Está a chegar ao fim o período de maior felicidade de uma mulher: A época de saldos, se bem que agora “já é Natal (quase) todo o ano”… Fazer compras, faz bem a qualquer mulher. Oh se faz… Por isso, após uma ida às compras, toda a mulher se sente alegre e volta para casa mais animada, revigorada. É que, se está deprimida, se lhe dói a cabeça, se não sabe o que fazer ou sem razão nenhuma especial, nada como uma ida ao shoping. É remédio santo para todos os males. Mulher às compras irradia felicidade, está no seu mundo. E quanto maior é o tamanho e o número dos sacos de compras à saída da loja, maior é a dimensão dessa felicidade. Até quando só experimenta um centena de sapatos na loja, sem comprar sequer um par, diz: “Depois eu volto”. Já o homem odeia essa viagem, detesta acompanhar a mulher numa ida ao shoping. Basta olhar para os sofás e bancos espalhados pelos corredores dos centros comerciais a abarrotar de homens com a mesmas “trombas” e olhar triste, à espera pela mulher que anda às compras… Têm todos o mesmo ar de desgraçados. E, vá lá, vá lá. Pior é para aqueles que têm de as seguir loja dentro e ser assistentes no programa completo delas, a experimentarem roupa ou calçado: “Este está apertado… aquele faz-me gorda… a cor desta não liga bem com o casaco…” E ver o ar infeliz por debaixo do sorriso profissional das empregadas, ao tirar e pôr artigos atrás de artigos das caixas e cabides, a dobrar roupa e voltar a arrumar a loja de alto a baixo. O homem sente-se envergonhado. Afasta-se e finge olhar uma coisa qualquer, para não ser tido por cúmplice no virar a loja de pernas para o ar.
Pois é, meu caro companheiro de desdita. Aqui estou eu a manifestar-lhe a minha solidariedade e dizer-lhe: “Não se sinta só. Há milhões de homens que odeiam ir às compras com a mulher… mas têm de ir. Conte com a sua solidariedade, com o mesmo sofrimento, porque é no sofrimento que as pessoas mais se aproximam. E todos nós sabemos que, acompanhar a mulher numa ida ao centro comercial, é tarefa pesada, muito pesada. E cara… É o chamado “frete supremo”… Eu sei com que cara fica quando está à entrada da loja à espera dela, fingindo ver montras ou ver as mensagens no telemóvel. A sua cara não engana e nem consegue esconder esse mal estar: Está desolado… Mas tem de estar por perto quando ela o chama… para pagar e carregar a mercadoria. Mas, do mal o menos. Ao ficar fora da loja livrou-se de “ser consultado” quando ela veste ou calça qualquer artigo: “Achas que me fica bem”? “Não é muito escuro”? “ Liga bem com os sapatos”? “Não me faz mais velha”?
Mas, preste bem atenção, para o caso de ter de funcionar como “consultor de moda”. Se ainda lhe resta uma pontinha de juízo, não responda. Abane com a cabeça como os burros, que bate certo com aquilo que ela quer, e não diga nada. Porque tudo o que disser, joga contra si. Se diz que fica bem, ouve logo: “Não vês que me faz gorda?”… Se diz o contrário, vai ter de ouvir: “Pois é, o que tu queres é que eu não gaste dinheiro”… E, mesmo quando sabe de antemão que não vai comprar nada, ela experimenta a loja toda… Como é possível? Não é para nós homens entendermos. Para elas, são “momentos de pura felicidade” à borla.
Um dos argumentos mais usados pela mulher para ir às compras é invocar a necessidade dele: “Estás a precisar de comprar calças. As que tens estão velhas”. “Tens de comprar camisas. As tuas estão puídas no colarinho”. “Andas sempre com a mesma roupa, precisas de ir às compras”… E ele, numa tentativa de evitar o “desastre”, argumenta: “Ora, ora. Tenho o armário cheio de roupa que não uso há muito tempo”… Mas, nada adianta. Ao outro dia o desgraçado lá vai atrás dela, arrastado e contra a vontade, a pensar para si próprio: “Que seja para desconto dos meus pecados”… No final, sem ter voto na matéria, sai carregado de sacos e caixas, que já não tem mãos que chegue. E a ele tocou-lhe um par de calças de marca que lhe custaram os olhos da cara, quando ficava bem servido com aquelas calças azuis que estavam no quinto saldo… É que assim, ela tem argumento para lhe dizer: “A tua roupa está muito cara”…
Se mulher adora fazer compras e de ficar horas numa loja, homem odeia. Enquanto ela anda feliz da vida, saltando de loja em loja, ele só é capaz de entrar se vir algo na montra de que goste. Nesse caso entra, aponta para o artigo da montra, pergunta se tem o seu tamanho, experimenta e, se servir, compra e sai. Dez minutos já é tempo demais para permanecer numa loja. Detesta experimentar artigos e não quer incomodar as empregadas. Só o indispensável. E até pede desculpa pelo incómodo…
Telefonou-me um amigo. Eram quase sete horas da tarde e ainda se encontrava num “outlet” lá para os lados de Vila do Conde, para onde tinha ido às três da tarde. Carregado de embrulhos, seguia a mulher de loja em loja, pois ela exigia a sua presença e a sua “opinião”, que é como quem diz, “não ter voto na matéria”. Estava cansado e farto mas não tinha “autorização” para o manifestar. Queria desabafar mas, além de o ouvir pacientemente, só lhe pude manifestar a minha solidariedade…
Na China, o problema é semelhante. Por isso, alguns centros comerciais resolveram o incómodo criando um “berçário” para homens, uma sala com poltronas para relaxar, ver televisão ou dormir, onde as mulheres que “não necessitam dos seus serviços” os largam, para felicidade deles. Mas não se esquecem de lhes levar o cartão de crédito…