“Uma luzinha ao fundo do túnel” …

Uma sondagem recente mostra a elevada descrença dos portugueses no Parlamento, governo e partidos e a altíssima insatisfação com os governantes pela situação a que chegamos, da habitação à justiça, da saúde à corrupção, de impostos muito elevados ao alto custo de vida, que os faz andar “com cara de enterro”. E não é para menos, pois já há “quem ande com uma mão à frente e outra atrás”, “passe a vida a contar os tostões” e esteja “entre a espada e a parede”, isto é, ou paga a renda ou compra comida. Era para arranjo de vida a rede de apanha ilegal de ameijoa no Montijo descoberta recentemente. Se fossem apanhadores de caranguejos, “viam a sua vida a andar para trás”, o que não era o caso. Nem sequer eram pescadores, pois “ficavam a ver navios” e muito menos vendedores de “jaquinzinhos”, porque se sabe que eles “andam tesos que nem carapaus”. Apesar dos imigrantes não serem peixes, viviam “como sardinhas em lata”, pelo que foram parar a um pavilhão com condições ainda piores, acabando por voltar ao local onde moravam.

Foi uma “descoberta” do que já muitas pessoas sabiam, mas “ficaram caladas que nem ratos” porque “o calado é o melhor”. É que, a vida em Portugal está muito difícil. Senão, vejamos: Os relojoeiros “andam com a barriga a dar horas”, os padres “já não comem como abades” e os talhantes, “estão feitos ao bife”. Mas ainda há gente que está bem pior, como os cabeleireiros que “arrancam os cabelos” e os cavaleiros, que “perderam as estribeiras”, enquanto às manicures já “estalou o verniz” há muito.

O presidente Marcelo diz que “os números da economia demoram a chegar ao bolso das famílias”, apesar do governo se vangloriar que ela “vai de vento em popa”. Talvez por isso, os padeiros “estejam com falta de massa”, aos cardiologistas foi detetado “um aperto”, os bebés “choram sobre o leite derramado” e os coveiros “vivem pela hora da morte” pelo que, o que encontram, são sempre e só, “ossos do ofício”. 

Ora, os governantes devem estar desfasados da realidade pois já nem veem que os jardineiros “engolem sapos”, os neurologistas “estão à beira dum ataque de nervos”, os picheleiros “têm ar na canalização” e, muito para além disso, “os criadores de galinhas estão depenados”.

As greves sucedem-se umas atrás das outras para reclamar contra o custo de vida, principalmente da inflação na alimentação e dos baixos salários. É por isso que os pedreiros “andam com duas pedras na mão” e “com uma pedra no sapato”, os eletricistas “têm os fusíveis queimados” e “estão ligados à corrente” e os mecânicos “griparam o motor”. Os farmacêuticos “não têm remédio”, os atores “já não sabem o que hão de dizer” e não se pode ver um concerto pois “as entradas custam os olhos da cara” só para ouvir os pianistas “bater sempre na mesma tecla”, enquanto os astrónomos “veem o céu por um canudo”. Os veterinários “já não aguentam uma gata pelo rabo” a dizer “cobras e lagartos”, os pneumologistas “estão com falta de ar”, os barbeiros “põem as barbas de molho” e os dentistas “andam a bater o dente”.

Mas há mais, porque as dificuldades chegam a todos. “Os madeireiros, arranjam lenha para se queimar” ao provar que “as árvores morrem de pé”, os empresários de espetáculos, “já não ganham para mandar cantar um cego”, os ginecologistas, “ficam com a criança nos braços”, e os funileiros “não têm lata”. E, nalguns casos, “é preciso ter muita lata” para “dar a cara”. No bar, os salva-vidas “afogam as mágoas” e os médicos “dão de beber à dor”. E, nesta vida difícil, são os caloteiros a dar esperança ao credor: “Deus lhe pague”!

