Diálogo de surdos… ou a falta dele

Qual é a coisa que altera todas as rotinas de um lar e transforma totalmente a vida de uma família, desde os horários, programas de televisão, refeições, prioridades, descanso, férias, saídas, etc.? Não, não é a mudança de emprego, nem a vizinha “boazona” que se insinua ao marido, nem sequer a “praga” da sogra que veio com bilhete sem data de volta. É, sim, a chegada de um filho.

Ter um filho é assumir uma grande responsabilidade, não tanto porque tenha de se lhe dar tudo mas sobretudo porque se tem de lhe dar tempo, de estar disponível para ele desde que nasce.

Fui um “sortudo” ao ter sempre em casa uma figura essencial, a minha Mãe, para me escutar, esclarecer, ajudar a compreender, corrigir e aconselhar. Tinha sempre tempo e foi fundamental na educação e formação que tenho.

Com o decorrer dos anos, a sociedade transformou-se, as mulheres deixaram a casa e entraram no mercado de trabalho para terem independência económica e complementar o rendimento familiar, deixando o lar de ter a presença de qualquer um dos pais durante o dia com as crianças entregues a terceiros.

Enquanto os pais estão mais preocupados com o sustento da casa, em ganhar dinheiro e não perder tempo, os filhos acabam por ficar mais sós em relação à família, mais afastados. E, ao chegarem a casa vindos da escola, quando querem desabafar sobre um qualquer problema recebem dos pais um “agora não, que estou cansado” ou “não me chateies com isso”, ou “agora não que quero ver este programa”, como que querendo excluir-se da sua vida e dos seus problemas. E estes, na sua necessidade de falar e de ter o apoio de alguém, acabam por o procurar em pessoas e ambientes errados, envolvendo-se na noite, conhecendo o álcool, as drogas e também as amizades não recomendadas. Só nessa altura, ao darem conta que o filho seguiu caminhos que não devia, é que os pais o procuram para conversar. Mas, quase sempre, é tarde demais, pois é o filho que já não está interessado em conversas…

Se durante o dia pais e filhos vivem afastados pelos trabalhos dos primeiros e pela escola e múltiplas atividades dos segundos (natação, música, futebol, karaté, ténis e muito mais, para que sejam o que os pais não conseguiram ser), à noite em casa os pais pregam o nariz na televisão para ver o futebol ou a telenovela enquanto os filhos se trancam no quarto “ligados” ao computador, ao telemóvel, à consola e à internet, noite dentro como os morcegos, como se vivessem em mundos separados.

O acesso e excesso de informação na escola, na internet e nos meios de comunicação nunca pode substituir o diálogo entre pais e filhos, porque essa informação deve ser analisada e questionada, sendo os pais importantes nesse trabalho, de onde surgem novos conceitos e se ganham princípios éticos e morais.

Educar não é fácil, mas é necessário desde o berço. E o diálogo deve ser permanente, aberto, nos dois sentidos, sem autoritarismos, pois não pode ser simples imposição nem mera transmissão de ordens ou decisões. Porque a maioria dos conflitos entre pais e filhos resultam da falta de diálogo desde a infância. Quando o lar é o local onde a informação e a conversa entre pais e filhos decorre naturalmente, há facilidade de estabelecer regras e limites. E podem-se abordar todos os temas, numa aprendizagem contínua da criança e do adolescente, sem inibições, para que não aconteça algo como na história (e não passa de uma história) que conto a seguir.

O menino estava no carro com o pai e olhava duas mulheres junto do passeio. “Pai, quem são aquelas senhoras?”

O pai, percebendo que eram duas prostitutas, ficou embaraçado. Não respondeu e desviou a conversa. “Olha, vamos ver aquela loja…”

“Já vi. Mas, quem são as senhoras e o que estão a fazer ali paradas?”

O pai, atrapalhado, respondeu: “São… são… senhoras que vendem na rua”.

“Mas vendem o quê”, insiste o filho. “Vendem… vendem… sei lá, um pouco de… prazer”, diz o pai, renitente.

O garoto ficou a pensar naquilo, associou prazer a coisa boa e não perguntou mais nada, o que deixou o pai aliviado. Mas, quando chegou a casa, foi ver o dinheiro que tinha das suas economias. Estava com sorte, cinquenta euros já dava para comprar prazer.

No dia seguinte foi procurar uma das mulheres e perguntou-lhe: “Desculpe, minha senhora, pode vender-me cinquenta euros de prazer, por favor?”

A mulher ficou admirada e, por momentos, sem saber o que fazer. Como a vida estava difícil, aceitou o dinheiro. Porém, como não podia agir de forma normal com o garoto, levou-o para casa onde estavam outras, e preparou-lhe quatro tortas de morango e chocolate.

Já era tarde quando o miúdo chegou a casa, encontrando o pai preocupado com a sua demora. Perguntou-lhe então onde tinha estado e ele olhou o pai e disse: “ Fui ver uma das senhoras que nós vimos ontem, para lhe comprar cinquenta euros de prazer”.

O pai ficou amarelo. E, a gaguejar, perguntou: E… então… o que é que se passou”?

“Bom, as duas primeiras não tive dificuldade em comê-las, a terceira demorei quase uma hora e a quarta já foi com muito sacrifício. Tive quase de empurrar com o dedo, mas mesmo assim, comi-a. No final estava todo lambuzado e a senhora convidou-me a voltar amanhã. Para ser sincero, só tive prazer nas duas primeiras. As outras, só comi para mostrar que sou mesmo homem. Pai, posso ir amanhã outra vez”?

E O PAI DESMAIOU.

Leave a Reply