Os caminhos do (in) sucesso…

O general Colin L. Power dizia que “não há nenhum segredo para o sucesso. Que é o resultado de preparação, trabalho duro e aprender com o fracasso”. Para além disso, é uma questão de continuarmos sempre, mesmo depois de todos os outros terem desistido. Mas será mesmo só isso?

Há alguns anos atrás uma pessoa da minha família veio ter comigo porque queria comprar um loja. Conhecendo a sua juventude e interesses bem diferentes do comércio, perguntei-lhe o que é que tinha em vista com a compra da loja. “É para montar um negócio” respondeu-me. “Posso saber que negócio é?”, insisti eu. Disse que ainda não sabia, mas andava a pensar. “Talvez uma livraria ou uma loja de roupa de senhora”, respondeu na sua ingenuidade.

Como nunca a soube ligada a qualquer destas atividades, quis saber se tinha prática ou conhecimentos sobre estas áreas de negócio. “Não, mas arranjo uma empregada e eu sou a gerente”. “E tens dinheiro para comprar a loja?” questionei–a, já com os cabelos em pé. “Não, vou ao banco e peço um empréstimo” diz-me com cara de inocente.

Perante tanta insensatez, foi difícil convencê-la que não ia a lado nenhum: Não sabia que negócio montar, não percebia do negócio, não tinha dinheiro para a loja, o desastre seria total. Não foi fácil mas… evitei um insucesso.

Muitas vezes um negócio dirigido por uma determinada pessoa é um fracasso mas, quando muda de mãos, torna-se um sucesso, mesmo mantendo o ramo de atividade. Onde está a razão do êxito? Na diferente capacidade e preparação dos intervenientes? Em razões inatas num e noutro não? Há pessoas que nunca deveriam estar à frente do que quer que seja pois não têm capacidades para tal, servindo somente para… servir. Pelo contrário, outros há que parecem ter nascido para o negócio, tal a sua habilidade, capacidade, organização e inteligência. É certo que muito se pode aprender pela prática, mas há tendências inatas que ajudam ao sucesso.

Houve um tempo, não muito distante, em que muitos empresários bem instalados se viram confrontados com a vontade das esposas saírem de casa, trabalharem com eles ou terem uma atividade própria. Para as “não terem à perna” e as manterem ocupadas, havia que comprar uma loja e montar-lhes um negócio, fosse ele qual fosse. O importante era que não “chateassem”. Resultado: Prejuízos atrás de prejuízos mês após mês, ano após ano, uma “portagem” cara, às vezes demasiado cara, para pagar o sossego dele e o contentamento da cara-metade, que só terminava com o fecho da loja. E houve tantos insucessos…

Ter sucesso é uma questão de vontade, de aptidão natural ou capacidade adquirida? Descartes defendia a teoria de que já nascemos com determinadas habilidades e aptidões, mas havia quem preferisse a ideia contrária. Já Kant utilizou o melhor das duas teorias, afirmando que o conhecimento é resultado da experiência, mas assenta em capacidades que existem naturalmente em cada um de nós, sendo fazer o que se gosta meio caminho andado para o êxito.

O senhor António é comerciante há muitos anos em vários concelhos da região do Vale do Sousa, e nomeadamente em Lousada. Quando o conheci, depressa me apercebi de que estava perante alguém que nasceu “para o negócio”.

Com quatro anos de idade ia para as feiras com o pai e ganhava mais do que ele. Como era possível? Enquanto o pai montava a tenda e ia vendendo “qualquer coisita”, ele enchia uma bacia com água onde colocava um pequeno prato a boiar. Com uma garrafa de cerveja numa mão e outra de laranjada na outra, desafiava as pessoas a atirar uma coroa (moeda de cinco tostões): Se a moeda ficasse em cima do prato, recebiam uma das garrafas, se caísse na água, não ganhavam nada. Ora, as moedas batiam no prato e caíam todas na água. Ao fim do dia eram muitas, muitas, no fundo da bacia…

Já adolescente, bem sucedido e com banca própria de ferramentas, um dia estava na feira do Marco de Canaveses. À sua frente um feirante conhecido saldava camisolas a mil escudos mas, depois de vender duas ou três, vieram devolver-lhas porque a cabeça não entrava no buraco da camisola por ser muito apertado.

Desanimado, disse ao António: “E agora, que vou fazer às camisolas pois estão a devolvê-las todas”? “Se as venderes a 500 escudos ainda é negócio?”, perguntou-lhe. “Quem me dera”, respondeu o amigo. Então, arranjou um placard onde escreveu várias palavras e afixou-o em frente à banca do amigo. Rapidamente foram vendidas umas quantas mas os compradores não demoraram a vir reclamar pelo mesmo defeito. Já com um ar tranquilo, o vendedor limitava-se a apontar para o cartaz escrito pelo António, onde se podia ler em letras garrafais: “A 500 ESCUDOS – NÃO CABE NA CABEÇA DE NINGUÉM”.

O senhor António nasceu comerciante e, para tal, alia preparação, conhecimento e intuição natural ao ponto de “vender de tudo, mesmo aquilo de que as pessoas não precisam”. Este sim, é um homem que conhece os caminhos do sucesso.

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