Aconteceu comigo como já aconteceu a toda a gente: Fui comprar uma calculadora para o meu filho na casa que ele me indicou. Saio da loja de saco na mão, desço a rua e, ao virar da esquina, dou de caras com uma montra onde o raio da mesma máquina estava anunciada com 30% de desconto. “Que imbecil que sou”, penso cá com os meus botões, revoltado comigo por não ter procurado saber o preço noutras lojas, especialmente naquela, onde só faltava um letreiro a chamar-me “BURRO” ou “OTÁRIO”. Apeteceu-me partir a maquineta para ter o prazer de comprar outra mais barata…
Mas não foi a primeira vez nem será a última e vai continuar a repetir-se enquanto for comprar o que quer que seja, especialmente agora, com as lojas em saldos quase constantes e os supermercados num sobe e desce de preços nas suas promoções semanais, diárias, quando não por instantes.
Como é que se sentem se comprarem bacalhau e, antes de chegarem a casa, dão de caras com a vizinha vangloriando-se de acabar de comprar o mesmo, noutro lado, a menos 25%? Com certeza não fazem como um conhecido meu que ao descobrir que o atum que trazia estava com 50% de desconto noutro lado, foi lá adquirir vinte latas. Resultado: Andou a comer atum um mês seguido porque o prazo de validade estava quase a terminar… E esta sensação de que fomos “levados” incomoda, estraga-nos o dia, fazendo com que, na próxima, fiquemos com a dúvida se devemos ou não adquirir um determinado produto na primeira loja, com receio de voltarmos a ser “BURROS” ou “OTÁRIOS”.
Para os bens essenciais, a solução está em correr os supermercados (sim porque, infelizmente, as mercearias já se foram), fazer uma relação de produtos e preços para comparar e depois ir comprar onde for mais económico. Bolas, mas isso dá trabalho e despesa e exige disponibilidade que a gente não tem. Será que compensa ir atrás dos ovos mais baratos vinte cêntimos se tiver de ir de Lousada a Penafiel para aproveitar o desconto? Embora haja quem o faça, o bom senso diz-me que não.
Para resolver o problema fui ver os sites mas, apesar de haver alguns comparativos, não estão atualizados, não acompanham as promoções e ofertas, não têm os produtos que eu quero e não se referem às lojas locais. Não me interessam para nada os preços no Porto.
Eu nem moro lá… Bom, se não resolvo o problema desta maneira como é que me devo desenrascar? Pedir aos amigos que, se encontrarem promoções interessantes, me telefonem? Ou arranjar um funcionário em cada loja que me dê uma dica? É que não quero perder os descontos de 50%, quanto mais os de 75%, apesar de ter de pagar por inteiro e ficar com o crédito no cartão…
Encontrei há dias num supermercado uma senhora muito nervosa. E porquê? Ao saber que a carne estava a metade do preço, foi a correr mas encontrou uma fila com setenta “felizardos” à sua frente e o seu receio era que… a carne não chegasse para ela… Houve tempo em que os folhetos com que nos enchiam a caixa do correio eram um incómodo, até para encontrar a correspondência normal.
Mas agora, é literatura obrigatória, procurando-se os descontos maiores porque “ESSES” são os produtos que interessam (mesmo que não precisemos deles). No entanto, é necessária muita atenção, porque são muitos os truques para nos induzir em erro, para nos fazer crer que um produto é muito barato quando afinal não é, desde reduzir o peso normal das embalagens, as quantidades e tamanhos, etc… E, atenção, porque há os descontos diretos ou em cartão, além dos cupões, dos bónus e outras ilusões, que nos obrigam quase a tirar um curso de gestão.
Se há cursos de marketing para nos levar a comprar, porque é que não há cursos de como resistir às tentações, que nos ensinem a levar só, mas mesmo só, o que precisamos? É que vamos ao supermercado comprar um sabonete que está em promoção a metade do preço e saímos com o carrinho cheio e… a carteira vazia. Talvez devêssemos aprender com esta história da vida real de um presidente dos Estados Unidos.
Entrou numa loja de calçado, pegou num par de botas, observou-o e perguntou quanto custava. Depois fez o mesmo com outras botas, admirando-as, fazendo perguntas, interessando-se pelo preço e materiais de que eram fabricadas e outras ainda para, finalmente, pedir um par de atacadores, pagar e sair. Alguém que assistiu à cena, abeirou-se e perguntou-lhe porque é que tinha estado na loja a apreciar alguns pares de botas e acabou por comprar um simples par de atacadores. Com muita tranquilidade, respondeu-lhe: “Sabe, eu gosto muito de botas, gosto mesmo muito de admirar umas boas botas, mas aquilo de que realmente precisava… era de atacadores. É por isso que os comprei”.
Temos de aprender com este presidente a cuidar da nossa carteira, especialmente agora que o tempo é de crise, usando dois truques para contrariar os muitos truques deles: Levar a lista só do que precisamos não comprando mais nada e pagar a dinheiro para “o sentir” a sair. E não nos esqueçamos: Os preços são o contrário das montanhas. Enquanto nestas, atrás de uma há sempre outra montanha maior, nos preços, atrás de um há sempre outro preço inferior. Saibamos conviver com isso.