Caso sério, que importa desanuviar…

“Estamos feitos ao bife”, diria um amigo meu que já não anda por cá. É que já ninguém fala da Operação Marquês, do Sócrates, do Salgado e companhia. Nada. Já ninguém fala do Benfica ter caído ao segundo lugar do campeonato. Nada. Também ninguém fala da novela sobre o novo aeroporto de Lisboa, agora a não poder “aterrar” no Montijo. Nada. Ninguém fala dos dez milhões de euros que o Varandas pagou por uma “cria de treinador” de futebol. Nada. Ninguém agora fala dos impostos altos, da vida cara, das loucuras do Trump, nem da Cristina e do Cláudio e da telenovela que os une ou separa. Nem tão pouco das “lindas canções” que a RTP nos ofereceu no Festival da Canção. Nada. Porque o que está a dar, é só o “coronavírus”. Basta ver os telejornais das televisões nacionais (não sei como são as outras).  Começam logo a abrir com as notícias mais impactantes sobre a epidemia e depois passam metade do tempo a venderem-nos o “coronavírus” como se nos fosse “limpar o sarampo” a todos, para não falar na contabilidade sobre casos suspeitos daqui à China, para além dos infetados curados e outros mais. “Já são dois os infetados”, “já são cinco”, “atingiram a dezena”. A imprensa vibra e mais parece um relato de futebol. Das duas uma: ou apanhamos o vírus (ou será ele que nos apanha?) ou apanhamos uma depressão. Não há meio termo. Dizia uma mãe num desabafo após um período de isolamento que a deixou desesperada: “Depois de uma semana fechada em casa com os meus filhos por causa das medidas impostas pelo governo, se eles não morrerem com o coronavírus, sou eu mesma que os mato” …

É um vírus muito contagioso? É. Tão perigoso para a saúde como uma gripe? Mais contagioso e, provavelmente, é mais letal. Temos de ter cuidados? Temos, mas não precisamos de alarmismo. O alarmismo leva-nos a comportamentos irrefletidos e estúpidos que não ajudam. Em nada. De um edifício de acesso público onde existem embalagens de produto para desinfetar as mãos têm desaparecido muitas delas. Será normal ou está tudo louco? É verdade que já temos infetados, é espectável que o número aumente muito ou um pouco menos e que pode haver mortos. O que é natural, como doença que pode agudizar. Vai chegar a nossa casa? Acredito bem que sim. Há essa possibilidade, mesmo que tome todas as medidas de prevenção aconselhadas pelas autoridades (e as outras que vizinhos e familiares defendem …). Mas corre menos riscos se adotar medidas preventivas. Claro, sabendo sempre que um dia destes tocam à porta e quando for atender “ouvirá” o coronavírus dizer: “Cheguei!!!  

Isto está a ficar muito estranho. Basta sair à rua, ver os sinais. Vamos cumprimentar alguém e puxa-se a mão atrás dizendo que “agora não se pode”. Vai-se dar um beijo e as cabeças ficam a vinte centímetros, não mais perto. Se possível, “não pode ser”. Pode-se dizer sem errar que é uma doença “anti-social”. Não se pode beijar, trocar um aperto de mão, fazer um afago, muito menos abraçar. Até a ministra pede para nos contermos nesses cumprimentos e manifestações diárias de sociabilidade e afeto. Por isso, mantenha a distância. Use fita métrica.

O humor é uma forma do ser humano vencer o medo. É um consolo de último recurso a que nos podemos agarrar. Porque todos temos medos, especialmente do que se não conhece, mesmo que não demos sinais nem o queiramos reconhecer. E o coronavírus é desconhecido. Por isso o ser humano tem usado humor para “combater” este medo manifestando-se por todo o mundo das mais variadíssimas formas, brincando com uma coisa séria, que se pode enfrentar com humor. Basta ver o que circula nas redes sociais e a criatividade imensa que nos faz sorrir. Satirizam as máscaras de proteção preconizando o uso de preservativos, seja só para a cabeça ou mesmo para o corpo todo;     

utilizam o simples garrafão de plástico da água recortado por forma a que a cabeça se encaixe dentro, com ventilação pelo gargalo; o copo de plástico seguro no focinho de um cão ou peças de roupa interior de senhora adaptadas como máscara numa crítica saudável à falta de material no mercado, esgotadas pelo açambarcamento.

Os chineses primeiro e agora os italianos fazem parte dos “bonecos”.  Um deles diz: “Meu Deus, com esta história do coronavírus os pobres não têm um dia de descanso. Sempre que veem um chinês a virar a esquina, põem-se logo a correr em sentido contrário” … Houve um que fez circular nas redes sociais algo como: “aluga-se chinês, que dá direito a quinze dias de férias em quarentena” … Ou então, há quem sugira que os turistas italianos e chineses devem ser aconselhados a visitar o Palácio de S. Bento, pois “é um belo edifício que vale a pena conhecer. E até quem ponha o vírus a “falar”, como no caso: Quando perguntaram ao coronavírus qual é uma das suas grandes paixões, respondeu: “Dar a volta ao mundo” …

Confesso que, de vez em quando, dou comigo a empurrar as portas com o ombro ou a puxar pela manga da camisola para me agarrar ao puxador, quando não usando outro estratagema qualquer para evitar pôr as mãos em contacto com algo que pode ser um transmissor do “bicho” por contágio. Paranoia ou precaução? A verdade é que é real em todos nós, com manifestações muito variadas. Para isso, o melhor texto é de um autor anónimo, que transcrevo:

“Hoje, no trabalho, empurrei a porta do WC com o joelho, acendi a luz com o ombro, levantei o tampo da sanita com o pé, acionei o botão do autoclismo com o cotovelo, abri e fechei a torneira da água com o antebraço, sequei as mãos sem tocar no secador, puxei a porta com a biqueira do sapato e atravessei os corredores sem tocar em nada. Uma hora depois, na pausa do café, avisado por uma colega bastante alarmada, reparei que me esquecera de arrumar o “instrumento” e de fechar a braguilha!…”.

O preocupante é que nos andaram a dizer que estávamos preparados e, afinal, não estávamos, apesar do tempo que o vírus nos “concedeu”. Mas, talvez nos valha a nossa capacidade de improviso … ou O Senhor dos Aflitos … 

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