As semelhanças entre (des)iguais…

Vem aí o dia quatro de Outubro. Ao que parece, vamos ter dois grandes eventos nacionais no mesmo dia (há defensores dos dois lados de que um é mais importante do que o outro): Eleições e jogos da Liga ou seja, Política e Futebol. Ora estava para aqui “a pensar com os meus botões” que estas duas coisas, aparentemente muito diferentes, na prática têm tanto em comum que até parecem ser “farinha do mesmo saco”. Vamos colocar-nos de fora, à distância, para observar e ver estes dois “gêmeos” que arrastam multidões, suscitam paixões, movimentam milhões, se pintam de cores, incitam sentimentos díspares e geram vencidos e vencedores.

Encontramos nos estádios (e na rua) os adeptos do futebol vestidos com as camisolas e cores do clube, fazendo uma algazarra danada com buzinas, apitos, bombos e todo o tipo de instrumentos ruidosos e, com o mesmo aparato, os militantes dos partidos nos comícios (e na rua) produzem o mesmo “folclore”, cada um deles com as suas frases de incitamento, as suas bandeiras, os seus slogans, os seus insultos, os seus cânticos e hinos de glorificação que reproduzem nas redes sociais, a sua “diarreia verbal”. Uns e outros, transformam homens simples, jogadores e políticos, em ídolos, heróis e santos, que idolatram e, se lhes for dada oportunidade, carregam às costas como se de deuses se tratasse. Andam em rebanhos como carneiros, incitando-se e protegendo-se mutuamente porque a força do “grito” ou do insulto é sempre mais violenta “à molhada”, em claques organizadas. É certo que a paixão do adepto de futebol ajuda e incentiva os jogadores e, consequentemente, o clube, mas não tem poder sobre o resultado final, enquanto nas eleições, a paixão dos militantes, as ações e manifestações, exercem influência no campeonato eleitoral…

Já alguém comparou os três partidos do “Arco do Poder”, PS, PSD e CDS, aos três “grandes” do futebol em Portugal, Benfica, Porto e Sporting, sendo este comparado ao CDS nas reduzidas possibilidades de chegar ao poder, o mesmo é dizer, a campeão.

Comum à política e ao futebol é aquilo de que tanto se fala “à boca pequena”, que todos sabem que existe: CORRUPÇÃO. Um tema em destaque nos últimos tempos num e noutro “campo” e que não dá sinais de abrandamento. Mas também existe uma palavra que repassa pelos dois lados com frequência, aliás, demasiada frequência: LADRÃO… Ora, se as palavras corrupção e ladrão são comuns tanto na política como no futebol, há a certeza que em seu redor existe um “lubrificante” especial que circula em grande quantidade, na casa dos milhões (não, não são milhões de adeptos ou de militantes), daquilo que o povo diz ser “com que se compra os melões”: DINHEIRO… E a chatice é que o dinheiro é uma tentação para “o mais pintado”…

No futebol é vulgar os dirigentes contratarem jogadores “à revelia” do treinador, tantas vezes por razões inexplicáveis, ficando este com a obrigação de os “encaixar” na equipa. Ora na política, quantos governantes não têm de “engolir” a contragosto inúmeras “avécolas” que não passam de “zeros à esquerda”, mas que lhes são “impostos” pela “máquina” do partido a que devem obediência? Também é sabido que os políticos gastam demasiado dinheiro no curto prazo, pondo em causa a sustentabilidade da freguesia, da cidade ou do país, só para ajudar a ganhar as eleições (é por essa razão que hoje estamos como estamos), não sendo muito diferente nos clubes da bola pois os dirigentes dos clubes, para serem eleitos, gastam o que não podem e o que não devem só para agradar aos adeptos, pois estes só aplaudem se houver resultados positivos. Faz-se a analogia entre os dois ao dizer que “os políticos são como os treinadores de futebol, sempre apaixonados pelo lugar que ocupam e sempre de malas feitas”. Por alguma razão, à medida que um primeiro ministro promete “crescimento económico”, o povo é levado à zona de “descida”.

No futebol os jogadores atacam, defendem, fintam, tentam enganar, querem protagonismo, falam e não dizem nada, acenam, batem palmas, agradecem, abraçam, insultam, cantam, são vencedores ou vencidos mas o dinheiro continua a “correr-lhes nos bolsos”, nalguns casos em “quantidade escandalosa”. Ora, não será que todas estas “virtudes” se adaptam textualmente aos políticos, de tal forma que, às tantas, nem sabemos dizer se estamos a falar de uns ou de outros?

Bom, não me vou alargar mais nas coisas comuns entre “as partes” para não ter de as equiparar às “nádegas”: Tão iguais que, se não fosse um sinal aqui ou um pelo ali, teríamos dificuldades em distingui-las…

Como estamos a dias de ter de escolher entre “ir à bola” ou ir votar (e podemos até ir às duas), será bom que falemos de paixão, emoção e racionalidade. O futebol, dizem os “filósofos da bola”, é paixão e emoção no essencial, com uma grande dose de irracionalidade. Ora no dia quatro de Outubro, quando tratarmos de eleições, estamos a falar de “contratar funcionários” para nos prestarem determinados serviços durante quatro anos. Os serviços são bem remunerados, têm mordomias e eles ficam com uma “procuração” nossa para fazerem “o que bem entenderem” com o país. Será que o devemos fazer com base na emoção e na paixão “clubística”, lutando e torcendo pelo clube, aliás, pelo partido? Ou devemos fazer a escolha racionalmente, com base na qualificação, no conhecimento, na capacidade e na seriedade do trabalho e das propostas? Uma “procuração” destas não deve ser dada por paixão mas por ideias. Votar é ser responsável por quem se quer “contratar” para exercer o poder. Por isso, vamos lá deixar a paixão para o futebol… E, como diz o povo, “o que é preciso é ter confiança, fé em Deus e estupidez natural”…

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