Sois bôas com’ó milho…

Elas caminhavam à minha frente já há algum tempo, mãe e filha, com “aquele andar que os gatos demoram anos a aprender”. A miúda não teria mais de dezoito anos e a mãe, pouco mais do dobro. Para um homem, era um regalo apreciar aquele espetáculo de “curvas” e “balanços”, dançando ao ritmo do passo. As saias curtas, muito curtas, de uma e de outra, iam até à “linha vermelha” que marca o limite do decoro mas, com o “mexe, mexe” do caminhar, o tecido elástico puxava-as para cima, bem acima dessa linha imaginária, permitindo ver uma parte dessas “partes” interditas ao olhar público dos homens.

O curioso era que, a cada meia dúzia de passos, ora uma ora outra, agarravam as pontas das saias e puxavam-nas para baixo, tentando obrigá-las a retomar o limite da tal linha imaginária mas, dois passos à frente, as saias regressavam teimosamente à posição superior, mantendo visíveis alguns “pedaços de mau caminho”, numa manifestação de solidariedade comigo e com todos os outros “mirones”. Até que, para meu descontentamento, num cruzamento viraram à direita quando eu tinha de seguir em frente. Parei para um derradeiro olhar e fiquei a pensar “com os meus botões” se aquele “puxar” das saias para baixo seria a manifestação de um desejo real, o que seria um absurdo (pois nesse caso teria sido preferível que as fizessem mais compridas) ou antes uma forma de chamar (ainda mais?) a atenção. Continuo com a dúvida…

Uma delas levava uns óculos escuros puxados sobre a testa e, apesar do sol intenso daquele dia de verão, a sua dona manteve-os sempre na parte superior da cabeça, apontados ao céu. Também aqui me ficou uma outra dúvida: Se os estava a usar na cabeça por sofrer de “miopia cerebral” ou se eram uma parabólica disfarçada de óculos, apontada a um qualquer satélite para efeito de comunicações com extraterrestres. É que elas eram “de outro mundo”…

Pelo caminho ouviram vários piropos de homens novos e menos novos, alguns grosseiros e de cariz sexual. Mas também registei dois “atirados” de forma educada e com elegância.

O primeiro dos “pouco simpáticos” veio de uma obra, numa voz com sotaque do Porto: “Sois bôas com’ó milho…” logo seguido de outro bem mais ousado e que não vou aqui reproduzir, como se pode compreender.

“Abençoadas mães que geraram tanta beleza” foi o que me pareceu mais elegante, embora não sei qual terá sido o preferido de uma e de outra porque nunca se mostraram chocadas com nenhum deles. Pelo contrário, várias vezes comentaram entre si sempre que ouviam um, rindo nalguns casos.

Os piropos são frases ou expressões dirigidas a alguém, normalmente para demonstrar apreço pelos atributos físicos. Entre nós, quase sempre são “atirados” pelos homens às mulheres e raramente em

sentido contrário.

Noutros tempos, eram uma das formas de chamar a atenção da mulher, com frases mais ou menos elaboradas mas quase sempre de forma educada e cavalheiresca, uma manifestação elogiosa dos atributos daquela a quem eram dirigidos. E as mulheres gostavam disso. Tantas vezes foram o primeiro contacto para uma relação futura e duradoira, num tempo em que era difícil haver um primeiro contacto…

Mas esses tempos deram lugar a novos tempos, em que homens e mulheres se libertaram do peso da tradição, dos usos e costumes e em que as liberdades individuais permitiram outras formas de relacionamento entre ambos, com todas as facilidades para um primeiro contacto (mesmo no sentido literal), pelo que o piropo na forma e objetivo para que era usado passou a ser mais raro, sendo em algumas ocasiões substituído por uma forma carregada de insinuação, alguma grosseria e até má educação. Embora se continuem a ouvir piropos simpáticos, como antigamente…

Trago este tema à liça porque veio a público que um partido político da nossa praça tem na sua agenda propor a “criminalização” dos piropos, dizendo os mentores de “ideia” tão brilhante que estes são uma forma de assédio sexual que deve ser punida pela justiça.

Francamente, será que “aquela gentinha” que foi viver para Lisboa “à nossa custa”, com a condição de fazer alguma coisa de útil pelo país, não tem nada mais importante para tratar do que a “chachada” dos piropos? É assim que querem fazer um brilharete par(a)lamentar? Estarão eles muito “chocados” com os piropos que por aí se vão atirando às senhoras ou com os “piropos” que lhes mandam como resultado das tristes figuras de que são protagonistas? É que até parece que as coisas importantes de Estado já estão resolvidas…

Se estão tão obcecados com o “assédio sexual” que existe no país, e de que consideram o piropo o responsável maior ao ponto de ser motivo para se “fabricar” mais uma lei que não servirá para nada, como muitas outras, acho que, antes disso, devem parar de imediato com o “assédio sexual” que eles, “ditos” representantes do povo, fazem ao povo, nas suas costas. É que, pelas costas, além de assédio… é covardia.

Porque, como toda a gente sabe, é nas costas do povo que eles nos… … “lixam” (para não usar um “piropo” mais popular)…

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