A vida extraordinária da nossa mão!

A mão humana é extraordinária. Sinceramente, nunca me dei ao cuidado de pensar na enorme importância que tem na nossa vida. É uma das partes anatómicas do corpo humano de maior complexidade funcional. A sua atividade é responsável não só pelos movimentos e ações de grande precisão, como pela área de maior sensibilidade e perceção tátil do ser humano. O simples rodar duma chave para abrir a porta, enfiar um fio na cabeça da agulha, tocar uma peça musical no piano ou o tricotar de um casaco, são gestos que exigem coordenação e sincronismo. Executa um número infindável de tarefas só possível graças à enorme capacidade de adaptação aos objetos e suas formas. E todos conhecemos a enorme importância das mãos na rotina e na execução das tarefas diárias, embora nem sempre tenhamos o devido cuidado com elas.

A mão humana é constituída por um complexo conjunto de ossos e, por isso, é considerada, depois do cérebro, o órgão que realiza as tarefas mais elaboradas no corpo humano. Para o funcionamento normal da mão e punho, participam 29 ossos, mais de 30 músculos, 30 articulações, 20 nervos terminais e de 70 ligamentos e tendões! O espaço do cérebro destinado a organizar e coordenar as funções da mão é muito significativo e revela toda a importância da mão na vida do homem.

Os dedos compridos e polegar oposto aos outros dedos é que tornam as mãos uma parte única do nosso corpo, permitindo-nos, através do tato, manusear objetos, determinar temperaturas, texturas e até o nível de rigidez daquilo em que tocamos, atirar, agarrar ou apanhar coisas.

Quando nascemos, são as mãos que primeiro nos recebem a dar as boas-vindas a este mundo e são as mãos maternas a segurar para a carícia do primeiro beijo. Quando morremos, são as mãos dos amigos e familiares que nos carregam e as dos coveiros que nos enterram!

As mãos têm expressões contraditórias pois tanto assinam tratados de paz como ordens de avançar para a guerra. Tanto afagam com ternura como batem com violência. São capazes de construir pontes que unem, mas também muros que separam. Têm engenho e arte para fabricar tecidos finos como fúria quanta baste para os rasgar. E com capacidade para criar as mais belas obras de arte, mas também de as destruir num instante. As mãos cultivam a terra e colhem os frutos, moldam o barro e criam arte, conduzem os animais, bicicletas, carros e aviões. 

Vale a pena transcrever aqui o monólogo das mãos, de Ghiaron:

“As mãos servem para pedir, prometer, chamar, conceder, ameaçar, suplicar, exigir, acariciar, recusar, interrogar, admirar, confessar, calcular, comandar, injuriar, incitar, teimar, encorajar, acusar, condenar, absolver, perdoar, desprezar, desafiar, aplaudir, reger, benzer, humilhar, reconciliar, exaltar, construir, trabalhar, escrever …

Foi com as mãos que Jesus amparou Madalena; com as mãos, David agitou a funda que matou Golias; As mãos dos Césares romanos decidiram a sorte dos gladiadores vencidos na arena; Pilatos lavou as mãos para limpar a consciência; os antissemitas marcavam a porta dos judeus com as mãos vermelhas como signo da morte! Foi com as mãos que Judas pôs ao pescoço o laço que os outros Judas não encontram.

A mão serve para o herói empunhar a espada e o carrasco, a corda; o operário construir e o burguês destruir; o bom amparar e o justo punir; o amante acariciar e o ladrão roubar; o honesto trabalhar e o viciado jogar. Com as mãos atira-se um beijo ou uma pedra, uma flor ou uma granada, uma esmola ou uma bomba! Com as mãos o agricultor semeia e o anarquista incendeia! As mãos fazem os salva-vidas e os canhões; os remédios e os venenos; os bálsamos e os instrumentos de tortura, a arma que fere e o bisturi que salva. Com as mãos tapamos os olhos para não ver e com elas protegemos a vista para ver melhor.

Os olhos dos cegos são as mãos.

As mãos na agulheta do submarino levam o homem para o fundo como os peixes; no volante da aeronave atiram-nos para as alturas como os pássaros. O autor do “Homo Rebus” lembra que a mão foi o primeiro prato para o alimento e o primeiro copo para a bebida; a primeira almofada para repousar a cabeça, a primeira arma e a primeira linguagem. Esfregando dois ramos, conseguiram-se as chamas. A mão aberta, acariciando, mostra a bondade; fechada e levantada, mostra a força e o poder; empunha a espada, a pena e a cruz!

Modela os mármores e os bronzes; dá cor às telas e concretiza os sonhos do pensamento e da fantasia nas formas eternas da beleza. Humilde e poderosa no trabalho, cria a riqueza; doce e piedosa nos afetos, medica as chagas, conforta os aflitos e protege os fracos.

O aperto de duas mãos pode ser a mais sincera confissão de amor, o melhor pacto de amizade ou juramento de fidelidade. O noivo para casar-se pede a mão da sua amada; Jesus abençoava com as mãos; as mães protegem os filhos cobrindo-lhes com as mãos as cabeças inocentes”.
Nas despedidas, a gente parte, mas a mão fica, ainda por muito tempo agitando o lenço no ar. É com as mãos que provocamos lágrimas, mas é com elas que limpamos as nossas e as lágrimas alheias. Tal como é com elas que selamos um negócio e a nossa palavra de honra com o habitual aperto de mãos.

Dizia Audrey Hepburn que “à medida que envelhecemos descobrimos que temos duas mãos: Uma para nos ajudar a nós próprios e a outra para ajudar os outros”.

Ao olhar os dedos das minhas mãos a bater nas teclas do computador não posso deixar de continuar a maravilhar-me com a sua mobilidade e flexibilidade. E daí, com a enorme quantidade de tarefas em número e diversidade que executaram ao longo de uma vida. Pensando nisso, se a grande maioria foram ações de que se devem orgulhar, há umas quantas em que podiam e deviam “ter dado a mão” …  

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