Os homens e as instituições

Diz-se que os “homens passam mas as instituições ficam”, mas também não deixa de ser verdade que, se os homens que as lideram forem grandes e agirem como tal, poderão engrandece-las mas se a sua grandeza se resumir ao tamanho do corpo, poderão enfraquece-las, quando não condená-las à extinção.

Não faltam líderes e muito mais candidatos a líderes de instituições associativas, sobretudo quando delas é possível retirar dividendos traduzidos em dinheiro, poder, prestígio ou rampa de trampolim para outros voos. A questão está no que é que esses líderes poderão dar à instituição e não o contrário. Se estão cientes – e são capazes – de que é preciso participar, oferecer a sua quota pessoal e temporal à instituição e estar na trincheira para a sua defesa. É que os homens devem viver as instituições e não o contrário, pois só assim elas serão o seu predicado.

Aqueles que assumem cargos de liderança nas instituições não podem ficar alheios às coisas e aos factos, como se o mundo se resumisse aos seus umbigos, e jamais podem esperar que as mudanças, o crescimento, a evolução e o aperfeiçoamento ocorram por milagre, para quem vive sem agir.

As associações locais, sejam desportivas, recreativas, culturais ou humanitárias, sofrem quase sempre de constrangimentos financeiros e económicos, que obrigam os dirigentes a um trabalho suplementar visando a sua sustentabilidade. Assim, se já é um feito louvável fazer com que esta seja assegurada pois, por regra, é necessário um esforço muito grande, maior o será quando se permitem, para além disso, crescer, realizar novos projetos, alargar a ação da instituição que dirigem, acrescido do facto de o fazerem de forma voluntária e gratuita ( até porque, quando se é remunerado, o mérito é substituído pela obrigação).

Vem isto a propósito da justíssima homenagem que a atual direção da Associação de Cultura Musical de Lousada (ACML) promoveu no Auditório Municipal a anteriores dirigentes que se retiraram recentemente, responsáveis pela recuperação e consequente crescimento da associação ao longo dos últimos catorze anos.

Em 1999 a ACML encontrava-se à beira do abismo, com um passivo tão elevado que já ninguém queria assumir a sua direção e com a sobrevivência presa por um fio. Foi a partir daí que sucessivas direções lideradas por Clemente Bessa não só retiraram a ACML do atoleiro económico e financeiro em que se afundara como a projetaram para o futuro, transformando as suas escolas no Conservatório de Música do Vale do Sousa, concretizando novos projetos e multiplicando o número de alunos muitas vezes.

Com mais de quarenta professores, o Conservatório é hoje um viveiro de músicos com duas orquestras de sopros e uma de cordas, cinco coros, uma big band, quarteto de saxofones e outros, a escola integrada no ensino oficial, uma história de sucesso com mais valia para a região onde está inserida e para a comunidade que serve, dela beneficiando centenas e centenas de jovens. E tudo isso se deve aos Homens (e Mulheres) que, com muita competência souberam acreditar e trabalhar para que fosse possível fazer do sonho uma realidade, pois não basta sonhar e esperar que as coisas aconteçam por si.

Ao longo do espetáculo de homenagem dado por professores e alunos, foi visível a emoção de Clemente Bessa, o homem forte que liderou todas as direções dos últimos catorze anos, especialmente durante a excelente atuação do Coro Feminino em cuja constituição pôs o seu empenho pessoal e ao qual deu todo o apoio.

Como mágoa destes dirigentes fica o facto de não terem conseguido suster a saída da maioria dos músicos da Bande da ACML depois de um longo período de negociações impossíveis, dada a sua exigência assentar numa questão ilegal com a qual a direção não podia nem devia compactuar – queriam receber dinheiro pelo seu trabalho sem passar recibo, fugindo aos impostos. Acabaram por deixar de servir a associação e constituir uma nova coletividade, onde estarão livres para tudo, levando consigo indevidamente e sem autorização, as viaturas, fardas e instrumentos que são pertença da ACML e que teimam em não devolver a esta, obrigando a direção a ter de recorrer à justiça para reaver o que lhe pertence, num processo longo, triste e pouco edificante.

Esta “debandada” dos músicos é muito menos um problema e muito mais uma oportunidade para a ACML proceder à reorganização e ao rejuvenescimento da sua Banda de Música, noutros moldes, com novo paradigma e de forma sustentável, para não voltar a pôr em causa o futuro da própria instituição.

Voltando ao início, “os homens passam mas as instituições ficam”. No entanto, as instituições são o reflexo da grandeza dos seus líderes. E, se a Associação de Cultura Musical de Lousada “ainda ficou”, cresceu e passou a dar frutos, foi graças à grandeza e ao trabalho excepcional desse grupo de Homens (e Mulheres) com quem, nós comunidade, passamos a ter uma dívida de gratidão. OBRIGADO.

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