agora, o artigo já pecaria por tardio, correndo mesmo o risco de ser acusado de copiar algumas informações que ali deu. 

Não sendo médico nem sequer especialista em questões de saúde, ao ler e ouvir diversas opiniões, estatísticas e dados cronológicos da evolução do novo vírus no mundo e usando o senso comum, nesse esboço defendia o uso de máscara por todos nós sempre que vamos à rua porque, boa ou má, certificada ou de fabrico caseiro, tem de reduzir drasticamente o contágio. Se eu usar e o outro com quem falo usar também, há uma dupla proteção por mais fraco que seja o tecido. Já o tinha lido, mas a jornalista desenvolveu bem a comparação entre a República Checa e Portugal, países com a mesma população. Lá, o primeiro infetado surgiu a um de Março, enquanto aqui apareceu no dia seguinte. E se nas duas primeiras semanas a evolução da doença foi em tudo semelhante nos dois países, a partir do momento em que lá foi decretado o uso obrigatório de máscara, o aumento de mortos e infetados disparou em Portugal enquanto por lá foi subindo lentamente, ao ponto de hoje, com pouco mais de uma semana, a perda de vidas na República Checa ser quatro vezes menos do que em Portugal com esta doença. 

Mas estes dados já vinham da China e outros países orientais onde, até por razões culturais, o uso de máscara é normal nestas e outras situações semelhantes, pois as perdas de vidas por milhão de habitantes são muito inferiores ao que se passa no ocidente, onde teimamos em andar na rua ou às compras sem proteção, como se fôssemos imunes ao vírus. Verdade é que até Trump e Bolsonaro já se converteram à realidade, embora à custa de muitas mortes talvez desnecessárias. Por cá, apesar da mudança do discurso oficial, ainda andamos “a ver no que param as modas” … 

Já que me “mataram” o tema que tinha para esta edição, substituo-o pela morte do “depois” provocada por uma razão qualquer, agora até pelo Covid-19. Todos aqueles que andaram a atirar para “depois” uma viagem, encontro de colegas de curso, reunião de amigos, ida à Festa do Fumeiro, das Fogaceiras, dos Tabuleiros ou qualquer festa emblemática que há muito tempo gostariam de fazer mais longe ou mais perto, mas se foi deixando para o “depois”, agora não sabem quando, como, nem sequer se o vão poder fazer. Isso e muitas outras coisas que teimamos em “postergar”, isto é, deixar para depois. Sobre tal, nada melhor (e mais fácil para mim) do que transcrever um texto de autor anónimo que acho encantador.   

“O tempo não pode ser segurado: a vida é uma tarefa a ser feita e que levamos para casa

Quando vemos, já são 6 horas da tarde

Quando vemos, já é sexta-feira

Quando vemos, já terminou o mês

Quando vemos, já terminou um ano

Quando vemos, já passaram 50 ou 60 anos

Quando vemos, nos damos conta de ter perdido um amigo

Quando vemos, o amor da nossa vida parte e nos damos conta que é  tarde para voltar atrás …

Não pares de fazer alguma coisa que te dá prazer por falta de tempo

Não pares de ter alguém a teu lado ou de ter prazer na solidão

Porque os teus filhos subitamente não serão mais teus e deverás 

 fazer alguma coisa com o tempo que sobrar

Tenta eliminar o “depois” …

Depois te ligo …

Depois eu faço …

Depois eu falo …

Depois eu mudo …

Penso nisso depois …

Deixamos tudo para depois, como se o depois fosse melhor, por que não entendes que: 

Depois, o café esfria …

Depois, a prioridade muda …

Depois, o encanto se perde …

Depois, o cedo se transforma em tarde …

Depois, a melancolia passa …

Depois, as coisas mudam …

Depois, os filhos crescem …

Depois, a gente envelhece …

Depois, as promessas são esquecidas …

Depois, o dia vira noite …

Depois, a vida acaba …

Não deixes nada para depois, porque na espera do depois se podem perder os melhores momentos, as melhores experiências, os melhores amigos, os melhores amores …

Lembra-te que depois pode ser tarde

O dia é hoje, não estamos mais na idade em que é permitido

postergar.

Talvez tenhas tempo para ler, compartilhar ou talvez deixes para depois …”

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