Nada substitui o tempo que se lhes dá! (2)

O tempo é um recurso finito: usou, acabou. Se não o gerirmos bem, algo ficará por fazer. Horas diárias nas redes sociais deixam alguém de fora. Não queira fazer isso com os filhos, cônjugue, família, amigos e consigo, para estar satisfeito com a vida. E se não for capaz de se organizar para poder dar-lhes tempo na infância e adolescência, pelo menos, se calhar é melhor pensar no assunto antes de os ter. Se já os tem, pense nisso e não arranje desculpas porque assumiu muitíssimas responsabilidades quando decidiu ser pai ou mãe. Ou acha que não?

É que, os primeiros responsáveis pelo desenvolvimento das relações sociais duma criança são os pais: pai e mãe. O cérebro do bebé é como uma esponja que absorve tudo o que vem do que o cerca e, é natural, a criança tem desejo de explorar e aprender sobre tudo isso. Daí inundar a todos com uma enxurrada de perguntas, que devem ter respostas de qualidade e exemplos. Embora se possa justificar a falta de tempo, bom será reforçar a importância de ser modelo para os filhos e de poder dedicar-lhes tempo em qualidade e quantidade, porque esse tempo em quantidade e qualidade deixa marcas profundas, dá autonomia, inspira confiança, molda padrões, estabelece regras, forma amigos. Por isso, seja justo consigo e com seu filho, deixe que assimile da sua conduta e não deixe esse privilégio para outros. “Ensine bondade demonstrando bondade, as boas maneiras, praticando-as, a meiguice, sendo meigo, a honestidade e a veracidade, exemplificando-as”.

E para se inspirar, que tal aprender com exemplos como o de Vera. Quando lhe nasceu o primeiro filho foi-lhe diagnosticado autismo e apesar de ser a responsável de metade das lojas de uma multinacional no nosso país, uma situação invejável, abandonou a empresa para se devotar unicamente a ele. Foram anos de dedicação sem limites, lendo, informando-se, acompanhando-o a todos os lados. Dez anos depois ela e o marido decidiram ter outro filho. E veio então novo rapaz … autista. Passaram a ter dois filhos com autismos distintos e personalidades às avessas, a ser seguidos por terapeutas com tratamentos diferenciados. Mas, como a magia ou os milagres às vezes acontecem, conseguiram agilizar o relacionamento entre os dois. E Vera continua dedicada de corpo e alma aos seus amores que, apesar das dificuldades, a fazem sentir muito feliz. 

Por cá existem mais casais com dois filhos autistas e são-lhes de uma dedicação extrema! E não posso deixar de lembrar a Daniela que optou após a nascença por dar o seu tempo por completo ao filho, também ele autista, numa dedicação que deveria fazer corar de vergonha os pais comuns de crianças comuns, que praticam o extremo oposto …    

Já Marisa, recém-casada e a viver no rés do chão da casa dos sogros, ao saber que ia ter 3 filhos de uma “assentada”, chorou, mas mais chorou ao saber que um deles tinha paralisia cerebral e poderia não chegar a andar, falar, respirar, enfim, a viver. Deixou o emprego que tinha e assumiu o de Mãe a tempo inteiro e o compromisso de que a filha um dia iria andar. E a sua vida tornou-se numa roda-viva entre consultas médicas e tratamentos diversos. Contrariando a previsão de alguns clínicos, Susi foi equilibrando o corpo, começou a gatinhar, apresentou melhoras significativas. Com a posição dos pés em pontas a impedir de andar, foi sugerida uma cirurgia no México aos três anos de idade e lá foi, com a total solidariedade económica e emocional da família. E Susi já passou a dar alguns passos sem apoio e foi melhorando, até que um cirurgião russo lhe recomendou nova cirurgia em Madrid, aos seis anos, renovando a esperança. Criou uma rifa para fazer dinheiro e uma amiga desencadeou uma angariação de fundos, que lhe permitiu levar a filha a ser operada em Madrid com sucesso e entrar num processo de recuperação com tratamentos, terapias e duas novas cirurgias, que lhe permitiram tornar-se autónoma e estar quase a concluir o secundário.

E cresceu como pessoa e mulher, tomando consciência do que é verdadeiramente importante nesta vida, do que tem significado. 

Queixa-se da vida? Não, nem pensar. Pensa até que toda a gente devia passar por uma provação como a sua, para poder crescer e encontrar um objetivo digno para viver.      

Daquilo que para a maioria das pessoas seria uma cruz, e para ela tem sido bem pesada, ela fez dela a sua redenção, a sua bênção, o significado para a sua presença aqui. E diz, com um sorriso nos lábios: “Se Deus me deu de uma vez três filhos para tomar conta, tendo um deles problemas de saúde tão graves, por alguma razão foi. Porque ELE sabe o que faz.”  

Há dias assisti à celebração de uma missa e, no banco à minha frente, estava uma mãe relativamente jovem acompanhada por uma menina de 8 a 10 anos, com sinais duma doença cromossômica. Do início ao fim aquela mãe deu uma lição de amor e dedicação à sua filha como nunca vi. Sempre de sorriso no rosto, irradiava um brilho nos olhos de alegria e felicidade pela preciosidade que tinha a seu lado, fazendo-a seguir as diversas fases da celebração. Em momento algum deixou de dar atenção à sua filha “especial” e sorrir, cobrindo-a de carinho numa lição de entrega e amor, sem olhar à doença e suas limitações. 

Como a “cereja em cima do bolo”, o padre celebrante na homilia, referindo-se à leitura do evangelho, disse que “Jesus deseja que cada um aceite e carregue a sua cruz, pesada ou leve, boa ou má, com alegrias e tristezas, sem revolta ou mágoa. E ao ver aquela mãe abraçada à filha “especial”, numa imagem de felicidade, não pude deixar de pensar que Jesus a terá enviado como o exemplo acabado e perfeito de “como todos nós deveríamos carregar a cruz que nos tocar”, com razões dobradas para quem tem filhos sem doenças ou outras limitações em que a “cruz será bem mais leve e mais fácil de carregar” … 

Para estas mulheres e mães, a Teresa enviou-me a sua definição de “Mãe”: “Termo usado para designar um coração capaz de amar infinitamente. É sentir por dois, sorrir por dois, sofrer por dois, é dar o melhor de si duas vezes. É aquela que cura com um abraço e que sara a ferida com um beijo. É aquela que dá à luz AMOR.”