Envelhecer não é um problema …

Para ser sincero, acho que ninguém gosta de envelhecer. Não é só por nós, que perdemos faculdades, mas também pelos outros, para quem passamos a ser “um estorvo”, “cansativos”, “inúteis”, “maçadores”, “descartáveis” e “chatos”, já para não falar de outros predicados “bem menos simpáticos”. Apesar disso, ser idoso não é uma doença, nem sequer um problema. Pelo contrário, a grande conquista do nosso tempo é o “direito de envelhecer”. Eu gosto de ser velho e de continuar a envelhecer porque a “alternativa” é algo que gostaria de adiar “indefinidamente”. O envelhecimento será sempre um triunfo e nunca um problema. A questão principal é envelhecermos bem e ter quem cuide de nós. Para isso, Portugal não se recomenda a ninguém. Em 53 países, estamos no grupo dos cinco que pior trata os idosos e podemos “agradecer” a quem nos tem “governado” … Claro que temos livre acesso ao “cardápio das doenças” dos velhos, como hipertensão, pneumonia, cancro, cataratas, diabetes, alzheimer, osteoporose, perda de audição e outras, de que nos podemos “servir à vontade”. Que eu saiba, já “contabilizo” algumas para me poder “gabar” junto do meu grupo etário. É que nas reuniões de amigos, dizemos que temos isto e aquilo e há sempre quem queira sobressair: “Mas eu tenho mais do que tu …”. Os esquecimentos e “lapsos de memória” também fazem parte do “cardápio”, mas são um “luxo”, pois até “dão jeito” nalgumas ocasiões para nos desculparmos. Eu já tenho os meus, que fazem parte do processo, mas ainda me lembro de quem são os meus pés …                                                                              Os esquecimentos dos idosos são motivo de histórias e anedotas como a seguinte: “Um grupo de amigos com 50 anos discutia qual o restaurante a escolher para o jantar. Finalmente, decidiram-se pelo Restaurante Tropical porque as empregadas eram jeitosas e usavam mini-saia e blusas muito decotadas. Dez anos mais tarde, aos 60, o grupo reuniu-se novamente e voltaram a discutir sobre a escolha do restaurante. Escolheram o Restaurante Tropical, pois a comida era muito boa e havia uma excelente carta de vinhos. Dez anos depois, aos 70 anos, reuniram-se outra vez e decidiram-se pelo Tropical porque tinha uma rampa para cadeira de rodas e até um pequeno elevador … Aos 80 anos, o grupo juntou-se a discutir e escolheram outra vez o Restaurante Tropical. Todos admitiram que era uma grande ideia, “porque nunca lá tinham ido almoçar” …                                                            Dizem os especialistas em demografia que em 1970/75 fomos dos países mais jovens da Europa e em 2050 seremos o que tem mais velhos. Admirava-me se assim não fosse. Se aos jovens de então somarmos mais 80 anos, lá para 2050 serão velhos certamente. Como sabemos, os políticos aumentaram a idade da reforma só para reduzir a dívida pública. Mas, havendo mais idosos, vão ter de a aumentar mais. Já agora, para evitar que o país venha a ser o “mais velho da Europa”, também deviam decretar que só será considerado idoso quem tenha mais de 85 anos. Duma “penada”, voltavam a “rejuvenescer o país” …                                                                      Mas, ser velho é uma maravilha e, tirando as “dores” e “afins”, só tem vantagens. A maior de todas é “não termos de trabalhar”. Que trabalhem os outros, porque já foram muitos anos a “dar o corpo ao manifesto”. Outro lado positivo é para os que vivem isolados e sós. Podem-se dedicar à “meditação”. Paz de espírito ou solidão? Os “velhotes” têm muita gente que se preocupa com eles. Melhor, com a “gestão do seu património”. Está provado que muitas vezes cuidam de os “aliviar” desse “fardo pesado”, um gesto “altruístico” digno de “bom samaritano”. E não falta gente sempre “disponível para ajudar”. O senhor João, já com oitenta anos, morava com a mulher dependente e o filho deficiente em casa própria. Em casas suas, ali ao lado, vivem dois filhos à borla e, como “moram longe”, não tinham “hipóteses” de o visitar. Só a nora “conseguia” ajudá-lo. Quando ele precisava, fazia-lhe uma sopa ou conduzia-lhe o carro, … mas cobrava-lhe 5 euros. Não são ajudas “bestiais???                                   Mas as vantagens não ficam por aqui. Para já, não têm ninguém a dizer-lhes que são novos. Só mesmo a gozar. E os privilégios que têm? Os bancos dos jardins são (quase) todos deles, tal como os tascos e os cafés do bairro. Como “o trabalho está feito”, não têm horas para se levantar e podem ficar toda a noite a ver televisão, pela mesma razão. Não é “baril? Se demoram o dobro do tempo a fazer uma caminhada, é porque são sempre eles que apreciam melhor a paisagem. Tal como apreciam a comida, mastigando só, e bem … com as gengivas. Lentamente. E saem muito de casa … basta ver o número de visitas que fazem ao … médico, à farmácia, ao hospital. Cresce-lhes (quase) tudo, especialmente os pelos e as peles. Só “minga” uma coisa, de que têm saudades. O que também não é para todos. 

Um amigo meu sempre que ia à sua quinta gostava de falar com a mulher do caseiro, com quem tinha grande confiança. Numa das vezes, quando lhe perguntou como andava o “homem”, ela respondeu preocupada: “Agora ninguém o atura”. Na brincadeira, espicaçou-a: “Então? Já não vai lá?”. Com naturalidade, ela retorquiu: “Nada disso. Sabe, agora só consegue dar duas por noite …”.  Ele ficou de boca aberta e tão atrapalhado, que não teve capacidade de resposta … Mas há outras exceções que fazem inveja aos mais novos. Já se sabe que os idosos com demências podem apresentar híper-sexualidade, havendo relatos de alguns que fazem sexo várias vezes ao dia. Pensando bem, há uma prova científica de que “ser velho é melhor que ser novo”. É que a medicina e a ciência aumentaram-nos a longevidade, mas prolongaram só a velhice, não a juventude. Não é uma evidência? E outra prova é que, como nos esquecemos da anedota que nos contaram, rimo-nos sempre como se fosse a primeira vez.           Já agora, só mais esta história real para provar que ser velho é bom. A senhora Miquinhas vai a caminho dos noventa anos. Vive numa casita térrea e todos os dias prepara o almoço para a neta e marido e ainda para a nora, já viúva, que não deixa de lá almoçar diariamente, apesar de nem sequer dirigir a palavra à “cozinheira e dona da casa”. E mais: a D. Miquinhas, depois de servir esse almoço a “tão ilustres comensais”, recolhe-se ao canto da cozinha onde não lhe tiram o “direito de comer sozinha”. Não, “com Deus”.                                                                        Mas há muito mais vantagens em ser “velhote”. Porém, como já vai longa a conversa, só refiro que recebem muitos conselhos, como um que circula na net destinado aos homens que, durante a noite, têm de ir várias vezes ao WC. Vou ter de experimentar: “Ao dormir, o corpo na horizontal facilita a circulação do sangue e o coração bate pausadamente. Se você acordar para ir à casa de banho urinar, não se levante à pressa porque o sangue “esvazia” a cabeça e você pode ficar tonto e desmaiar. Faça assim: retese as pernas a partir dos pés durante trinta segundos, para começar a acelerar os batimentos cardíacos. Sente-se calmamente na beira da cama e fique quieto durante um minuto. Passado este tempo, deve-se deitar novamente porque já estará … todo “mijado” …                                                                                                                                                

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