O diferendo que opõe um grupo de ex-músicos da Banda e a Associação de Cultura Musical de Lousada (ACML) continua, agora em tribunal, com duas providências cautelares interpostas, uma do lado dos músicos impugnando a última assembleia geral da ACML e outra pela instituição, para que lhe sejam devolvidas as viaturas que lhe pertencem e que estão retidas pelos dissidentes.Está a ser difícil o regresso à normalidade.
Em Junho do ano passado escrevi aqui sobre a importância dos sócios da Associação de Cultura Musical de Lousada (ACML) participarem numa assembleia geral, onde estaria em discussão a eventual saída da Banda de Música de Lousada do seio da ACML, para estarem presentes, Bom, não mobilizei os associados, sinal de que ninguém ligou “peva” ao meu blá blá e à razão do artigo, porque só comparecemos “meia dúzia de gatos pingados” – e desculpem-me os presentes a expressão – porque o caso merecia mais. Mas, afinal, a “montanha pariu um rato” pois cedo se constatou que nem os próprios requerentes da mesma queriam que a banda saísse da associação (como é possível?), pelo que acabou por ser deliberado que a Banda de Música de Lousada era, e continuaria a ser, parte integrante da ACML.
Para meu espanto, o maestro da banda – também dissidente – revelou em plena assembleia geral a verdadeira razão invocada pelos músicos: Uma ilegalidade que a direção não aceitou e que iria pôr em causa a instituição. Se tudo pareceu tranquilo, o certo é que no mês seguinte foi fundada uma nova instituição: A Banda Musical de Lousada.
Na sua génese esteve o grupo de músicos dissidentes que, entretanto, continuaram a tocar na Bande da ACML, onde não só fizeram as festas que a direção contratou como outras de que eles próprios trataram em regime de autogestão, sem que o dinheiro recebido destas tenha entrado na contabilidade da instituição. E ninguém ficou preocupado com isso… E na ACML continuaram as assembleias gerais, uma anulada e outra encerrada mal começou, numa manifesta falta de preparação e respeito pelos estatutos, por quem de direito. Só numa terceira foi possível discutir e fazer aprovar os novos estatutos e regulamentos, pelos quais se passará a reger.
Face à “debandada” da maioria dos músicos após as festas rumo à nova associação, a direção da ACML prescindiu dos seus serviços e solicitou a devolução dos bens que estavam à sua guarda, como as fardas, instrumentos e viaturas, mas pouco ou nada conseguiu reaver do património que lhe pertence.
Assumida a saída dos músicos e face à posição da direção da ACML em renovar a Banda de Lousada, os responsáveis da nova associação viram-se confrontados com a falta de meios (instrumentos, fardas, viaturas, local de ensaios) que esperavam receber da ACML e pediram ao presidente da câmara para moderar o diferendo. Este junta as partes mas os diretores da ACML revelam-se surpreendidos com a presença dos dissidentes e a razão conciliadora da reunião, até porque horas antes tinham sido notificados pelo tribunal da impugnação da assembleia geral pela outra parte.
Perante esta atitude provocatória, como era possível apelar à conciliação? Até o próprio presidente não reagiu bem (ou reagiu) ao tomar conhecimento desse facto, pelo que tudo ficou “em águas de bacalhau”. E é assim que estão dois processos em tribunal. Esperemos que se resolvam este ano, até porque parece não existirem razões válidas para a impugnação, por um lado (embora espero para ver) e por outro, a entrega das viaturas (e outros bens) parece ser evidente.
Julgo que tudo isto não passou de uma forma de pressão dos dissidentes sobre a direção da ACML na tentativa de conseguirem desta meios para o funcionamento da BML. Provavelmente escolheram a pior maneira, pois “não é com vinagre que se apanham as moscas” e até porque a direção não tem poderes para tomar tal decisão, poderes esses que pertencem à assembleia geral e que nunca foi ouvida nem achada nesta matéria. Aos músicos assiste-lhes o direito de deixarem a ACML e formarem as associações que entenderem, mas não podem exigir daquela aquilo que por direito só a ela pertence.
Lousada passa a ter duas bandas de música, praticamente com o mesmo nome, o que é caricato: A Banda de Música de Lousada (da ACML) e a Banda Musical de Lousada (da BML).
A primeira detém o património centenário da Banda de Lousada e a segunda reivindica esse direito para si, por ter levado a maioria dos músicos. É como se os jogadores do Porto ou Sporting resolvessem ir embora, formar um novo clube e achassem que tinham o direito ao nome, historial, equipamentos, estádio, viaturas, etc.. Não será tudo isto um absurdo, sabendo-se agora qual a razão objetiva que está por trás, e que retira toda a autoridade moral que, eventualmente, se possa ter? Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.