A vingança das vacas…

A vida não é justa e, por mais que a gente berre, vai ser sempre assim. Que o digam as vacas. Sim, as vacas, esses animais enormes, lentos e com grandes cornos (para ser politicamente correto, deveria dizer “chifres”), que foram explorados das mais diversas formas ao longo de séculos. Mas não é preciso recuar tanto no tempo. Quando miúdo, a sua força era usada para transportar objetos muito pesados e puxar o arado, vindo só a deixar tal tarefa quando chegaram os tratores, embora ainda há algumas regiões onde continuam a “alombar”. Além disso, foram e são uma fonte de fornecimento de numerosos bens de consumo e entram no fabrico de múltiplos produtos, tornando-se assim mais valiosas que qualquer animal de estimação. Por essa razão, há até quem diga que a vaca devia ser promovida a “melhor amigo do homem”, destronando o cão. Essa deve ser a razão pela qual os indianos ou, mais propriamente, os hindus, as chamem de “segunda mãe” (e até nem se importam que a mãe seja uma “vaca”…). Como as adoram, não as matam nem lhe comem a carne. Porque são sagradas. No entanto, acreditam que tudo o que vem delas é uma bênção. Até mesmo a urina e a bosta…

Andei uma vida a gozar com os indianos por viverem em situações de carência alimentar enquanto aqueles “pedaços de carne” se passeiam pelas ruas sem serem incomodadas, mas eles lá têm as suas razões. No respeito pela vida do animal, e apesar da recusa em comer a sua carne, consomem tudo o que podem tirar dela. Até os dejetos, vulgarmente conhecidos por “bosta”, usam como fertilizante nas terras de cultivo, no fabrico de incenso e, depois de secos, queimados para produzir energia.

Mas nós, também “esmiframos” as vacas “até ao tutano”. Usamos o leite, tanto no consumo em natureza como no fabrico de lacticínios. Comemos-lhe a carne, da cabeça ao rabo, do lombo à “mão de vaca”. Utilizamos a pele no fabrico de sapatos, carteiras, estofos, roupa e sei lá bem que mais. E até são ingrediente para gelatina, cosmética, fita adesiva, chicletes e medicamentos em cápsulas. Do sebo fabricamos sabões e sabonetes, detergentes e shampôs, rações, lápis e tinta. Os ossos, são usados no artesanato, cabos de talheres, botões, pentes, velas e outros. E até os chifres servem para o fabrico de adubos (se bem que há quem os use só para “enfeitar”).

Durante séculos, foi o animal perfeito para o ser humano, como base da alimentação e matéria prima para todas estas coisas. Só que, assim como acontece nos casamentos, ao fim de séculos “descobrimos” que não são “perfeitas”. As “brigas” começaram quando alguém, começou a dizer que a lactose do leite é “culpada” de provocar alergias a muita gente. “Mas que culpa temos nós que o leite lhes provoque gases (e vão ter de dar uns “traques” em locais inapropriados), comichões e outras maleitas”, questionam as vacas? “Até aqui, o leite sempre foi o alimento perfeito para o ser humano. O que mudou? O mundo ou o ser humano? É que, as vacas, são as mesmas”.

Não satisfeitos com “isto”, os homens (provavelmente com falta de dentes), inventaram novo problema: Não podemos comer “carnes vermelhas” que é como quem diz, não se pode comer carne de vaca. É vermelha”. Até podemos comer as brancas, as pretas e as mestiças, mas as “vermelhas”, não. É caso para perguntar: Afinal, como é que ainda não morremos todos ao longo destes anos, em que andamos a “papar” bifes mal passados e costeletas na grelha? Só agora é que passaram a fazer mal? Quem será que faz campanha contra as vacas, ao ponto de já não lhe darmos a honra e o privilégio de terem lugar à nossa mesa? Já não podemos apreciar uma “boa vitela”?

Como se isso não bastasse, os ambientalistas querem-nas riscar do planeta. Acusam-nas de consumirem mais espaço e água do que as sementeiras de cereais e que, para as alimentar, o homem tem de destruir muita floresta. Ora, tudo isto é injusto para quem tanto fez pelo ser humano. E agora, é esse mesmo ser humano a retirar-lhes importância e a fazer delas bode expiatório. Não têm elas motivos para se revoltar? Claro que sim. Pois, a revolta já começou…

Sem que a imprensa nacional e internacional o soubesse, reuniram-se em “plenário” num descampado do Brasil (porque é o país com maior número de vacas e, por isso, exportam-nas para todo o mundo. Por cá, já tiveram “muita saída” … E não fiquem a pensar que me refiro a outro tipo de “vacas”. Não. É mesmo à picanha e outros bons pedaços de carne…). Num referendo “vacário” realizado durante a noite e à socapa, entre mugidos, marradas e por unanimidade, decidiram levar a efeito a “conspiração das vacas”, para se vingarem do bicho homem, através de uma ação de toda a família bovídea, para boicotar a Terra, lançando para a atmosfera gases com “efeito de estufa”, naquilo a que chamam “peido coletivo”. Se bem o pensaram, melhor o fizeram. E aí estão elas a lançar para a atmosfera milhões e milhões de metros cúbicos de metano por segundo, pondo os ambientalistas com a cabeça à roda, a começar por Al Gore, já que o Trump (em bom português lê-se “Trampa”) não acredita nos malefícios da poluição.

Ora, segundo os entendidos nestas coisas, o metano vai para o ar e cria buracos no “ozono”, a camada que nos protege. Pelos buracos, os raios ultravioleta aquecem o planeta e derretem os glaciares, a temperatura sobe, o clima muda e fica tudo maluco (e não está já?). É assim que vem a seca e as ondas de calor, que nos provocam escaldões, fazem crescer os pelos e as peles e… É isso mesmo, “a vingança das vacas”.

Ora então, vamos lá deixar de provocar as vaquinhas, esses animais tão lindos e uteis. Não é preferível consumirmos leite, ainda que seja só no “leite creme”? E comer a vaca, mesmo que tenha de ser às escondidas? É que, se a “revolta das vacas” continua, não ganharemos para protetores solares… E teremos de nos render. E nenhum homem se quer render a uma vaca qualquer, ainda por cima com cornos grandes. Seria o seu pior pesadelo…

Leave a Reply