Obrigados a viver 100 anos… Ou mais…

Se a estatística estiver correta, os portugueses já vivem em média até aos oitenta anos. Aliás, para ser mais correto, as mulheres passam acima dos oitenta e três enquanto os homens ainda não chegam aos setenta e oito anos de idade. E todos sabemos as razões pelas quais elas duram mais do que nós … 

Isto quer dizer que, nos últimos vinte anos, os homens viram a sua esperança de vida aumentar em cerca de cinco anos, enquanto elas tiveram um acréscimo de quatro. Será caso para perguntar se vamos continuar a durar mais e mais, até passar a média dos cem anos, ou se daqui para a frente as melhorias vão ser mais lentas e reduzidas. A ver vamos, se cá estivermos. 

Mas apetece-me dizer que, por todas as razões e mais uma, temos a obrigação de chegar aos cem anos e até ultrapassá-los muito. Porque não cento e vinte ou cento e trinta já nesta geração? É que temos tudo para lá chegar: o conhecimento, a sabedoria, a informação, os técnicos de nutrição, os alimentos e a internet. E nem falo dos clínicos e todos os meios que estão ligados à medicina, cuja evolução das últimas décadas é uma das causas de sucesso no aumento da nossa esperança de vida.

Para se viver mais anos e melhor só é preciso ser dogmático e saber utilizar a informação que circula na internet. Porque lá, está tudo o que precisamos. Não é preciso mais nada. Basta seguir as instruções.Senão, vejamos: se não queremos sofrer de doenças cardiovasculares, que são das principais razões que nos passam a “guia de marcha”,  só temos de seguir à risca as “boas práticas alimentares” prescritas, comendo, pelo menos, duas vezes por semana peixe grelhado ou assado, feijão, aveia, tomate, beterraba crua ou cozinhada (apesar de odiada por muitos), meia cebola crua, três dentes de alho (reduz o colesterol mau e aumenta o bom), airelas vermelhas (uma baga que vem da Finlândia), abacate, banana, laranja, morango, kiwi e goiaba. O menu pode e deve contemplar um copo de vinho tinto ao almoço e outro ao jantar e uma pequena porção de chocolate negro para fazer a boca doce. Se formos bem comportados, nada de comer gorduras, açúcares, sal e de beber álcool (excluindo o copito de vinho tinto). E usando estes produtos com regularidade, vamos ter um coração mais forte do que o motor de um camião, a acreditar naquilo que dizem os “entendidos da net”. É difícil? Nada, mesmo nada …

Mas se o problema é o envelhecimento, a fórmula recomendada para o travar também passa pelo controle da boca, por forma a combater os chamados “radicais livres”. Por isso, se quer ficar por cá muitos e bons anos com cara de quem tem dezoito, há duas coisas que tem de se preocupar: não se deixe matar antes do tempo de forma estúpida debaixo dum automóvel e pratique um regime alimentar que o não deixe envelhecer. Assim, faça uma dieta “detox”, aquele preparado de chá verde, alcachofra, própolis, legumes, limão, fruta e verduras, tudo bem batido. Se não gostar do resultado e não for capaz de olhar para essa “mixórdia” nem sequer de cheirá-la, feche os olhos e engula, se não quer envelhecer. Além do “detox” deve comer abóbora, cenoura, batata doce, germe de trigo, mamão, laranja, limão, castanhas, açaí, maçã, pera, uvas, morangos, nozes e amêndoas. É capaz de cumprir estas indicações tão “simples” e “agradáveis”? Não sabe onde pode encontrar alguns destes produtos de nome estranho? A internet fornece-lhe todas as indicações para os conseguir. E vai ver que se o fizer a rigor, mantem-se jovem e fica com a pele lisinha e macia como de um bebé. Ou não acredita nas “verdades” da internet?

Como vê, é muito fácil (a acreditar no que nos dizem…) de impedir o envelhecimento e as doenças cardiovasculares. Mas já o ouço dizer: “E as outras doenças e males que nos limpam o sebo”? Tenha calma, pois também há soluções para tudo. Quer emagrecer? Deixe-me só procurar uns instantes e … cá está. Comece por comer brócolos crus ou em saladas. São excelentes para perder peso. Vá por mim. Até ouvi uma médica dizer que “é comida de gajas”, pois é habitual comerem para andarem “na linha”. Mas não basta. Nas carnes, vá pelo frango, peru e lombo de porco e nos peixes o salmão e outros peixes gordos. É que eles são gordos, mas não engordam. Têm Òmega-3. Grelhados, claro. Acompanhe com arroz castanho, sem o pintar, muitos legumes como repolho, cenoura, couve flor, além de aveia, cevada perolada, lentilhas, vinagre, grãos integrais e abóbora. Como sobremesa coma banana, maçã, pera, laranjas, abacate e acompanhe com um copito de vinho tinto, mas não abuse. Para fazer boca doce, chocolate negro, uma porção. E noutras ocasiões, use ovos, chá verde, chia e mirtilos. Se der resultado e ficar com o peso ideal, registe a receita e pode ganhar uns tostões na internet. Vá por mim… 

Pensando bem, o seu (e o meu) problema para não ultrapassar muito a barreira psicológica dos cem anos, é que não levamos a sério estas “bíblias da nutrição” de que a internet está bem “abastecida”. E falo por mim. Estou “condenado” a comer um “arroz de frango pica no chão”, um “cozido à portuguesa”, um “cabrito assado no forno” seja na Pitarisca ou mesmo em casa, uns “rojões” à nossa moda ou à moda do Minho e é melhor não continuar para não abrir mais o apetite – o seu e o meu. A verdade é que hoje temos demasiada informação, muitas vezes contraditória.

E, mais ainda. Quando nos dizem que este ou aquele produto é bom porque tem antioxidantes, não resolvemos nada se comermos “à fartazana”, pois a necessidade que temos deles pode ser mínima. E, se abusarmos, o mais certo é ficar de “caganeira”, pois o excesso não serve para nada. Devemos comer com peso, conta e medida, numa alimentação variada quanto rica, se queremos chegar lá. Mas não basta. É preciso muito mais do que isso … 

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