Sempre me fascinaram os mágicos e o como conseguiam concretizar as habilidades. Para mim, enquanto criança, só podia ser magia. E ainda hoje fico encantado quando vejo um bom truque, uma boa ilusão, mas já estou consciente que não passa disso mesmo: Uma ilusão. Porque, na realidade, não há magia. O nosso cérebro tem algumas falhas e os mágicos aproveitam-se delas. A maior, é o facto de não conseguir realizar diversas tarefas ao mesmo tempo. Daí o uso do desvio da atenção para nos surpreender. Uma das técnicas que utilizam é o chamado “movimento suspeito”, chamando dessa forma a atenção numa direção errada, onde nos focamos, enquanto noutra fazem tudo o que querem sem “vermos” nada. Quanto mais conseguem levar as nossas mentes ao longo de uma pista falsa, mais sucesso têm. Para além dos gestos óbvios, também falam muito com o intuito de nos prender a atenção, usando o foco e a distração.
Está provado que a experiência e a inteligência não protegem ninguém contra golpes mas sabe-se que as vítimas dos golpes, como “o conto do vigário”, têm características comuns. Além disso, os golpistas e burlões usam um conjunto de princípios para atingirem os seus fins, dos quais alguns são comuns aos mágicos.
Nos anos setenta e oitenta foi célebre o caso D. Branca, a “banqueira do povo”, que pagava juros de dez por cento ao mês. Muito badalado, analisado e discutido pelo tipo de vigarice e montantes de dinheiro “derretidos”, serviu de exemplo para histórias (e práticas) futuras. E, na realidade, vieram a surgir “outras donas Branca”, outros modelos de vigarice disfarçados de “aplicações especiais” e “investimentos milagrosos”, levando muita gente a “aplicar” o seu dinheiro na certeza de ganhos fáceis que, para “quem não andou da perna”, se revelaram um desastre total. Por cá, é bem conhecido um caso recente que pagava aos seus “clientes” os tais dez por cento ao mês (como a D. Branca), “abastecido de investidores” por angariadores locais, até as autoridades porem fim ao “negócio”, com prisões à mistura, o “desaparecimento da massa” e os investidores “a arder”. Igualmente foi noticiado um caso na Madeira em que uma empresa, dita legal, fechou as portas de repente fazendo “voar” dezenas de milhões de euros de investidos insulares, a troco do sonho de “ganhos excelentes”. Apesar deste caso, bem noticiado, também aqui na região uma empresa do gênero “engoliu” alguns milhões para desaparecer e, com ela, o “cacau”, deixando a “berrar” os que antes, iludidos, “berravam de contentes”. E nem falo na “roda” ou “rede”, aquelas reuniões em hotéis com espetáculo e comes e bebes que se continuam a fazer por aí, em que se pagam mil euros para inscrição na rede e se recebe, depois, duzentos e cinquenta por cada “pato” que se consiga levar a entrar. A “roda” continua a alimenta-se a si própria, até ao infinito… Mas continuamos a não aprender, ofuscados pela ilusão do enriquecimento fácil mesmo que ilícito, deixando-nos iludir pelos golpistas e seus “truques”, alguns dos que os mágicos usam para nos divertirem. Só que, aqui, são os golpistas que se divertem.
Sabe-se agora que na região apareceu um novo golpe, um novo esquema, uma burla monstruosa que aposta forte na tentação do (muito) dinheiro “barato”. O exagero dos ganhos propostos raia o absurdo e a falta de pudor mas, ao que parece, “quanto maior é a mentira mais fácil é acreditar nela”. E já há “vítimas”, gente “ofuscada” com “tanto benefício” que não perdeu tempo a arriscar. E perdeu… O angariador aborda pessoas que conhece e sabe terem dinheiro ou condições de consegui-lo. E faz a proposta: “Negócio fabuloso. Arranjas cem mil euros e recebes em troca trezentos mil” (às vezes sobem para quatrocentos ou quinhentos mil euros). Se o candidato a vítima fica “focado” no lucro (que negócio!!!), começa a pressão para “fechar”, depressa, o fator “tempo” para não dar tempo a raciocinar. A pressão sobe quando o angariador apresenta o “sócio”, que ajuda no “cerco à vítima”. Se questionados sobre a origem do dinheiro, dizem que sai da Casa da Moeda e será dado como roubado ou perdido. Que o “negócio” total é de trezentos mil por QUATRO MILHÕES mas, “alguns milhões terão de ir para o estrangeiro pois, como as notas têm números seguidos, é necessário espalhá-las por vários países”… Para além de usarem o “tempo” (rapidez na ação), também utilizam a “desonestidade” (benefício na ilegalidade) para convencer a vítima.
Num concelho vizinho, cinco empresários foram convencidos por um angariador a “entrarem” com vinte mil euros cada, com a promessa de receberem meio milhão. Para efetuarem “a troca”, foram levados a uma casa no Porto. A sala tinha uma mesa coberta de maços de notas de quinhentos euros, que puderam ver, tocar e analisar se era real. E ficaram empolgados, ansiosos por “pôr a mão na massa”. Estimulado o apetite, os “negociantes” cobriram-nas com um cobertor. Depois, passou-se algo estranho que não perceberam – a mesa inverteu-se ou rodou. Logo de seguida, entregaram-lhes os quinhentos mil euros em caixas a troco dos seus cem mil. Carregados, voltaram de carro para a terra, em clima de euforia total. Mas, já na viagem, um deles pôs-se a “matutar” sobre a “cena final” e levantou a dúvida aos “sócios”, acabando por parar o carro para verificar o “papel”. Ao abrirem a caixa… o choque foi mais forte que “o coice de uma mula”: As notas de quinhentos euros estavam TODAS inutilizadas, descoradas, como se tivessem sido molhadas e a tinta desbotasse. A verdade, revelou-se brutal: FORAM BURLADOS.
Afinal, ELES continuam por aí… Velhos “atores de outros filmes”, com o mesmo FIM. Só precisam de oportunidade e “tempo de antena” para fazerem a sua “ilusão”, transformar a vítima em cúmplice e trazer ao de cima um dos lados maus da nossa condição humana: A GANÂNCIA…