É só campanha eleitoral, meu irmão…

Pois é, rapaziada, este domingo “bou botar”. Depois duma longa campanha eleitoral, deram-me um dia de sossego para meditar e escolher o quadrado onde vou pôr a cruzinha. Já comecei a praticar porque é um exercício meio difícil já que a esferográfica pode “fugir-me” e deixar um rabinho fora do tal quadradinho, motivo para impugnação das eleições. Ora, não quero que eles gastem mais uma data de “massa” por minha culpa. Cá para mim não devia ser um quadrado, já se não usa desde que o D. Nuno Álvares Pereira o usou para derrotar os castelhanos. Era melhor uma roda do tamanho de um ovo… estrelado, pois era mais prático fazer a cruzinha e ficava mais bonita. Mas, “manda quem pode e obedece quem deve”.

Estou com dificuldades em “pesar” as “promessas” de cada um e assim poder avaliar os “promitentes”, até porque algumas delas não passam disso mesmo e tenho de as pôr no caixote do lixo para não enganarem. Como “pesar” promessas de “acabar com a austeridade”, “devolver os cortes nos salários e nas pensões”, “sair do euro”, “baixar o deficit”, “baixar os impostos”, “controlar a dívida”, “criar emprego”, “sair da NATO”, “aumentar os subsídios”, “diminuir o horário de trabalho”, “acabar com as touradas”, “nacionalizar a TAP”, etc., etc.? E as promessas até vão aumentando à medida que as sondagens dão pro torto. É o chamado “último folgo dos afogados”: Agarram-se a tudo para tentarem safar-se…

Se eu fosse candidato, fazia poucas promessas, mas boas, tais como: Dobrar salários e pensões, acabar com os impostos (pelo contrário, o estado é que nos devia pagar um imposto para sermos cidadãos do país pois, sem nós, não há estado). Aumentava o “fim de semana” para seis dias e só se trabalhava à terça-feira, entre as dez e as onze, de três em três meses nos anos bissextos. Os três meses de férias seriam de graça, mas obrigatórias em hotéis de cinco estrelas no Algarve, para que lá se voltasse a falar português (ou aquela região já não é nossa?). Como as sardinhadas são uma tradição bem portuguesa, a pesca seria livre. Ah, e os ministros andariam a pé, da entrada do ministério ao gabinete…

Mas podem ficar descansados os que fazem todo o tipo de promessas, em especial na campanha eleitoral, eu não estou nessa. Aliás, esta conversa sobre a campanha eleitoral só veio à baila porque o meu filho nas suas deambulações pela net encontrou e mostrou-me um poeta e cantor brasileiro a declamar poesia popular e gostei muito. Por isso, aqui transcrevo a poesia de Maviael Melo, embora sem o ênfase e a graça da declamação, mas que é oportuna. Vamos a isto?

– O senador do estado passou desta para melhor, ou pra outra bem pior e eu vou relatar o passado: Chegando o pobre coitado na porta do firmamento, o S. Pedro disse “um momento, tenha calma cidadão, fica aqui a petição e assine o requerimento, pois aqui tem governia, tudo está no seu lugar e você vai optar, onde quer passar o dia. Depois, em democracia, me dará sua resposta e fará sua proposta, de ir pro céu ou pro inferno, do jeito que você gosta”. Então, o senador, assinou a papelada. Descendo por uma escada, entrou no elevador e desceu com o assessor, para o inferno conhecer, para depois escolher onde queria morar e qual seria o lugar, que escolheria viver.

E no inferno ele viu, um campo todo gramado, verdinho, bem arrumado, como os que tem no Brasil. Um homem grande e gentil disse-lhe “eu sou o Cão, muito prazer meu irmão, aqui você é quem manda” e deu ordens para que a banda tocasse outro baião. E terminou a visita numa mesa repleta, numa assessoria completa no alpendre palafita, uma assistente bonita, cerveja, whisky e salgado, dinheiro pró escarpiado, charutos dos bons e cubanos, e foi relembrando os anos e dos acordos fechados. Encontrou com os amigos dos tempos áureos de glórias, relembrando as histórias que já haviam esquecido, whiskies envelhecidos não paravam de chegar. Parecia um marajá, jogando carta e fumando, mas já estava chegando a hora dele voltar. E entrou no elevador e ele tornou a subir, para então se decidir e finalmente propor. E no céu o senador viu um cenário de paz, um sereno aliás, anjinhos tocando lira. S. Pedro disse “confira, escolha e não volte atrás”. Era um silêncio danado, sem whisky, sem cerveja, no máximo, uma cereja e ele ali agoniado, disse assim ressequiado, “já tomei a decisão, quero ir morar com o Cão por lá me sentir melhor, não que aqui seja pior, é questão de opinião”.

Pedro disse “pois bem, pode ir pelo elevador que logo meu assessor fará o que lhe convém”. O senador disse “ámen”, já pensando no sucesso que seria o seu regresso lá pro quinto do inferno. Lá também seria eterno e a tudo teria acesso. E assim que ele desceu numa imensa alegria, sentiu logo uma agonia, algo estranho percebeu, mal atrás desapareceu a porta do elevador. O pobre do senador só via fogo e tortura, deu-lhe logo amargura naquele cenário de horror. Nisso ia passando o Cão, que lhe deu uma chibatada, sumindo em gargalhada, remexendo o caldeirão e empurrou o ferrão, deixando a testa ferida e ele, “puto da vida”, disse “rapaz, sou eu, o senador, se esqueceu? Qué daquela acolhida? Eu peguei o bonde errado ou o “cabra” atrapalhou e para cá me mandou, deve ter-se enganado? Meu lugar é no gramado, jogando carta e fumando. Eu não estou lhe cobrando, você é que ofereceu, whisky, se esqueceu? Só posso estar delirando… E o diabo a seguir, disse “seja bem vindo, mas o que está dito, eu não vou poder cumprir. Quando estiveste aqui, naquela ocasião, não era outra coisa não, também não me leve a mal, foi Campanha Eleitoral e eu… ganhei a Eleição”.

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