Neste estado de coisas, não pense eliminar as pragas em casa porque os desinfestadores estão “piores que uma barata”. Ora, os sinaleiros, sendo profissão em vias de extinção, “andam de mãos a abanar”, o que é mais um sinal, não de trânsito, mas de que a vida está difícil para todos. Assim, os coxos “já não andam com a perna às costas”, os pastores “procuram um bode expiatório” que “não tenha culpas no cartório”, pois o custo de vida está ainda mais alto que as folhas a que não chega e os fabricantes de cerveja “perderam o seu ar imperial”. Agora, os domadores “estão maus como as cobras” e “a ferro e fogo” estão os ferreiros, que se recusam a “malhar em ferro frio”, enquanto os carpinteiros “fazem tábua rasa”. Só o matador diz que “é agora que a porca torce o rabo”. Ora, nesta paródia breve sobre o custo de vida, as cozinheiras “não têm papas na língua” e “põem tudo em pratos limpos”, fazendo com que os olivicultores “fiquem com os azeites” e os trefiladores “vão aos arames”, para além dos elefantes “ficarem de trombas” e os músicos “porem a boca no trombone”. No meio desta situação de crise grave, os criadores de gado só “pensam na morte da bezerra”, “os sobrinhos dizem “Ó tio, ó tio””, os aviadores “caem das nuvens que nem tordos” e os golfistas “não batem bem da bola”.

Só os governantes que “nos saíram na rifa”, parte deles “feitos às três pancadas” e que “não percebem nada da poda” “nem dão uma para a caixa”, “com ideias que não lembram ao diabo” e capazes de “mentir com quantos dentes têm na boca”, especialistas em “tirar o cavalinho da chuva”, “quando a coisa cheira a alho” e “lhes descobrem a careca”, andam para aí “armados em carapaus de corrida”, “nariz empinado” e “a viver à grande e à francesa”, “de mula cheia”, “gordos como chinos” de tanto “puxar a brasa à sua sardinha”. Mas “não encontram o fio à meada” e por isso deviam “meter o rabinho entre as pernas”, “a viola no saco”, “limpar as mãos à parede” e “ir pregar para outra freguesia” “onde não lhes conheçam o cu”. Para se safar, vêm com a “conversa para boi dormir” e “lágrimas de crocodilo”, fazendo até “chorar as pedras da calçada” enquanto o Zé “tem de comer o pão que o diabo amassou”. 

Ora, esses políticos “de carregar pela boca”, fartam-se de “vender banha da cobra” e “tapar o sol com a peneira” para depois “meter a pata na poça” e “a montanha parir um rato”. O que lhes vale é que o povo, “sendo o bombo da festa” e “estando de saco cheio”, “não sabe da missa a metade” e vai-se “aguentando nas canetas”, mas à rasca, até “dar o peido mestre” e “esticar o pernil”. Caso contrário, não faltava quem “lhes acertasse o passo” e dissesse para se “porem finos”, pois se forem “apanhados com a boca na botija” e “a meter a mão na massa”, vão ter de “assentar o cu no mocho” porque “a culpa não pode morrer solteira “e não adianta “armar-se ao pingarelho”, como se “isto aqui fosse da mãe Joana”, pois “podem bater com os costados na choldra”. 

É verdade que o povo “anda com a pulga atrás da orelha”, com “a mostarda a chegar ao nariz” e faz “cara de poucos amigos” ao ver que lhe “estão a comer as papas na cabeça”, estando na altura de dizer “alto e para o baile” que “isto nem lembra ao diabo” e “não andamos neste mundo por ver andar os outros”. Assim, como os governantes andam para aí “a “pintar um país cor-de-rosa” “só para enganar meninos”, é tempo de lhes “bater com a porta na cara”, “mandar dar uma volta ao bilhar grande” e dizer que “são uma carta fora do baralho!                                                                                                          Talvez assim se possa voltar a ver “uma luzinha ao fundo do túnel” … se o comboio que vier não trouxer mais “farinha do mesmo saco”!

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