Estava cá a “matutar” com os meus botões tentando descobrir qual é a diferença entre um furo e um buraco. É que, pelo que dizem as televisões (e o bolso da gente), estamos metidos num buraco. Ou será num furo? Se for num buraco “estamos na fossa”, se for num furo “estamos entalados” pois tenho a sensação de que um furo é mais apertado, enquanto um buraco é maior, mais largo. Mas, se estamos na “fossa” e “entalados”, provavelmente estaremos metidos nos dois.
Certo é que todo o furo é um buraco mas o contrário, não. E um furo pode virar buraco mas um buraco não vira furo.
O furo é propositado. Na orelha, no lábio, no nariz e no umbigo (ou noutra parte mais íntima do corpo), torna-se enfeite, acessório em função do visual ou da extravagância. Mas se for buraco no corpo, natural, é uma espécie de porta, para entrada ou saída, do quê não interessa.
Se é na roupa, um furo é moda, feitio, enquanto um buraco significa desleixo, desmazelo, até porque basta passar o fio no buraco da agulha e, com pequenos furos, remenda-se o buraco.
Quando alguém diz “tenho um furo”, é um problema se for no pneu. Mas, se é jornalista, pode ser sinal de coisa boa, de quem conseguiu uma notícia em primeira mão.
Os buracos podem atingir grandes dimensões, como os “buracos no orçamento” ou o “buraco do ozono”. Maiores ainda, são os buracos negros que atraem para o seu interior tudo o que lhes passa por perto, como aquele buraco negro que a comunidade científica está a acompanhar com atenção porque, nas próximas semanas, vai “engolir” uma nuvem de gás três vezes maior que a Terra, a sua maior refeição que se conhece.
”Eu caí num buraco” era a frase que todas as mulheres de uma cidade interior do Brasil diziam ao padre na confissão, sempre que traíam o marido, e toda a cidade sabia desse estratagema. Um dia, o velho padre e confessor morreu e foi substituído por um padre jovem. Sem saber de nada, ao ouvir as mulheres confessarem que “tinham caído no buraco”, na sua ignorância dizia-lhes que não era pecado, que nada tinha a perdoar. Mas, de tanto o ouvir na confissão, foi falar com o prefeito (presidente da Câmara): – Prefeito, o senhor precisa de cuidar melhor das ruas. Elas estão cheias de buracos.
O prefeito, que sabia da história, desatou a rir à gargalhada. – E o senhor ri? – pergunta o padre em tom ofendido. E, para reforçar a sua reclamação, acrescentou: – Só a sua mulher esta semana já caiu cinco vezes no buraco…
Aliás, falando em buracos, com certeza o tal prefeito não tinha o costume de espreitar pelo “buraco da fechadura” (como faz meio mundo, porque o outro meio espreita do outro lado) pois, se o tivesse feito, estaria muito mais bem informado…
Apetece perguntar, porque será que qualquer orifício, seja furo ou buraco, humano ou não, cai sempre na graça dos pervertidos?
Existem buracos lindos (e nada tem a ver com o que disse na frase anterior), motivo para fazer turismo. Eu próprio gostaria muito de visitar o Grande Buraco Azul, no Atol do Recife Lighthouse, em Belize. Pelas imagens, é espetacular. Daí que, não podemos dizer que todos os buracos são feios, algo de que se não goste.
Agora temos os furos de água, que vieram substituir os antigos poços artesianos, para captar a água a maior ou menor profundidade, profundidade que é importante num buraco mas poucas vezes num furo.
Ao percorrermos muitas ruas e estradas, convém não andarmos de “nariz no ar” para não cairmos num qualquer buraco onde, se é importante a profundidade, não deixa de o ser mais o seu comprimento. É certo que algumas vias só têm um único buraco mas… o fundo é que é muito extenso e rugoso.
Um furo na escola, é sinal de folga, mas se for numa conduta pode dar origem a um grande buraco na estrada. Um furo é provocado, quase sempre redondo e não precisa de fundo mas, um buraco, é natural, tem milhentas formas e tem fundo. É assim que um buraco na estrada pode provocar um furo no pneu mas já não se vê como é que um furo no pneu possa originar um buraco na estrada.
Foi num grande buraco de uma estrada rural, cheio de água e lama, que o carro de um casal citadino se atolou, quando andavam a passear pelo campo. Depois de muito tentativas falhadas para o fazer sair dali, só seria retirado do buraco quando apareceu um agricultor com uma junta de bois e deu a ajuda necessária. – “Sabem, é o décimo carro que tiro hoje deste lamaçal”, disse o agricultor na sua simplicidade.
“Sendo assim, não faz outra coisa. Afinal, quando é que trabalha na quinta? À Noite?” – perguntou o dono do carro, com ar de gozo. – “Não, à noite não porque é quando ponho água no buraco para os pacóvios se atolarem…”.
Há quem esteja disposto a ajudar a resolver problemas mas também há quem passe o tempo a tornar a vida dos outros mais difícil. Talvez seja o seu dia de ajudar alguém a resolver problemas. Aproveite, mas não adicione água no furo, muito menos no buraco…
Quanto a nós, povo lusitano, já não corremos o risco de “cair num buraco sem fundo” porque… já lá estamos há muito. E a única saída que nos resta é fazer um furo… no buraco.