O descritivo de uma das faturas que quase todos temos de pagar depois de ultrapassarmos a idade da reforma, diz: “perda de audição”. O povo acha que tal se deve ao PDI (e abstenho-me de escrever por extenso o significado de tal sigla). Como me parece que o “cobrador” da minha fatura já deve vir a caminho, decidi fazer um exame, aquilo a que os médicos chamam de audiograma. Para tal, colocaram-me uns auscultadores nos ouvidos e, quando esperava ouvir uma música dos Beatles – que ainda considero uma referência – só senti uns silvos mais ou menos agudos, e nem sempre com grande nitidez. O resultado foi o que esperava: Não estou “surdo como uma porta” mas as minhas faculdades auditivas já tiveram melhores dias… Depois de receber o relatório com os resultados, recordei-me de uma história/anedota muito curiosa, que partilho.
Um cientista quis fazer um estudo sobre o comportamento das pulgas. Colocou uma sentada sobre a mesa de ensaio e ordenou-lhe: “Salta”. E a pulga saltou. Então, cortou-lhe uma perna, colocou-a novamente na mesa e voltou a ordenar: “Salta”. A pulga saltou de imediato. Agarrou na pulga e cortou-lhe uma segunda perna, dando-lhe nova ordem: “Salta”. E, para sua surpresa, a pulga saltou outra vez. Em cada fase do ensaio o cientista parava e tomava notas no caderno de apontamentos para mais tarde fazer um relatório do estudo e, a cada perna que cortava, repetia a ordem e a pulga continuava a saltar. Até que cortou a última e mais uma vez ordenou : “Salta”. Para seu espanto, dessa vez a pulga manteve-se quieta. Ao ver que ela não reagiu ficou empolgado mas, querendo confirmar a experiência, repetiu a ordem: “Salta”. Mas ela manteve-se no lugar. Entusiasmado perante tal situação, ficou a meditar durante algum tempo sobre o que observara até chegar a uma conclusão, que escreveu no seu relatório: “A pulga, quando amputada de todas as suas pernas, perde por completo a faculdade auditiva, isto é, fica surda que nem uma porta”.
Quando li esta história/anedota, sorri perante o seu desfecho invulgar, com o “cientista” a chegar a uma conclusão absurda e disse cá para mim que isto só poderia acontecer nas anedotas… Mas, pensando bem, na vida real muitas vezes tropeçamos com casos bem absurdos… Vejamos.
É sabido que os músicos que faziam parte da banda da Associação de Cultura Musical de Lousada (ACML) saíram desta em 2012, uma opção legítima como a de qualquer prestador de serviços que não quer continuar a servir a entidade patronal, se bem que a forma e a razão invocada deixam muito a desejar e em nada os prestigia. Entretanto, o auto intitulado “grupo de dissidentes” criou uma nova associação e uma nova banda só que, ao mudar-se para a nova coletividade, “carregou” consigo as fardas, instrumentos musicais e três viaturas que são pertença da ACML, como se de bens pessoais se tratasse… Apesar das solicitações da direção da ACML, a verdade é que nada do que lhe pertencia foi devolvido. Minto, tempos depois uma das viaturas “apareceu” junto da sede e as chaves na caixa do correio, se bem que a viatura estivesse… avariada.
Perante este cenário e para recuperar a posse dos outros carros, a direção resolveu recorrer à justiça e, sem surpresa para muita gente, o processo já se arrasta pelo tribunal à cerca de dois anos apesar das viaturas estarem registadas a favor da ACML, o que facilmente é comprovável pelo livrete e registo de propriedade, sem que aqueles que as retêm tenham qualquer documento legal que lhes confira legitimidade para o fazer. Ao que se sabe, a cada decisão do juiz sucede-se um recurso, o subterfúgio legal para arrastar o processo no tempo, talvez à espera que as viaturas caiam de podres quando forem entregues ao seu legítimo dono…
Segundo responsáveis da ACML, houve uma decisão no sentido das viaturas serem devolvidas a esta mas, de imediato foi interposto recurso para que só fossem entregues as chaves e respetivos livretes, mas não as viaturas. Do lado da associação acharam que isso era um absurdo, algo que nunca iria acontecer. Mas, não é que o recurso foi aceite e a direção da ACML já pode levantar as CHAVES e os LIVRETES? Finalmente!!! Mas as viaturas, NÃO…
Já estou a ver o filme. Quando os diretores, alunos ou professores tiverem de ir a algum lado, juntam-se na entrada da sede, metem-se dentro do Livrete, o que fizer de motorista enfia as Chaves “no buraco mais à mão” e lá vão felizes e contentes estrada fora…
Absurdos à parte, o bom senso mandaria que houvesse um diálogo sério entre as partes, extra judicial, para que os subsídios que os poderes públicos atribuem às duas coletividades não sejam estupidamente esbanjados, neste e noutro processo a decorrer. Porque, imagino eu, não é essa a intenção de quem atribui os subsídios…
Ou será que perderam a audição e estão “surdos como uma porta”, tal e qual a pulga?