Quem quer enganar quem?

Francamente, estou desiludido com os médicos porque, para tratarem dos meus problemas de saúde, nomeadamente dores nas costas e nas pernas, mandaram-me fazer radiografia, TAC, análises e até uma ressonância magnética, para tentarem chegar ao diagnóstico. Depois, “encharcaram-me” de medicamentos, ocuparam-me as tardes com tratamentos de fisioterapia e mandaram-me fazer um daqueles exames em que fui “violado” com uma vara munida de câmara de filmar quando me “apanharam de costas” e a dormir, invadindo a minha privacidade para colher imagens pessoais, que espero não ver expostas no facebook. Mesmo com tudo isso, o “síndrome das pernas irrequietas” continua a provocar-me dores “aborrecidas” e a hérnia discal não me dá sossego. E, afinal, a solução “chega-me” a casa todos os dias e sem pedir: A televisão, que “só diz verdades”, repete sem parar que, se eu tomar “calcitrin” ou “cálcio mais”, tenho os meus problemas resolvidos. Afinal, o que andam os médicos a fazer? Não me tiram as dores e nem sequer conseguem “aprender” ao ver estes produtos “fantásticos” na televisão e prescrevê-los, para bem da minha rica saúde? E já nem falo no “activa T”, algo verdadeiramente “extraordinário”, diria mesmo, “milagroso”. Trata-se de uma joelheira desportiva que se amarra à perna, às costas (não sabia que se usavam ali joelheiras) ou onde houver dor e, através de umas “ondas” que não sei se são “cerebrais”, se são “do mar”, se são “do cabelo” ou se são “de rádio”, eliminam totalmente as dores, sejam elas nas costas, nos glúteos ou nas pernas, sem necessidade de medicamentos, de agulhas, de tratamentos de fisioterapia nem de osteopatia. Dizem eles, e asseguram com toda a convicção televisiva (será que os médicos não veem televisão?) que o sistema acaba com a dor ciática, a fibromialgia, as dores no lumbago, o formigueiro nas pernas e as dores crónicas nas costas, o que nos diz que este produto ainda é melhor do que a famosa “banha da cobra”… Aconselham mesmo a deitar fora os medicamentos. Como eu andava enganado… Vou mandar os médicos “dar uma volta ao bilhar grande” e comprar já aquela joelheira milagrosa com o “botãozinho” a emitir ondas. E tudo isto “tem de ser verdade” porque só os farmacêuticos vieram reclamar do calcitrin (não sei se por considerarem que andam a “vender gato por lebre” ou porque o produto lhes prejudica o negócio). Quem tinha a obrigação de nos esclarecer, “fechou-se em copas e a gente que se amanhe”. Afinal, não passamos de “cobaias” miseráveis (in)voluntárias, não remuneradas e, ainda por cima, que têm de pagar o produto do ensaio…

Todos nós sabemos que não podemos confiar em quem nos vende seja o que for. Nos produtos bancários, tem sido o que se viu… e vai continuar a ver. Seria mais recomendável e mais simpático que, ao atenderem-nos ao balcão, nos dissessem logo: “Isto é um assalto. Quer depositar”? Na EDP compramos energia e pagamos não sei quantas coisas… Até a maior marca automóvel alemã e mundial nos andou a vender a “eficiência germânica” na aldrabice!!! E os supermercados, onde vamos regularmente? Usam todos os “truques baixos” para nos “levar ao engano”. Conseguiram “acabar” com o quilo como medida de referência e tentam (e conseguem) ludibriar-nos com preços bombásticos, até descobrirmos que a embalagem é de oitocentas, seiscentas, quinhentas ou trezentas gramas, descendo às cem ou oitenta gramas e menos. Oitenta gramas de presunto, de fatias ultrafinas mas muito bem “arrumadas”, dão a ideia de um “grande pacote” e isso visa esclarecer-nos ou “enganar o Zé Pagode”? Muitas vezes temos de andar à procura com uma lupa para saber o peso…

As artimanhas comerciais a que, pomposamente, chamam marketing, são imensas e visam enganar o consumidor em vez de o esclarecer. Mas estas práticas estendem-se a muitos outros. Tenho um amigo com um negócio de batatas e desde sempre só as vendia em sacos de vinte quilos, por ser o saco tipo. Era para este saco que estabelecia o preço, mais alto ou mais baixo conforme a época e os fornecedores. Em dada altura foi confrontado por clientes habituais que um outro vendedor havia passado por ali e vendido o saco de batatas mais barato que ele, sendo as diferenças significativas. Ele estranhou e, na semana seguinte, voltou a confrontar-se com a mesma situação, tendo perdido a maioria da clientela. Vendo que o negócio estava a “ir pelo cano abaixo”, desconfiou e pediu a um cliente que lhe mostrasse o saco que comprara à concorrência, vindo a descobrir que pesava só quinze quilos. Mas “era um saco de batatas”!!!… Os clientes, pouco atentos, só viram o preço mais baixo…

Nas vésperas do Natal tive de comprar bacalhau para a noite de consoada. Por isso, quando vi anunciada uma promoção num supermercado local com 50% de desconto, fui atrás da “pechincha”… Realmente descontavam metade do valor do bacalhau mas, o preço base, tinha sido aumentado 50% em relação ao que vigorava uns dias atrás. Além disso, estava muito húmido. Imaginei que o tivessem “posto de molho” para nos retirarem o trabalho de o demolhar e, “sem sombra de dúvidas”, fizeram-no com “a melhor das intenções”… No entanto, na hora de pesarem o bacalhau, esqueceram-se de abater o peso da água e, assim, pagávamos água ao preço do bacalhau… Mas, sorte a nossa: Depois de pagarmos, desejaram-nos Boas Festas…

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