Li há tempos um excelente artigo de Isolda Brasil a propósito dos países mediterrânicos que são sempre muito mais afetados pela crise e pela corrupção do que os países nórdicos, cujas economias são mais estáveis, mais transparentes, onde não há corrupção (pelo menos à descarada), e em que se interrogava: “Será do azeite?”
Lembrei-me disso ao rever a entrevista de um sueco que se instalou em Portugal para se dedicar à cultura das oliveiras e ao fabrico do azeite dizendo que, no seu país, era um produto tão raro que só se vendia nas farmácias. Ora aí está: Como não têm nem produzem azeite e são imunes à crise e à corrupção, ressalta uma conclusão: Onde estas existem, a culpa… é do azeite.
Pelo contrário, os chamados países do sul como a Grécia, Espanha, Itália e Portugal são dos mais “azeiteiros” (não, não é o que já estão a pensar…) isto é, produtores de azeite e como tal, especialistas na “dieta mediterrânica” de que o azeite faz parte. Provavelmente, esta dieta será a responsável por “provocar nos nossos governantes este estado de espírito manhoso, esta compulsão para a defraudação do erário público, esta desonestidade constante e esta despreocupação com a coisa pública” nas palavras de Isolda Brasil.
Ora, se com os nossos vizinhos é “outra história”, até porque a sua capacidade “azeiteira” é bem maior que a nossa, cá entre nós, a sua produção e consumo estimulou muito o interesse pela profissão de cozinheiro, digamos, “governante da cozinha” – e ainda não existiam os concursos de “masterchef” – dando origem a uma proliferação de “chefes” e candidatos a. Duma coisa é certa, quando algum deles tem o “poder sobre a panela”, a primeira coisa que faz é arranjar “tachos” para o rancho de “ajudantes” que o seguem , mesmo que estes não percebam nada da arte. E, agarrados ao “tacho”, é só vê-los a “meter a mão na massa” sem dó nem piedade, antes que esta acabe ou ganhe “bispo”.
Às vezes interrogo-me se terá sido por termos uma Oliveira a segurar a “panela” e a distribuição de “tachos” durante trinta e tal anos e a “dar-nos de comer pela medida grande”, que nos ficou a inclinação para a “azeitice”, pois outras Oliveiras nasceram e disseminaram-se pelo país, para mal dos nossos pecados. Uma delas foi plantada no BPN e a sua dimensão foi tal que, ao ser arrancada (à força), deixou um buraco tão grande (tipo buraco negro) que, ao fim de alguns anos, ainda não se lhe conseguiu ver o fundo. E o problema é que os tais “chefes” puseram todos os portugueses a “cavar” para tapar tal buraco, como se fossem eles a ficar com o “azeite”…
Uma coisa é certa, temos arranjado cá uns “cozinheiros” que parecem escolhidos a dedo, como os melões, e já nem sequer os conseguimos tirar pela “pinta”. Começam por arranjar uns “caldinhos” que lhes permitem “encher a pança” (à conta do nosso “milho”) pois como têm “a faca e o queijo na mão”, “comem-nos as papas na cabeça” com um à vontade próprio de quem só se lembra do povo quando precisa dele para construir a escadaria humana que os leva ao poder. Com as suas “receitas”, consumiram demasiado “azeite” e por isso arranjaram cá um “estrugido” que deixou o país “a pão e água” e já não há “mezinha” que nos salve. Por isso, o povo “tem de comer o pão que o diabo amassou” e calar, se é que ainda tem voz, ao aperceber-se que acabou por “comer gato por lebre”.
Vejam-se as “peixeiradas” de um grupo que se junta lá para os lados de S. Bento, comemoradas e “regadas” horas mais tarde, entre os mesmos, num qualquer restaurante chique da cidade.
Sendo o azeite um produto de consumo corrente no país, é natural que se tenha criado o hábito de o usar para “untar mãos”, que ficam “mais macias”, talvez até mais ágeis no sentido de fazerem aquilo que se deseja. Assim, se algo de errado ou ilegal acontecer, com toda a naturalidade se pode dizer que a culpa… é do azeite. Aliás, para que as “coisas” funcionem bem, nada como “olear” a máquina… com azeite, claro. É que, não sendo nós um país produtor de petróleo, temos de consumir o que é nosso: “O azeite”.
Segundo estudos efetuados por uma universidade estrangeira (de lá de fora), a grande maioria dos tais “chefes” tem “engordado” muito desde que são “cozinheiros” do “reino” ou dos “ducados” (às vezes, para manterem “as aparências da elegância” perante o povo, ficam de dieta mas fazem “engordar” os familiares, “azeitando-os”), em parte devido às grandes preocupações que têm consigo e que os leva a seguirem a tal dieta mediterrânica onde, claro, não pode faltar o “azeite”. Dizem as más línguas que se enfiam na “despensa oficial” e, às escondidas do “despenseiro-mor”, papam só “carne da perna” até encherem o bandulho, chegando a gabarem-se: “Comi como um abade” (se um abade os ouvisse, diria “abade sou eu e não como assim. Você comeu foi como um burro”). Daí que se fala que alguns já deixaram de comer da “panela” e passaram a comer da “gamela”.
Sabe-se ainda que estes “chefes” (tantas vezes “aprendizes de feiticeiro” ou “do diabo”) são tão especiais que conseguem transformar um “arroz malandro” em “arroz de malandros”, tal é o jeito para “meterem a mão no prato” e “manipularem” os segredos da cozinha, usando e abusando do “azeite”, fazendo mesmo com que corra muita “massa por debaixo da mesa”.
É assim que há algumas décadas andamos a ser cozinhados em “lume brando”, sem que isso nos leve a reagir. No entanto, quando um dia destes sentirmos verdadeiramente o “fogo no rabo” e nas narinas o “cheiro a alho” ou a “esturro”, não me admiraria que “o caldo fique entornado” e o povo venha para a rua “agarrar o touro pelos cornos”. E acabavam os “cozinheiros”, os “chefes” e o “azeite”, pergunta-se? De maneira nenhuma, para isso era preciso arrancar todas as “Oliveiras”, deitar abaixo os “lagares de azeite” e fechar as “cozinhas” e os locais de “comes e bebes”. Mas não é possível, pois isto faz parte do nosso paladar, da nossa cultura, da nossa tradição.
Aliás, mesmo que enterremos tudo num enorme buraco ou no oceano mais profundo, não podemos esquecer que… “o azeite vem sempre ao de cima”.
Por tudo isto, não há quem me tire da cabeça que estamos mesmo “feitos ao bife” e a culpa… é do “azeite”.