E os “palhaços”… somos nós

Tenho um grande apreço pelo palhaço, essa personagem que tem a difícil tarefa de entreter o público e de fazer rir as pessoas. Geralmente atua no circo, tem uma figura engraçada e veste-se de forma exuberante, com roupas extravagantes e coloridas.

Para desempenhar a sua tarefa o palhaço não se prende a normas nem convenções, nem sequer a preconceitos. Também não erra pois o que define o certo e o errado são os padrões sociais. Certo ou errado são juízos que o palhaço não possui. Ele quebra as regras da sociedade para atingir o seu objetivo: Fazer-nos rir.

Entre nós, o termo “palhaço” também é usado para classificar o comportamento de algumas pessoas não confiáveis, que não levam as coisas a sério, tal como aquelas que tentam constantemente ser engraçadas sem nunca terem graça. Esse sentido depreciativo da palavra “palhaço” refere-se ainda à pessoa que toma atitudes contraditórias, que é um fantoche, um vira casacas.

Foi com as suas “palhaçadas” que Tiririca foi eleito deputado federal no Brasil. Para o conseguir usou um slogan sugestivo: “Vote Tiririca, pior do que está não fica”. Dizia ainda: “O que faz deputado federal? Na realidade, eu não sei. Mas, vote em mim que eu te conto”. O povo votou, ele foi eleito e agora diz que “não dá para fazer muita coisa”, pelo que não se vai recandidatar e quer voltar a ser… palhaço.

Entre nós, Miguel S. Tavares achou que Cavaco Silva é um “palhaço”, tendo sido “premiado” com uma queixa crime por insultar o senhor presidente da república… Mas não é caso único. Em Guimarães, o Tribunal da Relação ilibou um homem que tinha sido condenado na primeira instância por crime de injúria agravado, ao dizer aos membros da Junta de Freguesia de Silvares “vocês são uns palhaços, não sei como o povo vos elegeu”. A Relação considerou que a expressão “não excede a grosseria nem a falta de educação, tratando-se de um mero juízo de valor que não atinge a honra e consideração dos visados”.

Com esta decisão do Tribunal da Relação, passamos a ser livres para “pôr a boca no trombone” e dizer o que nos vai na alma em relação às “palhaçadas” que os políticos fazem para aí, “pondo o nome nos bois” como diz o povo.

Mas não me vou aproveitar desse acórdão da Relação para chamar “palhaços” àqueles que, em nome do futuro (o deles, claro), colocaram o país às portas da falência, gastando o que não tínhamos em infraestruturas que não eram indispensáveis, permitindo o “regabofe” bancário sem qualquer regulação, que andaram a “alimentar” uma clientela política à custa do dinheiro público como pagamento por os fazerem chegar ao poder, que nunca tiveram o “sentido de estado” mas andaram por aí a passear-se “à conta do estado” sem saberem o que era governar “em nome do estado”.

Nem aos que compraram submarinos quando já estávamos “no fundo”, nem aos que autorizaram a construção de centros comerciais em zonas protegidas, porque era “negócio”, ou aos que arranjaram negócios para um determinado sucateiro e nem a todos os outros que conseguiram outros negócios para outros “sucateiros” porque era sempre “negócio”… para alguém. E não o faço porque, se o fizesse, estaria a ofender os verdadeiros palhaços.

No entanto, não posso deixar de me espantar com as múltiplas “palhaçadas” que se fizeram à custa dos resultados das últimas eleições europeias. Nessas “palhaçadas”, todos os partidos “ganharam” e exigem eleições antecipadas para já, ou desvalorizam as perdas, uns e outros fazendo de nós parvos, como se não soubéssemos ler aquilo que eles não querem ver, talvez para esconderem o seu falhanço e a crise que os partidos e o regime atravessa.

A verdade é que, sete em cada dez eleitores não votaram em nenhum partido. Eu disse SETE eleitores em DEZ, isto é, só TRÊS escolheram um dos tais partidos, porque os outros SETE mandaram-nos “à fava”. Esta é a grande evidência nos resultados eleitorais que todos os dirigentes partidários teimam em esconder “debaixo do tapete”. Porque, no fundo, no fundo, foram todos derrotados, e de que maneira…

A maioria dos portugueses está-se cada vez mais “borrifando” para os partidos e para os políticos que os dirigem, porque já não lhes dizem nada (nada nos disseram sobre a Europa) nem acreditam nas teorias que eles pregam. E foram “só” 73%…!!! Será que esta Maioria não tem significado? É que nem um só dos dirigentes políticos conseguiu aperceber-se dela, como grande vencedora… Claro que a preocupação deles é ganhar(ou dizerem que ganham), ainda que seja só com o voto da mulher… É como no futebol, onde o importante é que o nosso clube ganhe, mesmo com uma penalidade “roubada”…

Mas eles vieram para a televisão “fazer teatro”, melhor, “palhaçadas” para nos fazerem rir (pois é essa a função do palhaço, fazer rir). Mas o povo já não alinha na festa nem acha graça nenhuma às suas piruetas e não ri.

No entanto, vendo bem as coisas, quem está contente são eles, os políticos, a quem andamos a chamar “palhaços”, nada preocupados com o país real nem sequer com os “recados” que o povo lhes dá. Aliás, estão (pre)ocupados com a forma de se manterem no poder ou de chegarem até ele, ainda que tenham de fingir, até de cegos como é o caso.

Ora, como não são tolinhos, sendo eles que se ficaram a rir, é sinal de que alguém está a provocar-lhes o riso. Assim, e vendo bem as coisas, estão-se a rir do povo, estão-se a rir da gente pelo que, afinal, afinal… os “palhaços” somos nós.

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