As lições do milho. Saibamos lê-las…

Diz-se que “na vida estamos sempre a aprender e nunca sabemos nada”. Aliás, viver é aprender e a aprendizagem faz parte da evolução da humanidade. Quando não estamos preparados para aprender, não estamos preparados para viver. Até mesmo no silêncio temos oportunidade de aprender.

Aprendemos com os mais velhos, que têm muito para ensinar, aprendemos com as crianças nas verdades da sua inocência, aprendemos com os sábios e com os simples. Porém, só aprende mesmo aquele que está aberto a aprender, aquele que está de olho posto na vida, analisando-a a cada momento.

E é muito curioso que há lições de outros seres vivos, incluindo plantas como é o caso, com as quais poderemos aprender, se tivermos a humildade e a sabedoria para colher tais ensinamentos e aplicá-los na nossa vida.

Todos nós seres humanos, somos professores e alunos, ensinando e aprendendo uns com os outros, constantemente. Durante duas décadas estive ligado à agricultura como técnico de uma empresa nacional, desenvolvendo ações junto dos agricultores, promovendo novas tecnologias, novas culturas, novos produtos. Com eles aprendi mais do que ensinei, das coisas mais simples às mais complicadas, ficando eternamente em dívida para com essas muitas pessoas para quem fui mais aluno que professor. Sendo o milho uma das culturas tradicionais, um dos conselhos técnicos mais comuns que dava aos agricultores era o de que não o deviam regar nem adubar enquanto fosse pequeno.

É necessário aguardar até estar “joelheiro” ou seja, ter a altura dos joelhos, esperando mesmo que ele “torça as orelhas” (dar sinal nas folhas de que precisa de água). É que, ao regar e adubar o milho cedo demais, este fica preguiçoso pois não tem necessidade de procurar a água que lhe está à mão, desenvolvendo raízes muito pequenas pelo que, se vier uma seca, morre de sede e, com vento um pouco mais forte, “acama”, tombando, por não ter raízes que o sustentem. Pelo contrário, se o regarmos o mais tarde possível, o milho “obriga-se” a procurar água e alimento, fazendo crescer as raízes de tal forma que chegam a atingir dois metros e mais, aguentando bem a seca e a fome, com um bolo muito maior onde comer, e resistindo bem ao vento já que as grandes raízes funcionam como espias.

Curiosamente, quando estava neste ponto do artigo, encontrei uma pequena história de autor anónimo que reforça o que atrás afirmei. Nessa história o autor tinha um vizinho médico que, nas horas vagas, plantava árvores no terreno atrás de sua casa, mas nunca as regava. Estranhando tal facto, um dia perguntou-lhe se não receava que as árvores não crescessem. Então o médico descreveu-lhe a sua teoria: “Se regar as plantas, as raízes ficam à superfície esperando a água fácil vinda de cima. Não regando, demoram a crescer mas as raízes vão para o fundo em busca de água e nutrientes nas camadas inferiores do solo”, disse-lhe ele orgulhoso.

Entretanto o autor foi viver para longe e só anos mais tarde voltou em romagem à sua antiga casa, encontrando um bosque frondoso nos terrenos do médico que entretanto falecera e não chegara a observar o resultado da sua teoria. E, apesar do vento forte que se fazia sentir, que arrancara várias árvores e fazia vergar outras, naquele bosque mantinham-se sólidas, quase não se moviam, resistindo à ventania implacável. Percebeu então que as adversidades por que passaram, privadas de água, tinham-nas beneficiado mais do que o conforto de um bom tratamento. Todos nós, pais, queremos sempre o melhor para os nossos filhos e ao longo de algumas décadas de euforia económica demos-lhe tudo o que nos pediram (e o que não pediram…), num facilitismo da vida que a vida não aconselha, retirando-lhes a necessidade de terem de procurar e confrontarem-se com os problemas do dia a dia e de os preparar para o futuro.

Mais ainda, ao vê-los crescer, nas nossas orações pedimos para que as suas vidas fossem fáceis, dizendo mesmo: “Meu Deus, livrai os meus filhos das dificuldades da vida”. E a que é que isso nos conduziu? Está na hora de mudarmos o teor das preces, pois a vida já nos provou ser inevitável que os ventos fortes e frios nos atinjam mais cedo ou mais tarde, tal como atingirão os nossos filhos.

Será grande ingenuidade continuarmos a pedir a Deus para que não tenham dificuldades já que, ao longo das suas vidas, vão (e estão) a confrontar-se com inúmeros problemas e sempre haverá uma tempestade que os vai atingir. Quer queiramos quer não, a vida não é fácil. E, ao contrário dos facilitismos que lhes temos dado, devemos antes orar para que enfrentem e aprendam com as vicissitudes, ultrapassando-as e desenvolvendo bases sólidas, suficientemente fortes para resistirem às adversidades que os esperam ao virar da esquina. E nessas orações, não nos esqueçamos de pedir-Lhe sabedoria suficiente e capaz para os sabermos “regar e adubar quanto baste”, mantendo a exigência do esforço e do trabalho como escola de crescimento.

Só assim estarão aptos para atravessarem o rigor dos tempos, em vez de serem frágeis e facilmente arrancados ou varridos à mínima ventania. Como é que um pé de milho ou as árvores de um bosque nos podem dar tamanha lição? Saibamos apreender e praticar…

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